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Um pressuposto diferente, num problema de sempre!

Na procura dos factores condicionantes do sucesso, a análise do jogo de basquetebol tem preferido o estudo dos indicadores de performance, como a sua linha de investigação tradicional. Sendo o basquetebol um jogo de percentagens (Mikes, 1988; 1987), estes estudos vêem demonstrando a importância relativa das diferentes estatísticas do jogo (Sampaio, 2000). Conhece-se hoje com clareza, a sua importância. Percebe-se bem o papel decisivo que possuem no controlo e na avaliação do desempenho, das equipas aos jogadores, não apenas em relação a um jogo mas também numa perspectiva longitudinal (Gomes, 2000; Catita, 1999; MacKinney, 1996; Mikes, 1987; Rataiczak, 1980). Nas últimas décadas, os estudos de Davidson (1966), Gunther (1967), Price (1969), Fergunson (1970) e Pim (1981) são alguns dos diversos exemplos de referência. Recentemente, é justo citar o extraordinário contributo de Dean Oliver, editor do Journal of Basketball Studies, que desde o início da década de 90 tem revolucionado verdadeiramente a abordagem aos factores de eficácia no basquetebol1. Em Portugal, primeiro com Marques (1990), e mais tarde com Sampaio (2000) tem-se desenvolvido um importante esforço de aproximação entre a investigação e a acção.

Este tipo de análise elege o jogo como o seu objecto de estudo. No desenvolvimento dos seus problemas percebe-se a existência de diferentes posicionamentos metodológicos, coabitando num pressuposto que concebe o jogo como um produto. O somatório de dados produzidos pela totalidade de um jogo é

1 O Journal of Basketball Studies é um e-lournal editado por Dean Oliver. Desde o final da década de 80 e início dos anos 90,

um autor cuja preocupação no desenvolvimento dos métodos de análise do jogo tem oferecido um contributo à investigação aplicada ao Basquetebol. Para uma consulta mais profunda dos seus problemas de pesquisa, o e-jornal pode ser acedido através do endereço seguinte: http://www.rawbw.com/~deano/index.html

introdução

analisado, interpretado e sobre essa interpretação, são inferidas as respectivas conclusões. A convergência dos seus resultados tem sido assinalável. Apontam para a eficácia do lançamento (particularmente no de 2 pontos) e a capacidade para recuperar bolas no ressalto (principalmente o defensivo), como sendo os indicadores de maior contributo para o sucesso (Sampaio, 2000; Pim, 1980; Dhorer 1974; Fergunson, 1970)2.

São análises interessantes e de elevada aplicação operacional no domínio da preparação, do treino e da própria competição. Porém, esfumam-se numa ideia de

análise ao jogo-total, que por si só, parece menos capaz para responder a um conjunto de novas questões emergentes. Propondo outro caminho, Garganta (1998) afirma a necessidade das análises se dirigirem para o estudo de sequências, mais do que para o amontoado de produtos totais derivados do jogo. Franks et al. (1998) referem-se à necessidade da observação transitar de um modelo que ultrapasse a inventariação de acções e comportamentos técnicos, para uma análise de determinados momentos específicos da competição. Gréhaigne et al. (1997) estudam configurações tácticas e identificam comportamentos parcelares que transportados para a totalidade da competição, lhes permite caracterizar as relações de vantagem/desvantagem da cooperação e oposição.

Apesar destes investigadores centrarem as suas preocupações em terrenos desportivos diferentes do basquetebol, estas, tratam-se de novas questões em análise do jogo. Constituem desafios que propõem uma alternativa ao designado pressuposto

análise ao jogo-total. Enquadram-se no objectivo fundamental de estudo das

condicionantes de sucesso, mas obrigam a uma mudança de pressuposto relativamente ao que é formulado na tradicional via da análise às estatísticas do jogo. O objecto de estudo não pode ser apenas e só um jogo-um caso, mas algo de mais profundo que se destaque na sua essência. Os dados em análise devem transitar de somatórios intemporais, para serem expressos numa dimensão bem definida no tempo.

Quando os autores desafiam a análise das sequências, dos momentos de desequilíbrio ou das rupturas das configurações tácticas, estão a apontar para o que se pode designar pela aberta e difusa expressão de momentos críticos do jogo. West (1973) dá-lhes o nome de turning points. Franks et al. (1998) e Hughes e Landridge (1998) apelidam-nos de critical instants, mais dedicados ao estudo do futebol e do squash. Kozar et al. (1994; 1993; 1992) utilizam a expressão critical game situations, referindo-se aos últimos cinco minutos do que denomina no basquetebol por um

closing game ou jogo equilibrado. Baker (2002)3 oferece uma listagem de conselhos

para uma equipa se comportar neste tipo de circunstâncias. Sampaio (2000) refere-se

2 Apesar de convergentes no essencial, devem ser registadas as diferentes especificidades metodológicas que possuem. 3 Ref. electrónica; data de consulta da fonte.

introdução

especificamente aos momentos críticos aludindo a um conjunto de estatísticas sem poder discriminatório. Estas seriam os indicadores que pela baixa frequência de ocorrência no jogo, viam o seu contributo diminuído na explicação do resultado final. O autor oferece um exemplo bem elucidativo. Prende-se com a desproporcionada diferença entre a frequência de ocorrências de um lançamento e de um ressalto ao longo do jogo, mas a igual importância que ambas as acções possuem em circunstâncias muito particulares. No fundo, são os momentos a que Garganta (1998), Franks et al. (1998) e Gréainge et al. (1997) se referem.

O problema proposto pela presente tese não é novo. Pode ser considerado como o mesmo problema formulado por um pressuposto diferente, procurando caminhos de análise próprios. Define-se no âmbito da análise do jogo e está orientado para o estudo dos factores condicionantes do sucesso desportivo no basquetebol. Todavia, ao invés de estudar os indicadores de performance via análise

do jogo-total, enquadra-se num pressuposto de análise dinâmica ao jogo, para

consequentemente estudar os seus momentos críticos. Entender o jogo à luz deste

olhar é procurar no seu continum de evolução, motivos para investigação e análise,

mantendo o respeito íntegro pela unicidade e singularidade de cada jogo (Eigen e Winkler; 1989).

Definido neste molde, a problemática em questão esbarra desde logo, com duas perguntas prévias:

Em que linha de investigação no domínio da análise do jogo, se pode enquadrar o estudo dos momentos críticos?

Como será possível definir algo tão difuso e aberto, como o conceito de momento crítico de um jogo?

Duas questões meramente teóricas, cujas respostas comprometem o essencial da problemática definida na tese. Com efeito, caso o fundamento teórico não fosse resolvido, dificilmente seria prosseguir com as desejadas aplicações de análise ao jogo. Naturalmente duas outras perguntas se sucedem:

Como se tornará possível estudar os momentos críticos no concreto do jogo de basquetebol?

Que caminhos metodológicos seguir para explicar o sucesso, e se possível, nos seus vários contextos?

Um problema de sempre assente num pressuposto diferente. Um pressuposto que aliado à análise do jogo-total pretende contribuir para um domínio do conhecimento do jogo que muito tem por explorar: o estudo da sua dinâmica.

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