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3 TUTELA INIBITÓRIA AMBIENTAL ALÉM DO ILÍCITO

3.5 Tutela inibitória ambiental contra riscos ilícitos

O meio ambiente, para ser adequada e efetivamente tutelado, depende de tutelas preventivas que correspondam às suas necessidades peculiares. A existência de danos de difícil ou impossível reparação, aliada ao escopo eminentemente preventivo do direito ambiental e da garantia à inviolabilidade dos bens que se propõe a proteger, são razões que importam para a concepção de formas de tutelas que busquem prevenção com a maior eficácia possível.

96 “[...] a tutela de remoção do ilícito, assim como a tutela inibitória, não é uma tutela contra o dano. A tutela de

remoção do ilícito objetiva a remover ou eliminar o próprio ilícito, isto é, a causa do dano; não visa ressarcir o prejudicado pelo dano. No caso de tutela de remoção do ilícito, é suficiente a transgressão de um comando jurídico, pouco importando se o interesse privado tutelado pela norma foi efetivamente lesado ou se ocorreu um dano” (MARINONI, 2006b, p. 155).

A tutela inibitória, como se viu, prescinde do dano e da culpa para que possa atuar diante dos casos concretos, visando impedir a prática de qualquer ato ilícito, do qual, eventualmente, decorre dano. Tendo em vista que essa forma de tutela preocupa-se com o futuro, com a proteção integral dos direitos, com a observância das normas, pode-se afirmar que constitui poderosa ferramenta para a proteção ambiental.

O fundamento de ordem material da tutela inibitória está no art. 225 da CRFB, que assegura a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e, também, prescreve uma norma geral de proteção (TESSLER, 2004, p. 229). Esse dever de proteção deriva da constatação que, depois de ocorrida uma lesão ao ambiente, dificilmente se consegue restabelecer a situação anterior.

Diante do texto constitucional, que explicitamente impõe à coletividade e ao Poder Público, isto é, a todas as pessoas, o dever de defender e preservar o meio ambiente, é possível concluir que existe uma obrigação objetiva e genérica relacionada à prevenção ambiental (TESSLER, 2004, p. 235).

Isso significa que todos têm o dever de evitar a prática de ilícitos ambientais e, como para a configuração do ilícito basta a infração ao dever genérico de inviolabilidade, todo aquele que ameaçar a higidez ecológica estará sujeito à tutela inibitória ambiental, independentemente de sua intenção (TESSLER, 2004, p. 235-236).

Desse modo, a vontade ou a intenção do réu ao praticar uma lesão ambiental não importa, visto que o dever de prevenção é violado pela mera exposição do ambiente a um risco intolerável (TESSLER, 2004, p. 236).

Deveras, não há como se prever tudo o que acontece, porém, quem decide explorar uma atividade, com riscos que lhe são inerentes e se enquadram nos padrões de tolerabilidade, precisa se acautelar e adotar medidas de segurança e controle de forma que, com a superveniência de algum fato, esses riscos não se tornem intoleráveis, o que caracteriza um ilícito ambiental (TESSLER, 2004, p. 236).

O grau de tolerabilidade e intolerabilidade dos riscos é estabelecido pela norma. Conforme visto, o risco é uma constante na sociedade, nas quais as atividades humanas constituem sua fonte. Se não há como eliminar, por completo, o risco, urge que sejam fixados seus limites, a fim de que as pessoas possam suportá-lo. O busílis da questão é verificar qual é a necessidade e a suportabilidade do risco, até porque, para o desenvolvimento socioeconômico, há atividades arriscadas que são necessárias.

A fixação dos limites, do “ponto de equilíbrio” dos riscos é o grande desafio da atualidade. Há que definir quais são as atividades que, apesar de portarem riscos ambientais, podem ser admitidas pela sociedade e quais devem ser proibidas; determinar o grau de tolerabilidade dos riscos; estabelecer quais os riscos com que se deve conviver e por quem os riscos do desenvolvimento deverão ser suportados (TESSLER, 2004, p. 149-150).

É tarefa do legislador, atento aos fatos sociais e aos valores, formular normas que determinem os graus de suportabilidade e necessidade dos riscos. Destarte, se o risco puder ser tolerado, haverá norma permitindo-o, caso contrário, constatada a sua intolerabilidade, haverá norma proibindo-o. A primeira hipótese é a do risco lícito, amparado pela norma, e a segunda, a do risco ilícito, que deve ser evitado. Em ambas, se o risco acarretar danos, estes deverão ser reparados.

No caso do risco tolerável, sua licitude, por si só, não evita as externalidades negativas das atividades produtivas, oportunidade em que o princípio do poluidor-pagador deve ser aplicado (TESSLER, 2004, p. 151). Recorde-se, ainda, que a responsabilidade objetiva ambiental obriga o causador do dano a reparar os prejuízos advindos da sua atividade que comporte risco, conforme art. 14, § 1º, da Lei n.º 6.938/81.

Já nas situações em que se depara com o risco intolerável, as medidas preventivas são as ferramentas mais relevantes para a sua gestão. O princípio da precaução, por exemplo, volta-se para o risco abstrato, o qual deve ser afastado em razão das incertezas científicas sobre seus possíveis efeitos perniciosos sobre o meio ambiente. Logo, a ausência de comprovação científica, sobre eventuais riscos que possam ser causados pelo exercício de certa atividade, não pode ser alegada para sua liberação.

Como o que interessa, em primeiro lugar, é a prevenção de qualquer dano, investigam- se formas de tutela e técnicas processuais que se ocupem da prática do ilícito, dispondo-se a evitá-lo ou impedir sua continuação ou repetição.

Para esse mister apresentou-se a noção de tutela inibitória, que, na defesa dos interesses coletivos, está abrigada no art. 84 do CDC, com redação muito semelhante a do art. 461 do CPC, que foi analisado perfunctoriamente acima.

No plano coletivo, a regra que permite essa proteção, é encontrada, ao lado de outras previsões tópicas, inseridas em legislações específicas semelhantes – no disposto no art. 84 do CDC. Esse dispositivo trata [...] da tutela específica das obrigações de fazer ou não fazer, sendo, em verdade, a origem imediata da previsão contida no art. 461 do CPC (que representa verdadeira cópia daquela) (ARENHART, 2003, p. 220).

O risco intolerável que caracteriza um ilícito pode ser evitado por meio da tutela inibitória, cujo alvo é impedir a prática do ato ilícito, contrário ao ordenamento jurídico. Nota-

se que o risco intolerável, considerado como tal por uma norma que o proíbe, caso seja exteriorizado por meio de uma atividade, encaixar-se-á no tipo do ato ilícito, suscetível, portanto, de ser impedido por meio da tutela inibitória.