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2.2 Tutela Provisória

2.2.2 Tutela provisória fundada na urgência

2.2.2.1 Tutela provisória de urgência cautelar antecedente

As disposições legais pertinentes ao tema encontram-se codificadas nos artigos 305 a 310 do novel Código de Processo Civil.

O objetivo desta modalidade de tutela provisória é antecipar, provisoriamente, os efeitos da tutela definitiva cautelar e assegurar sua eficácia até que a decisão final seja proferida.

O artigo 305 do Código de Processo Civil regra o modo como deverá ser requerida a tutela provisória cautelar fundada na urgência em caráter antecedente. A petição inicial do pleito deverá conter a indicação da lide e seus fundamentos, bem como a exposição sumária do direito que se busca acautelar, os pressupostos genéricos (periculum in mora e fumus boni iuris) das tutelas provisórias e o requerimento da medida cautelar em caráter antecedente – além dos demais requisitos genéricos das petições iniciais.

A tutela provisória de urgência cautelar antecedente poderá ser requerida com pedido liminar, se preenchido os requisitos necessários, ou após justificação prévia do autor, vide artigo 300, §2º do Código de Processo Civil.

Aqui, abre-se um parêntese: caso a parte requeira a tutela provisória de urgência cautelar antecedente e, na verdade, tratar-se de tutela provisória de urgência satisfativa, deverá o juiz realizar a fungibilidade das medidas, conforme preconiza o parágrafo único do artigo 305 do Código de Processo Civil.

Nesse diapasão, Antônio Pereira Gaio Júnior aduz:

[...] caso o autor venha requerer tutela de urgência de natureza cautelar (conservativa) e, na verdade, tratar-se de tutela de urgência antecipada (satisfativa), caberá ao magistrado aplicar a fungibilidade das pretensões,

conhecendo então da pretensão satisfativa ao invés da conservativa (ex vi do parágrafo único do art. 305 do CPC/2015) e vice-versa71.

Feita a devida observação, segue-se.

Primeiramente, o magistrado deverá realizar um juízo de admissibilidade da exordial, podendo determinar a sua emenda, indeferi-la ou deferi-la, caso todos os elementos estejam presentes72.

Caso a petição inicial seja indeferida, o processo será extinto nos termos do artigo 330 do Código de Processo Civil. Nesses casos é permitido ao autor formular novo pedido, “inaugurando uma nova ação em autos próprios, sendo esta de cognição plena, abarcando então o pedido principal, tendo em vista que a tutela de urgência cautelar é que fora negada, salvo se o motivo que a obstou for o reconhecimento de decadência ou de prescrição (art. 310 do CPC/2015)”73.

Não sendo o caso de indeferimento e havendo pedido liminar, o magistrado poderá conceder a tutela provisória cautelar antecedente se todos os elementos estiverem presentes ou após justificação prévia do autor, conforme expõe o §2º do artigo 300 do Código de Processo Civil.

Posteriormente, o juiz mandará citar o réu para que, querendo, apresente sua defesa no prazo de 5 (cinco) dias, indicando as provas que pretende produzir.

Caso o réu não conteste a petição inicial, estabelece o artigo 307 do Código de Processo Civil que “os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias”.

No entanto, se o réu apresentar sua contestação no prazo legal, deverá o processo seguir o rito comum, conforme elucida o parágrafo único do artigo supra.

Após a concessão da medida cautelar de urgência antecedente, sua efetivação deverá ocorrer no prazo máximo de 30 (trinta) dias, sob pena de cessar os

71 GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Apontamentos para a tutela provisória (urgência e evidência) no novo Código de Processo Civil brasileiro. Revista de Processo. vol. 254. ano 41. São Paulo: Ed.

RT, abr. 2016, p. 214.

72 DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. vol. 2: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, p. 627.

73 GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Apontamentos para a tutela provisória (urgência e evidência) no novo Código de Processo Civil brasileiro. Revista de Processo. vol. 254. ano 41. São Paulo: Ed.

RT, abr. 2016, p. 214.

efeitos acautelatórios da medida, conforme determina o inciso II do artigo 309 do Código de Processo Civil.

Sobre o tema, Fredie Didier Jr. aponta:

Concedida em caráter antecedente, a tutela provisória cautelar terá de ser efetivada no prazo de trinta dias, sob pena de não mais poder sê-lo, operando-se a cessação da sua eficácia, na forma do art. 309, II, CPC. Deve-se entender que o prazo de trinta dias é para que o requerente busque a efetivação da medida; se ele buscou e fez o que era necessário para tanto, mas a medida não se efetivou porque, por exemplo, o oficial de justiça não citou/intimou o requerido, ou ainda porque este, mesmo citado/intimado, não cumpriu a ordem, não há que se falar em cessação da sua eficácia. Decorrido esse prazo sem efetivação da medida, e desde que isso seja imputável ao próprio requerente, presume-se que despareceu o risco e que a parte não mais deseja a medida cautelar74.

Depois de efetivada a medida – que poderá ser realizada mediante sequestro, arresto, arrolamento de bens etc. –, o autor deverá apresentar o pedido principal no prazo de até 30 (trinta) dias75. O pedido principal será formulado nos mesmos autos do pleito cautelar urgente antecedente, não se exigindo o adiantamento de novas custas processuais, vide artigo 308 do novel Código de Processo Civil.

No entanto, se o autor não formular o pedido principal, a medida cautelar perderá seus efeitos, conforme disposição do inciso I do artigo 309 do Código de Processo Civil.

Formulado o pedido principal, o artigo 308, §3º do Código de Processo Civil disciplina que “as partes serão intimadas para a audiência de conciliação ou de mediação, na forma do art. 334, por seus advogados ou pessoalmente, sem necessidade de nova citação do réu”.

Não havendo autocomposição, o réu deverá apresentar sua contestação em relação ao pedido principal no prazo de 15 (quinze) dias, conforme a regra geral estabelecida pelo artigo 335 do Código de Processo Civil.

Apresentada a resposta pelo réu, o magistrado dará seguimento ao feito, conforme as regras do procedimento comum, até a prolação da decisão final. Na

74 DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. vol. 2: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, p. 627.

75 O termo inicial conta-se a partir da efetivação da medida, excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o dia do vencimento, conforme a regra estabelecida pelos artigos 219 e 224 do Código de Processo Civil.

prolação da sentença, o juiz poderá confirmar, modificar ou revogar a medida cautelar, bem como decidirá sobre a procedência ou não da tutela definitiva satisfativa.

Sobre a improcedência do pedido, Fredie Didier Jr. expõe: “se a sentença for de improcedência do pedido principal (ou do cautelar) ou de extinção do processo sem resolução do mérito, cessará a eficácia da tutela cautelar concedida antecedentemente (art. 309, III, CPC)”.

Duas ressalvas devem ser feitas sobre a cessação dos efeitos provisórios da medida cautelar. A primeira diz respeito à decisão de procedência do pedido principal. Nesse caso, a medida também perderá seu efeito acautelatório, visto que será esta substituída pelo provimento definitivo, conforme expõe Fredie Didier Jr.

ao dizer: “[...] se a sentença for de procedência do pedido principal, depois de definitivamente efetivado e satisfeito o direito objeto do pedido, cessará a eficácia da tutela cautelar, que perde a utilidade de acautelar um direito já realizado”76. Já a segunda faz menção à possibilidade da medida não perder seus efeitos acautelatórios, ainda que seja o pedido principal julgado improcedente. Nessa toada Antônio Pereira Gaio Júnior aduz:

Completando o raciocínio supra, pode acontecer de, excepcionalmente, a sentença de improcedência não levar à cessação da eficácia da tutela cautelar. Isso porque existem situações em que o dano pode ser tão grave e ocorrer automaticamente depois da sentença de improcedência que pode o juiz decidir julgar improcedente o pedido, mas manter a proteção cautelar, mormente se vislumbra a possibilidade de o tribunal modificar a decisão77.

Por fim, o parágrafo único do artigo 309 do Código de Processo Civil preconiza que se por qualquer motivo a medida cautelar tiver sua eficácia interrompida, não poderá a parte formular novo pedido, salvo se estiver amparada sob novos fundamentos.

76 DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. vol. 2: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, p. 629.

77 GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Apontamentos para a tutela provisória (urgência e evidência) no novo Código de Processo Civil brasileiro. Revista de Processo. vol. 254. ano 41. São Paulo: Ed.

RT, abr. 2016, p. 216.