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Tricotomias da semiótica de Peirce

No documento DM Bruno Diego Fernandes Pereira (páginas 54-58)

CAPÍTULO IV SIGNOS

4.2. Tricotomias da semiótica de Peirce

A primeira dimensão da classificação peirceana dos signos, que compreende a relação triádica apresentada anteriormente, desdobra-se numa segunda dimensão constituída por critérios conhecidos como de primeiridade, secundidade ou terceiridade, conforme apresenta-se no Quadro 5.

Signo 1º Em si mesmo

Signo 2º Com seu objeto

Signo 3º Com seu interpretante

1º Quali-signo Ícone Rema

2º Sin-signo Índice Dicente

3º Legi-signo Símbolo Argumento

Quadro 5 – Classificação triádica dos signos

(Adaptado de Santaella 2017)

São considerados fenômenos de primeiridade, segundo Santaella (2017) os signos que são quali-signos, ícones e remas, sendo “quali-signo” todo signo que consiste na pura qualidade do objeto, como por exemplo uma cor. Chama-se “ícone” o signo que representa um objeto por uma característica que ele próprio possui e o torna semelhante ao seu objeto, por exemplo, uma pintura, em suas qualidades de cores, texturas e formas. Entende-se por “rema” todo signo que não depende de outro signo para significar algo para o interpretante, por exemplo, signos verbais como o verbo “correr”.

Para autora, qualquer coisa que se apresente como um “existente singular, material, aqui e agora, é um sin-signo” que, em conjunto com “índice” e “dicente” compõem os fenômenos de secundidade. Uma grande pedra (como o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro) pode ser um exemplo de sin-signo por ser um existente real e único com lugar no espaço e no tempo. O índice é o signo que estabelece uma conexão física ou existencial com seu objeto. Tal qual sugere a palavra, índice pode ser entendido por indicar ou possuir indícios de algo no espaço e no tempo. Signos naturais como a fumaça que indica que há fogo pode ser considerado um exemplo de índice. O dicente é o signo interpretante que contém uma proposição constituída da significação formada por dois remas, ou seja, um signo de existência concreta onde se constata a relação física entre existentes, por exemplo, a conclusão de que o sin-signo daquela “pedra” propõe o índice do “Pão de Açúcar”.

Terceiridade é a última tríade da segunda dimensão da classificação dos signos de Peirce, composta por “legi-signo”, “símbolo” e “argumento”, onde o legi-signo é um signo que só o é por conta de uma lei, regra ou convenção (Oliveira & Nöth, 2014, p. 129). Por exemplo, um círculo cortado por uma linha na diagonal tornou-se, por regra, um sinônimo de “proibido”. Este círculo cortado, como representação gráfica em si, possui caráter

simbólico, passando a ser identificado como o símbolo da proibição. O símbolo é, portanto, um signo que representa seu objeto como algo que tem um significado geral, determinado por uma regra, lei ou convenção. O símbolo de “proibido” não está limitado à proibição de estacionar um carro, acessar uma área restrita ou fumar. O argumento é entendido como o signo interpretante que conecta três dicentes por uma necessidade lógica (silogismo). Neste contexto, o símbolo é um signo que contém aspetos de ícone e índice, ou seja, inclui fenômenos de primeiridade e secundidade, dois elementos que, associados ao valor de lei definido por uma regra ou convenção, compõem o conjunto de três interpretantes diferentes que estabelecem o argumento.

As tricotomias definidas no Quadro 5 permitiram um conjunto de dezenas de classes de signos das quais Peirce destaca apenas dez (Quadro 6), como sendo as classes efetivamente possíveis, considerando, por exemplo, que se um quali-signo sempre implica em um ícone remático, não se deve considerar possível que um quali-signo contenha índice, símbolo, dicente ou argumento, diminuindo a matriz de possibilidades classificatórias.

Classes Primeira tricotomia Segunda tricotomia Terceira tricotomia

111 (I) Quali-signo Ícone Remático

211 (II) Sin-signo Ícone Remático

221 (III) Sin-signo Índice Remático

222 (IV) Sin-signo Índice Dicente

311 (V) Legi-signo Ícone Remático

321 (VI) Legi-signo Índice Remático

322 (VII) Legi-signo Índice Dicente

331 (VIII) Legi-signo Símbolo Remático

332 (IX) Legi-signo Símbolo Dicente

333 (X) Legi-signo Símbolo Argumento

Quadro 6 – As dez classes de signos

De posse das classificações de signos apresentadas, passa-se a combinar tais conceitos com os demais envolvidos neste trabalho. A marca de uma instituição, o ícone de uma app, os ativos definidos na identidade que influenciam na imagem institucional serão observados sob um processo de semiose. Para Costa (2011), o sistema semiótico da marca é constituído pelas combinações de alguns signos de base. Seu sistema de significados implica as interações entre quatro manifestações do signo da marca: linguístico, escritural, icônico e cromático, como observado na Figura 7.

Figura 7 – O sistema semiótico das marcas

(Adaptado de Costa 2011, p. 22)

Signos linguísticos podem ser confundidos com verbais, entretanto um signo escritural ou icônico também pode ser verbal. Aquilo que Francisco Mesquita (2014, p. 127) denomina “Identidade verbal”, por exemplo, refere-se ao signo linguístico que se observam nos nomes de empresas, produtos, etc. Portanto, signos que envolvem palavras ou expressões textuais podem ser encontrados em diversas classificações. Este entendimento se faz necessário para a melhor compreensão do sistema semiótico de Costa (2011), permitindo associá-lo com as classificações de Peirce, e das definições de Chaves (2005) sobre os signos identificadores básicos, de maneira que um estudo não anule o outro, senão que os complementem.

Sendo assim, fundamentados os conceitos necessários à classificação semiótica dos ícones das apps, tem-se os subsídios necessários à elaboração das tabelas de análise à qual se propõe esta investigação em seu capítulo final.

No documento DM Bruno Diego Fernandes Pereira (páginas 54-58)

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