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3 ESPAÇO E TERRITÓRIO DA SEGUNDA RESIDÊNCIA

3.3 UM TERRITÓRIO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA NA BAHIA

Na compreensão de Albagli (2004, p. 26-27), o território assume distintos significados em cada formação socioespacial. A autora entende que “a gênese, a dinâmica e a

diferenciação dos territórios vinculam-se a uma variedade de dimensões, tais como a física, a econômica, a simbólica e a sociopolítica”.

A dimensão física retrata as características geológicas e recursos naturais (clima, solo, relevo, vegetação), bem como aquelas resultantes dos usos e práticas dos atores sociais. Por outro lado, a dimensão simbólica apresenta o conjunto específico de relações culturais e afetivas entre um grupo e lugares particulares, uma apropriação simbólica de uma porção do espaço por um determinado grupo, um elemento constitutivo de sua identidade.

A dimensão econômica diz respeito às formas de organização espacial dos processos sociais de produção (o que, como e quem nele produz), de consumo e de comercialização. Em contrapartida, a dimensão sócio-política, condiz com o meio para interações sociais e relações de dominação e poder (quem e como o domina ou influencia). Nesse sentido, o turismo de segunda residência em Barra Grande, pode ser caracterizado como uma das principais atividades econômicas deste destino, seguida da pesca e comercialização de mariscos.

A partir das reflexões realizadas sobre as categorias espaço e território das residências secundárias e das dimensões apresentadas por Albagli (2004), é possível compreender como o território de residências secundárias se organiza na Bahia, a partir do objeto de estudo da vila de Barra Grande em Vera Cruz.

Dentre os aspectos da dimensão física desse território, verifica-se que o local abriga uma biodiversidade rica em espécies animais, manguezais, além de remanescentes de Mata Atlântica (BREVE, 2010). A vila dispõe de uma vocação natural para a prática da atividade turística, que também é favorecida pelo seu potencial cultural, apresentando uma dimensão simbólica significativa (figura 05). Assim,

Normalmente, a residência secundária está localizada próxima do domicílio permanente no entorno de importantes polos emissores, predominando o interesse por áreas de praia, embora do mesmo modo possa estar presente no continente. Entretanto, nos dois casos, as condições paisagísticas e climáticas desempenham importante papel na escolha do local onde estão instaladas (SILVA, 2012, p. 87).

Figura 05: Vista da praia de Barra Grande. Crédito: Mirela Araújo, 2013.

Entretanto, notam-se alguns problemas de ordem socioeconômica que precisam ser observados neste território. Um deles é a crescente insatisfação da população local quanto ao transporte realizado entre a Ilha de Itaparica e Salvador, resultante do sucateamento de grande parte da frota de embarcações marítimas. No período de alta estação, quando o volume de deslocamento de pessoas aumenta para veranear na Ilha, observa-se longas filas de passageiros, bem como de automóveis que se estendem por horas para a realização da travessia, como o que se observa na figura 06.

Figura 06: Fila para a travessia Mar Grande X Salvador – Bahia. Crédito: Mirela Araújo, 2013.

Outro problema recorrente diz respeito ao descarte e acondicionamento dos resíduos sólidos realizados fora da sede, Mar Grande. Ao transitar pela rodovia BA-001 e por diversas vilas e praias observa-se o lançamento de resíduos sólidos sem o devido acondicionamento e até mesmo restos de construções espalhados pelas ruas transversais para cobertura de buracos. É possível constatar ainda outro panorama que recai sobre o território do turismo de segunda residência em Barra Grande. Observou-se, durante visita de campo, que as praias localizadas em frente ao maior condomínio de residência secundária desta vila, o Arauá, estavam limpas, diferentemente do que foi encontrado nas praias próximas à vila, onde predomina o lixo nas areias (Figura 07). Segundo informação dos porteiros do condomínio, esta limpeza é feita pelos funcionários do Arauá.

Inferi-se destas constatações que coexistem, neste território, grandes contradições nas dimensões ambiental e sociopolítica. Se, por um lado, observa-se uma riqueza natural e uma forte potencialidade para o turismo, por outro lado, verifica-se que a gestão pública municipal não tem propiciado as condições para que o turismo se desenvolva de forma sustentável, conforme retrata Albagli:

Os elementos naturais de um dado território são transformados em potencialidades, na medida em que a sociedade percebe sua importância como recurso e, eventualmente, os integra as suas práticas territoriais. Tais práticas podem ser predatórias desses recursos e degradantes da qualidade ambiental; ou sustentáveis do ponto de vista da conservação e do equilíbrio do meio ambiente local (ALBAGLI, 2004, p. 37).

Figura 07: Condomínio Enseada do Arauá em Barra Grande. Crédito: Mirela Araújo, 2013.

Os moradores, visitantes, turistas e comerciantes locais também devem agir como guardiões deste espaço. É imprescindível que os atores sociais envolvidos no território assumam a sua cota de responsabilidade sem, no entanto, descartar a importante atuação dos gestores públicos municipais para o ordenamento do território, bem como para o necessário planejamento e gestão do espaço.

Para o planejamento e gestão deste espaço, Santos (2006) afirma que é necessário a compreensão e interação de um sistema de conceitos:

trata-se de formular um sistema de conceitos (jamais um só conceito!) que dê conta do todo e das partes em sua interação. Pensamos que nossa proposta atual de considerar o espaço geográfico como a soma indissociável de

sistemas de objetos e sistemas de ações pode ajudar esse projeto (SANTOS, 2006, p. 49).

Ainda para o referido autor, o espaço geográfico deve ser considerado como algo que participa igualmente da condição do social e do físico, um misto, um híbrido, e por isso os seus atores sociais precisam atuar com mais efetividade, buscando solucionar coletivamente os problemas e conflitos de seu território.

4 ESPECIFICIDADES DO TURISMO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA EM BARRA