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4.2. Os resultados: análise dos indicadores

4.2.3. Uma experiência em condições atípicas

coordenadora geral intimidou alguns participantes, conforme relatado em separado à pesquisadora.

No entanto, nos poucos momentos em que a questão se referia ao trabalho direto com as crianças, o envolvimento de todo o grupo se fazia maior e era possível estabelecer espaços de formação e troca entre os profissionais. Pudemos notar que muitos profissionais não conheciam o trabalho desenvolvido pelos seus pares e, através desta discussão, foi possível a troca de experiências e a definição de espaços e trabalhos em parceiras, como através da criação de espaços de leitura coletivos, de caixas de brinquedos a serem rodiziadas, etc.

Um fato curioso e que merece ser mencionado foi a “reavaliação”, na hora do plano de ação, de alguns indicadores vermelhos e amarelos que passaram, após novo debate, a serem identificados como verdes. Esse fato aconteceu nas três creches e pode ter diversas interpretações, que não cabem neste estudo.

Em relação às ações de formação continuada, surgiu pela primeira vez, com maior clareza, o fato das creches pertencerem ao sistema público de ensino e daí partiu a reivindicação da SME incluir as creches conveniadas nas ações de formação continuada, através do oferecimento de cursos, palestras e oficinas.

No final da atividade, a pesquisadora informou que o documento sugeria a criação de um grupo para acompanhamento das ações encaminhadas e perguntou se alguém gostaria de fazer parte desta comissão. Diante da negativa geral, não havendo nenhum candidato em nenhuma das creches, a coordenadora geral informou, então, que no mês de novembro de 2010 eles fariam uma reunião para avaliar o que avançou ou não a partir do plano de ação e também se comprometeu a usar uma pequena parte das reuniões pedagógicas mensais para que o grupo pudesse dar e receber informes sobre o andamento das questões encaminhadas.

4.2.3 Uma experiência em condições atípicas

Apresentaremos, a seguir, os dados e as considerações sobre a experiência da creche que teve suas atividades encerradas após a autoavaliação, motivo pelo qual não participou da etapa de elaboração do plano de ação.

Lembramos que esta unidade encontrava-se em condições atípicas, uma vez que na semana da realização da avaliação os pais foram informados sobre o encerramento das atividades naquela região e 11 funcionários foram demitidos, gerando assim uma atmosfera diferenciada em relação às demais.

A partir dos dados explicitados nos quadros 41, 42 e 43, percebemos que esta foi a única creche que necessitou que dois grupos discutissem mais de uma dimensão, devido a quantidade insuficiente de participantes no dia da autoavaliação, sendo que a dimensão três e seis foram discutidas pelo mesmo grupo, cujo coordenador pertencia ao grupo VI e o relator ao grupo II. A dimensão quatro e sete também tiveram que ser discutidas por apenas um grupo, cujo coordenador pertencia ao grupo I e o relator ao grupo III. O grupo IV e o VII não contaram com nenhum membro exercendo essas funções.

Quadro 41 - Coordenadores dos grupos de discussão por segmento e dimensão

DIMENSÃO GI GII GIII GIV GV GVI GVII

1 - - - 1 - 2 - - - 1 - 3 - - - 1** - 4 1* - - - - 5 - - - - 1 - - 6 - - - 1** - COORDENADOR 7 1* - - - - Total 2 - - - 1 4 -

* e ** Mostra as dimensões que foram feitas pelas mesmas pessoas, devido a quantidade insuficiente de participantes

Quadro 42 - Relatores dos grupos de discussão por segmento e dimensão

DIMENSÃO GI GII GIII GIV GV GVI GVII

1 - - - 1 - 2 - - - 1 - 3 - 1*** - - - - - 4 - - 1**** - - - - 5 - - - 1 - 6 - 1*** - - - - - RELATOR 7 - - 1**** - - - - Total - 2 2 - - 3 -

Quadro 43 - Perfil geral dos relatores e coordenadores dos grupos de discussão por segmento

GI GII GIII GIV GV GVI GVII Total

Coordenador 2 - - - 1 4 - 7

Relator - 2 2 - - 3 - 7

Total 2 2 2 - 1 7 - 14

Os indicadores desta unidade também tiveram uma pequena variação em relação às outras experiências, como podemos constatar a seguir.

Quadro 44 - Indicadores dos quatro CEIs

DIMENSÃO 1:

PLANEJAMENTO INSTITUCIONAL

INDICADORES CEI

A CEI B CEI C CEI D

1.1 Proposta pedagógica consolidada

1.2 Planejamento, acompanhamento e avaliação

1.3 Registro da prática educativa

DIMENSÃO 2:

MULTIPLICIDADE DE EXPERIENCIAS E LINGUAGENS

INDICADORES CEI

A CEI B CEI C CEI D

2.1 Crianças construindo sua autonomia

2.2 Crianças relacionando-se com o ambiente natural e social

2.3 Crianças tendo experiências

2.4 Crianças expressando-se por meio de diferentes linguagens

plásticas¸ simbólicas, musicais e corporais 2.5Crianças tendo experiências agradáveis¸ variadas e

estimulantes com a linguagem oral e escrita 2.6 Crianças reconhecendo suas identidades e valorizando as

diferenças e a cooperação

DIMENSÃO 3: INTERAÇÕES

INDICADORES CEI

A CEI B CEI C CEI D

3.1 Respeito à dignidade das crianças

3.2 respeito ao ritmo das crianças

3.3 respeito à identidade, desejos e interesse das crianças

3.4 Respeito às idéias¸conquistas e produções das crianças

3.5 interações entre crianças e crianças

DIMENSÃO 4:

PROMOÇÃO DA SAÚDE

INDICADORES CEI

A CEI B CEI C CEI D

4.1 Responsabilidade pela alimentação saudável das crianças

4.2 Limpeza, salubridade e conforto

DIMENSÃO 5:

ESPAÇOSMATERIAIS E MOBILIÁRIOS

INDICADORES CEI

A CEI B CEI C CEI D

5.1 Espaços e mobiliários que favorecem as experiências das

crianças

5.2 Materiais variados e acessíveis às crianças

5.3 Espaços, materiais e mobiliários para responder aos

interesses e necessidades dos adultos

DIMENSÃO 6:

FORMAÇÃO E CONDIÇÕES DE TRABALHO DAS PROFESSORAS E DEMAIS PROFISSIONAIS

INDICADORES CEI

A CEI B CEI C CEI D

6.1 Formação inicial das professoras

6.2 Formação continuada

6.3 Condições de trabalho adequadas

DIMENSÃO 7:

COOPERAÇÃO E TROCA COM AS FAMÍLIAS E PARTICIPAÇÃO NA REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL

INDICADORES CEI

A CEI B CEI C CEI D

7.1 Respeito e acolhimento

7.2 Garantia do direito das famílias de acompanhar as

vivências e produções das crianças

7.3 Participação da instituição na rede de proteção dos direitos

das crianças

Segue a reprodução fiel do quadro síntese elaborado pelos relatores dos grupos de discussão. Alguns itens e dimensões não foram justificados pelos grupos.

Justificativa

1.1 A instituição dá abertura para as famílias participarem, mas não há envolvimento das mesmas.

1.2 Ao ler este indicador podemos observarm que diante de alguns itens, falta ainda o

compromisso de alguns educadores em relação a estar sempre planejando as suas atividades.

1.3 No registro (da) prática educativa está no bom caminho, pois a instituição mantém a organização dos documentos das crianças sempre em dia e a coordenadora também está sempre verificando os registros feitos pelas ADIs.

2.1 Porque há questões como segurar mamadeiras e tirar as sandálias que não são trabalhados com freqüência nos berçários.

2.2 Não é planejada porque não inclui a todos (berçário) e também o planejamento não contempla todas as exigências (na questão segurança).Em primeiro lugar tem que “quebrar” a barreira do preconceito em relação adulto-criança, em relação aos bolivianos, nordestinos...Já os indicadores verdes estão sendo contemplados na proposta pedagógica. 3-(Dimensão 3 inteira): entendemos através da pesquisa que esta Unidade educacional atende as questões e exigências citadas no documento e na dimensão, uma vez que se observam que a Instituição promove interações entre, crianças, adultos, famílias e demais profissionais.

5.1 Porque o espaço e mobiliário ainda não favorece a criança com deficiência.

5.2 Porque durante todo o ano não teve material suficiente para o desenvolvimento das atividades e para o cuidado e as necessidades das crianças com deficiência.

5.3 Há espaço, mas não é suficiente para descanso e nem para suprir as necessidades de cada funcionário e nem acolher os familiares.

Comentário

De acordo com os indicadores acima, notamos que a creche D realizou uma crítica e autocrítica maior em relação às demais. Na dimensão 1, sobre planejamento institucional, a creche avaliou que nenhum dos indicadores estava consolidado, não merecendo portanto o verde; já na dimensão 2, enquanto as outras creches optaram em sua maioria pelo verde, a creche D só considerou que um item estava consolidado, sendo que os demais ainda merecem atenção, sendo portanto, amarelos. A creche D foi a única a problematizar algumas questões sobre interação (dimensão 3). As creches A, B e C, na quarta dimensão, avaliaram em sua maioria como “bons/consolidados” os mesmos indicadores tidos pela creche D como ruins ou regulares. Nessa dimensão ainda sobressai o indicador sobre a alimentação oferecida às crianças, que para as três creches foi avaliado como verde e para a creche D, como vermelho. Esse fato chama a atenção, pois se por um lado sabemos que cada creche vivencia uma realidade especifica, por outro, elas pertencem à mesma entidade, o que faz com que os gêneros alimentícios recebidos sejam iguais, sendo inclusive parte dos alimentos enviados pela própria prefeitura. No entanto, o relator não justificou o porquê dessa escolha no quadro síntese entregue à pesquisadora (e reproduzido na íntegra mais adiante).

Já as dimensões 5 e 7 seguiram mais de perto a avaliação das outras unidades. No entanto, na dimensão 6, no item que diz respeito às condições de trabalho, em especial a remuneração das educadoras, enquanto duas creches optaram pelo vermelho e uma pelo amarelo, a creche D inovou e quis que esse item fosse o primeiro a ser encaminhado no momento da elaboração do plano de ação, o que fez com que os participantes da plenária criassem o indicador preto que, segundo o grupo, representava uma situação mais grave que a vermelha, seria uma situação “gravíssima”.

Todavia, é preciso esclarecer que as cores atribuídas aos indicadores na experiência realizada na creche D sofreram enormes modificações na plenária, sendo que a maioria dos indicadores propostos pelos grupos foram avaliados inicialmente como verde e somente após problematizações advindas de membros do grupo I e II é que as questões foram novamente discutidas e reavaliadas. A intervenção, sobretudo deste dois grupos, foi fundamental para uma avaliação mais crítica dos indicadores propostos.

Seguem abaixo, os quadros identificando as tipologias de poder e participação de cada grupo participante da autoavaliação, lembrando que o grupo VII (pais), contava apenas com quatro membros.

Quadro 45 - Tipologia do poder por segmento

GRUPO I II III IV V VI VII

físico Material Normativo x x - - - x - Cognoscitivo x x x - x - Pessoal x x x - x x x Poder autoritativo x x - - - x -

Quadro 46 - Tipologia da participação por segmento

GRUPO I II III IV V VI VII

Participação predominate - - - - - - - Ativa x x x - - x x Reservada - - - x x x - Envolvimento Passiva - - - - - - -

Os quadros 45 e 46 nos permitem constatar que o grau de envolvimento geral da creche em questão, mesmo com as condições adversas citadas, foi grande, oscilando entre

uma participação reservada e ativa, sendo que nenhum grupo reagiu passivamente ao debate. Como nas demais creches, os grupos IV, V e VII foram os que menor poder e influência exerceram no debate e nas interações; já os grupos I, II, III e VI, foram os que mais fizeram uso dos poderes identificados por Formosinho (1980) e cuja participação teve a maior capacidade de influenciar na tomada de decisões do grupo como um todo.

4.3 O instrumento: Potenciais e limites

A experiência da aplicação da proposta autoavaliativa dos Indicadores da Qualidade

na Educação Infantil em quatro creches conveniadas da cidade de São Paulo nos levou a

algumas constatações e considerações sobre o potencial e os limites desse instrumental, no contexto do universo em questão, conforme explicitados a seguir.

Podemos afirmar que um dos méritos desse documento é o fato dele ter como base a defesa do princípio democrático e constitucional da participação e, principalmente, propor formas de efetivar a participação de diversos atores nas discussões sobre qualidade das (e nas) instituições de educação infantil brasileiras, ou seja, o documento “inova” ao propor a prática deste “velho” princípio consagrado constitucionalmente.

A troca de saberes, concepções e valores gerados por ocasião do debate entre diferentes atores, bem como os conflitos oriundos desse encontro, mostraram como o processo orientado pelo documento pode ser um valioso recurso para a reflexão e revisão de certas práticas cotidianas, instituídas, mas nem sempre ponderadas e refletidas. Nesse sentido, podemos afirmar que o processo de definição e avaliação da qualidade se constitui em um processo formativo por excelência, uma vez que, independente do grau de participação do indivíduo, ele vive uma experiência formativa relevante.

No entanto, se o processo assume importância vital na autoavaliação, não podemos concluir, assim como Moss (2002) e o próprio documento (MEC, 2009-a, p.12), que “definir qualidade é um processo importante por si mesmo”. Isso porque os resultados e o acompanhamento das ações encaminhadas pelo grupo merecem igual ou maior atenção que o processo, uma vez que o uso indevido desses elementos pode surtir efeitos contrários ao que o instrumento se propõe, ou seja, servir a práticas antidemocráticas, que legitimam uma participação ‘pró-forma’, mas que, na prática, não interfere na real tomada de decisão. O não acompanhamento das ações definidas no plano de ação pode fazer com que a discussão caia

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