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2.1. Aprender na Web 2.0 : o Conectivismo

2.1.3. Um novo modelo de aprendizagem: a aprendizagem em rede

Várias são as abordagens que consideram que a atual sociedade exige um novo modelo de aprendizagem, mais adequado ao atual modelo de construção do conhecimento.

Segundo Siemens (2005), é necessária uma nova teoria para a criação de ambientes educativos, que traduza o impacto que as novas tecnologias causaram na sociedade. Ao longo dos últimos vinte anos, a tecnologia mudou a forma de viver, comunicar e relacionar das sociedades, o que se deve refletir na forma como os indivíduos aprendem. O próprio conhecimento sofreu um processo de mudança, uma vez que se modifica num breve espaço de tempo, o que anteriormente não sucedia, pois se mantinha inalterado por longos períodos, bem como cresceu exponencialmente, tendo duplicado nos últimos dez anos e encontrando-se a duplicar cada dezoito meses (idem). Também na aprendizagem algumas alterações importantes surgiram: os indivíduos passam por várias áreas de aprendizagem ao longo da vida, sendo este um processo contínuo e relacionado com o trabalho; a sua aprendizagem informal adquire uma maior importância; a tecnologia providencia ferramentas que moldam a nossa forma de pensar; tanto organizações como indivíduos são aprendentes; muito do que as teorias (especialmente as cognitivas, com o processo de memorização) indicavam como sendo do indivíduo é agora assumido pela tecnologia; como encontrar o conhecimento necessário passa a ser uma nova habilidade a desenvolver.

Para Siemens (2005) é necessária uma nova teoria que reconheça a necessidade de uma visão holística da realidade, onde tudo se encontra relacionado, e a forma como um indivíduo ou organização interage define a sua auto-organização, na medida em que se encontrar aberto a mudar a sua estrutura. Mais importante do que a rede são as conexões que indivíduos e organizações estabelecem, pois é através destas que vão definindo a sua auto-organização, num processo rápido e contínuo, em que conexões e fluxos de informação se alteram e movimentam dinamicamente. Há uma rutura com o modelo anterior, em que o conhecimento era produzido por poucos e se mantinha inalterado durante muitos anos. Este conhecimento era passado pelo professor aos alunos, que se limitavam a reproduzi-lo, sem o alterar. Esta estrutura era hierárquica, não permitindo uma rápida adaptação às tendências do exterior (Siemens, 2006). Tornam-se fundamentais as habilidades de distinguir rapidamente informação importante da

conduzindo a novas tomadas de decisão, de manter constantemente as conexões para suportar a aprendizagem, enquanto processo contínuo (Siemens, 2005; Siemens & Tittenberger, 2009). O indivíduo estabelece conexões que vão alterar o seu padrão neuronal, definindo o seu conhecimento num determinado momento. Deste modo, o indivíduo ao estabelecer conexões na rede aprende formal e informalmente, em comunidades ou numa autoaprendizagem, através de variadas experiências, sendo simultaneamente mentor ou aprendiz. O fluxo da informação e conhecimento é conduzido pela linguagem, pelos media e pela tecnologia e filtrado pelas crenças, valores e perspetivas do indivíduo. Na rede, surgem novas dimensões da aprendizagem como aprender onde encontrar a informação, na enorme quantidade que fluí, e aprender a transformar esta informação, refletindo, criando e partilhando (figura 2.3).

Figura 2.3 - Ecologia da aprendizagem (Siemens, 2006)

No sentido de uma valorização da coconstrução do conhecimento, da interação, da comunidade e dos contextos, Dias (2008a) salienta que com o aparecimento da

Web

2.0, enquanto espaço de participação na produção e partilha do conhecimento, se deu uma mudança na conceção e organização das redes sociais e de aprendizagem: "Mais do que um recurso informacional, as redes de aprendizagem suportadas pela

Web

, constituem, (...) uma

forma de imersão e construção colaborativa do sentido" (Dias, 2008a, p. 5) pela partilha social que ocorre nos ambientes virtuais, o que conduziria ao aparecimento de comunidades de aprendizagem (Silva, 2005), resultantes da dimensão colaborativa que surge na rede e que permite a constituição de “grupos de interesse na partilha de projectos e de acções educacionais tendo em vista a construção do conhecimento” (p. 47).

A metáfora da aprendizagem em rede aponta para uma aprendizagem que se realiza pela mediação das interações que se estabelecem na rede, destacando a formação das comunidades como o núcleo que vai permitir ao indivíduo o desenvolvimento do sentimento de pertença, a partilha de expectativas e interesses, a criação de um clima de confiança para a partilha das suas ideias, a discussão das suas representações do conhecimento, numa conceção de distribuição da cognição e do conhecimento, com vista à compreensão, resolução de uma tarefa ou problema numa "construção de uma narrativa coletiva de aprendizagem" (Dias, 2008b, p. 2).

Se a rede de aprendizagem inicialmente é um processo de mediação tecnológica de materiais e conteúdos, sustentando uma troca de informação, com o desenrolar das atividades de interação conversacional e construção do discurso das representações cognitivas e sociais da comunidade, transforma-se num processo de mediação colaborativa (idem). É esta mediação colaborativa que vai sustentar a comunidade de aprendizagem, enquanto um todo orgânico, em que os membros se tornam coautores das narrativas e experiências de conhecimento, participando e partilhando no grupo as suas representações individuais, interagindo a nível social e cognitivo, estabelecendo uma prática conversacional, definindo estratégias de resolução de problemas, promovendo atividades, de modo a elaborar um produto do conhecimento de forma colaborativa.

Baseia-se esta mediação colaborativa numa conceção da cognição e construção do conhecimento enquanto atividades interpessoais, quer a nível social quer a nível cognitivo, que se desenrolam por referência a contextos que definem as formas do conhecimento e os seus produtos, dando-lhes sentido, pelo que esta produção passa a ser entendida como situada. Esta mediação colaborativa afasta-se da conceção da cognição e do conhecimento como centrados no indivíduo, mas "na rede de relações e atividades de participação que formam a comunidade e promovem o desenvolvimento da representação distribuída" (Dias, 2008b, p. 5).