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4. ANÁLISE E OS RESULTADOS

4.2 Produções escritas

4.2.9 Um paralelo com a Língua Inglesa

Minha investigação possui características da dissertação de mestrado da professora Sousa (2008) de Linguística na área de Língua Brasileira de Sinais da UFSC. Sua pesquisa foi realizada na Universidade Estadual do Ceará para verificar se os resultados são semelhantes na língua espanhola.

Sousa (2008) pesquisou sobre língua inglesa na UECE para surdos com o seguinte título “Surdos Brasileiros Escrevendo Inglês: uma experiência com o ensino comunicativo de línguas”. Ela investigou se o ensino comunicativo de língua para os surdos na língua inglesa era benéfico, trazendo algum resultado satisfatório. Também pesquisou os papéis da L1 e da L2 sobre uma L3 através de algumas estratégias de

comunicação, como criação de vocábulo, alternância de língua, transferência interlinguística da L1 e da L2.

Logo a pesquisadora concluiu que o uso de Ensino Comunicativo de Língua foi benéfico aos alunos, e que o uso da L1 e L2 dos alunos, tanto nas produções quanto nas aulas, foi funcional. Nas produções, a LIBRAS teve o papel de substituir estruturas desconhecidas em inglês. A língua portuguesa, por sua vez, foi usada não só para substituir estruturas, mas também para emprestar vocábulos que os alunos desconheciam na L3, além de servir de base para a criação de novos vocábulos.

Aplicando o estudo de Williams e Hammarberg (1998), a autora verificou que essas duas línguas foram usadas com “papel supridor”, isto é, usadas para fornecer ao usuário meios de suprir sua falta de conhecimento na língua-alvo, dando continuidade ao texto.

Sua pesquisa então relata que, ao tentar escrever numa terceira língua, o aluno passa a utilizar tanto característica da LIBRAS-L1 quanto da língua portuguesa- L2. Portanto, a interlíngua do aprendiz surdo numa L3 é composta de caraterísticas de mais outras duas línguas, com a tendência de haver na L1 caraterísticas sintáticas, enquanto na L2, estruturas sintáticas e lexicais, tanto para substituir o vocábulo quanto para a criação deste.

Algumas estruturas, como falta de preposição, ausência do verbo de ligação como o verbo “ser”, ausência de artigos definidos e indefinidos, uso das palavras “meu” e “eu”, sem alterar o significado, são algumas características da Língua Brasileira de Sinais que ocorreram no inglês como L3 na sua pesquisa. Na sintaxe da língua portuguesa, houve a falta de artigo como, por exemplo, o “a” antes de “studant” na frase “I am student”, falta de preposição “to” antes de “work” em “I need work teacher of LIBRAS”, ordem sintagmática em vez de “LIBRAS teacher” para “teacher of LIBRAS”. No léxico apareceram palavras como “aprendendo” e “ensinar” em vez de “learning” e “teach” uma estratégia de alternância de língua e “adiciony” em vez de “to add” e “conversion” em vez de “to talk”, como criação de vocábulo para suprir a falta de conhecimento do léxico em inglês.

Portanto, ficou constatado que eles usaram essas línguas, dentre outras funções, para suprir a falta de conhecimento lexical e sintático na língua inglesa – da qual são aprendizes iniciantes.

Dentre as estratégias, nas quais pode-se quantificar as ocorrências (criação de vocábulos e alternância de língua), percebe-se uma tendência

ao uso bem mais frequente da alternância de língua. A criação de vocábulos pouco apareceu nesta pesquisa. É possível que isso tenha ocorrido devido à preferência dos alunos desse grupo em alternar de língua (mudar de código) em vez de criar vocábulos, mas também há a possibilidade de alguns deles não terem usado a criação de vocábulos por não saberem da existência desse recurso.

O quadro a seguir evidencia a quantidade de ocorrências durante três atividades feitas durante o curso.

Quadro 04: Quantidade de ocorrências das estratégias alternância de língua (mudança de código) e criação de vocábulos nas três atividades

Nesta estratégia, posso comparar minha pesquisa com a de Sousa (2008), pois a alternância de língua foi maior que a criação de vocábulo no léxico, embora quantificadas as estratégias de alternância de língua e criação de vocábulo não tenha sido o propósito principal da pesquisadora. A quantificação da estratégia interlinguística pareceu ser mais difícil, por haver muitas variáveis e dúvidas entre o português e a LIBRAS, mas mesmo assim ela conseguiu identificar presenças dessas estratégias.

Quadro 05: Comparação entre as ocorrências de uso das línguas na estratégia transferência interlinguística nas três atividades

Na primeira coluna, estão as transferências de estruturas sintáticas oriundas exclusivamente da LIBRAS. A segunda coluna trata das transferências de estruturas sintáticas exclusivas da língua portuguesa. Na terceira coluna se encontram as estruturas sintáticas que não puderam ser identificadas como sendo de uma língua ou de outra, pois são os casos em que a estrutura das duas línguas coincidem, por isso ficou difícil de contabilizar todas as estratégias de cada aluno. Porém, meus resultados foram diferentes destes, já que se tratava de outra língua, e pareceu ser mais clara a identificação das estratégias. Os alunos pareceram ser influênciados mais pela sua L1, isto é, a Língua Brasileira de Sinais do que pela língua portuguesa.

No início, me pareceu interessante e me ocorreu pesquisar as mesmas estratégias que esta pesquisadora, porém em língua espanhola, todavia, no decorrer das análises, acrescentei a estratégia intralinguística, por haver muita ocorrência desta e, na soma dos dois pós-testes, ela foi a mais presente de todas as estratégias na sintaxe. Também percebi que houve uma subdivisão das estratégias de criação de vocábulo, as quais dividi em língua portuguesa, língua espanhola e híbridas (mistura do português e espanhol). Foi interessante ter identificado essas características e resolvi contabilizá-las. Foi um dado novo que identifiquei, pois ao surgirem pesquisas, informações novas também serão identificadas.

Portanto, o aprendizado por surdos de uma terceira língua possui características nas fases de sua interlíngua, tanto da língua de sinais quanto na língua portuguesa. O aprendizado de língua portuguesa para surdo é algo complexo, por se tratar de uma língua escrita de

modalidade oral auditiva e também pelo surdo não possuir uma escrita antecedente. Ao se falar num aprendizado de uma terceira língua escrita de modalidade oral, parece ser algo mais complexo ainda.