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3 UMA FORMA DE UTILITARISMO DE REGRAS DO CÓDIGO MORAL IDEAL

No documento Utilitarismo e direitos morais básicos (páginas 121-200)

Apesar de, como utilitaristas, considerarmos o bem-estar como fim último da ação moral e a relevância da satisfação das necessidades básicas na promoção desse fim, nada ainda foi dito sobre as obrigações geradas em nós em relação à promoção deste fim e dos meios pragmaticamente necessários para atingi-lo. Considerando que, no capítulo 1 e 2, desenvolvi uma concepção de valor (intrínseco e instrumental) e como tal concepção pode indicar um caminho para a justificação de um conjunto de direitos morais, agora é chegado o momento de desenvolver uma teoria normativa capaz de estabelecer nossos deveres e direitos em relação à promoção do valor. Sendo assim, para estabelecer tais obrigações, faz-se necessário dar um passo a mais na construção da teoria. Mesmo assumindo que o bem-estar e as necessidades básicas ligadas a ele tem considerável força normativa, ainda não é claro quais obrigações teríamos em promovê-los. Para identificar e estabelecer tais obrigações nós necessitamos de uma teoria moral normativa. Como disse em nossa introdução, utilitaristas assumem como teoria normativa o Consequencialismo82: teoria segundo a qual uma ação é moralmente correte se, e somente se, produz as melhores consequências para todos os indivíduos83. Porém, dependendo de como o Consequencialismo é formulado em união com uma visão de bem-estar, temos tipos diferentes de teorias utilitaristas.

Há, pelo menos, duas formas de Utilitarismo (i) Utilitarismo de Ato; (ii) Utilitarismo de Regras. Neste capítulo, eu irei defender que a melhor forma de Utilitarismo é um tipo de Utilitarismo de Regras que

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O Egoísmo Ético aceita também o Consequencialismo como teoria normativa. Todavia, no Egoísmo Ético, as consequências são pesadas apenas em relação ao tomador de decisão. Dessa forma, no Egoísmo Ético uma ação é correta se, e somente se, gera as melhores consequências para mim (ou para ao grupo que considero próximo a mim). Porém, o Utilitarismo aceita o Consequencialismo levando em conta todos os seres capazes de usufruir de bem-estar e não apenas o tomador de decisão. Dessa forma, grosso modo, no Utilitarismo uma ação é correta se, e somente se, gera as melhores consequências em todos os indivíduos.

83Irei inserir o quantificar universal “todos” nas várias formulações que apresentarei. Não estou defendendo que todos os utilitaristas o incluiriam em suas formulações, mas, por princípio de caridade epistêmica, irei fazê-lo.

pode nos permitir justificar direitos. Geralmente, o Utilitarismo de Ato, em suas duas versões (de nível simples e de nível múltiplo), enfrentam dois grupos de objeções: (i) as objeções baseadas em razões utilitaristas e; (ii) as objeções baseadas na justiça e das exigências excessivas. Como meu propósito é estabelecer uma teoria que justifique um conjunto de direitos morais, eu irei abordar, principalmente, as objeções baseadas na injustiça. Devo argumentar que uma forma de Utilitarismo de Regras do Código Moral Ideal seria melhor para responder a essas objeções. Isso se dá porque, tal forma pode incorporar regras que serão essenciais para a justificação dos direitos, pois o Utilitarismo de Regras determina que a ação moral é aquela que segue o melhor (ótimo) conjunto de regras. Grosso modo, o princípio moral de acordo com o Utilitarismo de Regras do Código Moral Ideal diz que um ato é moralmente correto se, e somente se, ele é permitido por um código ideal de regras que é aceito por quase a totalidade das pessoas em cada nova geração e tal código (se seguido por quase a totalidade das pessoas) produzirá a maior soma esperada de bem-estar84. Todavia, dentro de tal código moral nós devemos dar alguma prioridade a um conjunto de regras, a saber, as baseadas na satisfação de necessidades básicas que darão origem aos direitos morais básicos.

Irei argumentar que dentro do Código Moral Ideal há um subconjunto de regras que devemos dar prioridade na tomada de decisão, pois tal subconjunto é responsável por proteger e promover alguns dos meios pragmaticamente necessários para o bem-estar. Em outras palavras, tal subconjunto é responsável por definir nossas obrigações em relação à satisfação das necessidades básicas. Defenderei que dar prioridade à promoção e a proteção de tais meios para o bem- estar é o mesmo que dar prioridade às pessoas que estão em pior situação, ou seja, é o mesmo que dar prioridade às pessoas que estão vulneráveis a sérios danos. Então, nós deveríamos dar prioridade a tais regras por duas razões gerais: 1) se como utilitaristas assumimos que o fim (o telos) do conjunto de regras morais e as ações que o seguem é promover o bem-estar, então nós deveríamos nos preocupar também

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Essa primeira formulação é inspirada na de Brad Hooker (2000). Mas, no decorrer deste capítulo, veremos que ela apresenta alguns problemas que demandarão reformulações. Por hora, nos basta ter a ideia geral de como o Utilitarismo de Regras do Código Moral Ideal formularia seu princípio moral. Nos próximos tópicos deixo clara a diferença entre as diferentes formas de utilitarismo.

com a promoção dos meios necessários para atingir tal fim, uma vez que não podemos supor que todas as pessoas que não tem suas necessidades básicas satisfeitas conseguirão realizar seus planos de vida adequadamente e, então, usufruir de níveis altos de bem-estar. Sem a satisfação de tais meios, dificilmente os indivíduos conseguirão atingir uma vida com as maiores quantidades possíveis de bem-estar. 2) como disse, dar prioridade a tais regras é dar prioridade às pessoas que se encontram em pior situação no mundo. Ao que parece, um indivíduo que tem suas necessidades básicas satisfeitas está em melhor posição para acessar múltiplas instâncias dos bens gerais que compõem o bem- estar, enquanto as pessoas que não têm suas necessidades básicas satisfeitas estão em pior situação, pois podem não estar aptas a acessar uma grande gama de tais instâncias. Dessa forma, espero afastar a objeção de que o Utilitarismo não pode justificar direitos, uma vez que os direitos seriam responsáveis por proteger as vidas dos indivíduos.

Com a finalidade de desenvolver e defender tal hipótese deixarei a discussão acerca dos tipos de Utilitarismo de Atos de lado. Todavia é relevante apontar que há, pelo menos, dois tipos de Utilitarismo de Atos: o primeiro é chamado de Utilitarismo de Ato de Nível Simples e, o segundo, de Utilitarismo de Ato de Nível Múltiplo85. Sendo meu foco no Utilitarismo de Regras, eu irei apresentar duas versões do Utilitarismo de Regras do Código Moral. Ainda oferecerei uma explicação dos problemas relacionados às duas formas Utilitarismo de Regras.

Em seguida, apresento uma forma de Utilitarismo de Regras do Código Moral Ideal que penso ser a melhor teoria normativa para defender os direitos morais básicos e promover o bem-estar e a satisfação das necessidades básicas como expostas no capítulo 1 e 2. Também no próximo capítulo, eu oferecerei respostas as principais objeções voltadas ao Utilitarismo do Código Moral Ideal, quais sejam: (a) o Utilitarismo de Regras é culpado por ser “adorador de regras” (ou seja, se insensível ao contexto em que as regras estão a ser aplicadas); (b) aceitação parcial do código moral (a aceitação parcial do código

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Essa nomenclatura é atualizada por Crisp (2006b). Para mais sobre os diferentes tipos de Utilitarismo de Atos e seus problemas ver: LYONS, 1980; SMART, 1961, 1973; RAILTON, 2013; GRIFFIN, 1994; POSTOW, 1977; FREY, 1977; CHANDLER, 1973; SINGER,1972; GARNER, 1969.

moral nos deixa com o problema de exigências morais extremas) e; (c) o Utilitarismo de Regras do Código Moral Ideal ou colapsa em uma forma de Utilitarismo de Ato ou é implausível. Eu penso que a minha visão seja capaz de oferecer um código moral ideal liberal (como veremos no final do próximo capítulo) que estabeleceria obrigações coletivas em relação à satisfação das necessidades básicas, uma vez que seria preferível (em termos de maximização de bem-estar) dar prioridade aos indivíduos que não são capazes por si mesmos de satisfazer suas próprias necessidades, com a finalidade de permitir que tais pessoas possam tomar suas próprias decisões acerca de qual é o melhor plano de vida a ser vivido.

Na próxima seção, apresento em linhas gerais o Utilitarismo de Regras do Código Moral. Essa forma de Utilitarismo de Regras aceita, grosso modo, que ações são moralmente corretas ou incorretas se elas se adequam a um código de regras específicas. O Utilitarismo de Código Moral pode ser divido em dois tipos quando consideramos como um código moral deve ser selecionado. Se considerarmos que um código moral deve ser selecionado dentre as regras morais já existentes, então temos que aceitar um Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente. Porém, se pensarmos que qualquer código moral vigente não resulta nas melhores regras a serem seguidas, então temos que desenvolver um Utilitarismo de Regras do Código Moral Ideal. Como argumentarei abaixo, a segunda forma de Utilitarismo de Regras do Código Moral é melhor que a primeira. Apesar de discutir duas formas de Utilitarismo de Regras, não é minha intenção discutir todas as formas possíveis de Utilitarismo de Regras. Dessa forma, deixo de fora o Utilitarismo de Regras de Generalização e outras formas de Utilitarismo como, por exemplo, o Utilitarismo Institucional86. Por fim, apresento a minha versão do Utilitarismo de Regras do Código Moral Ideal.

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Sobre o Utilitarismo Institucional ver, principalmente, GOODIN, R.E. Utilitarianism as a Public Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.

3.2 – UTILITARISMO DE REGRAS DO CÓDIGO MORAL: VIGENTE E IDEAL

O desenvolvimento do Utilitarismo de Regras foi motivado em grande parte pelas falhas inerentes no processo decisório do Utilitarismo de Ato. O ponto inicial de qualquer tipo de Utilitarismo de Regras é selecionar, ao invés de um processo decisório individualizado, um conjunto de regras que maximizaria o bem-estar. O Utilitarismo de Regras do Código Moral ao invés de selecionar regras individuais, pergunta qual seria o melhor código de regras que poderíamos seguir. O termo “melhor” designa o código de regras que maximiza o bem-estar de todos os indivíduos ao longo do tempo. Dessa forma, o Utilitarismo de Regras está comprometido com a ideia de que a moralidade é em grande parte não só um empreendimento individual, mas também coletivo. Ao invés de avaliarmos qual é o melhor processo decisório individual, passamos a avaliar qual seria o melhor conjunto de regras a ser seguido. O que devemos fazer não deve ser identificado com uma ação individualizada, mas com um conjunto de regras que são aceitas por todos (ou quase todos) os agentes racionais. Então, uma das questões centrais para o Utilitarismo de Regras do Código Moral seria “qual seria o melhor código moral a ser seguido?” Pode-se assumir duas respostas a essa pergunta. A primeira nos leva ao Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente87: o melhor código moral é aquele composto por regras já vigentes no mundo atual, o qual se seguido por todos os indivíduos, culmina no melhor resultado possível. A segunda resposta nos levaria ao Utilitarismo de Regras do Código Moral Ideal: o melhor código moral é aquele composto por regras que podem não existir no mundo atual (ou nunca existiram) e, se seguido por todos os indivíduos, produzirá o melhor resultado possível. Importante notar que, seja qual for o código moral (vigente ou ideal), os atos são avaliados indiretamente. Atos moralmente obrigatórios são aqueles que são requeridos pelas regras que compõem o código moral aceito e não aqueles que em cada ocasião particular maximiza o bem-estar. No próximo tópico, irei expor as ideias gerais do Utilitarismo do Código

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Muitas vezes, o Utilitarismo de Regras do código moral real é chamado de “Utilitarismo de Regras do código moral atual” ou “Utilitarismo de Regras vigente”. Por meu turno, escolho por referi-lo como “vigente”, pois penso que a palavra denota oposição clara a palavra “ideal” que denomina a vertente concorrente.

Moral Vigente e indicarei as dificuldades enfrentadas por tal visão quanto o estabelecimento e justificação dos direitos morais. No tópico subsequente, irei expor a concepção do Utilitarismo do Código Moral Ideal explorando, principalmente, a visão do filósofo Brad Hooker e argumentarei que sua versão de Consequencialismo de Regras do Código Moral Ideal possui falhas, mas que tais falhas podem ser sanadas. No próximo capítulo, irei oferecer uma versão do Utilitarismo do Código Moral Ideal que seja capaz de reconhecer um conjunto de regras que deve proteger os meios pragmaticamente necessários para que os indivíduos alcancem o máximo de bem-estar possível.

3.2.1 – Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente

Assumindo que as características principais do Utilitarismo de Regras são: (i) a avaliação é sobre regras e não atos; (ii) o que é moralmente obrigatório é definido pela consideração da ação coletiva e; (iii) atos são avaliados em termos de adequação às regras; então podemos questionar: quais as diferenças entre o Utilitarismo do Código Moral Vigente e o Utilitarismo do Código Moral Ideal? Tanto o Utilitarismo do Código Moral Vigente quando do Código Moral Ideal são formas de Consequencialismo Coletivo. Dessa forma, a questão relevante para estabelecer um código seria “e se todos se sentissem livres para agir de certa forma o que resultaria?”88 Porém, o Utilitarismo

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Como vimos, na formulação do critério de correção do Utilitarismo de Nível Múltiplo, a avaliação de uma ação é feita isoladamente, ou seja, avaliamos se uma ação X é correta ou não, pelas consequências ação de um indivíduo particular. Enquanto que no Utilitarismo do Código Moral, nós avaliamos se uma ação X é correta ou não, pelas consequências que X produziria se fosse executada por todos nós. Então temos as seguintes perguntas para cada forma de Consequencialismo: (a) Consequencialismo Individual: O que resultaria de uma ação X se um indivíduo particular I executasse X? (b) Consequencialismo Coletivo: O que resultaria de uma ação X se todos os indivíduos executassem X? Além disso, uma diferença importante entre o Utilitarismo de Ato de Nível Múltiplo e o Utilitarismo de Regras é que no primeiro as regras desempenham um papel relevante no processo decisório e não no critério de correção, ou seja, elas não definem quais ato são moralmente corretos ou não, elas apenas ajudam o tomador de decisão a operar no mundo. Nas formas do Utilitarismo de Regras, as regras são definidoras das ações como moralmente corretas ou não. Assim, a ação só é moralmente correta quando se adequa as regras (para utilitaristas de

de Regras do Código Moral Vigente defende que o melhor código moral que deve ser empregado é um conjunto de regras morais que são aceitas e empregadas dentro de uma sociedade. Brandt configura a posição do Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente da seguinte maneira:

Utilitarismo de regras pode ser dividido em dois grupos principais, de acordo com a corretude de um ato particular é feita uma função de regras ideias em algum sentido, ou regras vigentes e reconhecidas em uma sociedade. A teoria variante que eu explicarei é a do primeiro tipo.

De acordo com o segundo tipo de teoria, um dever ou obrigação de um indivíduo em uma situação particular são determinados, com algumas exceções, somente por regras morais, ou instituições, ou práticas prevalentes na sociedade, e não por quais regras (etc.) seriam idealmente melhor possuir na sociedade. (Às vezes é defendido que as regras morais vigentes, práticas, etc., são apenas uma condição necessária para um ato de ser moralmente obrigatório ou errado) (BRANDT, 1992, p.115).

O Utilitarismo de Regras do Código Moral vigente oferece a seguinte resposta para a pergunta acerca de qual é o melhor código para seguirmos: o melhor código moral a ser seguido é aquele composto por regras que são aceitas e empregadas dentro de uma dada sociedade que maximiza o bem-estar. Então, as ações são moralmente corretas se elas se adequam a tais regras socialmente reconhecidas. A posição do utilitarista de regras do código moral vigente (URCMV) é a de que se todos seguirem o código amplamente aceito na sociedade, nós iremos maximizar o bem-estar dos indivíduos. Poderíamos formulá-lo como se segue:

regras), enquanto o mesmo não é verdade para utilitarista de ato de nível múltiplo.

URCMV89: Uma ação X é moralmente correta se, e somente se, for permitida por um código cujas regras são comumente aceitas pelos indivíduos dentro de uma sociedade e maximizam o bem-estar de todos. O Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente possui algumas vantagens como, por exemplo, os baixos custos relativos ao ensino do código moral. Os custos são baixos uma vez que as regras e as práticas associadas a elas fazem parte de um background moral no qual nascemos. Ao invés de ensinarmos um código moral completamente diferente das práticas sociais de uma sociedade específica, nós teríamos apenas de ensinar o que a sociedade já aceita comumente. Como nenhum elemento estranho à sociedade entra no código, nenhum custo adicional na mudança das práticas ou regras será computado. A segunda vantagem que o URCMV possui é a sua força motivacional externa. Como todos da sociedade seguem um determinado código moral, que está profundamente arraigado nos indivíduos, as pessoas conseguem exigir uma das outras que as ações sejam adequadas as regras. Dessa forma, a exigência mútua impele os indivíduos a cumprirem com as obrigações morais estabelecidas pelo código moral vigente. O terceiro ponto vantajoso desta visão é que os deveres morais estabelecidos pelo código moral vigente não necessitam da aprovação do indivíduo particular. O ponto é que um indivíduo tem deveres morais mesmo que ele não os reconheça (não aceite o código moral). Por que isto seria um ponto positivo? É um ponto positivo porque o URCMV sofre menos com a aceitação parcial do código moral, uma vez que as regras estabelecidas pelo código já são amplamente aceitas pela sociedade. Por exemplo, mesmo que um indivíduo particular não concorde que ele deva pagar impostos, a sociedade como um todo (através de suas instituições, provavelmente) irá exigir dele que os impostos sejam pagos.

Apesar de suas vantagens, o Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente possui profundas desvantagens. Primeiramente, os códigos vigentes que são amplamente aceitos em uma dada sociedade possuem preconceitos arraigados que transparecem, muitas vezes, no

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Irei oferecer várias formulações dos tipos de Utilitarismo de Regras. Cada uma irá especificar ou enfatizar uma característica que pode ser mudada ou acrescentada, porém as formulações não derivam de qualquer teoria particular. Apenas aponto como algumas características do Utilitarismo podem ser colocadas nas formulações. Quando a formulação pertencer a algum filósofo em particular seu nome será citado na formulação.

que as sociedades consideram serem direitos morais (ou legais). Sociedades que são deveras conservadoras possuem regras morais que são tomadas como direitos morais que, em última instância, não promovem o bem-estar de uma parcela da sociedade. Por exemplo, em sociedades patriarcais, as mulheres estão à mercê das escolhas e atitudes dos homens, pois os homens teriam o direito de sujeitar as mulheres à sua vontade. Assim, dentro de algumas sociedades os direitos podem ser atribuídos ou retirados dadas as práticas já aceitas. Os direitos seriam apenas regras vigentes dentro de uma sociedade específica. Assim como o Utilitarismo de Ato de Nível Múltiplo, há certa crença que a sociedade apenas perpetuaria regras morais que maximizam a felicidade de todos. Porém, isso nem sempre ocorre. As regras vigentes são impregnadas de preconceitos, crenças falsas acerca do estatuto moral dos indivíduos etc. Tais regras não são uma boa fonte de justificação para direito morais, pois elas parecem atribuir deveres altamente exigentes para certos grupos (como no caso acima no qual a mulher se sujeita ao homem) e privilegiar enormemente outros grupos (como no caso acima onde o homem pode controlar a mulher à revelia).

Uma segunda observação é que o Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente carece de universalidade. Obviamente, essa característica resulta problemática se estivermos à procura de uma teoria que seja válida para todos os indivíduos em todos os lugares90. Caso estivermos à procura de uma teoria com tal caraterística, como é o caso da justificação dos direitos morais, não poderíamos aceitar o Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente. Uma vez que o Utilitarismo de Regras do Código Moral Vigente sugere que as ações sejam avaliadas como moralmente corretas, dado um código amplamente aceito em uma dada sociedade e, assumindo que as sociedades divergem em vários pontos acerca do que é moralmente

No documento Utilitarismo e direitos morais básicos (páginas 121-200)

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