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Segundo Spina, (1977), “[...] do amor à palavra nasceu a ciência filológica, uma ciência da área da linguística que tem por objetivo principal [...] concentrar-se no texto, para explicá- lo, restituí-lo à sua genuinidade e prepará-lo para ser publicado.” (p. 61). Cambraia (2005, p. 18) vai mais além e defende que a Filologia é um instrumento de “estudo global de um texto” (p. 18); ou seja, por meio dela, todos os aspectos linguísticos, literários, históricos e culturais de um testemunho podem ser exaustivamente estudados.

A Filologia trata da língua e da cultura de um povo por meio dos textos que, estudados e editados, podem se tornar um material seguro e fidedigno para realização de posteriores consultas e pesquisas. Possibilita, também, a disponibilização e a facilitação da leitura de documentos antigos a pessoas sem o conhecimento necessário para manusear, ler e compreender os originais, propiciando estudos em outras áreas de conhecimento. Além de fornecer informações importantes sobre a origem de um texto, a análise filológica permite que se estudem particularidades da escrita e da língua de dada época. Podemos identificar, também, se há participação de terceiros na redação de um documento, o estado de língua da época e aspectos de oralidade na escrita, entre outras particularidades de cada manuscrito.

Como foi visto no tópico anterior, a Paleografia e a Filologia são, de certa forma, áreas próximas. Desse modo, conceituar e separar os limites de cada uma delas se torna divergente para muitos autores. A Filologia é uma ciência milenar e era designada, na antiguidade, pelos homens que se preocupavam em estudar textos antigos, os chamados amigos da palavra. As definições apresentadas no Dicionário Houaiss (2001) são:

1. o estudo das sociedades e civilizações antigas através de documentos e textos legados por elas, privilegiando a língua escrita e literária como fonte de estudos;

2. o estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua transmissão, para estabelecer, interpretar e editar esses textos;

3. o estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de família de línguas, em especial a pesquisa de sua história morfológica e fonológica baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas (p. ex., filologia latina, filologia germânica etc.); gramática histórica; 4. o estudo científico de textos (não obrigatoriamente antigos) e estabelecimento de sua autenticidade através da comparação de manuscritos e

47 edições, utilizando-se de técnicas auxiliares (paleografia, estatística para datação, história literária, econômica etc.), esp. Para a edição de textos. Melo (1984) faz uma distinção entre linguística e filologia ao dizer:

A Linguística é o estudo da linguagem articulada ou a aplicação de seu método e de suas conclusões a uma língua particular, a um dialeto ou a uma família de línguas, enquanto a Filologia se preocupa com a fixação do texto fidedigno, sua explicação e com comentários de variadas naturezas que lhe atribuirão o sentido exato. (MELO, 1984, p. 7).

Segundo o autor, a “Filologia é uma ciência aplicada, a sua finalidade específica é fixar, interpretar e comentar os textos. Ao passo que a Linguística (ou Glotologia) é uma ciência especulativa. O seu objeto formal é a língua em si mesma, a língua como fato social da linguagem”. (MELO,1984, p. 8). Ele ainda divide a Filologia em clássica e moderna, sendo que a primeira é de vasto campo de atuação e a segunda é auxiliada pela Linguística Aplicada. Outro autor que busca definir o termo é Vasconcelos (1959), ao dizer que “A Filologia é o estudo da nossa língua em toda a sua amplitude, no tempo de no espaço, e acessoriamente o da literatura, olhada sobretudo como documento formal da mesma língua”. (p. 11). A concepção dada por Serafim da Silva Neto vai ao encontro à concepção de Vasconcelos:

A Filologia é o estudo científico, histórico e comparado da língua nacional em toda a sua amplitude, não só quanto à gramática (fonética, morfologia, sintaxe) e quanto à etimologia, semasiologia, etc., mas também como órgão da literatura e como manifestação do espírito nacional. (SILVA NETO, 1977, p. 20).

A questão é que, para os estudiosos que utilizam textos antigos como corpora de suas pesquisas e realizam edições diplomáticas ou semi-diplomáticas, a Filologia, sem dúvida, será a ciência que guiará as análises para representação fiel das características dos manuscritos de modo a conservar a escrita da época trabalhada. Há muitos tipos de edições disponíveis e cabe ao pesquisador analisar qual delas melhor se encaixa à sua necessidade. O labor filólogo não diz respeito apenas ao estudo de textos antigos, há filólogos que se dedicam aos textos modernos, embora não seja esse o caso da pesquisa em questão. No entanto, seja qual for a escolha, para que o trabalho seja considerado empírico, é necessário estabelecer e seguir normas de edição, bem como deixá-las explícitas para consulta posterior de quem for ler esse material. Para a análise linguística, quanto mais próxima ao texto original, maior a confiabilidade e oferta de dados para pesquisas:

48 Cada área do conhecimento interpreta um texto conforme finalidades específicas, pois os textos oferecem muitas informações e possibilidades de leituras. Assim, um historiador direciona suas leituras para os fatos históricos, um linguista, para manifestações da língua, um sociólogo ou um antropólogo, para os dados relativos ao comportamento humano e social [...]. (XIMENES, 2013, p. 197).

A edição diplomática de textos antigos promove, além de maior facilidade para consultar os documentos, a preservação dessas escrituras, porquanto o material-base está sujeito a perecer com o tempo. Por isso, é importante ostentar algumas medidas para garantir a conservação da língua no estágio específico de estudo. Para isso, deve o editor estar atento às interferências que causa no texto para não atualizar ou modificar formas gráficas, pontuação, separação vocabular, diacríticos e todas as particularidades que esses documentos apresentam. Esses cuidados servem para preservar e conhecer os usos e as evoluções da língua escrita nos seus mais variados contextos e sincronias.

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