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3   Responsabilidade social e SUSTENTABILIDADE 15

3.4   Turismo Gastronómico e sustentabilidade 18

Em 1986, na escadaria da Praça de Espanha, em Roma, um movimento de intelectuais antiglobalização disponibiliza a todos os passantes uma seleção de pratos tipicamente italianos. Petrini (2003) refere que o objetivo era protestar contra a abertura de um restaurante

9 T. l. a., do original: “But the "environment" is where we all live; and "development" is what we all do in attempting to

improve our lot within that abode. The two are inseparable.”

10T. l. a., do original: “Humanity has the ability to make development sustainable to ensure that it meets the needs of the

present without compromising the ability of future generations to meet their own needs.”

TURISMO GASTRONÓMICO Sustentabilidade e oferta hoteleira no Porto e Norte de Portugal

FCNAUP - MAC - Julho 2015 | 19

McDonald’s na cidade mas também sensibilizar a população para alternativas alimentares não massificadas e não globalizadas. Surge então o movimento slow food (antítese de fast-food) que pretende ser um movimento ecológico e gastronómico. É também um movimento cultural na medida em que contraria o ritmo agitado da vida moderna.

O movimento cittaslow é uma rede independente de pequenas cidades que nasceu em 1999 na Itália. Conta atualmente com 192 membros espalhados por 30 países (cittaslow, 2014, in

http://www.cittaslow.org/download/DocumentiUfficiali/CITTASLOW_LIST_november2014.

pdf). Portugal está representado com 6 localidades que aderiram ao conceito de slow food,

sendo 4 localizadas no Algarve e 2 na região do Porto e Norte. A ideia subjacente a cittaslow é levar o conceito slow food para as comunidades e governos locais, de modo a aplicar os conceitos da eco-gastronomia na vida quotidiana. Os municípios que aderiram têm uma população inferior a 50.000 habitantes e são motivados pelo reencontro do Homem com a sazonalidade, a saúde, a autenticidade dos produtos locais, a boa comida, a riqueza das tradições, paisagens preservadas, ritos religiosos e uma vida tranquila e calma (cittaslow homepage, 2015)

Scarpato (2002) considera ainda que há um caminho a percorrer no que concerne ao desenvolvimento da investigação do turismo gastronómico e que esse estudo passa por 3 pilares fundamentais que são os estudos gastronómicos inseridos na comunidade, a interdisciplinaridade dos estudos e, finalmente, formação ao nível da gestão e do marketing com vista à evolução do conceito.

Scarpato (2002) e Everet (2008) referem haver uma lacuna ao nível da investigação sobre a questão da sustentabilidade no turismo gastronómico apesar de existirem alguns estudos empíricos sobre o tema.

Everett (2008) refere como conclusões do seu estudo, que existe uma correlação entre o aumento dos níveis de interesse pela gastronomia e o desenvolvimento da identidade regional, o reforço da consciência ambiental e da sustentabilidade com a ênfase na produção de alimentos locais e à conservação das heranças tradicionais, técnicas e hábitos.

Sims (2009) refere também a necessidade de aprofundar a investigação ao nível do relacionamento da alimentação e turismo, no sentido do desenvolvimento de um turismo sustentável, baseado no renovado interesse pela gastronomia local. Os produtos regionais melhoram a economia local e a sustentabilidade ambiental, quer do turismo mas também das populações em si. As vantagens são várias, segundo Sims (2009). A criação de marcas de carácter regional e local beneficia a região e atrai visitantes, criando-se o efeito multiplicador nas áreas periféricas do turismo. Mas também a redução da pegada ecológica com a diminuição das distâncias de transporte dos alimentos. Este autor refere que a competitividade dos destinos é grande e a sustentabilidade é mais um fator de diferenciação face à concorrência e atração de visitantes. O Turismo rural integrado busca o equilíbrio entre os lucros esperados do negócio, o bem-estar da população local e a utilização de práticas sustentáveis de produção alimentar. No que concerne à produção local, os desejos do turista vão mais além, solicitando, não só os produtos tradicionais e locais mas, em simultâneo, buscam autenticidade.

Retomando a questão do slow food, Nilsson et al (2010) refere que há uma relação entre “Slow food” e desenvolvimento turístico que tem sido negligenciada pela literatura turística. O conceito de cittaslow referido anteriormente tem de ser entendido para o desenvolvimento

turístico como de carácter rural. No contexto rural, o turismo gastronómico tem vindo a ser encarado como forma de desenvolvimento local e fixação das populações baseada em comunidades rurais sustentáveis. O turismo gastronómico é benéfico para a sustentabilidade, na vertente ambiental rural, na medida em que é criada uma consciência gastronómica que abre portas à promoção do património gastronómicos com utilização privilegiada de produtos locais, onde a pegada ecológica é reduzida e a economia local é favorecida.. A utilização das redes locais de distribuição dos produtos locais (e ecológicos, pela sua pegada diminuta) para os restaurantes e demais retalho ajuda os pequenos agricultores a sobreviver (Sims citado por Nilsson, 2010). Nilsson chama a atenção para um fator determinante que se prende como o facto de as pequenas empresas não terem capacidade de penetração no mercado de uma forma independente. As pequenas e médias empresas necessitam de se organizar em associações com interesses comuns, que podem abranger diversos sectores de atividade e devem contar com apoios governamentais ao nível dos recursos financeiros e tecnológicos.

Ao traçar o perfil do turista gastronómico, Sanchéz-Cañizares (2011) refere que a importância da gastronomia durante a viagem pode diferir com os turistas, pelo que defende que devem ser adotadas estratégias diversificadas que assentem na criação de rotas gastronómicas para fomento da produção local com respeito pelas tradições.

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