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A sala do grupo II A (matutino) fica no segundo piso da escola, nela há uma televisão com DVD, brinquedos, um tipo de colchão grande para os bebês dormirem, além de armário para os professores, bebedouro. No fundo de uma das paredes foi fixado o alfabeto em português/LIBRAS e em outra parede há um espelho. A sala também conta com um pequeno espaço externo para realização de algumas atividades e contém uma mesa com algumas cadeiras. Também existe um banheiro para funcionários e um para as crianças que são interligados à sala do grupo I A.

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Dados retirados do sítio da Prefeitura Municipal de Vitória (http://www.vitoria.es.gov.br/seme.Php? pagina=ensinodelibras).

A turma do grupo II é composta por 16 crianças, com idades entre 1 a 2 anos, sendo que destes, 02 são surdos, Antonio11, com idade de 1 ano e 4 meses, e Joaquim de 1 ano e 6 meses no início da pesquisa, no mês de julho do ano de 2013. Também faz parte da turma duas professoras regentes, duas assistentes de educação infantil além da professora bilíngue e instrutora de LIBRAS.

O projeto elaborado pelas professoras deste grupo para o ano letivo de 2013 se intitula: “Sabores e Cores – gostosuras de nossa terra” que tem como objetivo conhecer e identificar cores, texturas e os diferentes sabores das frutas, explorando as frutas existentes no Estado do Espírito Santo.

O desenvolvimento do projeto acontecia por meio de conversas na rodinha, apresentação das frutas existentes neste Estado, em que as crianças podem conhecer as frutas não só pela degustação, mas também por meio de imagens, vídeos e músicas. Sendo assim, durante o ano letivo, as professoras se dispuseram a apresentar as frutas naturais, bem como confeccionar com as crianças cartazes com o desenho das frutas para exposição na escola, além da apresentação da música “O rock das frutas”, como forma de apropriação do conhecimento e objetivo proposto. Todo esse trabalho é acompanhado da equipe bilíngue que trabalha em conjunto com a turma. Para o desenvolvimento dessas atividades as professoras contam com um horário de planejamento diário com duração de 50 minutos que pode ser individual ou coletivo, com outras professoras ou pedagoga.

As crianças do grupo II A seguem uma rotina semanal: entram na escola às 07:00. Às 07:30 elas lancham na sala de aula e o almoço é servido às 09:30 no refeitório, o cardápio das alimentações é elaborado pelos nutricionistas da Prefeitura Municipal de Vitória e devem ser seguidos pelos CMEI’s. Após o almoço, todas as crianças retornam para a sala de aula, sentam-se para beber água, e de uma a uma vão ao banheiro para as assistentes lavarem suas bocas e posteriormente há a troca de fraldas e roupas sujas; participam destas ações professores, assistentes de educação infantil e equipe bilíngue, e após estas ações a criança que desejar pode dormir até o horário de saída que é as 11:10.

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Todos os nomes citados neste estudo são fictícios para preservar a identidade dos sujeitos envolvidos.

Entre esses horários, eles desenvolvem atividades fixas programadas com duração de 50 minutos, mediadas pelos professores dinamizadores de artes e educação física e pela estagiária de informática com a colaboração das assistentes de educação infantil, como consta no quadro (1) a seguir:

Quadro 1: Horário Semanal do grupo II-A

ROTINA SEMANAL GRUPO II A – MATUTINO - 2013

segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira

07:20 Ed. Física 07:40 Informática 07:20 Ed. Física 09:20 Ed. Física 07:20 Artes 08:10 Ed. Física

Após o momento da acolhida, antes ou após as atividades e de acordo com o planejamento das professoras regentes ou dinamizadoras de artes e educação física, as crianças podem brincar coletivamente com os brinquedos disponíveis na sala ou no corredor/pátio, interagindo umas com as outras. Na sala há carrinhos, bonecas, brinquedos de encaixe, entre outros, e no corredor/pátio tem brinquedos como cavalinho, casinhas, balanços e escorregador.

As professoras regentes do grupo II A – matutino, possuem formações distintas. Núbia é graduada em pedagogia e pós-graduada em educação infantil e em gestão educacional, está há 20 anos na função de professora e nunca tinha tido contato com crianças surdas. Marina possui o magistério, tem 25 anos na função de professora e também nunca tinha tido contato com crianças surdas. Além disso, a forma de ingressarem no sistema público de ensino também diverge, uma entrou como servidora efetiva com o antigo cargo denominado berçarista, que com sua extinção possibilitou aos profissionais que possuíam magistério a mudança de cargo para professor de educação infantil, hoje denominado PEB I, já a outra professora foi aprovada diretamente em concurso público para o cargo PEB I. Ambas não sabem LIBRAS e tentam aprender cotidianamente.

O grupo II possui duas assistentes de educação infantil (AEI´s), que entraram no cargo por meio de concurso público realizado pela prefeitura municipal de Vitória em 2007, Kamila, quando assumiu o cargo público, possuía o nível médio completo (exigido pelo concurso) e após ingressar neste cargo matriculou-se no curso de pedagogia (cursando-o atualmente), está nessa função há 3 anos e não sabe LIBRAS. Roberta está no cargo há 4 anos, possui graduação em pedagogia e pós- graduação em orientação educacional, além de cursos de formação continuada em educação infantil, berçarista e educação ambiental; ela nunca tinha tido contato com surdos e atualmente faz, pela PMV, o curso de LIBRAS – básico como forma de aperfeiçoamento profissional para atender as necessidades educativas dos sujeitos surdos de sua turma (grupo II).

O grupo II A é formado por 16 crianças, as crianças em geral são tranquilas e os conflitos enfrentados por elas dizem respeito a tomar brinquedos e objetos das mãos dos colegas, morder como forma de defesa, ou o choro como pedido de ajuda. Esses fatos são intermediados pelas professoras e assistentes de educação infantil no cotidiano escolar, sempre com diálogos e explicações. As crianças seguem uma rotina diária proposta pela escola e planejada pelas professoras, fazem atividades, assistem dvd, brincam, lancham, almoçam e dormem.

Os bebês surdos seguem a mesma rotina das demais crianças e contam também com o apoio da equipe bilíngue e dos profissionais da sala. Antonio no início do ano fazia parte do grupo I. Com a chegada de outro bebê surdo, porém com idade para fazer parte do grupo II, a equipe bilíngue refletiu a possibilidade de os dois bebês permanecerem na mesma sala para que também pudessem ter contato com seus pares surdos. Desta forma, Antonio que era do grupo I passou a frequentar o grupo II, essa troca de sala e de rotina foi programada pelos profissionais que tiveram o cuidado de fazer essa transição aos poucos de modo que fosse mais aceitável para o bebê que estava mudando de sala. Sua adaptação, de acordo com os professores, ocorreu de forma tranquila, como as salas são interligadas com o uso do banheiro infantil em comum, os profissionais sempre que possível retornavam com o bebê para sua turma de origem para que a troca de sala não fosse brusca e repentina. Os bebês tiveram uma adaptação tranquila tanto na rotina da escola, como em relação aos profissionais e os colegas de salas. Eles interagem com a turma, entre

eles mesmos, envolvem-se nas atividades e estão em processo de aprendizagem da LIBRAS, que é trabalhada diariamente em situações do cotidiano.

Antonio (1 ano e 4 meses de idade) é um bebê moreno, de cabelos cacheados e estrutura corporal grande para sua idade, é muito carismático, simpático e afetuoso com os funcionários e os colegas de turma, além de ser bem esperto. É filho de pais surdos e também tem um irmão surdo que frequentou este mesmo CMEI, sua família é fluente em LIBRAS. O bebê vai para a escola de transporte escolar, o que diminui o contato dos profissionais direto com a família, e quando sai do CMEI, ele frequenta outra escola na parte da tarde, pois os pais trabalham.

Joaquim (1 ano e 6 meses de idade) é um bebê branco de cabelos lisos e loiro, magro. Joaquim é um bebê alegre e que gosta de brincar com objetos de encaixe, fica bravo quando é contrariado, chora quando algum desafeto o atinge. Também é filho de pais surdos, sua mãe o acompanha diariamente à escola e participa dos projetos que as professoras propõem. Ele é filho único e seus pais também são fluentes em LIBRAS, eles residem em Vila Velha.

Ambos os bebês não frequentam o atendimento educacional especializado. Eles adoram brincar com os colegas, gostam de se olhar no espelho e de observar o alfabeto português/LIBRAS fixado no final da sala. Eles interagem com todos os profissionais, suas professoras tentam aprender a LIBRAS, porém eles buscam mais aproximação com a equipe bilíngue que só se comunica com eles por meio da LIBRAS. São curiosos e repetem os sinais que lhe são ensinados diariamente, demonstram que já internalizaram alguns sinais e comandos, como o sinal de /SENTAR/, /ÁGUA/, /VENTILADOR/, /DORMIR/, /ENTENDEU/, entre outros.

5 AS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E OS BEBÊS SURDOS

“A emoção, a inquietude aparecem em nós cada vez que se rompe o equilíbrio entre nós e o meio ambiente.” Vigotski

Neste capítulo, trilhamos caminhos que nos levam a compreender como ocorre a inclusão de bebês surdos na educação infantil do município de Vitória e como LIBRAS medeia a relação das crianças surdas com os profissionais da escola e com os integrantes da turma do Grupo II - A e os investimentos em seu ensino. Para tanto, buscamos compreender por meio de entrevistas semiestruturadas as concepções dos profissionais da escola a respeito da inclusão e de surdez, de seus trabalhos com os bebês surdos e o planejamento das atividades desenvolvidas neste Grupo. Além disso, em nossas observações procuramos entender como ocorre o cuidado, a educação e as atividades lúdicas no Grupo II-A, em diferentes espaços/tempos e com os profissionais envolvidos no processo de inclusão dos bebês surdos.

5.1 CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS A RESPEITO DA INCLUSÃO, SURDEZ