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Truncamentos preposicionados, paralelismo de preposições e o parâmetro P-

4. ABORDAGENS PARA O LICENCIAMENTO DE ELIPSES EM WHP

4.1 Abordagem de movimento

4.1.2 Truncamentos preposicionados, paralelismo de preposições e o parâmetro P-

Em segundo lugar, corroborando a abordagem de movimento, Merchant (2003) afirma que há uma correlação entre a disponibilidade em certas línguas para o movimento de preposições encalhadas (P-Stranding) e a possibilidade de truncamento de uma WhP sem uma preposição que corresponda a um correlato marcado por uma preposição.

De acordo com o princípio elaborado por Merchant (2001), em geral, uma língua L permitirá o encalhamento de uma preposição se L permite o encalhamento de preposição sob movimento-wh regular. Os fatos relevantes são dados aqui para línguas selecionadas de ambos os tipos. Vimos no capítulo anterior alguns

8 Em geral, nas elipses, os efeitos de conectividade são estabelecidos a partir da relação anafórica entre o material deletado e seu antecedente, ou em outras palavras, os efeitos de conectividade são em si os elementos anafóricos que permitem a retomada do constituinte elidido através do antecedente ou de seu relatum.

exemplos em português que a incluem o grupo de línguas que não permitem a ocorrência do parâmetro P-stranding.

Línguas que permitem o encalhamento de preposição, segundo Merchant (2003):

(9) Inglês

a. Peter was talking with someone, but I don’t know (with) who. b. Who he was talking with?

(10) Frísio

a. Piet hat mei ien sprutsen, mar ik wyt net (mei) wa.

Piet has with someone talked but I know not with who

b. Wa ha Piet mei sprutsen?

Who has Piet with spoken

(11) Norueguês

a. Per har sakket med noen, men jeg vet ikke (med) hvem.

Per has talked with someone but I know not with who

b. Hvem har Per snakket med?

Who has Per spoken with

(12) Dinamarquês

a. Peter har snakket med em eller anden, men jeg ved ikke (med) hvem.

Peter has talked with one or another but I know not with who

b. Hvem har Peter snakket med?

Línguas que não permitem o encalhamento, segundo Merchant (2003): (13) Grego

a. I Anna milise me kapjon, ala dhe ksero *(me) pjion.

The Anna spoke with someone but not I know with who

b. * Pjon milise me?

Who she spoke with

(14) Alemão

a. Anna hat mit jemandem gesprochen, aber ich weiß nicht, *(mit) wem.

Anna has with someone spoken but I know not with who

B. * Wem hat sie mit gesprochen?

Who has she with spoken

(15) Ídiche

a. Zi hot mit emetsn geredt, ober ikh veys nit *(mit) vemen.

She has with someone spoken but I know not with who

b. * Vemen hot zi mit geredt?

Who has she with spoken

(16) Russo

a. Anja govorila s kem-to, no ne znaju *(s) kem.

Ana spoke with someone but not I know with who

b. * Kem ona govorila s?

who she spoke with

(17) Esloveno

Anna AUX spoken with someone but not I know with who

b. * Kom je govorila Ana s?

Who AUX spoken Anna with

(18) Búlgaro

a. Anna e govorila s njakoj, no na zman *(s) koj.

Anna AUX spoken with someone but not I know with who

b. * Koj e govorila Anna s?

Who AUX spoken Anna with

(19) Sérvio-croata

a. Anna je gorila as nekim, ali ne znam *(as) kim.

Anna AUX spoken with someone but not I know with who

b. * Kim je govorila Anna as?

Who AUX spoken Anna with (20) Persa

A. Ali basi harf mi-zad ?ama ne-mi-dan-am *(ba) ki

Ali with someone talk but not know I with who

*Ki Ali bar harf mi-zad?

Who Aki with talk?

(21) Hebraico

a. Dani katav le-mishehu, aval anil o yode’a *(le-) mi

Dani wrote to someone but I not know to-who

b. * Mi Dani katav le

(22) Basco

a. Ana-k norbait-ekin hitzegin zuen, baina ez dakit nor-*(ekin).

Ana-ERG someone-with talk-to AUX but not know who- with

b. * Nor hitzegin zuen –ekin?

Who talk to AUX with

Defendemos que o que Merchant propõe tem mais a ver com línguas que permitem o paralelismo de preposições e línguas que não permitem esse paralelismo. Ou seja, em línguas que permitem o paralelismo de PP na elipse em WhP, se o antecedente α é regido por uma preposição x, então β será regida pela mesma preposição, em que α corresponde ao antecedente e β à frase elíptica. Acontece que em línguas que permitem o parâmetro P-Stranding como o inglês e outras línguas germânicas citadas, esse paralelismo é possível.

Assim, propomos que o fato de as demais línguas não permitir o parâmetro

P-Stranding é consequência direta da ausência do paralelismo de PP, ou seja, são

línguas que não admitem o truncamento preposicionado e, por isso, o encalhamento de preposições não é possível. Sobretudo, esse fato chama a atenção pelo seguinte: o português é uma língua em que o truncamento preposicionado é possível, o que significa a ocorrência de PPs paralelos na frase antecedente e na frase elíptica como em inglês, porém não admite preposições encalhadas, igual às línguas que não acionam o parâmetro P-Stranding. Entretanto, a ausência de P-

Stranding em português não elimina o paralelismo de PPs no truncamento, como

ocorre nas demais línguas em que se observa essa ausência. (23) João falou [PP com alguém], só não sei [PP com quem].

(24) Anna hat [PP mit jemandem] gesprochen, aber ich weiß nicht, [PP *mit wem].

O exemplo em (23) mostra em português um truncamento preposicionado com paralelismo de PPs, não possível, por exemplo, em alemão (24). Embora maior atenção sobre o fato seja necessária, por ora reiteramos que, apesar de certas línguas não admitir preposições encalhadas no truncamento, os dados apresentados por Merchant (2001) para as línguas em que impera a ausência do parâmetro P-Stranding parecem mostrar que tal fato está mais ligado à ausência de paralelismo, que consequentemente impede a ocorrência de um truncamento preposicionado. O fato do português então se torna singular, porque é uma língua que partilha com o inglês o paralelismo de PPs no truncamento, mas paradoxalmente, contrário ao inglês, não permite a preposição à direita do pronome interrogativo, ao fim da frase-wh elíptica.

Uma provável explicação da possibilidade em inglês e da não possibilidade em português de P-Stranding em línguas de PPs paralelos é a proposta de Riemsdjik (1978). Em inglês o truncamento preposicionado tem duas variantes, sendo que em (25a) temos o padrão de paralelismo de PPs que ocorre em português.

(25) a. Mary bought something for one of us. I wonder for who b. Mary bought something for one of us. I wonder who for.

Para Riemdsdjik, opcionalmente a preposição pode se mover para o Spec de PP, sendo que nesse caso (25b) é derivado de (25a). É o que mostra a ilustração em (26).

Assim, acreditamos que, se P-Stranding é resultante de movimento em línguas em que a frase-wh elíptica pode ser regida paralelamente pela mesma preposição que rege PP na frase antecedente, P-stranding só tem possibilidade de ocorrer nas línguas em que ocorrem PPs paralelos (como português e inglês). No caso, o movimento do objeto preposicional (o pronome interrogativo) para o Spec de PP permite o encalhamento da preposição em inglês (25b), inversão não ocorrente em português, cujo pronome-wh não sobe para ocupar a posição de Spec de PP – ver essa impossibilidade ilustrada em (28), derivada do truncamento em (27).

(27) Entregou a encomenda [PP a alguém]. Imagino [PP [P’ a quem]].

Á guisa de uma conclusão para esta questão, propomos assim que certas línguas não admitem P-Stranding porque não permitem o paralelismo de PPs, o que ocasiona a impossibilidade de truncamentos preposicionados. E em línguas que permitem esse paralelismo, mas ainda assim não admitem P-Stranding, como português, isso se deve ao fato de que o pronome-wh não pode se mover para a posição de Spec de P.

Tanto em inglês quanto em português também é possível outro padrão de truncamento preposicionado: aquele em que há a ausência de um PP paralelo na frase antecedente, que Merchant (2003) denomina de swiping,9 exemplificado a

seguir.

(28) Ele permaneceu na sala menor, mas não sabemos [PP até quando].

(29) They were arguing. Only God knows [PP what about].

O reducionismo de Merchant (2003) porém leva-o a propor que swiping só é possível em línguas P-Stranding, o que nos levaria mais uma vez a excluir o português. Contudo, se considerarmos os exemplos em (28) e (29) como variações

de truncamentos preposicionados com a ausência de PPs paralelos, não fica difícil explicar mais uma vez a possibilidade de movimento de what em (29) para o Spec de PP, e o padrão de não-movimento do pronome-wh ser mantido para o português em (28). O termo swiping figuraria assim apenas como indicativo do que Merchant propôs originalmente para o inglês e outras línguas germânicas: a ausência de PPs paralelos mais a possibilidade de inversão da preposição no truncamento.

Por outro lado, as propostas para a análise deste fenômeno, pelo menos em inglês e para certas línguas germânicas de parâmetro P-Stranding, são muitas, mas não há um consenso estabelecido.

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