• Nenhum resultado encontrado

6. Declínio – o poder de atração continua a cair; os visitantes se dirigem para

2.2 Turismo Rural no Brasil

A atividade turística desempenha, hoje, um papel que ultrapassa a simples satisfação da necessidade de se praticar o lazer no tempo livre do trabalhador. O turismo cumpre uma função social, a medida que sensibiliza, mobiliza e integra as comunidades na busca de um desenvolvimento local sustentável, potencializando e otimizando os recursos disponíveis, a fim de gerar ocupação e renda para a família rural, resgatando, com isso, a auto-estima e a qualidade de vida do agricultor familiar.

No espaço rural, os serviços vêm, progressivamente, desempenhando um papel essencialmente importante no processo de organização espacial das comunidades rurais. O turismo tem se mostrado uma alternativa interessante para pequenas localidades cujo principal produto econômico é a agricultura, seja por sua capacidade geradora de divisas e oportunidades de novos empreendimentos, seja pela fixação do homem no campo. Neste contexto, vale salientar alguns pontos importantes que devem ser somados para garantir a sustentabilidade desta atividade, seja econômica, ecológica ou social – a importância da compreensão do significado da atividade e a participação da comunidade local em todas as fases do processo.

No Sul do Brasil as experiências em turismo no espaço rural estão se desenvolvendo de forma sustentável a partir do momento que se observa uma sensível preocupação da população local com a conservação do ambiente natural e cultural, além da participação ativa dos agricultores familiares. Algumas experiências pioneiras

merecem destaque, como, segundo Zimmermann (1996), a do Município de Lages, Santa Catarina, na região Sul do país, implantado em 1986. Uma região que antes servia somente como parada na travessia do Planalto Serrano catarinense para o Estado do Rio Grande do Sul. A pecuária era a base de sua economia, praticada em várias propriedades existentes além da exploração da madeira. Mais tarde, com a escassez da madeira nativa devido à exploração indiscriminada, algumas mudanças foram necessárias e, no ano de 1986, alguns produtores resolveram diversificar sua área de atuação e começaram a abrir suas propriedades para visitação, aqueles visitantes que vinham passar o final de semana e vivenciar o dia-a-dia da fazenda. Inicialmente, o visitante chegava para tomar café da manhã e acabava passando o dia inteiro, participando de atividades como tosa das ovelhas, a doma dos potros, inseminação artificial, entre outras.

Atualmente Lages aproveita as características peculiares de cada propriedade e de seus proprietários que criaram a primeira rota de “Turismo no Espaço Rural”, envolvendo várias propriedades com diferentes opções de atividades. Conseqüência desta ação foi a manutenção da atividade produtiva das propriedades, agora ativa e fortalecida, tanto pela agregação de valores em seus produtos, como pela renda extra oferecida por estas atividades (ROQUE; VIVAN, 1999, p. 3).

Nas outras regiões do Brasil, o turismo rural também vem se destacando como uma alternativa para a complementação da renda agrícola das famílias rurais. No Rio Grande do Sul, os Municípios da “Quarta Colônia”, uma região rica em tradição e cultura, com uma programação de lazer ligada à natureza e às áreas rurais. Na região Sudeste, todos os Estados que participam da atividade têm características adequadas para a implantação do turismo no espaço rural. O Estado de São Paulo, com grande potencial no interior para as atividades turísticas, como Amparo, São José do Barreiro, Mococa e outros municípios desenvolvem este tipo de atividade. Em Minas Gerais existem as rotas do “Agroturismo”, compostas pelas rotas da cachaça, do queijo e das flores. O Espírito Santo vem desenvolvendo o turismo na região de montanha, como nos Municípios de Afonso Cláudio e Venda Nova do Imigrante. No Rio de Janeiro, a “Rota do Café”, com seus casarios coloniais de forte apelo histórico e a “Rota da Truta”, nas regiões serranas. Em outros Estados como o Mato-Grosso do Sul e Mato-Grosso, o Ecoturismo, Hotéis-Fazenda, as Pousadas-Rurais, são os destaques na região do Pantanal.

Na região Nordeste, a Bahia possui a “Rota do Cacau” que consorcia grandes fazendas cacaueiras com atividades turísticas. No caso especial de Pernambuco, está sendo desenvolvido o “Roteiro dos Engenhos”, com alguns municípios da Zona da Mata Norte do Estado. Na Zona da Mata Sul, percebe-se o interesse, por parte dos agricultores familiares, em desenvolver a atividade turística, principalmente devido ao grande potencial natural e cultural existente nesta região como, por exemplo, as cachoeiras, as casas de farinha, as antigas casas-grande dos engenhos onde hoje funcionam hotéis e a própria produção agrícola diversificada desses trabalhadores, que despertam o interesse dos citadinos.

Entretanto, para que a atividade turística neste espaço aconteça de fato, é necessário que se desenvolva um trabalho de organização comunitária, a partir da formação de associações, como já vem sendo promovida, o que se apresenta como um estímulo para que o local se reestruture socialmente para uma conseqüente viabilidade econômica e se torne cada vez mais independente para atender seus próprios interesses. A partir disso e frente às profundas transformações que vêm enfrentando os agricultores familiares com a atividade agropecuária, busca-se alternativas para que o homem do campo não abandone seu espaço, sobrevivendo às margens dos grandes centros urbanos.

Diante desta situação, percebeu-se a necessidade de criar novas alternativas e estratégias que permitissem, de forma digna, a manutenção do homem no campo. Essas alternativas e estratégias surgem a partir da percepção do próprio produtor rural de sua realidade cotidiana, através de uma visão sistêmica3 de sua propriedade que geram uma nova dinâmica nas relações econômicas e sociais no espaço rural brasileiro, a qual alterou a sua estrutura e a composição do mercado de trabalho. Neste sentido, as mudanças na dinâmica do trabalho agrícola já são perfeitamente visíveis, seja através da combinação de diferentes atividades dentro das propriedades, como a implementação de atividades não-agrícolas nem sempre ligadas exclusivamente à produção agropecuária, como o turismo, por exemplo, que deve ser associado aos agricultores familiares de maneira inovadora e ao mesmo tempo sem que se afaste das especificidades locais, valorizando e preservando o patrimônio rural. Nesta atividade, o produtor rural passa a

3 Tendo o sistema como um conjunto das partes que interagem para atingir um determinado fim (Beni, 1998, p. 25).

ser prestador de serviços turísticos, trabalhando diretamente na conservação ambiental e cultural da sua região.

Este tipo de turismo, mais pessoal e acolhedor no espaço agrário, vem se destacando frente àquele turismo tradicional de massa. O turista é convidado a conhecer e a fazer parte, mesmo que somente por um pequeno espaço de tempo, das rotinas diárias das famílias rurais, aprendendo, na prática, suas tradições, hábitos e costumes. Como resultado dessa interação, há o resgate da auto-estima do trabalhador do campo, pois a valorização da identidade cultural rural é incentivada pela presença dos turistas urbanos, fomentando a produção e o desenvolvimento local.

Visando contribuir para o desenvolvimento do espaço rural e proporcionar novas opções de lazer, o turismo rural foi inserido no contexto do Plano Nacional do Turismo 2003/2007, pelo Ministério do Turismo, a partir dos seguintes argumentos:

1. Diversifica a oferta turística;

2. Aumenta os postos de trabalho e aumenta a renda no meio rural; 3. Valoriza a pluralidade e as diferenças regionais;

4. Consolida produtos turísticos de qualidade e; 5. Interioriza a atividade turística.

Diante dos argumentos acima citados, o Ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia reconhece a importância e as proporções que o turismo rural vem tomando no cenário nacional. Em conseqüência desse reconhecimento, o Ministério do Turismo apresenta “As Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil”, resultado de um trabalho multidisciplinar de técnicos, agentes e atores da atividade turística no espaço rural. Esse documento tem como base a valorização da ruralidade, a conservação do meio ambiente, os anseios socioeconômicos dos envolvidos, a articulação institucional e intersetorial, definindo algumas ações norteadoras para o envolvimento do setor público, iniciativa privada e organizações não-governamentais e comunidades.

A prática do Turismo Rural no Brasil e no mundo vem proporcionando uma série de benefícios apresentados no documento de Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil, entre eles merecem destaque:

1. Diversificação da economia regional, pelo estabelecimento de micro e pequenos negócios;

2. Melhoria das condições de vida das famílias rurais; 3. Diversificação da oferta turística;

4. Diminuição do êxodo rural;

5. Conservação dos recursos naturais;

6. Geração de novas oportunidades de trabalho; 7. Resgate da auto-estima do campesino.

A associação entre o produtor rural e a prestação dos serviços turísticos representa novas oportunidades de trabalho e renda, apresentando os modos tradicionais e artesanais da agricultura familiar como produtos turísticos, assim como o estilo de vida, os costumes e o modo de produção das famílias rurais que despertam o interesse não somente dos grandes centros urbanos, mas também dos municípios vizinhos (BLANCO, 2005, p. 1).

Com essa estratégia para manutenção das famílias rurais no campo, de maneira digna e sustentável, através do turismo rural, as propriedades familiares passam a ser encaradas como sistemas produtivos e orgânicos em que novas atividades são agregadas numa proposta de sustentabilidade local.

O Turismo Rural associado à Agricultura Familiar tem tomado grandes proporções despertando o interesse do Ministério do Desenvolvimento Agrário, criando uma linha especial de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o PRONAF Turismo Rural, com o objetivo de implementar projetos em propriedades familiares como: cafés coloniais, pousadas, estabelecimentos do tipo pesque-pague, colha-pague, restaurantes típicos, entre outros.

Existe também, criada pelo poder público, a rede TRAF (Turismo Rural na Agricultura Familiar), um grupo de articulação nacional envolvendo mais de cem instituições, com o apoio do Instituto de Cooperação para a Agricultura e o Ministério da Agricultura (BLANCO, 2005, p. 2).

Visando um maior apoio do poder público, as prefeituras e diversas instituições estão se associando aos sindicatos de trabalhadores rurais criando cooperativas que procuram atender às necessidades das famílias rurais.

O Turismo Rural deve ter, além de uma gestão participativa, com os próprios agricultores familiares sendo os protagonistas desse processo, deve ser ainda desenvolvida com responsabilidade e sensibilidade para que o limite máximo de crescimento da atividade possa ser identificado antes que seja ultrapassado, o que acarretaria em impactos no meio ambiente natural, o descontentamento do público que vinha sendo contemplado e desestruturação da comunidade anfitriã.

Para que o Turismo Rural se desenvolva de maneira sustentável e os benefícios sejam igualmente distribuídos por toda a comunidade, algumas características são relevantes de acordo com Oliveira (2005, p.19):

1. O resgate e a valorização da auto-estima das pessoas, que passam a ver sua cultura, seus fazeres e saberes como fatores capazes de instigar o interesse alheio e até motivar um fluxo de visitantes e turistas para vivenciar seu cotidiano;

2. A relação entre pessoa e lugar, estreitando o relacionamento e os vínculos com determinado território pelo desenvolvimento de atividades de interesse comum, com forte valorização das características da localidade;

3. A força do turismo como instrumento capaz de proporcionar um novo olhar tanto para a forma de estímulo à melhoria da qualidade de vida quanto para a possibilidade de agregação de valor às atividades tradicionais, à beleza cênica e ao patrimônio intangível;

4. O empreendedorismo, envolvendo e estimulando, direta ou indiretamente, pessoas da comunidade a atuarem proativamente na atividade turística, ajustando-as, em muitos casos, na reinserção da dinâmica sociocultural local.

Para reforçar a importância do protagonismo local na atividade de Turismo Rural, Campanhola e Silva (2000, p.151 apud OLIVEIRA, 2005, p. 207) afirmam que:

O turismo pode constituir um dos vetores do desenvolvimento local, desde que haja controle, por atores sociais locais, das atividades por ele desencadeadas, permitindo assim que as comunidades locais se apropriem dos benefícios gerados.

Portanto, para o crescimento dessa atividade no espaço rural é fundamental que sejam considerados aspectos que priorizem o desenvolvimento endógeno4, ascendente5 e autocentrado6 (OLIVEIRA, 2005), ou seja, o aproveitamento das especificidades de cada localidade e o pleno aproveitamento de suas potencialidades e oportunidades.

Diante da ineficiência de ações das iniciativas pública e privada no sentido de fomentar e promover o desenvolvimento dessa atividade, juntamente com a ausência de um consenso sobre a conceituação de Turismo Rural, a falta de critérios, regulamentações, incentivos e outras informações que orientem os produtores rurais, os investidores e o próprio Governo são as causas de um segmento impulsionado quase que por completo pela oportunidade de mercado, o que pode comprometer a imagem do produto e as expectativas dos agricultores familiares.