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uma edição crítica do texto de Francisco de Moraes

No documento O AMOR NOS LIVROS DE CAVALARIAS –O (páginas 95-200)

3.1- as edições em português

Há muito que a literatura crítica e as bibliografias registam e descrevem duas edições quinhentistas de Palmeirim de Inglaterra, a que se seguiram a edição feita por Agostinho José da Costa Macedo em 1786 (Silva 1859: 16), (Pereira 1909: 408) e a edição dada à estampa pela Bibliotheca Portugueza em 1852. Mais recentemente apenas têm aparecido excertos da obra em antologias1.

Há muito também que foi mencionada pelo menos uma outra edição quinhentista da obra de Francisco de Moraes, a que se somou a hipótese levantada por Inocêncio da Silva sobre duas edições eborenses do texto: uma de 1564 e outra de 1567 (Silva 1859: 15).

No prefácio da edição setecentista o seu autor registou o seguinte:

«Imprimio-se esta Obra pela primeira vez em Evora em casa de André de Burgos 1567, em caracteres Goticos; da qual edição os rarissimos exemplares, que pudemos ver, da Livraria da Real Casa das Necessidades, e do Colegio de S. Bernardo de Coimbra, carecem de rosto, e Dedicatoria. Na copiosa Livraria do Convento de S. Francisco da Cidade se conserva, posto que muito estragada, e falta, huma edição desta Obra em caracter entre Gotico, e redondo, que da algumas mostras de ser impressa fóra do Reino. He conforme com a primeira, só com alguma pequena variedade de Orthografia, e leve transposição de algumas palavras. Imprimio-se terceira vez (o Editor diz ser a segunda) em Lisboa no anno de 1592 pelos cuidados de Affonso Fernandes, Livreiro, que a dedicou ao Cardeal Alberto, que então governava este reino. Esta edição acha-se dissimilhante das duas antecedentes, não só na variação da Orthographia, na perpetua, e escusada mudança de palavras, e periodos inteiros, mas tambem na mutilação de muitos lugares; do que facilmente nos podemos convencer, conferindo-as entre si. Não obstante haver tres edições desta Obra, he tão rara, que apenas se achará hum, ou outro exemplar de qualquer das edições inteiro.» (Moraes 1786: 10-11)

1 Encontram-se neste caso as que prepararam Júlio Martins (Morais 1940), Rodrigues Lapa

(Morais 1941) e Isabel Allegro de Magalhães (Morais 2003) incluídas na bibliografia. Existe ainda uma adaptação de Artur Fonseca (1964-66) também ali referida.

Esta mesma informação nos transmite Inocêncio da Silva (1859: 15-16). T. Braga, por sua vez, também menciona as mesmas três edições acrescentando alguns dados:

«Tanto Odorico Mendes como Benjumea deduzem que existiu uma edição portuguesa do Palmeirim anterior á castelhana de 1547, e feita fóra de Portugal (...). Authenticada por essas tres auctoridades [a terceira referida era Francesco Saverio Quadrio] a existencia de uma edição do Palmeirim de Inglaterra sem data, vamos provar como ella é anterior a 1547, e que se póde fixar com certa segurança em 1543, epoca em que Francisco de Moraes regressou a Portugal, e na côrte de D. João III a dedicou com uma allocução manuscripta, á Infanta D. Maria.» (Braga [1881]: 251)

E o autor menciona, entre outros argumentos, a Tenção de Miraguarda, de Camões1 que terá sido redigida, segundo este autor, entre 1542 e 1546, bem como o Auto do Procurador de António Prestes, onde diz que Palmeirim é referido2.

A terceira autoridade mencionada por Braga refere-se, não a uma edição em português, mas a uma tradução italiana feita a partir do castelhano cuja menção William Purser (1904: 381) cita, corrigindo:

«Libro del famosissimo, e valorosissimo Cavaliero Palmerin d’Inghilterra figliuolo del re Don Eduardo (Libro del famosissimo, y valorosissimo Cavallero Palmerin d’Inghalaterra hijo del ey don Duarte). Trovasi impresso in foglio senza altra data.»

E esta referência interessa, neste estudo, principalmente pela menção a «livro», que se retomará adiante. Neste local importa mencionar o facto de também Purser atestar que

«five editions of the Portuguese version of Palmerin of England have appeared, of which four are still in existence, those of 1567, 1592, 1786, and 1852. The fitfh has vanished, and we know of it only from the editor of the edition of 1786, who saw it and made use of it. It appears to have been dedicated in early part of 1544, to Dona Maria, sister of the king D. João III.» (Purser 1904: 25).

1 O poema faz parte, como refere, do Cancioneiro de Luis Franco Correa (1589: fl. 102).

2 Encontra-se na referida obra: «minha molher, ergue o esprito / sabei que isso leva a palma»

vv.134-135 (Prestes 2008: 134). É, no entanto, no Auto dos Dois Irmãos, e não naquele conforma já assinalara Purser (1904: 379), que o texto de Moraes é amplamente mencionado: «Ler-lh’ei Palmeirim» v. 66, «Não, é Palmeirim de França» v. 642, «Será Palmeirim pilhança.» v. 645 e «com Palmeirins de furtórias» v. 667 (Prestes: 2008: 277, 299-300).

Mas voltando um pouco atrás no tempo, mencionem-se as palavras de Odorico Mendes sobre este aspecto particular:

«Chegado Moraes a Lisboa no fim de 1543 ou logo no principio de 1544, como ja provei, offereceu o livro á infanta, que por instruida e amiga das lettras o acceitou e estimou: vindo o livro impresso de fora, a dedicatoria foi em manuscripto, precedendo licença de D. Maria, pois sem previa permissão ninguem podia consagrar uma obra a qualquer pessoa real. Apparecendo anonymo o Palmeirim, deu logar a suppôr-se de outrem e não de Moraes. (...) A primeira edição é a que na quarta, em 1786, se alcunha de segunda, que existia na bibliotheca de S. Francisco da Cidade, em caracter entre ghotico e redondo (são palavras do editor de 1786) que dá mostras se ser impressa fóra do reino. Sim, foi impressa fóra do reino, provavelmente em Paris, onde Moraes a compoz entre os annos de 1540 e 1543; mas appareceu sem autor nem dedicatoria, segundo o affirmou no seu Anonimus scripsit o douto D. Nicolau Antonio» (Mendes 1860: 13-14)

Não é necessário alongar muito as conclusões que se impõem, porque das citações acima facilmente se conclui que há três edições quinhentistas em português de Palmeirim de Inglaterra. Sobre as duas hipotéticas edições feitas em Évora se falará quando se tratar daquela que efectivamente lá foi impressa: a de 1567. É de cada uma destas três edições quinhentistas que se ocupa agora este estudo, começando pelas edições datadas.

Pela ordem anunciada, a primeira edição a identificar saiu do prelo de André de Burgos em 1567, em Évora (designar-se-á pela letra E).

Descrição (segundo o exemplar da Biblioteca del Cigarral del Carmen - TO.BI.2-U3 NR 327):

Página de rosto: [desenho] Cronica do famoso e muito esclareci | do e valeroso Palmeirim de Inglaterra, filho d’el rei dom Duardos | no qual se contam suas proezas, e de Floriano do Deserto seu ir-| mao, e alguãs do principe Florendos filho de Primaliam. | Correta e emendada nesta terceira idiçam | de seus erros; impressa na ciidade Deuora. | 15641

Gravura: Desenho de cavaleiro, com espada levantada e faixa com inscrição: Palmeirim de Inglaterra.

Mancha tipográfica: Texto a duas colunas (232 mm x 155 mm), com, em média, 45 linhas por coluna, em caracteres góticos, sem reclamos. Erros: letras trocadas e caracteres invertidos1.

Foliação: obra composta por [1] + 254 fólios, com numeração romana minúscula no canto superior direito. Erros: 163 [clxiij] por 166, 229 [ccxxix] por 227.

Cadernos: a-z8 A-H8 I6 J-M8 Matérias: [1r] Rosto

[1v] Dedicatória à Infanta D. Maria, filha de D.Manuel I e D.Leonor

ii r-ccliiij v Texto: Primeira Parte (capítulos I a XLI) fls. 1- 49v e Segunda parte (capítulos XLII a CLXXII) fls. 50r-254v.

Capitulação: numeração romana minúscula, com excepção do primeiro escrito por extenso. Erros: cviij por cxiij, clvij por clxvj

Cólofon: Foy impressa esta cronica de Palmeirim | de Inglaterra na muy nobre e sempre leal cidade de Euora, em cada de An | dree de Burgos impressor e caualleiro da casa do Cardeal Iffante. Acabouse a .xxv. dias do mes de Junho. Anno do nacim to | de nosso señor Jesu Christo de .M.d.lxvij. |

Sem licenças nem privilégio. Encadernação: século XVIII?.

Desta edição conhecem-se actualmente outros três exemplares (com o texto mutilado):

Biblioteca da Ajuda: 50-XIII-28

Biblioteca da Hispanic Society of America: HC 397/815 (HSA cop.) Biblioteca Nacional de Espanha: R/ 2516

1 São exemplos dos erros tipográficos: qne por que (fl. 3c), vino por viuo (fl. 4c), esperana por

esperaua (fl. 5a), desacupaua por desocupaua (fl. 5c), nonas por nouas (fl. 6a), començou por começou (fl. 6c), aaentura por auentura (fl. 110b), tornon por tornou (fl. 169b), entre outros.

Pela ordem prevista, importa agora introduzir a edição saída do prelo de António Álvares em 1592, em Lisboa (designar-se-á pela letra L).

Descrição (segundo o exemplar da Biblioteca Nacional de Espanha - R/ 87): Página de rosto: PRIMEIRA PARTE DE | PALMEYRIM DE INGLATERRA | [desenho] | CHRONICA DO FAMOSO | E MUYTO ESFORÇADO CAVALEYRO PALMEYRIM DE | Inglaterra Filho del Rey Dom Duardos: No qual se contem suas

proezas: & de Floriano do De | serto seu irmão: & do Principe Florendos Filho de Primalião. Composta por Francisco de | Moraes: Agora nouamente impressa com licença da Sãcta Inquisição & Ordinario. | EM LISBOA, POR ANTONIO ALVAREZ. |

A custa de Afon- | so Lopez Ruyz Moço da Camara del Rey nosso senhor, & de Afonso Fernandez liureyro defronte da Misericordia. | COM PRIVILEGIO REAL. ANNO DE M. D.LXXXXII. |

Gravura: Desenho de cavaleiro, com espada levantada e faixa com inscrição: Dirigida ao Serenissimo Principe Cardeal Alberto, &c...

Mancha tipográfica: Texto a duas colunas (230 mm x 158 mm), com, em média, 48 linhas de texto por coluna, em caracteres redondos ou romanos, e com reclamos. Erros: caracteres trocados, invertidos ou em falta.

Foliação: obra composta por [2] + 243 fólios, com numeração árabe no canto superior direito. Erros: “17” por 9; “13” por 14; “29” por 30; “127” por 122; “172” por 127; “157” por 158; “172” por 174; “199” por 179; “185” por 190; “196” por 195; “211” por 212; “120” e “121” por 220 e 221; “227” e “228” por

228 e 229; “242” e “243” por 241 e 242. Cadernos: A-Z8 Aa-Gg8 Hh3 Matérias: [1r] Rosto

[1v] Alvará e Licenças

[2r] Dedicatória ao Príncipe Alberto, Cardeal Arquiduque de Áustria, regente do Reino

1r-243v Texto: Primeira Parte (capítulos I a XLI) fls. 1-44v e Segunda parte (capítulos XLII a CLXXII) fls. 45r-243v.

Capitulação: numeração árabe por extenso até ao DECIMO, com excepção do IIII, e restante em numeração romana maiúscula. Erros: LVIII por LV, CIII por

CVII, CVIII por CXIII, CXVII por CXVI, XXVI por CXXVI, XXVII por CXXVII,

CXXXXVII por CXXXXII.

Sem cólofon.

Encadernação: de época, em pergaminho.

Desta edição conhecem-se actualmente outros seis exemplares: Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra: RB-20-5

Biblioteca de Menéndez Pelayo – Santander: (239) Biblioteca Nacional de Portugal – Lisboa: RES. 354V. Biblioteca Pública Municipal do Porto: RES-XVI-C-2 Fundação Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro: 32,5,15 Real Biblioteca – Palácio Real – Madrid: I-C-88

O estado de conservação dos exemplares é muito variado, oscilando entre o muito bom e o muito danificado. Nem todos apresentam (todas) as matérias iniciais.

Salientam-se dois exemplares:

O exemplar da BNP que contém, encadernados conjuntamente, os Dialogos de Francisco de Moraes (Carvalho, Évora, 1624). A folha de rosto que apresenta é factícia e o desenho1 aí presente surge sem qualquer texto.

O exemplar da RB – PR na medida em que corresponde a uma emissão do texto (Ferrario de Orduna 1998: 581). A folha de rosto apresenta os financiadores referidos na edição, mas essa mesma folha tem um cabeçalho de

1 Cavaleiro com lança sobre cavalo a passo.

aspecto diverso e um desenho1 muito diferente do dos restantes exemplares que o

contêm. A ordem das matérias iniciais também é diversa.

Para concluir a apresentação das três edições, importa agora introduzir uma edição de que se desconhece o prelo, a data e o local de edição (designar-se-á pela letra D).

Descrição (segundo o exemplar da Biblioteca del Cigarral del Carmen TO- BI-2-U3 NR 533):

Página de rosto: Não apresenta.

Mancha tipográfica: Texto a duas colunas (232mm x 155mm), com, em média, 43 linhas por coluna, em caracteres redondos ou romanos. Erros: caracteres trocados, invertidos ou impressos em espelho2.

Foliação: obra composta por 27? fólios, com numeração romana minúscula no canto superior direito. Erros: 23 [xxiij] por 20, 30 [xxx] por 36, 43 [lxiij] por 46, 52 [lij] por 51, 157 [clvij] por 158, 271 [cclxxj] por 267. O fl. 137 que contém [ccxxxiiv] por [cxxxvij]. Falha do fl. 120 [cxx].

Cadernos: considerando os fólios manuscritos, trocados e em falta, é difícil determinar com segurança os mesmos. Crê-se terem sido a-z8 (a manuscrito e m, z com dois fls. ms.) A-F8 G-H7 I-L8 e M8 (M manuscrito).

1 Cavaleiro com adaga, empunhando escudo com um tigre, cavalo com cabeça de lado e patas

dianteiras levantadas. O mesmo desenho encontra-se na Cronica llamada el tri pho delos nueue p ciados de la fama (Germão Galharde, Lisboa, 1530).

2 Casos que não se anotam na edição: trocados: a por ç (deferenaas por deferenças 208c) - a por e

(dasbaratado por desbaratado 205b) - a por o (argulhoso por orgulhoso 35) - a por r (dizea por dizer 147a) - d por e (ddles por deles 13d) - d por h (condeceo por conheceo 218b) - d por o (despduoado por despouoado 58c) - e por a (sere por sera 236d; querie por queria 225b) - e por c (eada por cada 121a; meree por merce 215d) - e por b (recberoem por receberom 51a) - g por n (gam por nam 117c) - h por b (comhaterdes por combaterdes 104a) - l por h (desmallaram por desmalharam 15b, follajem por folhajem 46d, cilla por cilha 66; olliar por olhar 212c,) - l por i (julguels por julgueis 197a) - m por n (Mã por Nã 64b) - n por u (qne por que 17b, 146c, 149c, 161c, 194a; salnaje por saluaje 25b; ficon por ficou 26c; quen por queu 117a; n ca por n ca 161c; on por ou 175d; cnlpa por culpa 203d; mnro por muro 266a; passana por passaua 267b) - p por d (pesejo por desejo 43d; pel por del 262c; pe por de 269c) - o por a (opetite por apetite 63d; nomorado por namorado 218c) - o por d (decenoo por decendo 108d; cidaoe por cidade 231a) - r por e (nrgro por negro 196a) - r por i (fauorecer por fauorecei 213c) - r por s (partirse por partisse 72c) - s por e (qus por que 186b) - u por n (uam por nam 23c; coutente por contente 114b; maudou por mandou 146d; ua por na 149a; liuraiuos por liurainos 216d; merecimeuto por merecimento 237a; muudo por mundo 239c; quinheutos por quinhentos 248b). Invertidos: calro por claro 46c; cõabtia por cõbatia 108d; miuto por muito 113b; empedimneto por empedimento 142a; oa por ao 233b; vaeuala por aveuala 270d. Em espelho: conhecessem 64c.

Matérias: [?]

x r-cclxxij v (com lacunas) Texto: Primeira Parte (capítulos I a XLI) fls. ?--54r e Segunda parte (capítulos XLII a CLXXII) fls. 54v-27?.

Capitulação: em numeração romana maiúscula. Erros: LI por LII, LVIII por

LV, CVIII por CXIII, CXLVII por CXLII, CCLIII por CLIII e CCLIIII por CLIIII. Não apresenta cólofon.

Encadernação: moderna (castanha marmoreada, séc. XIX?), lombada com

rótulo para o título e decoração a dourado. Outras particularidades:

Obra in-fólio (265mm x 185mm).

Apresenta 279 fólios, dos quais vários estão mutilados, aparados, em branco ou manuscritos. Os fls. 15 [xv], 238 [ccxxxviij] e 240 [ccxl] estão deslocados: intercalados, respectivamente, entre os fls. 10 [x] e 11 [xj]; entre os fls. 234 [ccxxxiiij] e 235 [ccxxxv] e, rosto invertido, entre os fls. 88 [lxxxviij] e 89 [lxxxix]. Os fls. 3 [iii] a 9 [ix], 76 [lxxvj] e 77 [lxxvij], 95 [cxv] e 96 [cxvj], 183 [clxxxiij] e 184 [clxxxiiij], 273 [cclxxiij] a 278 [cclxxviiI] encontram-se manuscritos (também em português; caracteres do século XVIII?).

Encontram-se manuscritos, total ou parcialmente, os capítulos 1 a 8 (primeiro-octavo), 59-60 (lix-sassenta), 75 (satenta e sinco), 126 (cento e vinte seis) e 170-172 (clxx-clxii).

Os cabeçalhos apresentam: no rosto – DE PALMEIRIM DE INGLATERRA / DINGLATERRA e no verso – PARTE PRIMEIRA, PARTE1 SEGVNDA.

A primeira folha de guarda, em branco, apresenta a marca d’água: ALMASSO. Esta mesma marca d’água foi identificada por Arnaldo Ataíde e Melo (1926: 299) com o número 213.

O papel impresso apresenta várias marcas d’água: mão esquerda sob estrela de cinco pontas; vários jarros, alguns com as iniciais NB. Algumas destas marcas d’água estão referenciadas por Charles-Moïse Briquet (1923: 626) com os n.ºs: 12660, 12769, 12770 e 12771.

1 No fl. 264v, por erro, encontra-se PARET.

Na segunda folha de guarda, manuscrito, pode ler-se: «Paulo Correa de afnça » e, junto à encadernação, na vertical: «Não hade ser aparado».

Marcas de humidade e de insectos (estas afectando por vezes o texto). A Primeira Parte (capítulos I a XLI) termina com: FIM DA PRIMEIRA | PARTE.

A Segunda Parte (capítulos XLII a CLXXII), que começa com o texto1:

COMEçA A SEGUNDA PARTE DO LIBRO DO | MUITO ESFORçADO CAVALLEIRO PALMEI | RIM DINGLATERRA. HO QVAL TRATA | DAS SVAS GRANDES CAVALLARI- | AS. E DAS DO IFFANTE FLO- | RIANO DO DESERTO | SEV HIRMãO. |

Apresenta notas manuscritas marginais (fls. 129v, 130, 131, 131v ), no cabeçalho (fl. 129v), entrelinhadas (fls. 131v, 132, 132v, 223) e em rodapé (fl. 148).

Desta edição conhece-se apenas este exemplar.

Chegados aqui, e antes de se proceder à justificação da escolha do texto adoptado como base na edição que se apresenta, parece pertinente atentar-se um pouco mais sobre as edições mencionadas.

Adoptando a ordem acima seguida, é necessário referir, principalmente, quatro aspectos externos da edição de Évora: por um lado as datas apresentadas pelos exemplares que as mantêm, por outro a ausência de licenças, seguidamente as folhas de rosto dos exemplares que ainda as mantêm e, por fim, o texto da dedicatória.

A edição do Palmeirim de Inglaterra feita por André de Burgos denuncia a língua (materna?) do seu editor por apresentar vários castelhanismos, incluindo um desconhecido da língua portuguesa (a utilização do pronome pessoal

complemento os, por vos1) cujo detalhe se retoma em separado. Para lá de

aspectos internos adiante mencionados, a edição apresenta, na folha de rosto dos exemplares que a conservam, a data de 1564. É, apesar disso, a data do cólofon, 1567, que tem sido usada como referência pelos vários estudiosos de entre os quais se podem destacar Odorico Mendes (1860: 3, 8), Braga (1881: 248), Purser (1904: 25), Almeida (1998: 717) e que se considera dever servir para datação do texto. Não só porque ali aparece impressa, mencionando o momento de conclusão do trabalho de impressão, «la última intervención del impressor en una obra» escreve referindo-se ao cólofon Lucía Megías (1998), mas também porque, apesar desta divergência de datas, não é conhecida qualquer edição de André de Burgos feita em Évora entre 1562 e 1564 (Anselmo 1926: 106). O facto também não é inédito pois outras obras deste impressor apresentam datas diferentes nos dois espaços, embora com intervalo menor (um ou dois anos). A ajuizar pelas datas do cólofon, quando existem, o Palmeirim de Inglaterra deverá ser a única obra deste impressor concluída em 1567, pois uma outra obra, a Imagem da Vida Christam de F. Hector Pinto, apresenta 1567 no rosto, mas 1569 no cólofon (Anselmo 1926: 107). Além de que a década de 60 não parece ter sido momento de intenso labor, pois conhecem-se, saídas dos seus prelos nessa década, apenas sete (oito, se não se considerar o argumento acima), das 43 obras que são atribuídas, com segurança, a André de Burgos ao longo dos vinte e oito anos de actividade naquela cidade (Anselmo 1926: 103-113 e 343).

O quadro abaixo interpreta os dados sobre as edições de André de Burgos enumeradas por António Joaquim Anselmo, os quais servem, em parte, de base aos argumentos apresentados, assinalando-se sempre que possível as divergências de datas entre a folha de rosto e o cólofon, através da menção das datas em alternativa:

1 O fenómeno aparece em obras de autores portugueses escritas, total ou parcialmente, em

castelhano como, por exemplo, no Dom Duardos de Gil Vicente, tal como em obras castelhanas da época como no caso das Sergas de Esplandián.

Data Obras Data Obras Data Obras 1551 1553 1554 1555 1556 1557 1557/8 1558 1559 1560 1 1 4 3 - 1 1 1 1 - 1561 1562 a 4 1564/7 1565 1566 1567/9 1568 1569/70 1570 1571 1 - 1 1 2 1 1 1 3 1 1572 1573 1574 1575 1576 1577 1578 1579 s./ d. 1 4 4 1 2 - 1 1 4

Relativamente ao assunto em apreço, crê-se ser possível equacionar a hipótese de a folha de rosto, com data de 1564, ter sido criada neste mesmo ano, não sendo usada nesta data, por motivo que se desconhece, mas vindo a ser aproveitada em 1567, ou, o que talvez seja mais provável, ter sido criada em 1567 com data de 1564 para iludir a necessidade das licenças de que se trata em seguida. E o facto não seria sequer inédito pois há referências a casos de edições realizadas para iludir quer a censura, quer questões legais: exemplo da primeira situação é a edição d’Os Lusíadas feita em 1585 por Manuel de Lira que terá tido o objectivo de iludir a censura então em vigor (Anselmo 1983a: 102); exemplo da segunda situação, mais próximo do caso de Palmeirim de Inglaterra por se tratar de outro livro de cavalarias, é o que coloca Lucía Megías (1998) a propósito da publicação de Tirante el Blanco, em castelhano, feita por Diego Gumiel.

Mas outras questões se colocam relativamente à edição eborense do Palmeirim de Inglaterra, a segunda das quais se considera aqui ser a das licenças.

O ano de 1576, «data que consagrou o princípio da obrigatoriedade do regime da censura tríplice, a cargo do Ordinário, do Santo Ofício e do Desembargo do Paço» (Martins 2001: 12), ainda não chegara. No entanto, 1564 é

o ano que «consagra a obrigatoriedade de submeter ao exame prévio e autorização do bispo da respectiva diocese a publicação e circulação de qualquer obra» (Martins 2001: 13), o que acontece com a publicação e adopção nesse ano do «Índice Tridentino» (Martins 2001: 13). Os exemplares conhecidos da edição feita por André de Burgos não apresentam licenças, ao contrário do que acontece com a edição posterior de António Álvares (1592). Ainda assim, não é o único texto a ser publicado nesta data sem elas, pois o Memorial das Proezas da Segunda Tauola Redonda de Jorge Ferreira de Vasconcelos, saído dos prelos de João de Barreira, em Coimbra, também as não apresenta, no entanto La coronica de los muy vali tes caualleros don Florisel de Niquea y el fuerte Anaxartes hijos del excelente principe Amadis de grecia, ou Florisel de Niquea, de Feliciano de Silva (Lisboa, Marcos Borges, 1566) menciona as licenças necessárias na folha de rosto. A data de 1564 impressa na folha de rosto de Palmeirim de Inglaterra pode ter sido um meio de contornar a necessidade de exame prévio que, em 1567, se impunha.

O facto de existirem duas edições de Comedia Eufrosina de Jorge Ferreira de Vasconcelos, feita por João de Barreira com privilégio (Coimbra, 1555 e 1560) e duas edições feitas por André de Burgos em 1561 e 1566, ambas mencionadas por António Anselmo (1926: 106 e 343), o qual regista também a edição 1560 (1926: 44), não permite por si só obter qualquer conclusão. Não obstante, registe- se o facto de este editor ter sido condenado a degredo, em 1559, por fazer cartas de jogar e de em 1576 imprimir sem licença do autor o Livro do Rosário (BGP 1983: 435). Registe-se, por fim, a contrafacção ocorrida com a edição de Palmeirim de Oliva feita por Cristovão de Burgos (Leal 1962: 57), filho de André de Burgos. Relativamente à edição de Palmeirim de Inglaterra nada mais é possível acrescentar agora aqui que conjecturas relativas a uma possível edição não autorizada da obra de Francisco de Moraes. A ausência de licenças poderia ter decorrido da ausência de exame prévio e as alterações significativas do texto, manifestas nas notas de rodapé da presente edição, poderiam ter decorrido da ausência de autorização, ou pelo menos de verificação1, do autor. Contribui, de

No documento O AMOR NOS LIVROS DE CAVALARIAS –O (páginas 95-200)

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