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1 INTRODUÇÃO

2.4 O TURISMO RURAL PEDAGÓGICO

Caracterizado por um conjunto de atividades práticas realizadas no âmbito da propriedade rural que utiliza como recurso didático as atividades agrícolas, a produção agropecuária e os recursos naturais e culturais ali existentes, o turismo rural pedagógico emerge como uma alternativa inovadora que reflete as características do novo rural (KLEIN, 2012, p. 42). Assim, o turismo rural pedagógico pode ser compreendido como uma atividade “nova”, que tem como base o uso dos recursos disponíveis no meio rural como ferramenta didática, o que vai ao encontro, muitas vezes, dos objetivos e características do turismo pedagógico e/ou turismo educativo. Todavia, apesar dos dois segmentos – turismo pedagógico e turismo rural pedagógico – tratarem de práticas pedagógicas, estas apresentam diferenças relevantes que merecem ser discutidas para um melhor esclarecimento de ambos os termos.

O turismo pedagógico teve seus primeiros registros nas décadas de 1930 e 1940. As iniciativas buscavam promover uma maior interação do aluno com a natureza, de modo a completar os estudos em sala de aula, como relatam Gabrielsen e Holtzer (1971) em sua obra

Educación al aire libre. Para Beltrame (2008), o turismo pedagógico possibilita às

instituições de ensino proporcionar aos alunos que aprendam na prática o que foi visto teoricamente na sala de aula, utilizando as viagens de estudo como mecanismo eficaz e facilitador do processo educacional. Acredita-se que o emprego de métodos de ensino que permitam ao estudante vivenciar algum tipo de experiência aumenta a eficácia da aprendizagem. Desse modo, o turismo pedagógico é definido por Peccatiello (2005, p. 6), como

[...] uma estratégia didática que permite a utilização do ambiente como recurso de ensino já que é uma viagem de estudo do meio e possibilita vias de acesso ou de trocas entre alunos, professores e o meio. [...] O turismo pedagógico promove a interdisciplinaridade. Esta característica compreende a inter-relação entre as disciplinas e também a interação entre ciência e ser humano, confluindo para a formação de pessoas mais críticas, com condições para, ao invés de reproduzir,

produzir conhecimento e, por conseguinte, capazes de desenvolver a ciência e não, simplesmente, absorvê-la.

Apesar de ser uma prática que pode ser vivenciada tanto no meio urbano quanto no meio rural, diversos trabalhos relatam a importância dessa atividade pedagógica na interação com a natureza. Neste sentido, Perinotto (2008) argumenta que o turismo pedagógico é uma ferramenta de educação ambiental que, na prática, demonstra a teoria das salas de aula. Pode ser vivenciado junto à natureza e ao campo, onde os alunos entram em contato com a comunidade local, sentem as dificuldades do cotidiano da localidade e adquirem novos conhecimentos e informações sobre o espaço rural, interagindo com os atrativos/recursos turísticos visitados.

Quanto ao turismo rural pedagógico, este difere do turismo pedagógico por ser uma atividade recente e que tem como instrumentos didáticos as atividades de exploração agropecuárias, os recursos naturais e culturais exclusivos das propriedades rurais. No Brasil, o termo TRP surgiu no ano de 2005 e foi definido pela Associação Brasileira de Turismo Rural (ABRATURR/ECA JR., 2005, p. 6) como:

[...] o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com o meio ambiente e a produção agropecuária e/ou com os valores históricos de produção no universo rural, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural natural da comunidade que fundamentalmente tem um acompanhamento didático pedagógico com o objetivo de aquisição de conhecimento.

Alguns países europeus, assim como Japão, Estados Unidos e Noruega, apesar de não utilizarem o termo turismo rural pedagógico, como mostram as informações contidas no Quadro 1, já vêm desenvolvendo, nas propriedades rurais, atividades pedagógicas ao longo das últimas décadas.

Quadro 1 – Expressões usadas nos principais países para designar as atividades pedagógicas desenvolvidas em propriedade rurais.

País Expressão

Brasil Turismo Rural Pedagógico

Estados Unidos Educational Farms

França Fermes Pédagogiques

Noruega Pedagogiske Gårder

Itália Fattorie Didattiche

Japão Educational Farms

Portugal Quintas Pedagógicas

Fonte: Elaborado pela autora, com base na literatura consultada (2015).

Para Napoli (2010), as unidades pedagógicas são propriedades rurais compelidas pela necessidade de uma comunicação direta com os citadinos, os quais se encontram afastados parcialmente da sua relação com a indústria agroalimentar. Segundo o autor, no contexto europeu as propriedades pedagógicas não têm professores ou assistentes para instruírem nas atividades pedagógicas, mas sim agricultores experientes, os quais têm habilidade crítica para responder as curiosidades dos visitantes, não apenas quanto às atividades agrícolas e os animais, mas também sobre os valores sociais, econômicos, culturais e ambientais das atividades.

Segundo Adams (2008), quando bem planejadas as propriedades rurais educacionais podem resultar em um cenário mais saudável, com a satisfação de saber que através desta se está contribuindo para a preservação das habilidades tradicionais e/ou da arte do conhecimento do meio rural para o mundo. Admitindo esta ideia, Klein, Troian e Souza (2011, p. 119), alegam que o TRP “possibilita o contato com diferentes culturas e costumes, aproximando pessoas, integrando campo e cidade e valorizando espaços antes configurados como lugares atrasados e sem perspectivas de desenvolvimento”.

Assim, as propriedades rurais pedagógicas contribuem de forma fundamental na introdução de novas gerações ao meio rural, a partir do contato e troca de experiências diretas com o rural. Para Ohe (2007) essa função educativa da agricultura desenvolvida via propriedades pedagógicas desempenha um papel cada vez mais importante na sociedade atual, na medida em que permite aos estudantes a oportunidade de aprender temas relacionados à alimentação e ao patrimônio rural.

Já para GURRIERI (2008), estas propriedades representam locais que favorecem uma conexão direta entre a cidade e o campo, entre produtor e cidadão, entre o agricultor e o

consumidor, caracterizando-se numa importante ferramenta capaz de impedir a dispersão do patrimônio sociocultural existente no meio rural, relativo principalmente ao meio ambiente e a produção de alimentos Ainda nesta direção, o autor ressalta que este “aprender fazendo” promove não apenas a educação alimentar e ambiental de crianças e jovens, mas também de suas famílias.

Assim, o TRP pode ser qualificado não apenas como um instrumento que perpassa as atividades educacionais desenvolvidas a partir de práticas agrícolas e agropecuárias, mas também como um processo que busca a formação de uma nova geração, capaz de compreender o valor de suas escolhas, não apenas como ato individual, mas capaz de valorizar as tradições, o meio rural, e dessa forma construir uma sociedade apta a promover o desenvolvimento com mais equidade, consciência ambiental e justiça social. Neste sentido, esta modalidade de turismo surge como uma estratégia de desenvolvimento local, na medida em que abrange não apenas benefícios aos estudantes, mas também pode proporcionar uma nova dinâmica socioeconômica nas comunidades rurais onde é desenvolvido.

Buscando identificar quais são as motivações dos agricultores familiares participantes do turismo rural pedagógico e os benefícios socioeconômicos que este é capaz de promover, não só aos agricultores, mas à comunidade rural ao seu entorno, ampliaremos na sessão seguinte as discussões a respeito das diferentes motivações e benefícios socioeconômicos do turismo rural e agroturismo.

2.5 MOTIVAÇÕES E BENEFÍCIOS SOCIOECONÔMICOS DO TURISMO RURAL E

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