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Um estudo, na vontade de ser professora

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 123-173)

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AUMENTAR A ATIVIDADE FÍSICA EM CRIANÇAS: UMA

IMPORTANTE ÁREA DE INTERVENÇÃO DO PROFESSOR DE

EDUCAÇÃO FÍSICA

Resumo

Objetivo: Este estudo teve como objetivo analisar o nível de Atividade Física (AF) de um grupo de alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico.

Métodos: A amostra foi constituída por 66 alunos (21 raparigas e 45 rapazes) do 7º ano de Escolaridade, com idades compreendidas entre os 12 e 16 anos. A AF diária foi avaliada através da aplicação de um questionário.

Resultados: As crianças apresentaram uma prática de 54,2 minutos diários de AF. Através da análise estatística verificamos que 53% da amostra realiza menos de 60 minutos de AF diária. Quando comparados os valores por género, certificamos que apenas 33,3% das raparigas atingem os 60 minutos de AF (tempo mínimo recomendado pela Organização mundial de Saúde), enquanto 52,8% dos rapazes praticam pelo menos 60 minutos de AF diária. A presente amostra apresentou em média 4 horas diárias de tempo sedentário, nomeadamente a ver televisão, jogar computador e ao telemóvel. Não se verificaram resultados estaticamente significativos entre a prática de atividade física e o estatuto socioeconómico. Os alunos com melhor classificação final da disciplina de Educação Física no presente ano letivo (2011/2012) apresentaram também maior nível de prática de AF. Não se verificou qualquer relação entre o tempo de prática de AF e o Índice de Massa Corporal dos alunos. O futebol, a corrida, caminhada e os passeios em bicicleta foram as modalidades mais referidas. Observamos que apenas 34,8% dos jovens optam por um deslocamento ativo de casa para a Escola.

Conclusão: Os resultados obtidos mostraram que a maioria das crianças não atinge os níveis de AF internacionalmente recomendados. Percebe-se assim a necessidade de alertar os jovens para a aquisição de um estilo de vida saudável. Claramente o Professor de Educação Física deve assumir um papel de destaque como “construtor” de saúde, bem-estar e qualidade de vida dos seus jovens alunos.

110 1. Introdução

A atual reestruturação do ensino público Português aponta para a diminuição da carga horária da disciplina de Educação Física no 3º ciclo do Ensino Básico e Secundário, divulgada pela Direção Geral de Educação tem provocado uma geral e justificada contestação. Bento (2012) enuncia em defesa do estatuto da disciplina “(…) tudo sugere que estamos a caminhar em todo o mundo em direção à obesidade como epidemia do século XXI (…) para aumentar a possibilidade de sucesso da intervenção nos terrenos da obesidade e inactividade, da ética indolor e do relativismo, é crucial investir no capital e no território da vontade. E esta tem um polo de excelência, dotado de singular potencial formativo: a Educação Física e o Desporto Escolar.” Com este tipo de imposições não estamos a construir uma sociedade saudável mas sim o contrário, uma sociedade que privilegia o sedentarismo, a diminuição de qualidade de vida através do aumento do risco de doenças crónicas, de doenças cardiovasculares, entre outras. Este fator não só irá continuar a fazer com que a inatividade física seja causa de elevados gastos para a saúde pública como também continuar a ser responsável por milhões de mortes no mundo (Thorp et al. 2011).

Neste contexto, importa lembrar que a Educação Física e o Desporto Escolar têm um significado “majestoso” como intervenção pedagógica para a vida das jovens (Bento, 2012). Se esta intervenção for reduzida, para além de estarmos a limitar o tempo que os alunos estão em atividade física (AF), estamos a limitar os momentos em que o Professor de Educação Física tem oportunidade de atuar e de alguma forma, modelar a educação desportiva dos jovens. Assim, há uma dupla perda de potencial educativo.

Um outro e também recente desafio surge do enorme desenvolvimento tecnológico que a diferentes níveis veio reduzir de forma significativa a necessidade de movimento.

A recomendação recente da Organização Mundial de Saúde sobre AF diária para a saúde de crianças e jovens entre os 5 e os 17 anos é participar pelo menos em 60 minutos de AF moderada a vigorosa todos os dias (WHO, 2010) e recentes revisões da literatura também apontam para recomendações idênticas (Strong et al. 2005; Janssen et al. 2010). No entanto, diferentes

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estudos apontam que as crianças são cada vez menos ativas e esta redução dos níveis de AF diária traduzem-se nos diferentes domínios/contextos: transporte ativo, prática desportiva, e atividades físicas de lazer (Mota, 1993).

A caracterização dos níveis de AF das crianças permitirá ao Professor de Educação Física intervir de um modo informado sobre as maiores necessidades e quais contextos da AF a privilegiar. Porque as crianças fisicamente ativas são aquelas que irão mais seguramente manter esse hábito na vida adulta (Lopes et al. 2003), as fases da infância e adolescência são portanto os momentos chave de intervenção.

Também os benefícios que maiores níveis de AF proporcionam para a saúde devem ser considerados, e estes servem de estímulo para a criação de estratégias que visem o aumento da AF das crianças. Alguns exemplos desses benefícios são: formação e desenvolvimento do tecido ósseo, aumento da força muscular melhor desenvolvimento articular, o controlo do peso, aumento da massa magra, a redução de massa gorda, prevenção e o retardamento do desenvolvimento da hipertensão arterial e ainda a redução de sentimentos de depressão e ansiedade (Delgado, 2005).

Neste contexto, o presente estudo teve como objetivos: (i) caracterizar o nível de AF de um grupo de alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico; (ii) comparar os resultados encontrados em raparigas e rapazes; (iii) identificar a proporção que atinge a recomendação de 60 minutos de AF diária; (iv) verificar se existe uma correlação entre a prática de AF e o estatuto socioeconómico, o Índice de Massa Corporal (IMC) e a nota de final de ano letivo de Educação Física; e finalmente (v) identificar quais as atividades desportivas com maior adesão.

Consequentemente serão apresentadas propostas de intervenção do Professor de Educação Física em prol de um estilo de vida saudável, através do aumento do tempo em atividade física, de crianças e adolescentes entre os 12 e os 16 anos.

2. Material e Métodos

2.1 Amostra

A amostra do estudo foi constituída por 21 raparigas e 45 rapazes, estudantes da Escola S/3 Arquiteto Oliveira Ferreira em Arcozelo, Vila Nova de

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Gaia. Todos os estudantes encontraram-se no presente ano letivo (2011/2012) no 7ºano de Escolaridade, com idades compreendidas entre os 12 e 16 anos (idade = 13,1 ± 0,9 anos; peso = 54,4 ± 12,6 kg; estatura = 161,7 ± 0,07 cm; IMC = 20,7 ± 3,6 kg/m2).

A amostra selecionada incluiu três turmas lecionadas no decorrer do presente ano letivo pelos estudantes estagiários da FADEUP. Todas as crianças eram aparentemente saudáveis.

2.2 Instrumento

O presente estudo foi desenvolvido com base na aplicação de um questionário simples e objetivo adaptado para crianças (Anexo 7). Este foi proposto por Silva (2009) a partir de algumas modificações e adaptações dos questionários desenvolvidos anteriormente por Aaron et al. (1993), Booth et al. (2001), e as duas versões da escala PAQ (Physical Activity Questionnaire), uma para crianças (C), para idades entre 8 e os 14 anos (Crocker et al. 1997), e uma para adolescentes, com idades entre os 14 e os 20 anos (Kowalski et al. 1997). Este questionário incluiu questões relativas ao meio de transporte/deslocamento para a Escola, AF e desportiva realizada na Escola e fora da Escola, e tempo sedentário (traduzido pelo tempo a assistir televisão, a jogar computador e ao telemóvel). Somando o tempo em AF em cada um dos contextos da sua prática foi possível identificar e classificar o nível diário de AF dos alunos e adicionalmente o tempo em atividades sedentárias.

2.3 Análise estatística

Os dados obtidos foram analisados através do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS® Inc., Chicago, IL), versão 20, tendo sido estabelecido um grau de significância estatística de 0,05.

Para análise dos dados recolhidos, foi utilizada a estatística descritiva (média e desvio-padrão), frequência (%), teste da normalidade (Shapiro-wilk), t- test para grupos independentes (paramétricos) e Man-whitney (não paramétricos), Kruskal-wallis (teste para testar a diferença entre mais de 2 grupos não paramétricos) e correlação de Spearman. O teste qui-quadrado (2) foi utilizado para testar a hipótese de homogeneidade de proporções.

113 3. Resultados

A análise descritiva das variáveis em estudo e a respetiva comparação entre géneros é apresentada no quadro 1. Verificou-se que o tempo total em AF semanal foi de 379,6 minutos, correspondendo a 54,2 minutos diários por semana. No entanto, é de salientar que se verificou uma elevada amplitude de variação desta variável (± 409,4 minutos semanais). Fazendo a diferenciação por géneros, verificamos que as raparigas apresentaram uma média de 446,6 minutos de AF por semana enquanto os rapazes realizaram em média 348,3 minutos de AF por semana, apesar de as diferenças encontradas não serem estatisticamente significativas. Apenas no tempo de utilização do computador (tempo sedentário) se observaram diferenças significativas (p=0,039) entre rapazes e raparigas, onde o valor mais elevado foi alcançado pelos rapazes.

Quadro 1 – Análise descritiva da amostra (n=66).

AF= atividade física, AS= tempo em atividade sedentária, IMC= índice de massa corporal, min=minutos, sem= semana, TA= tempo em transporte ativo; a Teste Man-Whitney * T-test para amostras independentes; Qui-Quadrado para frequências

O quadro 2 apresenta os resultados (em frequência) de acordo com o escalão social dos alunos, o meio de transporte casa-Escola e o IMC. O

Variável Amostra Total

(n=66) Raparigas (n=21) Rapazes (n=45) p a Idade (anos) 13,1 ± 0,9 13,0 ± 0,7 13,2 ± 1,0 0,517 Peso (kg) 54,4 ± 12,6 53,5 ± 9,6 54,8 ± 13,8 0,984 Altura (cm) 161,7 ± 8,0 159,5 ± 5,6 162,6 ± 8,7 0,086* IMC (kg/m2) 20,7 ± 3,6 21,0 ± 3,0 20,5 ± 3,9 0,283 AF intensa (min/sem) 241,0 ± 315,2 254,2 ± 456,2 234,7 ± 228,2 0,134 AF moderada (min/sem) 87,6 ± 166,4 165,7 ± 267,7 51,1 ± 63,7 0,333 TA (min/sem) 50,0 ± 112,6 25,4 ± 53,5 61,6 ± 130,4 0,386 Total AF (min/sem) 379,6 ± 409,4 446,6 ± 624,9 348,3 ± 258,7 0,328 TV (min/sem) 574,4 ± 501,1 492,4 ± 511,5 613,5 ± 497,2 0,109 Computador (min/sem) 653,8 ± 612,7 436,6 ± 529,4 757,5 ± 627,9 0,039 Telemóvel (min/sem) 408,2 ± 612,3 457,3 ± 452,1 384,8 ± 679,2 0,094 AS (min/sem) 1636,4 ± 1049,7 1386,2 ± 947,8 1755,8 ± 1084,9 0,202

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escalão A refere-se aos alunos que se inserem no 1º escalão do abono de família e que recebem apoio a nível de transporte, alimentação e material Escolar. Os alunos com escalão B inserem no 2º escalão do abono de família, recebendo 50% do apoio que é dado aos alunos com o escalão A. Por último o escalão C, refere-se aos alunos que não possuem qualquer tipo de apoio.

Quanto ao tipo de transporte, é apresentada a frequência de alunos que se deslocam de forma ativa (a pé) para a Escola e os alunos que se deslocam de carro ou através de outro meio de transporte motorizado.

Quanto ao IMC, são distinguidos os alunos com peso normal, com excesso de peso e com obesidade de acordo com os pontos de corte específicos para a idade e sexo (Cole et al. 2000).

Metade dos alunos (50%) não possui qualquer escalão de abono de família, apesar de a grande parte destes serem rapazes (55,6%). Não se verificou nenhuma associação significativa entre a distribuição dos diferentes escalões e o género. A proporção de alunos a utilizarem um meio de transporte passivo no percurso casa-Escola foi superior (65,2%) comparativamente ao uso de transporte ativo (34,8%), no entanto também não se verificou nenhuma associação entre o tipo de transporte e o género. A maioria dos alunos (75,8%) apresenta um peso normal (para a idade e género), e uma minoria (6,1%) apresenta obesidade, que curiosamente só inclui rapazes. Não se verificou nenhuma associação entre as variáveis dependentes (níveis de IMC) e independentes (género).

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Quadro 2 – Análise descritiva da amostra (n=66), face ao escalão social dos alunos, tipo de transporte para a Escola e IMC.

*Teste do qui-quadrado

No quadro 3 apresentamos a frequência (%) de alunos por nível de tempo em AF, de acordo com a seguinte escala: <149 minutos de AF por semana (equivale a 29 minutos médios diários), entre 150 minutos a 299 minutos por semana (equivale ao intervalo diário de 30 a 59 minutos), entre 300 a 449 minutos (equivale ao intervalo diário de 60 a 89 minutos) e ≥450 minutos por semana (mais de 90 minutos diários). Verificamos que a maioria (53%) dos alunos despende até 299 minutos semanais de AF. Apesar de a distribuição pelos intervalos de tempo de AF ser ligeiramente diferente entre raparigas e rapazes, (a maior proporção de raparigas encontra-se no menor intervalo de tempo de AF total, enquanto nos rapazes é o inverso) as amostras não diferem significativamente quanto às respetivas proporções.

Quadro 3 – Análise descritiva e comparativa da amostra (n=66), face ao tempo total por intervalo de AF.

*Teste do qui-quadrado; os valores são n (%)

O quadro 4 apresenta a distribuição de prática das diferentes modalidades desportivas, através dos valores de frequência absoluta e relativa. Como é possível verificar as modalidades mais praticadas são o futebol

Escalão, n (%) Amostra Total

(n=66) Raparigas (n=21) Rapazes (n=45) P* A 16 (24,2) 7 (33,3) 9 (20,0) 0,365 B 17 (25,8) 6 (28,6) 11 (24,0) C 33 (50,0) 8 (38,1) 25 (55,6)

Transporte n (%) Amostra Total

(n=66) Raparigas (n=21) Rapazes (n=45) p Ativo 23 (34,8) 6 (28,6) 17 (37,8) 0,465 Passivo 43 (65,2) 15 (71,4) 28 (62,2)

Classificação IMC, n (%) Amostra Total

(n=66) Raparigas (n=21) Rapazes (n=45) p Peso normal 50 (75,8) 16 (76,2) 34 (75,6) 0,301 Excesso de peso 12 (18,2) 5 (23,8) 7 (15,6) Obesidade 4 (6,1) 0 4 (8,9)

Tempo Total Ativo (min/sem) Amostra Total (n=66) Raparigas (n=21) Rapazes (n=45) p* <149 20 (30,3) 8 (38,1) 12 (26,7) 0,418 150 – 299 15 (22,7) 6 (28,6) 9 (20,0) 300 – 449 13 (19,7) 2 (9,5) 11 (24,4) ≥ 450 18 (27,3) 5 (23,8) 13 (28,9)

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(28,8%), corrida (40,9%) e ciclismo (71,2%). Rapazes e raparigas diferem significativamente quanto às proporções observadas de prática de dança (p=0,029) e futebol (p=0,018).

Quadro 4 – Distribuição das frequências absolutas (n) e relativas (%) de prática para cada uma das modalidades desportivas.

Modalidade Amostra Total

(n=66) Raparigas (n=21) Rapazes (n=45) p a Dança 3 (4,5) 3 (14,3) 0 0,029* Futebol 19 (28,8) 2 (9,5) 17 (37,8) 0,018 Corrida 27 (40,9) 10 (47,6) 17 (37,8) 0,449 Bicicleta 47 (71,2) 4 (19,0) 15 (33,3) 0,233 Natação 5 (7,6) 2 (9,5) 3 (3,7) 0,650* Karaté 2 (3,0) 0 2 (4,4) 1,00* Skate 2 (3,0) 1 (4,8) 1 (2,2) 0,538* Ginásio 1 (1,5) 0 (0) 1 (2,2) 1,00* Badminton 1 (1,5) 0 (0) 1 (2,2) 1,00* Patins 1 (1,5) 1 (4,8) 0 (0) 0,318* Caminhada 42 (63,4) 13 (61,9) 29 (64,4) 0,842 a

teste do qui-quadrado; * Fisher's exact test

No quadro 5 são indicados os valores das variáveis independentes nos três grupos (escalão A, B e C). Através da análise da variância observou-se não existirem diferenças significativas (p > 0,05) em todas as variáveis.

Quadro 5 – Análise da variância das variáveis independentes nos diferentes escalões socias.

Variável Escalão A Escalão B Escalão C p*

TA (min/sem) 88,8 ± 154,3 51,8 ± 137,3 30,4 ± 63,5 0,438 AF Moderada (min/sem) 134,6 ± 257,0 82,4 ± 108,7 67,5 ± 133,5 0,191 AF Intensa (min/sem) 194,7 ± 193,6 118,8 ± 106,3 326,4 ± 402,7 0,416 AF total (min/sem) 419,0 ± 331,1 253,9 ± 207,4 425,2 ± 506,1 0,319 AS (min/sem) 1472,4 ± 1031,7 1805,0 ± 1285,5 1628,9 ± 936,6 0,771

AS= tempo em atividade sedentária; TA= tempo em transporte ativo; * Kruskal-Wallis Test

As correlações entre as variáveis de AF (tempo em transporte ativo, AF moderada, AF intensa, AF total) e tempo de comportamento sedentário e a nota à disciplina de Educação Física estão descritas no quadro 6. Verificaram-

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se correlações significativas entre as variáveis minutos por semana em transporte ativo, em AF intensa e em AF total e a nota da disciplina.

Quadro 6 – Correlações bivariadas entre o tempo em AF e da nota de final do ano letivo à disciplina de Educação Física.

Finalmente, a utilização do teste qui-quadrado permitiu observar nenhuma ausência de correlação (p>0,05) entre o IMC e as variáveis de AF (transporte ativo, AF moderada, AF intensa, AF total) e tempo de comportamento sedentário, quer para a amostra total, quer para cada um dos géneros.

4. Discussão

O Professor na sua função pode moldar o carácter dos jovens e portanto, deixar marcas de grande valor nos alunos em formação (Machado, 1995). Para além de transmitir conhecimentos, consegue de forma consistente transmitir normas, maneiras de pensar, padrões comportamentais e valores para se viver em sociedade (Cunha, 1996). Se nós, (futuros) Professores de Educação Física, somos portadores de tal poder, devemos usá-lo em prol da construção de uma sociedade saudável, ativa e predisposta à aquisição de uma vida com mais qualidade.

Os resultados do presente trabalho mostraram que o tempo médio em AF foi de 379,6 minutos por semana, correspondendo a 54,2 minutos diários, sendo que raparigas apresentam uma média de 446,6 minutos de AF por semana enquanto os rapazes realizam em média 348,3 minutos de AF por semana. Nesta amostra 53% dos alunos não realizam pelo menos 60 minutos de AF diária.

Variável Nota de Educação Física

R (p)

Transporte ativo (min/sem) 0,308 (0,012)

Total AF Moderada (min/sem) -0,106 (0,398)

Total AF Intensa (min/sem) 0,324 (0,008)

Total Ativo (min/sem) 0,352 (0,004)

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Pelo conhecimento da Escola de Arcozelo, e do meio envolvente, os resultados encontrados não são surpreendentes, uma vez que se aproximam (apesar de ficarem aquém) do nível ótimo recomendado (60 minutos de AF moderada a vigorosa). Existem várias entidades desportivas locais assim como espaços amplos de gratuita utilização para prática desportiva. O espaço amplo da Escola proporciona aos alunos com possibilidade de correr, saltar e brincar livremente quer nos intervalos quer nos períodos sem aulas. Tendo em conta a maior oferta de atividades desportivas locais para rapazes, esperávamos que estes apresentassem maior nível de prática de AF. No entanto, os resultados não apontaram para diferenças significativas entre géneros. Porque a maioria das instituições desportivas da zona local, têm uma cota mensal a ser suportada por cada atleta/praticante, esperávamos que os alunos com maior estatuto socioeconómico apresentassem maior nível a prática de AF, no entanto não se verificaram diferenças significativas no presente estudo. Finalmente, baseado no conhecimento de associação entre IMC e prática de AF descrita na literatura, eram expectáveis correlações negativas entre ambas as variáveis, no entanto tais associações não foram encontradas na nossa amostra. Como esperado, os nossos resultados mostraram a existência de correlação positiva entre a maior prática de atividade física e o desempenho Escolar na disciplina de Educação Física.

Não existem dúvidas quanto ao facto da AF trazer benefícios para a saúde e para a qualidade de vida, independentemente da idade (Warburton et al. 2006). No entanto, estas vantagens apenas podem ser observadas aquando de uma aquisição e manutenção comportamental quotidiana. Para tal, é necessário “educar” a sociedade, e intervir nos escalões etários mais jovens aumenta o potencial dos benefícios citados, uma vez que a manutenção de um estilo de vida ativo desde idades jovens é mais vantajoso que uma aquisição de comportamento tardia (idade adulta e idosos) (Janssen et al. 2010).

Passamos agora à discussão específica dos resultados encontrados para cada objectivo do presente estudo.

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A) Nível de AF

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, jovens e crianças devem realizar atividade durante pelo menos 60 minutos por dia. Num estudo anterior em crianças Portuguesas, os rapazes apresentaram uma média de prática de AF diária de 71 minutos, enquanto raparigas obtiveram 48 minutos (Ribeiro, 2009). No presente trabalho constatamos que as raparigas alcançaram uma média aproximada de 64 minutos e rapazes de 50 minutos. Outros estudos estimam valores aproximados, respetivamente Santos et al. (2005), chegaram à conclusão que jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos apresentam uma prática de AF média entre 50 a 70 minutos. Nilson et al. (2008) constatou que os rapazes, em dias da semana apresentavam em média uma prática de AF de 80 minutos e as raparigas de 55 minutos diários. Neste contexto, consideramos que os valores por nós encontrados são ligeiramente discordantes. O nível de prática de AF encontrada nos resultados da nossa amostra masculina fica abaixo cerca de 20 a 30 minutos do que outros estudos nos mostram, já no que toca à amostra feminina, esta excede cerca de 15 minutos desses valores.

B) Rapazes vs. Raparigas e Recomendação de AF Diária

Vários estudos têm evidenciado diferenças significativas entre géneros na prática de AF. Ainda assim tem-se verificado uma melhoria dos resultados relativos ao sexo feminino (Mota & Sallis, 2002). Neste estudo os rapazes apresentam em média a prática de 348,3 (± 258,7) minutos de AF por semana e as raparigas cerca de 446,6 (± 624,9) minutos. No entanto, quando analisados os resultados sobre a frequência (%) de alunos que praticam menos de 30 minutos de exercício, entre 30 e 59 minutos, entre 59 e 89 minutos e mais de 90 verificamos que apenas 33,3% da população do sexo feminino pratica o tempo de AF médio recomendado (60 minutos) e nos rapazes verificaram-se valore superiores (52,8%). Desta forma 66,7% das raparigas não se encontra dentro do intervalo médio de tempo diário de AF recomendada enquanto apenas 47.2% dos rapazes se encontram neste sector. Com esta análise é possível afirmar que os rapazes se encontram mais perto dos hábitos de AF sugeridos pelas recentes recomendações, potenciando uma vida ativa e saudável.

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Num estudo anterior, realizado num grupo de alunos entre os 12 e 16 anos de idade, a frequentar uma Escola situada na mesma freguesia que a Escola do nosso estudo, Ribeiro (2009) verificou que 16.8% da sua amostra, cumpria com 60 minutos de AF diária. Pizarro (2009), num estudo efectuado com jovens do concelho de Vila Nova de Gaia observou que cerca de 66% da amostra atingiu os níveis de AF recomendados. Importa referir que os métodos de avaliação da AF utilizados nos estudos citados foram diferentes do instrumento que usamos, sendo que as diferenças encontradas poderão refletir diferenças metodológicas.

A AF Escolar na forma de jogos, danças e ginástica surgiu na Europa no início do século XIX (Pitanga, 2002). No entanto, com o desenvolvimento atual das tecnologias, movimentarmo-nos torna-se cada vez menos necessário. Automóveis, elevadores, internet, telemóveis levaram as atividades motoras a ceder ao imobilismo (Carollo, 2008). Contudo, para muitos indivíduos, o único contato com o exercício físico ao longo da vida ocorreu na Escola, justificando- se assim a importância da intervenção do Professor de Educação Física. Torna-se assim evidente a necessidade de ir mais além da transmissão das matérias (modalidade desportivas), importa mostrar os benefícios da prática de AF em prol da saúde.

Segundo recomendações internacionais (Nahas, 2010), o tempo gasto em atividades sedentárias como ver televisão ou jogar computador, não deve exceder as 3 horas diárias. Os nossos resultados mostraram uma média de 4 horas diárias em atividades como ver televisão, jogar computador e/ou ao telemóvel. Tempo que poderia ser aproveitado para brincadeiras ao ar livre ou aplicado na prática desportiva.

Desta forma, pode-se responsabilizar a atitude da família e da sua influência para a aquisição de bons hábitos de vida. Mota e Sallis (2002) defendem que o apoio parental é importante para a escolha da vida dos seus filhos, não só pelo encorajamento direto como também pelo apoio material e disponibilidade pessoal para facilitar a acessibilidade às práticas de AF.

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 123-173)