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O turismo “cultural-rural”

3. Capítulo III O Turista Jovem e o Turismo “Cultural-Rural”

3.6. O turismo “cultural-rural”

O turismo é uma prática multifacetada que incorpora uma variedade de segmentos de mercado com motivações e necessidades específicas. Quem pratica o turismo cultural procura um contacto com as atrações e atividades culturais e quem realiza turismo rural busca a convivência tanto com a natureza como com a comunidade local. Apesar da aparente segmentação de mercado é possível uma união entre as duas práticas turísticas e a identificação de um tipo de turismo designado de “cultural-rural”. Mas, afinal qual é a sua definição?

3.6.1. Definição de turismo “cultural-rural”

Smith (2009) refere que dentro da prática turística cultural existe uma oferta variável de tipos de turismo do qual se destaca o turismo rural. A autora indica a existência de uma prática turística cultural em áreas rurais. Noutra perspetiva temos Leal (2001) que expõe uma variedade de tipologias de turismo rural. Dentro desta oferta destaca-se um tipo de turismo baseado no património e nas visitas históricas, ou seja, o turismo rural pode incorporar o património cultural e natural no mesmo espaço. Assim, para além dos rios, das áreas florestais, das paisagens verdes e das montanhas, pode conter vestígios arqueológicos, monumentos históricos e tradições (Leal, 2001).

A ligação entre temáticas é visível, várias atividades rurais podem ser combinadas com experiências culturais proporcionando um estilo de vida que atrai a atenção dos turistas (Turnock, 2002). No estudo de Richards (1996) verifica-se um aumento pela procura de destinos com características rurais e culturais, as novas tendências estão a emergir e apontam para um crescimento no interesse do turismo “cultural-rural” em Portugal devido às várias regiões montanhosas que formam uma base natural para os diversos recursos culturais.

Os turistas procuram zonas que ofereçam experiências agradáveis e que apresentem características naturais e históricas. No caso dos turistas jovens a procura por destinos alternativos próximos de áreas naturais é, de acordo com Carr (1998), umas das preferências quanto aos locais de eleição.

Esta multidimensionalidade e inter-relacionamento entre conceitos (MacDonald & Jollife, 2003) permitem satisfazer simultaneamente necessidades culturais através do contacto com o natural.

Serrano et al (2004, p. 169) referem que “o turismo rural está construído sobre alicerces que são em parte materiais e em parte intangíveis, sobre uma imagem sonhada e, ocasionalmente, idílica sobre o cultural e o seu meio”. O turismo cultural e os seus atrativos fazem parte do mundo rural (Cohen, 1979), permitindo uma valorização dos recursos materiais e imateriais, da promoção das comunidades e da preservação e valorização de todas as formas da cultura local (Simão, 2009).

O turista cria uma relação com a natureza e com a cultura do local, como se pode observar a partir da figura 3.1. Esta união pode ser entendida como um produto que ao ser consumido pelo turista proporciona uma viagem com novas e diferentes experiências. O produto passa a ser integrado porque a procura “exige” a fusão de duas grandes forças turísticas “o meio ambiente físico - a natureza; e o cultural - patrimonial identitário” (Serrano et al, 2004, p. 154).

Figura 3.1 - Componentes do turismo “cultural-rural” Fonte: Pérez, 2009, p. 257

O turismo cultural e rural aparece como um produto integrado, alternativo com características únicas, condições distintas e diferentes experiências (Rodrigues & Rodrigues, 2009). Segundo Ruschmann (2001) é um produto que faz parte de um aglomerado de bens e serviços, que interligados por relações de interação e independência pode tornar-se verdadeiramente complexo e “único em termos da sua abrangência e diversidade” (Cooper et al, 2005, p. 310).

O produto turístico “cultural-rural” contribui “ positivamente para a viabilidade económica e social das comunidades rurais sem danificar o tecido social (…) ambiental” (Swarbrooke, 1996 a) e ainda é composto por fatores culturais como a arte, o artesanato, os estilos de

vida e as paisagens (Serrano et al, 2004). Rodrigues & Rodrigues (2007) mencionam alguns recursos turísticos que compõem o produto “cultural-rural”:

“(…) produtos agrícolas (antigos e recentes, alimentares e não alimentares), paisagens, parques naturais, áreas protegidas, fauna e flora, rios e lagos, montanhas e vales, rochas e minerais, recursos hídricos medicinais, património cultural (arquitetura popular, monumentos e igrejas, património arqueológico, tradições, mercados, festividades e peregrinações, teatro popular e poesia), assim como outros elementos que refletem o estilo de vida rural, que existem no meio rural e que podem vir a constituir atrações” (Rodrigues & Rodrigues, 2007, p. 6).

3.6.2. O produto “cultural-rural” e o turista jovem

O turismo “cultural-rural” como produto vai ao encontro das motivações de um “tipo” de turista com um caráter educativo, aventureiro e que procura por experiências enriquecedoras (MacDonald & Jollife, 2003). Comparando o turista jovem com os padrões do turista “cultural-rural” podem ser identificadas algumas semelhanças. Por exemplo, tal como este, o turista jovem é independente, aventureiro e procura desenvolver nas suas viagens atividades culturais e de natureza. Pastor (1991) refere que as necessidades dos jovens são idênticas à dos adultos descrevendo-os como uma versão mais ingénua dos crescidos.

Esta comparação entre sujeitos pode desencadear consequências no desenvolvimento de pacotes que satisfaçam as necessidades dos jovens, logo não se pode considerar que o turista “cultural-rural” e o turista jovem são a mesma pessoa. Este último apresenta uma personalidade distinta com necessidades específicas e uma variedade de motivações e comportamentos heterogéneos podendo ser diferenciado dos restantes turistas (Carr, 1998).

O turismo “cultural-rural” é dinâmico, inovador e pode suportar as necessidades dos jovens uma vez que Luker-Murphy & Pearce (1995) identificaram as preferências destes turistas centradas em experiências culturais relacionadas com a natureza, e Richards & Wilson (2003) referiram no seu estudo que as duas atividades mais importantes realizadas por este turista são: (i) a visita a locais históricos e monumentos, (ii) e caminhadas.

Por fim, temos as pousadas de juventude como modelo de alojamento preferencial dos jovens, que foram inicialmente criadas com uma filosofia virada para o amor pela natureza e pela fuga à industrialização (Dams, 2008). Desta forma, o turista jovem que

pratica turismo “cultural-rural”, não é considerado um turista “cultural-rural”, é antes um segmento que pode ser identificado entre estas duas temáticas.

As características que relacionam a vertente cultural das atividades e o aspeto rural dos locais que compõem o produto turístico “cultural-rural” encontram-se dentro do modelo de Sasser, Olson & Wyckoff (1978). As componentes estão relacionadas com as comodidades e com os elementos tangíveis e intangíveis. Esses elementos são compostos pelo destino rural, pelas atrações culturais, pelas atividades socioculturais e de natureza, e as comodidades são representadas pelas pousadas de juventude.

Existe também a possibilidade do produto “cultural-rural” ser criado sobre “pseudo- eventos” não passando de uma representação teatral. “A autenticidade imaginada [em muitos casos] é contextualizada em função do turismo e dos turistas” (Pérez, 2009, p. 94). Esta situação não implica que o produto passe a ser visto como um serviço artificial ou suscitador de “falsas identidades”. Esta visão “sobre romantizada” dos destinos deve ser evitada, apostando-se na preservação da cultura local em vez da promoção de culturas modernas (Swarbrooke, 1996 b citado por Turnock, 2002).

A forma como o produto é oferecido aos turistas apresenta também os seus problemas. As especificidades que compõem o produto variam de destino para destino, situação que pode ser contornada a partir da criação de uma imagem positiva sobre o local. É a partir dessa perceção pictórica que o turista decide sobre a escolha do lugar (Phau, Shanka, & Dhayan, 2009). Contudo, sem que este visite verdadeiramente o destino todas as imagens formadas são induzidas por agentes exteriores, que se tornam responsáveis pelas expectativas criadas em relação às experiências do local. De acordo com Oliveira (2002) as experiências são automaticamente positivas se existir um equilíbrio entre o ambiente natural, o contato pessoal, o visitante e a comunidade.

Em suma o turismo “cultural-rural” como produto turístico permite satisfazer as motivações dos mais jovens, é incorporado e inovador desenvolvendo um contacto com a natureza e a cultura dos destinos.

4.

Capítulo IV – Hipóteses, Metodologia e Casos

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