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Um lugar para as competências administrativas

COMUNICAÇÕES ORAIS A SEREM ANALISADAS UNIVERSO DE PESQUISA

4 MARCO TEÓRICO

4.3 Um lugar para as competências administrativas

Diversos estudos têm se ocupado em discutir e trabalhar de que maneira e com que extensão as mudanças e desafios do mundo contemporâneo permeiam nossas vidas cotidianas, que com seus novos referenciais sociais, econômicos, tecnológicos e culturais alteram, significativamente, todas as esferas da sociedade.

No meio organizacional, por exemplo, conhecimento e informação são entendidos como as fontes indispensáveis de riqueza, e não os recursos naturais ou o trabalho físico como outrora (STEWART, 1998). Os modelos de organizações, por sua vez, já não comportam estruturas rígidas e burocráticas; ao contrário, pedem flexibilidade e interação entre os indivíduos.

No ambiente das bibliotecas, novas especificidades técnicas e sociais se apresentam, requerendo cada vez mais do bibliotecário a capacidade para apropriar- se das informações e conhecimentos necessários para atendê-las. (CARVALHO, 2012)

Com isso, exigem-se dos bibliotecários [...] não apenas conhecimento na área de Biblioteconomia e habilidades gerenciais, mas também conhecimentos aprofundados na área de Administração, ou seja, domínio dos processos, das funções administrativas e financeiras, das teorias, dos instrumentos e tecnologias de gestão, entre outros. (DZIEKANIAK, 2009, p. 34)

Sobre a administração de bibliotecas, o levantamento sobre o estado da arte desta temática no Brasil por Silva, F. (2013) identificou importantes elementos que evidenciam a premência de adequação das bibliotecas ao contexto das transformações sociais que se colocam na atualidade. Tais elementos perpassam discussões acerca do grau e/ou tipo de conhecimento dos bibliotecários, de suas competências e perfis enquanto gestores de unidades de informação, de seu papel enquanto disseminadores da informação (independente de seu suporte), da sua relação com o ambiente externo e interno à biblioteca (incluindo a relação com usuários, outras unidades de informação, instâncias as quais estejam subordinadas e entre os membros da equipe); e convergem, de modo geral, para necessidade de interação entre os atores envolvidos nos serviços e de reconfiguração das práticas.

Diante deste cenário, podemos pensar nestas adequações a partir da reflexão sobre com que bases administrativas os bibliotecários têm trabalhado e de que maneira podem ser ampliadas as alternativas teóricas de forma a permitir a

compreensão dos atuais modos de acesso e uso da informação, e conduzir a modelos administrativos que sejam mais colaborativos e participativos.

Para tanto, faz-se necessário a compreensão do que sejam as competências e habilidades administrativas necessárias ao bibliotecário, de forma que estes, sensíveis e atentos aos atuais contextos sociais e técnicos, estejam aptos a lidar com as demandas gerenciais que se colocam.

Ruas (2001) considera que uso da expressão "competência" tem sido controverso e marcado por diferentes conceitos e dimensões. Para o autor, ao pensarmos em competências, não estamos tratando este conceito como estoque de recursos, nem tampouco por uma dimensão quantitativa, mas sim, como um conceito dinâmico e em forma de ação. (RUAS, 2001)

Para Maximiano (2012), independente do papel gerencial assumido, as habilidades administrativas definem-se como as competências que determinarão "o grau de sucesso ou eficácia do gerente no cargo e da organização" (MAXIMIANO, 2012, p. 150). Estas, portanto, são necessárias ao desempenho dos administradores, partindo da pressuposto de que se referem a uma relativa facilidade, por parte do gerente, em lidar com uma determinada demanda.

Katz (1955 apud MAXIMIANO, 2012), ao estudar as competências gerenciais, retoma e aprofunda ideias trabalhadas por Henry Fayol. Em um dos seus trabalhos de maior repercussão, o autor divide as habilidades administrativas em três categorias: técnica, humana e conceitual.

As habilidades técnicas são aquelas que dizem respeito aos conhecimentos, métodos e equipamentos necessários para a realização das tarefas que estão dentro do campo de especialidade do gerente. As habilidades humanas abrangem a capacidade de compreender as pessoas e sua necessidades, interesses e atitudes. Por sua vez, as habilidades conceituais são aquelas que permitem ao gerente compreender e lidar com a complexidade da organização como um todo de maneira a formular estratégias de ação. (MAXIMIANO, 2012)

A mobilização destas competências se presta para repensar as interações entre as pessoas e as organizações. Ruas (2001) considera que para que haja competência administrativa é preciso lançar mão de um repertório de recursos que

engloba conhecimento, capacidades cognitivas, capacidades integrativas, capacidades relacionais e outras.

No caso das bibliotecas, partimos do pressuposto que parte destes recursos podem ser desenvolvidos com base no uso da TAC, de forma que seja possível reestruturar e repensar estes espaços.

A Teoria do Agir Comunicativo de Jürgen Habermas, por ter seu foco voltado para as dinâmicas infocomunicacionais entre os sujeitos, apóia-se em uma concepção do uso da linguagem dirigido ao entendimento mútuo a partir de ações comunicativas.

Considerando o contexto atual em que o processo de comunicação tem grande relevância nas organizações, a TAC pode ser pensada como um viés possível para transformações nas práticas administrativas das bibliotecas, uma vez que

[...] oferece uma consistente base explicativa do comportamento gerencial, especialmente no que tange à descrição de deficiências da teoria administrativa tradicional [...] [fornecendo] as bases teóricas para a construção de formas contrárias ao modelo tradicional de gerência, que sejam mais capazes de dar conta da questão da emancipação nas organizações. (VIZEU, 2005, p. 11)

Trabalhada em conjunto com conceitos da Teoria dos Sistemas de Niklas Luhmann, que nos ajuda a compreender a biblioteca como um sistema que diante da complexidade das demandas informacionais contemporâneas precisa se auto produzir para reduzir sua complexidade e encontrar em si mesma o caminho para operar sob estas novas possibilidades de forma a (re)criar sua identidade, buscam proporcionar ferramental aos bibliotecários para lidarem com “[...] as mudanças sociais, que recentemente colocam desafios à rotina da administração das bibliotecas e ao desenvolvimento de competências” (CARVALHO, 2012, p. 10).