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4. AS CONTRIBUIÇÕES DE WALLACE PARA OUTROS CAMPOS DA

4.3 Uma visão geral das contribuições de Wallace

Na América do Sul, Wallace descreveu alguns padrões biogeograficos, conforme comentamos no capítulo 3 desta tese. Baseando-se em seus conhecimentos prévios sobre geologia e geografia, o naturalista descreveu detalhadamente os tipos de formações rochosas que constituia a região amazônica e suas principais características geograficas tais como a extensão e altitude dos rios amazonicos e seus afluentes e as carcterísticas e velocidades de suas águas (Wallace, 1852).

Figura 18. Formas graníticas da região amazônica.

Fonte: Wallace, Alfred Russel. A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro, with an account of the native tribes, and observations on the climate, geology, and natural history of the Amazon valley. 2nd Ed. London and New York and Melbourne: Ward, Lock and CO., 1889.

Figura.19. a– fragmentos incrustados de granito. b- granito com veios sinuosos. c- rochas estraticadas projetadas através do granito.

Fonte: Wallace, Alfred Russel. A narrative of travels on the Amazon and Rio Negro, with an account of the native tribes, and observations on the climate, geology, and natural history of the Amazon valley. 2nd Ed. London and New York and Melbourne: Ward, Lock and CO., 1889.

Wallace classificou os rios da região amazônica de acordo com a tonalidade das águas que o formavam, em rios de águas brancas, rios de águas azuis e rios de águas pretas. De acordo com o naturalista, a diferença entre os “rios brancos” e “rios azuis” ocorre devido a natureza das regiões que eles percorrem. Assim, terrenos rochosos e arenosos davam origem a rios límpidos, ao passo que os aluviais ou argilosos davam origem as águas com tornalidades amarelas ou oliváceas. No caso

dos rios de coloração preta, como o Rio Negro, Wallace explicou que sua cor era produzida pela presença nas águas de folhas, raízes e outras matérias vegetais em decomposição (Wallace, 1852, p. 248-249).

Ao que tudo indica, o naturalista foi o primeiro europeu a subir o Rio Negro e o Uaupês. Em 1852, após subir pela segunda vez estes rios, Wallace desenhou um mapa sobre eles e doou para a Geographical Royal Society de Londres.

Mesmo tendo perdido grande parte de suas coleções e anotações no naufrágio quando estava retornando da América do Sul para a Inglaterra, Wallace escreveu sobre vários assuntos relacionados a fauna, flora, distribuição biogeográfica, geologia e geografia da região amazônica.

Outra contribuição relevante de Wallace diz respeito à ictiologia dos rios da região amazônica.

De acordo com Mônica Regazzo as ilustrações de peixes feitas pelo naturalista incluem representantes de quase todos os grandes grupos de peixes de água doce neotropicais. Trinta e três famílias e aproximadamente 110 gêneros estão representados por seus desenhos. Cerca de um terço das espécies ilustradas eram desconhecidas cientificamente na época em que Wallace as coletou61 (Regazzo,

2002, p. 54).

Durante os oito anos em que permaneceu no Arquipélago Malaio, Wallace coletou mais de 125.000 exemplares (principalmente de aves e insetos). A maior parte delas desconhecidas na Europa. Adentrou em regiões do Arquipélago que até então não haviam sido exploradas por europeus. O resultado de seus estudos nessa região está presente na obra Malay Archipelago, publicada em 1869.

61 Segundo a autora, Wallace parecia ter planos para publicar suas ilustrações de peixes. Interesse que expressou em sua

autobiografia ao abordar sobre sua expedição na América do Sul. Entretanto, para Ragazzo, a razão pela qual os desenhos de peixes de Wallace permaneceram inéditos são desconhecidas. Contudo, uma carta de Wallace enviada em 1904, para George Boulenger, então curador responsável pela coleção de peixes no British Museum (Natural History) fornece alguns elementos sobre a questão. Wallace guardou as ilustrações de peixes por cerca de 50 anos antes delas serem doadas ao British Museum. Há indícios de que, durante este período, Wallace teria mostrado as ilustrações para Albert Günther, curador responsável pela coleção de peixes daquela instituição, que as considerou sem valor, na ausência de exemplares a elas associados. Na mesma carta, Wallace pede a Boulenger uma segunda opinião sobre o valor das ilustrações e sobre a ideia de se fazer um catálogo com elas. As ilustrações e anotações foram doadas ao British Museum e Regan (1905) publicou uma lista com as 115 espécies que foi capaz de identificar. Entretanto as ilustrações não foram reproduzidas naquela época. Regan considerou que como uma grande parte delas representavam espécies ainda não descritas, seria melhor que os desenhos não fossem reproduzidos e nem publicado notas sobre eles” (Regazzo, 2002, p. 19-22).

Figura 20 Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Fonte: Wallace, Alfred Russel. The Malay Archipelago. [10th edition] Singapore: Periplus, 2000.

Figura 21 Figura. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Figura 22. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Fonte: Wallace, Alfred Russel. The Malay Archipelago. [10th edition] Singapore: Periplus, 2000.

Figura 23. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Figura 24. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Figura 25. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Figura 26. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Figura 27. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Figura 28. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Figura 29. Espécimes coletadas por Wallace no Arquipélago Malaio.

Fonte: Wallace, Alfred Russel. The Malay Archipelago. [10th edition] Singapore: Periplus, 2000.

As observações e descrições detalhadas de Wallace acerca das formações rochosas, os contrastes geológicos e a extensão das ilhas e do Arquipélago Malaio, resultaram no artigo “On the physical geography of the Malay Archipelago”62 o qual

foi apresentado juntamente com um mapa que representava a fronteira entre os biotas asiáticos e australianos através de uma única linha, que ficou posteriormente

62 De acordo com Bernard Michaux, esse trabalho de Wallace forneceu para a maioria dos leitores britânicos e europeus uma

primeira descrição sumária das circunstâncias naturais do Arquipélago Malaio, uma vez que, até a data da sua publicação não havia nenhum mapa que mostrasse essa região em sua totalidade (Michaux em Smith, 2000).

conhecida como a linha de Wallace no encontro de 8 de junho de 1863 na Royal Geographical Society.

Em novembro de 1854, Wallace chegou à ilha de Borneo, o habitat natural do orangotango. Wallace se engajou com grandes esforços na coleta e estudos de campo desses animais (Raby, 2001, p. 101) tendo enviado exemplares de orangotangos para a Inglaterra. Atualmente alguns deles se encontram em museus (Wallace, 1869).

Figura 30. Orangotango do gênero feminino desenhado por Wallace.

Fonte: Wallace, Alfred Russel. The Malay Archipelago. [10th edition] Singapore : Periplus, 2000

Podemos assim concluir que o amplo interesse e investigações feitas por Wallace em diversas áreas resultaram em contribuições para a ciência de modo geral, e não apenas para uma área especifica. Entretanto neste trabalho não foi possível discutirmos todas as contribuições de Wallace ao longo de sua carreira.

Reproduzimos abaixo um breve esboço das contribuições de Wallace proposta por Smith (2000).

• Em 1851 subiu o Rio Negro e Uaupés na América do Sul e construir um mapa confiável do curso do rio;

• Expedição de quatro anos na Amazônia (1848-1852);

• Classificou as águas do Amazonas e seus afluentes de acordo com a sua tonalidade;

• Assumiu a posição de que os povos não civilizados em geral não são moralmente e intelectualmente inferiores aos povos civilizados, ao contrário do que se pensava em geral na época;

• Em 1855 publicou um ensaio onde relacionou os fatos de distribuição geográfica e geológica à evolução;

• Coleta e estudos de campo sobre o orangotango;

• Investigou e descreveu a descontinuidade faunística agora conhecido como "Linha de Wallace";

• Coleta e estudo de aves do paraíso;

• Publicou um ensaio introduzindo o conceito de seleção natural (1858); • Considerou que os papuas não eram malaios;

• Defendeu e de certo modo institucionalizou o esquema de classificação da fauna proposto por Philip L. Sclater;

• Em 1860 propôs que uma comissão internacional de avaliação fosse formada para resolver questões relacionadas às reivindicações acerca das prioridades na nomenclatura zoológica;

• Coletou 125.660 exemplares (principalmente aves e insetos), durante os oito anos (1854-1862) de expedição no Arquipélago Malaio;

• Em 1863, propôs uma explicação darwinista para a construção de células hexagonais das abelhas;

• Em 1864, introduziu um modelo de diferenciação racial dos humanos com base na teoria da seleção natural;

• Introduziu o conceito de polimorfismo;

• Sugeriu que as borboletas fêmeas podiam ser mais variáveis do que os machos;

• Elaborou uma teoria evolutiva relacionada à necessidade de envelhecimento e morte;

• Iniciou o estudo da coloração protetora em plantas e animais, propôs a terminologia: cores sedutoras, cores de flexão e cores de advertência;

• Considerou os povos da Polinésia como sendo de origem Malaia (1867); • Contribuiu com sugestões para o projeto de museus em várias de suas publicações;

• Sugeriu uma explicação de como os animais podem, por vezes, encontrar o seu caminho para casa a partir de longas distâncias;

• Sugeriu que as extinções de animais no final do Pleistoceno poderiam estar relacionadas à caça excessiva feita por humanos pré-históricos;

• Apresentou um conjunto de evidências favoráveis à permanência das massas continentais e bacias oceânicas;

• Introduziu o conceito de marcas de reconhecimento (1877);

• Analisou as causas dos gradientes latitudinais de diversidade e aspectos relacionados com o que é agora conhecido como K-seleção (1878);

• Descreveu as causas dos padrões de distribuição disjunta (1879);

• Descreveu as causas da glaciação continental combinando fatores geográficos e astronômicos;

• Contribuiu para a classificação sistemática dos tipos de ilha; • Sugeriu a criação de cinturões verdes próximos a áreas urbanas;

• Descreveu o que agora é conhecido como o "Efeito Wallace" (o processo de seleção para o isolamento reprodutivo);

• Discutiu o significado de padrões de cores simétricos em animais (1880); • Contribuiu para a teoria do movimento do gelo nas geleiras.

4.2 Algumas considerações

Neste capítulo e no capítulo 2 desta tese, fizemos uma breve descrição dos estudos de Wallace sobre um assunto que é pouco vinculado ao nome do naturalista: o uso e a finalidade das cores no reino animal e vegetal.

Foi possível perceber que Wallace discutiu de forma aprofundada as cores de reconhecimento e advertência. Segundo alguns historiadores da ciência como Charles Smith (2000) e Carlos Roberto Fonseca (2008), Wallace foi um dos pioneiros a propor esses conceitos. Apresentou diversos exemplos que observou na natureza procurando explicá-los. Relacionou a maior parte deles ao princípio da seleção natural.

É possível mencionar diversas contribuições por ele trazidas. Por exemplo, ao estudar a distribuição das borboletas do Arquipélago Malaio, Wallace fez importantes descobertas em relação as formas polimórficas de algumas espécies, esclarecendo assim que algumas espécies que se acreditava na época serem distintas eram na realidade formas polimórficas de uma mesma espécie. Ainda ao observar que eram sempre as espécies polimórficas do gênero feminino que mimetizavam outros distintos grupos de borboletas, enquanto os machos não mimetizavam, Wallace trouxe contribuições importantes para a teoria de mimetismo proposta inicialmente por Bates.

Darwin reconheceu que Wallace, trouxe importantes contribuições em relação às cores dos animais, tendo observado e descrito a relação existente entre as cores menos brilhantes dos machos e sua participação nos deveres inerentes à incubação, chamando a atenção para o fato de que as cores obscuras teriam sido adquiridas como meio de proteção durante o período de permanência no ninho.

Dedicou-se menos à discussão do caso das cores das plantas, embora considerasse esse assunto relevante tanto em termos biológicos como em termos evolutivos, uma vez que este já havia sido abordado de maneira aprofundada por Darwin em seus diversos trabalhos, inclusive sobre as orquídeas bem como por outros autores.

Ao descrever sobre as formações rochosas, elaborar mapas de algumas regiões e classificar os animais e plantas, Wallace trouxe importantes contribuições para a geologia, para geografia e para a história natural em geral.

5. AS CONTRIBUIÇÕES DE WALLACE E A NATUREZA