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UM ATO DE TEMERIDADE

No documento Minha luta política (páginas 51-55)

Depois de um dia em Catolé do Rocha a Caravana seguiu para Brejo do Cruz, onde iguais manifestações se realizaram.

Não estive presente, em virtude de uma indisposição gástrica, pernoitando em Catolé. No consultório médico do Dr. Américo Maia. Pela madrugada a Caravana regressou.

Às primeiras horas da manhã sou despertado. Café queria me falar: convidou-me para irmos a Alexandria, no Rio Grande do Norte, distante apenas uma hora de automóvel da cidade onde nos encontrávamos.

Se bem que não me tivesse alimentado durante a tarde, à noite, não me recusei.

O perigo da nossa presença no solo do nosso próprio Estado era indiscutível. Todas as fronteiras com a Paraíba estavam guarnecidas por fortes e numerosos destacamentos policiais. Para se fazer uma ideia das medidas de ordem militar, ordenadas pelo governo potiguar, basta saber que naquela época, Alexandria possuía apenas quatro ou cinco ruas e um mercado e servia de quartel a doze praças e um sargento, todos bem armados e municiados.

Domingo, 12 de janeiro de 1930. Oito horas da manhã. O automóvel desenvolve oitenta quilômetros! Não havia nenhum receio, pela confiança que depositávamos no chanfre, mas vamos apreensivos, por não sabermos o que nos aguardava na antiga Barriguda...

Viajávamos em companhia de alguns amigos dedicados de Catolé.

Os outros membros da caravana recearam nos acompa- nhar. Éramos quatro, ao todo. Cada um conduzindo um rifle e um básico de bala escondidos dentro do carro e mais cinco bombas de dinamite!

EM ALEXANDRIA

Nove horas. Estamos em plena Vila! Fizemos um passeio pelas ruas, desfraldando a bandeira nacional e erguendo “vivas” a João Pessoa! A feira atingia ao seu auge, mas quase que se dissolveu, porque os feirantes cercaram depois o nosso automóvel, erguendo aclamações a João Pessoa.

Aproveitamos a aglomeração e iniciamos um comício relâmpago.

A essa altura, todo o destacamento estava formado à nossa frente. O sargento viera se colocar perto do carro, em atitude ameaçadora, mas o chanfre estava com o olho nele... tendo o acadêmico João Sergio Batido numa fotografia...

Foi, confesso, uma hora decisiva! Eu tinha quase certeza de não sairmos com vida, de tal aventura...

O primeiro a falar fui eu. Discurso rápido, causticante. O segundo foi Café. Oração curta, penetrante, veemente e impressionante!

A cova estava aberta! Mas... tudo correu bem. A polícia nada fez e parece, até, que gostou do que havíamos dito...

Terminando o comício, fomos insistentemente convida- dos a tomar um café na residência do Sr. Simão de Oliveira. Às 12 horas regressamos a Catolé, depois de ter Café Filho passado um telegrama ao Presidente do Estado, comunicando-lhe a nossa visita a Alexandria. Fomos recebidos com calorosos aplausos, em Catolé, pelo êxito da nossa... temeridade!

A “A União”, em sua edição de 13, publicava o seguinte telegrama:

“CATOLÊ DO ROCHA – 12 – Os jornalistas Café Filho e Sandoval Wanderley, acadêmico Sérgio Maia e Sr. Francisco Sérgio Maia realizaram em Alexandria, Rio Grande do Norte, o primeiro comício de propaganda dos candidatos da Aliança Liberal naquele Estado. Uma multidão calculada em mil pessoas aclamou delirantemente os oradores e os candidatos liberais, constituindo magnifico espetáculo. O Dr. Gregório Paiva e o Coronel José Paz ofereceram à comitiva ligeiro lanche, depois do que os carabineiros regressaram a esta vila, onde lhes foi

feita impotente para conter o entusiasmo do povo que assistia ao comício”.

De volta à capital, visitamos ainda Pombal, onde a noite do mesmo dia doze realizei uma conferência no salão nobre da Prefeitura, com grande assistência, presidida pelo Dr. Souza Nobre, com a apresentação do Dr. Plínio Lemos. De Pombal viajamos direto à capital. Ali, tomei, amei parte, ainda, em vários comícios, até às vésperas das eleições.

A REVOLUÇÃO

O Sr. Washington Luiz, chefe e supremo da nação, havia deliberado por um simples e criminoso capricho políticos e na qualidade de protetor da candidatura Júlio Prestes à sucessão presidencial impor ao povo paraibano e ao seu extraordinário presidente, um regímen de humilhações e de intranquilidade.

Contrariado nos seus intuitos pela ação pronta e energia do bravo João Pessoa, não se apercebera o detentor do Catete de que a sua obstinação arrastaria a Paraíba a uma luta fratricida de consequências terríveis.

A pequena capital Nordestina experimentava dias de terror e de insegurança, cercada por tropas federais chegadas de outros Estados, com o fim de intimidar o governo.

Jornal matutino, sai muitas vezes da “A União”, alta madrugada, atravessando ruas emperiquitadas, até chegar a casa, na iminência de uma agressão.

Nesse “pé de guerra”, manteve-se a Paraíba durante muitos meses. Cuja situação se agravara mais ainda com a proclamação da “Independência da Princesa”, até que os acon- tecimentos culminaram com o brutal assassinato do Presidente

paraibano, o que apressou o deflagrar da revolução, verificada sessenta e oito dias após a tragédia da “Confeitaria Glória”, de Recife, isto é, na madrugada de três de outubro de 1930.

Figura de vanguarda na campanha contra as violências do poder, eu tinha forçosamente de ser também um soldado na linha de frente do movimento revolucionário.

E naquela madrugada, de expectativa e incertezas, encontrava-me firme no setor que me fora designado, sob a chefia do Dr. José Américo de Almeida.

Éramos ao todo uns vinte e cinco civis. Desses, faziam parte o cônego Matias Freire, Dr. Manuel Morais, Pedro Batista, Anquizes Gomes e outros. A uma hora, em ponto, ouve-se o primeiro tiro de fuzil. Depois, uma rajada de metralhadora. Generaliza-se o tiroteio, sendo o de maior importância, pela sua impetuosidade e lances de bravura de parte a parte, o que se verificou no assalto ao quartel do 22º Batalhão de Caçadores em Cruz de Armas, no qual perderam a vida bravos oficiais do Exército, inclusive o general Lavanére, Wanderley, cujo espirito de prudência evitou por mais de uma vez que a Paraíba soço- brasse num oceano de sangue.

No documento Minha luta política (páginas 51-55)

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