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CAPÍTULO VI – A CONSTRUÇÃO DE AGENDAS 21 LOCAIS NA AMAZÔNIA

5. SORRISO

5.4 UM “CONSELHO” MENOS IMPORTANTE

Não houve apoio efetivo do governo local e tampouco houve uma apropriação do processo pela sociedade civil e pela população local. Somente 12 organizações, entre ONGs, sindicatos, associações, entidades de classe, setor educacional e demais órgãos públicos não municipais estão formalmente inscritos no Fórum e, segundo informações e listas de presença, a maioria dos representantes compareceu a poucas reuniões e mesmo aqueles que estavam um pouco mais envolvidos, participavam de forma intermitente.

A percepção da maioria dos entrevistados era que o Fórum da Agenda 21 local era visto como mais um espaço de debates locais, como outros conselhos, com a diferença que as decisões do Fórum não tinham força política local. Ao contrário dos conselhos de saúde, de meio ambiente, entre outros, que tinham por trás de sua criação uma lei que obrigava o município a instituí-los.

Em Sorriso, assim como em outros municípios da região, há uma multiplicidade de conselhos locais, cada um existindo porque há uma lei – geralmente federal – que assim o determina. Contudo, pela incapacidade estrutural da população de se apropriar desses espaços um seleto grupo de pessoas participa de vários conselhos locais e a população como um todo muitas vezes nem sabe da existência desses espaços. A característica relacionada à participação de um reduzido grupo local elitizado em conselhos, fóruns e comitês no Brasil já foi estudada por autores como Olival et. al. (2008), Fucks & Perissinotto (2006), Dino (2003), Pereira (2008) e Souza (2008).

De acordo com entrevistados, o funcionamento dos conselhos em Sorriso é, em sua maioria, pró-forma, mas mesmo assim há a obrigação legal de mantê-los ativos. O Fórum da Agenda 21 foi percebido como um “conselho” menos importante, pois carecia de obrigação legal para sua existência. Sendo assim, como em geral as mesmas pessoas participam de vários conselhos, o Fórum da Agenda 21 foi deixado de lado, em detrimento dos outros conselhos locais considerados mais importantes.

145 Não se afirma aqui que seria positivo que o Fórum da Agenda 21 tivesse uma lei obrigando sua existência. Se tal fato ocorresse, é possível que o Fórum constituísse mais uma instância pró-forma de representação.

A primeira reunião do Fórum em Sorriso só ocorreu após as fases de sensibilização e diagnóstico, no dia 12/07/2007, sendo que a última reunião ocorreu no dia 13/09/2007. É importante ressaltar que a compreensão do processo de Agenda 21 em Sorriso, de forma mais profunda do que nos outros casos estudados, foi intrinsecamente impactada pela idéia de passos sequenciais presente no passo a passo da Agenda 21 local (MMA, 2006).

Embora seja dito no passo a passo que as etapas não necessitam ser sequenciais, o modelo pelo qual esta cartilha foi construída – enumerando os passos – pode induzir a compreensão de que é necessário seguir na sequência esses passos. Isto se torna ainda mais visível à medida em que seguir o passo a passo se torna condicionalidade do edital de financiamento, conforme ocorreu no edital FNMA nº 03/2005.

Esse entendimento de que o passo a passo seria uma receita de bolo a ser seguida ocorreu em Sorriso, já que as etapas de sensibilização e diagnóstico foram cumpridas (mesmo que com graves falhas) e o trabalho do Fórum foi percebido como sendo o de sistematizar o diagnóstico em ações para a elaboração do PLDS.

Em Sorriso, o Fórum não estava presente nos momentos de sensibilização, nas reuniões públicas e na elaboração do diagnóstico, como mostra esse trecho do relatório final encaminhado ao FMNA:

12/07/2007 – encerrados os trabalhos de diagnóstico e sensibilização foi realizado a primeira reunião do Fórum da Agenda 21 Local, onde foi definido o Regimento Interno e o calendário de reuniões para elaboração do Plano Local de Desenvolvimento Sustentável (SORRISO, 2008).

Além da baixa participação do Fórum, houve uma distorção nas reuniões desta instância de representação. Embora a prefeitura não tenha apoiado efetivamente o processo, a maior parte dos entrevistados esclarece que a Agenda 21 era apenas mais um projeto da prefeitura: o projeto foi escrito por estes técnicos; a sensibilização da população e a divulgação da Agenda 21 também; assim como todo o trabalho de coordenar as reuniões públicas de diagnóstico e a disseminação, preenchimento e tabulação dos dados do questionário. Da mesma forma, as reuniões do Fórum só ocorriam quando a prefeitura convidava.

146 Além dessas falhas, o Fórum era percebido pela maioria dos entrevistados como espaços utilizados para política partidária. Pela ligação com a prefeitura, a oposição ao governo não participou do processo. Ademais, as reuniões do Fórum eram divididas por temas, tais como saúde, educação, meio ambiente, entre outros. Nessas reuniões temáticas, havia um protagonismo do secretário relacionado à secretaria que tratasse do tema específico da reunião. Entrevistados afirmam que as reuniões do Fórum foram utilizadas como palanque político para que os secretários apresentassem as realizações de sua secretaria e do prefeito municipal, não havendo um espaço igualitário para a manifestação do restante dos membros. Afirmam, também, que o Fórum não era deliberativo, mas apenas uma instância para legitimar decisões que tinham sido tomadas previamente.

Kapoor (2005: 1209-1210) acentua que um dos principais gargalos da participação ocorre quando as consultas à população se dão em um momento posterior à definição de objetivos e do desenho dos processos. Em Sorriso, o Fórum só teve sua primeira reunião após a finalização do diagnóstico. Dessa maneira, o papel do Fórum, de acordo com entrevistados, era apenas legitimar decisões governamentais que já estavam prontas anteriormente (EVERSOLE, 2003; MILANI, 2006; OLIVAL et al., 2008; WHENDAUSEN & CAPONI, 2002; FUCKS & PERISSINOTTO, 2006).

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