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2. DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO: A QUESTÃO DA DIFERENÇA

2.4 UM RECORTE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE DEFICIÊNCIA E EDUCAÇÃO

A menção legislativa brasileira relacionada à educação de pessoas em situação de deficiência, ainda que não com esta nomenclatura, surge com a formulação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 4.024, de 1961. Ainda que breve, com apenas dois artigos, ela prevê que a educação de pessoas em situação de deficiência, deve no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade. Em sequência, ressalta que toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à educação de “excepcionais”, receberá dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções.

Para Lanna Junior (2010), foi somente a partir do final da década de 1970 que o movimento das pessoas em situação de deficiência surgiu, tendo em vista que, pela primeira vez, elas mesmas protagonizaram suas lutas e buscaram ser agentes da própria história. Antes disso, as ações voltadas para essas pessoas concentravam-se na educação e em obras caritativas e assistencialistas.

O Brasil vivenciou um período de ditadura militar de 1964 a 1985, período o qual o exercício da cidadania foi limitado em todas as suas dimensões: direitos civis e políticos eram cerceados e os direitos sociais, embora existissem legalmente, não eram desfrutados. Prevalecia a censura e a falta de liberdade. Naquele momento, os movimentos sociais, antes silenciados pelo autoritarismo, ressurgiram como forças políticas. Vários setores da sociedade surgiram exigindo sua participação na sociedade: negros, mulheres, índígenas, trabalhadores, sem-teto, sem-terra e, também, as pessoas em situação de deficiência (LANNA JUNIOR, 2010).

Nesse contexto, segundo Lanna Junior (2010), vários movimentos sociais, que no final da década de 1970 já estavam começando a transbordar, se juntaram com o movimento político das pessoas em situação de deficiência para saírem do anonimato e formarem organizações no intuito de criarem estratégias de luta para reivindicar igualdade de oportunidades e garantias de direitos. No Brasil, somente

em 1981 foi que o movimento social organizado pelas pessoas com deficiência ganha força, com passeatas e manifestações públicas.

Ocorre por exemplo, uma manifestação na Cinelândia, na cidade do Rio de Janeiro, em abril de 1981, onde participaram cerca de 200 pessoas com deficiência somadas às pessoas sem deficiência. A organização do movimento foi coordenada pela Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes (FCD) e pela Associação dos Deficientes Físicos do Estado do Rio de Janeiro (Adeferj), com a participação de outras entidades. Temos também o 1° Encontro Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes, em Brasília (1981) e o Ano Internacional das Pessoas Deficientes (AIPD) como propulsores na luta (LANNA JUNIOR, 2010).

Assim, a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, ganha inspiração nas lutas, tanto nacionais quanto internacionais, para iniciar o fortalecimento e a legitimação dos direitos das pessoas com deficiência. A mobilização da sociedade civil em torno da elaboração da Constituição de 1988 marcou a consolidação do processo de abertura política. No seio desse amplo debate, os diversos movimentos sociais brasileiros participaram ativamente para incorporar à nova Constituição suas principais demandas (LANNA JUNIOR, 2010).

O surgimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 9394, de 1996, também foi uma matriz estruturante na política brasileira, assim como a Constituição. A LDBEN 9394/96 é um documento, que em consonância com a constituição federal, define a base da educação brasileira, constituindo-se com a lei orgânica e geral da educação em nosso país. Essa legislação é a responsável por regulamentar o sistema educacional (público ou privado) do Brasil (da educação básica ao ensino superior).

Durante os anos, a LDBEN 9394/96 passou por algumas modificações, revogações e acréscimos de incisos para que estivesse sempre atualizada com as necessidades do cenário do país e para atender diferentes demandas. Em meio às diversas mudanças, vale destacar aquela que decorreu da lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, a qual definiu a educação especial como uma modalidade da educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 2013).

Em 2008 surge a Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, a qual busca assegurar a inclusão escolar de alunos com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008).

Em 2011, institui-se o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite por meio do decreto nº 7.612, com a finalidade de promover, por meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo (BRASIL, 2011).

O Plano Viver sem Limite, entre as suas diretrizes traz: a garantia de um sistema educacional inclusivo; garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte adequado; a ampliação da participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, mediante sua capacitação e qualificação profissional e a

ampliação do acesso das pessoas com deficiência às políticas de assistência social e de combate à extrema pobreza (BRASIL, 2011).

Em 2015, também surge um importante processo legislativo com a lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, a qual institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e dá ainda outras providências. Tal lei se estabelece tendo como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu documento se destina a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

Ocorreu ainda, recentemente em 2018, a nova política de reserva de vagas das universidades e dos institutos federais, em seus cursos de graduação, em consonância com a Lei nº 13.409, de 28 de dezembro de 2016, e a Portaria Normativa nº 9 do Ministério da Educação (MEC), de 5 de maio de 2017. O direito à

reserva dessas vagas é uma bandeira histórica na luta pelos direitos dessas pessoas.

Observa-se ainda um conjunto de normas constitucionais, leis federais e decretos que regem o direito da pessoa com deficiência que estão em vigor e podem ser acessados por meio do Programa de Inclusão de Pessoas com Deficiência da Presidência da República9.

As lutas pelos direitos das pessoas com deficiência e as mudanças previstas em lei são importantes para se pensar em formas inclusivas de atendimento desses estudantes nas diferentes modalidades e níveis de ensino, como, por exemplo: implantação de salas de recursos multifuncionais; atendimento educacional especializado; formação de gestores; educadores e demais profissionais; assim como, adequação arquitetônica de prédios e a elaboração, produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade, bem como a estruturação de núcleos de acessibilidade.

2.5 ALUNOS EM SITUAÇÃO DE DEFICIÊNCIA E O ENSINO SUPERIOR NO