• Nenhum resultado encontrado

Retórica em português

3.1 Uma comunidade dedicada

Em Portugal os principais cultores da retórica são oriundos sobretudo de duas áreas científicas distintas mas afins: a Filosofia e as Ciências da Comunicação; e ainda da área do Direito e Ciências Jurídicas. A comunidade lusa com interesse e publicações nesta área é composta por algumas dezenas de estudiosos, e mostra uma vitalidade surpreendente no que à riqueza e variedade das publicações e organização de eventos científicos diz respeito.

Em termos de metodologia, para caracterização da comunidade com interesses na Retórica, optou-se pela seguinte: determinar, sobretudo, mas não exclusivamente, a partir da Porbase, quais os investigadores portugueses com publicações recentes5 na área. A pesquisa

efetuada foi muito simples e utilizou, nas categorias “título” e “assunto”, as expressões de pesquisa “retórica” e “argumentação”. Obviamente a Porbase e os catálogos da Biblioteca Nacional fornecem um registo detalhado dos livros, sujeitos a depósito legal, de teses e monografias; mas são omissos quanto a artigos. Para tentar colmatar esta lacuna realizei idêntica pesquisa, com os mesmos critérios, na B-ON - nas Bases de Dados de Artes e

4. Em rigor também há interdisciplinaridade e permeabilidade entre as outras áreas, mas com expressão

menor.

5. “Recentes” não se refere a um critério de atualidade propriamente dito, mas serve para distinguir do

Humanidades e Ciências Sociais e Humanas; e na BOCC – Biblioteca Online de Ciências da Comunicação, que possui uma secção exclusivamente dedicada à Retórica.

A Sopcom – Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação alberga entre os seus 11 Grupos de Trabalho (GT’s) o de Retórica, que é presidido desde há alguns anos por Tito Cardoso e Cunha. Os GT’s pretendem ser «espaços estáveis de confluência dos investigadores associados, com afinidades ao nível dos interesses de pesquisa», ativos na promoção e dinamização da sua área de especialidade, e possuindo «um plano próprio de atividades e iniciativas».6 Uma terceira possibilidade que cheguei a considerar seria determinar em

concreto a composição do GT de Retórica da Sopcom, mas acabei por descartar a utilidade dessa hipótese por, claramente, nem todos os seus membros (dá-se o caso de conhecer alguns) terem publicações na área. Assim, a dupla aplicação do primeiro critério (livros e artigos), senão infalível, pareceu-me pelo menos equilibrada.

À luz dos trabalhos que fui encontrando durante a pesquisa, tornou-se óbvio que do ponto de vista desta dissertação, as inúmeras publicações que correspondiam aos critérios de pesquisa adotados, mas pertenciam à área dos estudos linguísticos ou literários, não eram de todo pertinentes.

Por uma razão diferente – tratarem-se de monografias inéditas - também não destaquei o conjunto das teses de mestrado que na Porbase correspondiam aos critérios de pesquisa. O seu número era bastante elevado – com destaque para um cluster grande na Universidade Nova - e a elas pode não corresponder verdadeiro investimento e trabalho futuro na disciplina, por se tratarem, muitas vezes, de momentos únicos e isolados na carreira dos seus autores. Saliento porém que isso não implica nenhum juízo de valor sobre esses trabalhos, e que menciono alguns na bibliografia, tendo-os utilizado no meu trabalho e chegando mesmo a citá-los no próximo capítulo.

Assim, com base nesta metodologia, e no que aos livros diz respeito, destaca-se desde logo um conjunto elevado de autores com obras sobre argumentação oriundas do Direito e das Ciências Jurídicas.7 É o caso de Alfredo Gaspar (Instituições da Retórica Forense, Minerva),

Paulo Ferreira da Cunha (Manual de Retórica e Direito, Quid Juris), Paulo Morgado (Cem

Argumentos - a Lógica, a Retórica e o Direito, Vida Economica), Virgílio Correia (Concepção discursiva do poder: uma abordagem pela via da teoria da argumentação) e o conhecido

sociólogo do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos (O discurso e o poder: ensaio sobre a sociologia da retórica jurídica, Centelha).

Na área da Filosofia, destacam-se Manuel Maria Carrilho (Retórica e Comunicação, como editor, ASA; Verdade, Suspeita e Argumentação, Editorial Presença); Manuel Alexandre Júnior (Hermenêutica Retórica, Alcalá); Leonel dos Santos (Retórica da Evidência ou

Descartes segundo a ordem das imagens, Quarteto); e Henrique Jales e Joaquim Neves

6. Fonte: http://www.sopcom.pt/sub/pag/grupos_de_trabalho, consultado em Setembro de 2012.

7. A inclusão das Ciências Jurídicas, quando se optou pela exclusão de outras áreas, justifica-se pela raiz

Vicente com O lugar da lógica e da argumentação no ensino da filosofia (como editores, Coimbra: Faculdade de Letras).

Nas Ciências da Comunicação o campo é liderado por Tito Cardoso e Cunha, que preside, como já mencionamos, ao GT de Retórica da Sopcom, e é autor de livros como Razão

Provisória, Covilhã, Ta Pragmata; Argumentação e Crítica, Minerva; Silêncio e Comunicação,

Livros Horizonte; Retórica e Argumentação, UBI.

Com formação de base em Filosofia, como sucede aliás com o autor anterior, mas doutorado em Ciências da Comunicação, Rui Alexandre Grácio, entre muitos outros títulos, é autor de pelo menos seis livros na área: Racionalidade Argumentativa, ASA; Consequências da

Retórica, Pé de página Editores; Discursividade e perspectivas. Questões de argumentação,

Grácio Editor; A interacção argumentativa, Grácio Editor; Fenomenologia, Hermenêutica,

Retórica e Argumentação, Grácio Editor; e Para uma teoria geral da argumentação: questões teóricas e aplicações didácticas, Universidade do Minho.

Da Universidade Nova, Hermenegildo Ferreira Borges publicou Vida, Razão e Justiça, Minerva; Retórica, Relógio D’Água; e Retórica, Direito e Democracia, volume publicado pelo Ministério da Justiça. Da UTAD José Esteves Rei publicou o volume Retórica e sociedade, pelo Instituto de Inovação Educacional. Na Universidade da Beira Interior os Livros Labcom dedicaram uma série de três obras ao tema: Retórica e Mediatização: as Indústrias da

Persuasão (eds. Ivone Ferreira e Gisela Gonçalves), Retórica e Mediatização II (eds. Ivone

Ferreira e Maria del Mar) e Retórica e Mediatização: da escrita à internet (eds. Paulo Serra e Ivone Ferreira); enquanto Américo de Sousa publicou A Persuasão, na mesma editora.

Na BOCC – Biblioteca Online de Ciências da Comunicação publicam artigos de investigação sobre vertentes variadas da Retórica os seguintes autores portugueses: Paulo Serra, Ivone Ferreira, Idalina Proença Maia, Américo Sousa, António Bento, Esteves Rei, André Barata, António Fidalgo, Luís Carmelo, Desidério Murcho, Hermenegildo Borges, Maria José Almeida, João Canavilhas, José Manuel Esteves, Moisés Lemos Martins, e Zara Pinto Coelho.

A partir da B-on, excluindo duplicações relativamente aos resultados anteriores, obtiveram-se os nomes dos seguintes autores no que a artigos diz respeito: Aníbal Alves, Januário Torgal Ferreira, Teresa Duarte Martinho, Maria Cristina de Almeida Melo, Maria Luísa Malato, Miguel Baptista Pereira, e Joaquim das Neves Vicente.

Do ISCTE, oriundos respetivamente da área da Psicologia e Antropologia, e dificilmente classificáveis nas três categorizações até aqui apresentadas Fernanda Paula Martins e Castro publicou Natureza, Ciência e Retórica na Construção Social da Ideia de

Ambiente (Ed. Fundação Calouste Gulbenkian), e Jorge Freitas Branco editou Retóricas Sem Fronteiras, vol, 1-Mobilidades, e vol. 2- Violências (Celta).

Como este breve e modesto estudo demonstra, compõem o conjunto de estudiosos da Retórica lusos algumas dezenas de interessados, e vários sonantes da Academia. Pela relevância das respetivas obras, quantidade e qualidade de produções na matéria, e estabilidade na abordagem das mesmas temáticas ao longo de um período considerável de

tempo, optei por explorar de forma mais detalhada nos subcapítulos que se seguem os trabalhos de Tito Cardoso e Cunha e de Rui Alexandre Grácio.