• Nenhum resultado encontrado

Uma colina da ciência, numa capital europeia

Maria de Fátima Nunes

4. Uma colina da ciência, numa capital europeia

Em 1994 Lisboa, tempo de uma capital da cultura na Europa, inventou a designação da 7ª colina. Um espaço urbano que se insinua a partir da fonte pública setecentista do Largo do Rato e se projecta para o Tejo, abrangendo o Bairro Alto, abraçando o Camões e o Chiado, ao mesmo tempo que se apro- pria da Rua da Escola Politécnica, do Príncipe Real, da Rua da Academia das Ciências de Lisboa, mas também do Alto de Santa Catarina e do Museu de Farmácia, entidade privada, mas ex-libris da museologia científica inter- nacional.

A contemplarmos a construção da memória científica do espaço do novi- ciado da Cotovia até ao complexo dos «Museus da Politécnica» – sob jurisdi- ção da Universidade de Lisboa - percebemos que este eixo de Lisboa se insi- nua ao viajante, ao estudioso, ao forasteiro sem rota como um itinerário obrigatório para um percurso de turismo cultural e científico. Urge elaborar este guia de Lisboa, tal como existe para Madrid (Lafuente 1998) e a sua ela- boração de combinação de rigor histórico com sedução para recantos únicos só pode ser construído após uma análise sistemática, laboriosa e intensiva do ciclo de produção de textos do I Centenário da Escola Politécnica de Lisboa.

Estes arquivos informativos – personalizados pelo seu Autor – são o rosto colectivo da Faculdade de Ciências nos anos trinta do século XX. Constituem uma documentação que não pode ser nem esquecida nem relegada para um plano secundário quando se trata de pensar o que fazer com o património científico da Politécnica, com um potencial de camadas de história da Europa cultural e científica fundamental para o cidadão do século XXI. Uma gra- mática de estilo na qual se aprende a pensar na interligação entre instituições, nacionais e internacionais, nas múltiplas sociabilidades científicas e lúdicas do rosto colectivo – e humanizado – de uma instituição que marcou várias etapas da vida científica nacional cruzando-se com a perspectiva internacional e comparada da Ciência, da cultura científica e humanística da Europa (Godi- nho 1998; Diogo et all 2000; Fox 2006).

Uma herança de código genético fundamental para visionar o presente e sonhar o devir das próximas décadas, no âmbito de um projecto de cidadania global com respeito pelos valores de património cultural e científico que o passado foi depositando nos anais da história das instituições científicas, con- tribuindo para a comunidade científica poder construir, a par do seu tempo vivencial, identidades científicas e identidades culturais que se encaixam na

memória e no presente de uma da Europa patrimonial (Jesuíno 1995; Fortuna 1999; Gonçalves 2001).

O ciclo de práticas comemorativas de 1937 não esgotou o tema da Escola Politécnica. Ciclicamente o tema da história – memória colectiva da actual Universidade de Lisboa vem para o debate do espaço público. 2011 será o próximo grande ciclo comemorativo – o I Centenário da Universidade de Lisboa e da Faculdade de Ciências. Decerto um bom pretexto para o eterno retorno da oficina da história e voltar a reler, a reflectir sobre o abundante material que os professores da Faculdade de Ciências souberam organizar e divulgar no seio da sua comunidade académica (Philosophical Imagination 1993).

5. References

Anuário - Petrus Nonius (1937), Grupo Português de História das Ciências. Archeion, Archivio di Storia della Scienza, Roma, 1927-1941..

Basto, A. de Magalhães, Memória Histórica da Academia Politécnica do Porto, precedida de Memória sobre a Academia Real da Marinha e comércio pelo conselheiro Abreu Cardoso Machado. Por ordem da Uni- versidade do Porto no primeiro centenário da fundação da Academia Politécnica, Porto, Ed. Universidade do Porto, 1937.

Bensaude-Vincent, Bernardette, Rasnussen, Anne (1997), La science populaire dans la presse et l’édition XIX et XX siècles, Paris, CNRS Histoire.

Brien, Éric / Demeulenaere-Douyère, Christiane (Dir.) (1996), Histoire et memoire de l’Académie des Sciences. Guide de recherches , Paris, Londres, Nova York

Carvalho, Rómulo de (1997), Colectânea de Estudos Históricos – 1953-1994. Cultura e actividades cien- tíficas em Portugal, Évora, Universidade de Évora.

Catroga, Fernando (1998), Cientismo e historicismo, Seminário sobre o Positivismo, Évora, Ed. Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência, pp. 11-57.

Chanet, Jean-François (2000), La Fabrique des Heros. Pédagogie Républicaine et culte des grands hommes, de Sedan à Vichy, Vingtieme Siecle. Revue d’histoire, n. 65, Janv.-Mar, pp.13-33. Citsul (1996), O Laboratório de Química Mineral da Escola Politécnica de Lisboa (1884-1894), Lisboa. Ed. Livraria Escolar.

Citsul (1998), Divórcio entre cabeça e mãos? Laboratórios de Química em Portugal (1772-1995), Lisboa. Ed. Livraria Escolar.

Commemorative Practices in Science (1999), Osiris. Historical Perspectives on the Politicis of Collec- tive Memory, Edited by Pnina G. Abir-Am and Clark A. Elliot, vol. 14.

Cooter, Roger, Pumfrey, Stephen (1994), Separate shperes and public places: reflections on the history of science popularization and science in popular culture, History of Science, vol. 32, nº 97, pp. 237-267.

Cruzeiro, Eduarda (1988), Capital simbólico e memória institucional – a propósito da Uni- versidade no século XIX, Análise Social, nº. 101-102, pp. 593-607.

Diogo, M. P./Carneiro, A./Simões (2000), Sources for the History of Science in Portugal: one possible question, Cronos. Cuadernos Valencianos de Historia de la Medicina y de la Ciencia, vol. 3, nº. 1, pp. 115-142.

Escola (A ) Politécnica De Lisboa. 1937 Primeiro centenário de fundação da escola politécnica de Lisboa, Lisboa, Tipografia da Faculdade de Ciências de Lisboa.

Faculdade De Ciências Da Universidade De Lsiboa (1987), Passado/presente. Perspectivas Futuras, 150º aniversário da Escola Politécnica/75º Aniversário da Faculdade de Ciências, coordenação de Fernando Bragança Gil et all., Lisboa, Ed. Museu de Ciência.

Fitas, A., Nunes, M. F., Rodrigues. M, 2008, Filosofia e História da Ciência em Portugal no século XX, Lisboa [Casal de Cambra], Ed. Caleidoscópio.

Fortuna, Carlos (1999), Identidades, percursos, paisagens culturais, Lisboa, Ed. Celta.

Fox, R. 2006, Fashioning the discipline: History of Science in the European Intellectual Tradi- tio, Minerva 2006, 44: 410-432.

Godinho, Vitorino Magalhães (1998), Les Sciences Humaines et la Mutation du Monde. Réflexions inactuelles, Lisboa, Ed. Colibri / Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Gonçalves, Maria Eduarda (2000), Cultura científica e participação pública, Lisboa, Ed. Celta. Halbwachs, Maurice (1968), La Mémoire Colective, Paris, P.U.F.

História E Desenvolvimento Da Ciência Em Portugal Até Aos Século XX (1986), Lisboa, Publicações do II Centenário da Academia das Ciências de Lisboa, Tomo I e II.

História E Desenvolvimento Da Ciência Em Portugal No Século XX (1989), Lisboa, Publicações do II Centenário da Academia das Ciências de Lisboa, Tomo I , II e III.

Iii Congrès International D’histoire Des Sciences (1936)Tenu au Portugal du 30 septembre au 6 oc- tobrre 1934, sous le Haut Patronage de S. E. le Président de la République Portugaise. Actes, Conférences et Communications, Lisboa..

Image Et Histoire (2001), Vingtieme Siecle. Revue d’Histoire, Octobre-Dec.

Imagenes De La Ciencia En La España Contemporánea (1998), Madrid, Ed. Fundación Arte y Tec- nología.

Jesuíno, Jorge Correia, coord. (1995), A comunidade científica portuguesa nos finais do século XX: com- portamentos, atitudes e expectativas, Lisboa, Ed. Celta.

Lafuente, Antonio (1998), Guía del Madrid Científico. Ciencia y Corte, Madrid, Docce Calles / Co- munidad de Madrid.

Lalieu, Olivier (2001), L’invention du «devoir de mémoire, Vingtieme Siecle. Revue d’histoire, n. 69, Janv.-Mar, pp. 61-82.

Léonard, Yves (1999), Le Portugal et ses «sentinelles de pierre». L’Exposition du Monde Portugais en 1940, “Vingtieme Siecle. Revue d’histoire”, n. 62, Avril-Juin, pp. 27-37.

Lourenço, Marta C./Carneiro, Ana (Editors) 2009, Spaces and Collections in the history of science, Lisbon Museum of Science of The University of Lisbon.

Memórias De Professores Cientistas (2001), Faculdade de Ciências, universidade de Lisboa 1911-2001, coordenação científica Ana Simões, Lisboa, Ed. Faculdade de Ciências da Universidade de Lis- boa.

Nora, Pierre (1984-1993 (dir.), Les Lieux de la Mémoire, 7 vols. Paris, Ed. Gallimard.

Nunes, Maria de Fátima (1998), História da Ciência em Portugal – a institucionalização edi- torial da memória científica. Notas de uma investigação, Seminário sobre o Positivismo, Évora, Ed. Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência, pp. 311-335.

Nunes, Maria de Fátima(2004), The History of Science in Portugal (1930-1940): The sphere of action of a scientific community , e-JPH», vol. 2:2, Winter.

On Time (2000): History, Science And Commemoration – The British Journal for the History of Science, A special issue, Guest Editor: William Ashworth, Jon Agar and Jeff Hughes.

Petrus Nonius, Grupo Português de História das Ciências, 1937-1938.

Philosophical Imagination and Cultural Memory (1993), Ed. Patricia Cook, London / Durham, Duke University Press. .

Pomian, Krizysztof (1998), De l’histoire, partie de la mémoire, à la mémoire, object d’histoire, Revue de Métaphysique et de Morale, janviers-mars, nº1, pp. 63-110.

Prost, Antoine (2000), Comment l’Histoire fait-elle l’historien?, Vingtieme Siecle. Revue d’histoire, n. 65, Janv.-Mar, pp. 3-11.

Sanchez Ron, José Manuel (1999), Cincel, martillo y piedra. Historia de la ciencia en España (siglos XIX y XX), Madrid, Ed. Taurus.

Energia, natureza e sociedade nos textos