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2. A QUALIDADE NA PROVISÃO LOCAL DE BENS PÚBLICOS NO BRASIL: UMA

2.2. UMA BREVE RESENHA SOBRE A TEORIA DOS CLUBES

Um clube é um grupo voluntário que compartilha benefícios mútuos entre seus membros referentes a um ou mais procedimentos característicos dos sócios, ou dos serviços providos entre eles. Apesar da maioria de artigos econômicos analisarem os clubes a partir da obra "An Economic Theory of Clubs", de Buchanan (1965), a origem de sua teoria pode ser traçada a partir de Pigou (1920) e Knight (1924) e seus estudos sobre a possibilidade de uso de duas rotas alternativas por parte de uma comunidade, sendo uma congestionada de boa qualidade e outra não congestionada, porém de qualidade ruim. Ao sugerir pedágios na estrada congestionada, os autores essencialmente buscavam resolver um problema de clubes, uma vez que o pedágio restringiria os usuários e, assim, determinaria "o tamanho ótimo da associação" para a rodovia congestionada10.

10 Mishan (1971) mostrou que as soluções de Pigou (1920) e Knight (1924) são idênticas, sendo que Pigou

Outros pioneiros sobre o modelo intuitivo de clubes foram Tiebout (1956), cuja hipótese “voting with the feet” (votando com os pés) atentava em mostrar como o tamanho jurisdicional de um governo local poderia determinar as decisões voluntárias de mobilidade (ou associação) dos membros da comunidade, e Wiseman (1957), que no contexto de bem privado, analisou o princípio dos clubes para compartilhamento de custos entre usuários de serviços públicos. Com efeito, Tiebout (1956) e Wiseman (1957) foram os primeiros pesquisadores a focarem na lógica de partilha dos custos por clubes supondo que a despesa por usuário cairia em conformidade ao tamanho da associação.

Contudo, o mais influente sobre as investigações iniciais da teoria é mesmo Buchanan (1965). Partindo da tentativa de preencher a lacuna dos estudos Samuelsonianos dos bens públicos e privados, ele foca em clubes que partilham um bem público parcialmente rival, caracterizado por benefícios excludentes, e adiante promove a primeira preposição analítica das condições de oferta e associações derivadas para clubes que compartilhavam bens. Identificou economias de escala a serem exploradas na provisão de serviços locais, e distinguiu os clubes de acordo com as características do uso dos serviços compartilhados. Clubes Inclusivos seriam aqueles que compartilhavam bens públicos puros e não requeriam restrições sobre o tamanho, enquanto que os Clubes Exclusivos seriam os que compartilhavam bens públicos impuros e requeriam restrições de tamanho devido à superlotação ou congestionamento. Esses passaram a ser chamados de “Bens de Clubes”.

Segundo o autor, esses bens são caracterizados diferentemente dos bens públicos puros, por uma série de razões. Primeiro, porque o uso de um bem de clube é voluntário onde os participantes devem se juntar para receber seus benefícios, os quais são retidos para não membros, e apesar dos custos, os sócios percebem um ganho líquido pela adesão. Já para os bens públicos puros, todos dentro da gama de serviços distribuídos recebem automaticamente o benefício do bem ou o custo pela prestação. Em segundo lugar, o número ideal de participantes do clube que compartilham os bens é finito, ao contrário dos bens públicos puros, onde todos podem ser acomodados sem externalidades ou crowding effect. Os clubes são, portanto, coletivos exclusivos.

Em terceiro lugar, para os bens de clube, a disposição de adesão para os não membros deve ser abordada: Formar vários clubes, onde a população é dividida em clubes idênticos que não se sobrepõem (Pauly 1967; McGuire 1974), ou formar um único clube, onde os indivíduos que ficam de fora não consomem o bem? (HELPMAN E HILLMAN, 1977). os custos médios incluindo a possibilidade de aluguel. Contudo, sob as condições de mercado competitivo as duas análises convergiam.

Em quarto lugar, os bens de clube devem possuir um mecanismo de exclusão que é praticamente sem custos, contudo, os membros que não cooperam não recebem os seus benefícios. Em contraste, a exclusão não é possível nem desejável para um bem público puro. Em quinto, ao contrário de bens públicos puros, os bens de clube são muitas vezes providos com a internalização do processo de congestionamento, e eficientemente através de acordos institucionais alternativos, e por fim, envolvem uma dupla decisão - a escolha da provisão e o tamanho de seus membros.

Os bens de clube não representam todos os bens entre os extremos polares dos privados e públicos puros. Não há escala linear entre esses dois extremos, na medida em que as propriedades de caráter público realmente variam ao longo de duas dimensões - a rivalidade e a possibilidade de exclusão. Assim, os bens públicos que são não rivais, mas excludentes, não são bens do clube, porque o custo marginal de usuários adicionais é zero. Como tal, a exclusão não alcança a eficiência (SANDLER, 2004). Os bens públicos que estão sujeitos à aglomeração, mas não podem ser excluídos também não são bens de clube, o que igualmente é válido para bens públicos cujo custo supera exclusão de quaisquer ganhos de eficiência, de modo que a exclusão não se justifica sob realidades tecnológicas atuais.

Assim, os bens de clube não abrangem todos os bens públicos impuros, onde os benefícios são parcialmente excludentes e/ou parcialmente rivais. A questão fundamental é que existe um mecanismo de exclusão suficientemente barato para cobrar dos usuários pelo congestionamento que seu uso provoca. O autor imaginou, então, clubes em que seus membros possuem um arranjo institucional próprio para a provisão de bens que estão sujeitos a alguma rivalidade na forma de efeito crowding ou congestionamento, que simplesmente representa uma detração na quantidade ou qualidade dos bens em decorrência do aumento de sua utilização pelos participantes desse clube.

A Teoria dos clubes ocupa um lugar de destaque na literatura sobre escolha pública para um número de razões. Pode servir como base teórica para um projeto jurisdicional, enfatizando que os bens públicos podem, em circunstâncias chaves, ser providos de modo que não implique necessariamente o fornecimento pelo governo. A teoria indica que o tamanho dos clubes ou o número de participantes é uma escolha exógena que não é independente da decisão de associar-se. E por último, o estudo dos clubes pode ser aplicado a uma incrível variedade de situações que incluem impactos dos clubes em praticamente todos os campos da economia.

Sem embargos, o refinamento dos estudos sobre o tema tem centrado suas análises na otimização dos clubes, nas formas institucionais alternativas para a formação, na composição

de seus membros, no tipo de mecanismo de exclusão, e financiamento dos clubes, e sobretudo na função de congestionamento. Contribuições como as de Craig (1987), Edwards (1990), McGreer e MacMillan (1993), Means e Mehay (1995), e Reiter e Weichenrieder (1997) fortaleceram cada vez mais as análises, estabelecendo-as a partir da extensão do debate associada a outros tópicos importantes da economia pública. Exemplos incluem a análise do imposto sobre a propriedade como uma taxa de congestionamento (Wilson, 1997); a qualidade do serviço público quando a população dos clubes é heterogênea (Glazer a Niskanen, 1997); e a competição fiscal entre clubes na presença de congestionamento (Matsumoto, 2000).

Tais fatos constatam que, de fato, Buchanan (1965) habilmente lançou as bases para a teoria em uma estrutura simples, mas eficiente, partindo de um problema no qual os agentes pertencentes ao clube deveriam maximizar uma função que dependia do consumo do bem privado e coletivo, propondo formas de análise que passavam, sobretudo, por determinar o tamanho ideal do clube, dado a quantidade de um bem público.

Com efeito, esta pesquisa baseia-se no entendimento que as condições de fornecimento público dependem do tamanho do clube correspondente e que os mecanismos de provisão são processos políticos em que a demanda e a oferta são consideradas. Desta feita, fundamenta suas análises em um modelo teórico que incorpora tais predições.

2.3 O EFEITO DO TAMANHO DOS CLUBES SOBRE A QUALIDADE DA