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Um pouco de história da região

No documento O AQÜÍFERO GUARANI NO ÂMBITO DO MERCOSUL (páginas 73-75)

Uma das diferenças mais marcantes da história do Brasil em relação a dos outros países latino-americanos está na sua independência. Segundo Silione (apud VIANNA, 2002), enquanto o Brasil adquiriu sua independência a partir de um acordo realizado com a Coroa Portuguesa, seus vizinhos enfrentaram longas guerras com a metrópole espanhola.

No entanto, Vianna (2002) afirma que foi no princípio do século XIX que o Brasil começou a viver a principal tensão geopolítica com a Argentina, decorrente principalmente, da disputa pelo controle da foz do Rio da Prata e pelo controle dos rios a montante, herança de antigas demandas entre Portugal e Espanha, tendo como motivo principal o domínio de rotas fluviais para a circulação e o comércio de mercadorias. Para Thual (1996), “essa disputa regulava um sistema maniqueísta para todos os países da região”.

Reckziegel (apud VIANNA, 2002) afirma que “historicamente, o Brasil teve uma tendência de satelitizar seus vizinhos, notadamente Uruguai, Paraguai e Bolívia, tentativa sempre combatida pela Argentina”, em função da disputa hegemônica criada sobre a direção dos principais eixos de circulação fluvial na região.

Santoro (2004, p.1) afirma que,

Com a consolidação do Estado, centralizado sob D. Pedro II, o Brasil iniciou uma política expansionista na região do Prata, intervindo nos

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Noticia publicada na Argenpress.info.jul.10/06. Disponível na www.argenpress.info/nota.asp

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assuntos internos da Argentina, Uruguai e Paraguai para mantê-los divididos e com governos favoráveis às políticas brasileiras. Essa situação, sempre tensa, tornou-se uma guerra de grandes proporções quando o Paraguai atacou simultaneamente o Brasil e a Argentina, tentando obter uma saída para o mar e incorporar a população guarani das províncias fronteiriças argentinas.

Ainda em Santoro (2004) encontra-se que, apesar de unidos no conflito contra o Paraguai, Brasil e Argentina desconfiavam mutuamente um do outro, sendo interessante para a Argentina que a força naval brasileira fosse destruída pelo Paraguai, como forma de reafirmar a hegemonia argentina nas águas do Rio da Prata.

De acordo com Góes Filho (1999), a influência inglesa foi decisiva para que Argentina e Brasil cessassem as hostilidades pelo controle da Província Cisplatina, o que acabou levando à criação do estado tampão do Uruguai.

Amayo (1995) sugere que a Guerra do Paraguai, ou Guerra da Tríplice Aliança, foi um artifício fomentado por Inglaterra para reverter a política de isolamento econômico paraguaio, beneficiando a coroa inglesa com o endividamento dos países aliados – Brasil, Argentina e Uruguai, e posterior endividamento do Paraguai, o perdedor, em favor do capital inglês, e beneficiando também a Argentina e o Brasil, que vieram a anexar terras pertencentes ao Paraguai.

Menezes (apud VIANA, 2002) salienta que essa guerra também teve motivos na disputa dos direitos de navegação das águas superficiais dos rios fronteiriços, em função do seu significado geopolítico e geo-econômico.

Igualmente Thual (1996) adverte que “o foco de quase todos os conflitos na região, era pelo controle da foz do Rio do Prata e pelo controle dos rios a montante”. No entanto, os conflitos do passado da Bacia do Prata voltam a ter atualidade pelos incidentes e polêmicas provocados pela instalação da Hidrelétrica de Itaipu, no século XX, quando Brasil procurou controlar a rede fluvial para inverter o fluxo econômico a seu favor.

A esse respeito, Vianna (2002, p.14) manifesta,

Neste aspecto as cataratas do Iguaçu sempre foram uma barreira aos interesses argentinos e talvez isso explique porque a barragem de Itaipu foi construída sem eclusa. Já as hidrovias, ferrovias e principalmente as rodovias construídas pelo Brasil priorizam a circulação interna e o eixo oeste-leste. Pode-se afirmar que se travou uma batalha geoeconômica e o Brasil através dos corredores de exportação oeste-leste, procura desviar a rota fluvial no sentido norte-sul do eixo central da bacia.

Para Santoro (2004), do ponto de vista brasileiro, a obra era vital para assegurar fornecimento de energia a uma economia que crescia a ritmo acelerado, de até 10% ao ano. Para os paraguaios, era a possibilidade de escapar da dependência de Buenos Aires, comerciando, por meio dos portos do Brasil, pelo Oceano Atlântico. Os argentinos reagiram, ameaçando levar o projeto à Corte Internacional de Justiça e mesmo à Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. O objetivo era impedir a obra, com o pretexto de que esta inviabilizaria a construção da usina de Corpus pela Argentina.

Vianna (2002) ainda salienta que a condição natural da Bacia da Prata favorece a Argentina na direção norte-sul, sendo o principal motivo de fricção entre os dois países. Desta forma, o Brasil viu-se obrigado a buscar outras alternativas no sentido oeste/leste como fluxo de exportações.

A disputa pelo comércio com o exterior do mercado centro continental, caracterizado desde a década de 40 como fronteira agrícola68, em expansão até os dias de hoje. O Brasil que sempre procurou privilegiar uma maior circulação no sentido oeste/leste, os chamados “corredores de exportações”, que posteriormente e devido a sua pujança econômica das últimas décadas permitiu-lhe reverter o eixo norte/sul pelo oeste/este, dentro da Bacia da Prata, aumentando assim a sua influência sobre o Paraguai e a Bolívia, enfraquecendo a Argentina.

Vianna (2002) afirma também que outra região disputada pela Argentina e o Brasil é a Antártica, devido a múltiplos interesses científicos, militares e estratégicos e pela busca da bioceanidade69, o que afetou, segundo o autor, as relações bilaterais.

No documento O AQÜÍFERO GUARANI NO ÂMBITO DO MERCOSUL (páginas 73-75)