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CAPÍTULO VI AS POLÍTICAS IMIGRATÓRIAS IMPLEMENTADAS NO MEDITERRÂNEO

6.1 A parceria Euro-Mediterrânica e o Processo de Barcelona – União para o

6.1.2 União para o Mediterrâneo

Com o objetivo de renovar, reforçar e revitalizar o Processo de Barcelona, em 2008 é criada na Cimeira de Paris a União para o Mediterrâneo (UPM). A UPM, conhecido oficialmente como o “Processo de Barcelona: União para o Mediterrâneo", é uma organização intergovernamental, fundada por iniciativa da França para rejuvenescer o Processo de Barcelona. Extensível aos países não ribeirinhos, este bloco transcontinental inclui 27 Estados Membros da União Europeia e 17 parceiros. As nações parceiras

93 compreendem países do Norte de África (Argélia, Marrocos, Tunísia, Mauritânia, Egito), países balcânicos (Albânia, Bósnia e Herzegovina, Croácia e Montenegro) e países do Oriente Médio (Jordânia, Síria, Líbano, Israel, Territórios Palestinianos), além da Turquia e do Mónaco. A Líbia afastou-se mas tem o estatuto de observador ver (Figura 68 do Anexo F) (RODRIGUES e FERREIRA, 2011).

A ideia da União para o Mediterrâneo já se manifestava em 2005, durante a Cimeira de Barcelona no (10 º aniversário da Parceria Euro-Mediterrânica), os objetivos do Processo foram reafirmados e tornar-se uma prioridade questões como a imigração e a luta contra o terrorismo. O encontro foi também uma oportunidade para destacar os sucessos da parceria, mas também os limites do Processo de Barcelona.

Em 2007 Nicolas Sarkozy lançou um projeto que se propunha retomar a ligação entre os países costeiros do mar Mediterrâneo, fazendo renascer o debate em torno da Parceria e mostrando os interesses dos Estados-membros em relação ao Sul. O processo negocial entre líderes europeus foi longo e o projeto inicial, depois de mudar várias vezes de nome, integrou-se na lógica do Processo de 1995, chamando-se então Processo de Barcelona: União para o Mediterrâneo passando a ser uma mera reformulação do original (BARBOSA, 2010). Assim, o presidente francês, Nicolas Sarkozy (então único candidato na eleição presidencial) lançou a ideia de uma União Mediterrânica para revigorar a parceria106. Poucos meses depois, em Tânger, ele convidou todos os líderes dos países da bacia do Mediterrâneo para participar "em pé de igualdade" numa conferência em Paris em junho de 2008 para criar a solidariedade entre as duas margens do Mediterrâneo, com base na paridade, através de projetos concretos de interesse comum. No entanto, o presidente francês considerava a nova União envolvendo apenas os países do Mediterrâneo e não toda a União Europeia, confrontado com as críticas da Alemanha, ele permitiu que os 27 Estados-Membros da UE participassem na iniciativa. O nome original de "União para o Mediterrâneo" teve que ser alterado para "Processo de Barcelona: União para o Mediterrâneo" para abarcar de forma coesa uma governação

106 Numa das suas primeiras declarações públicas, seguidamente a sua eleição para a presidência francesa,

Nicolas Sarkozy declarou sua intenção de lançar os alicerces para uma União Mediterrânea, decalcada a partir do modelo da União Europeia, mas que agruparia o Estados do Mar Mediterrâneo, europeus, asiáticos e africanos. Sarkozy defende um modelo de desenvolvimento comum, uma política de imigração e trabalho comuns, um espaço judicial comum, isto para combater os vários flagelos da região entre eles: a migração ilegal, a corrupção, o crime organizado o terrorismo internacional e às crises políticas. Disponível em http://movv.org/2007/07/24/a-%E2%80%9Cuniao-mediterranea%E2%80%9D-de-nicolas-sarkozy/. (05- 01-2013).

94 mais equilibrada, uma maior visibilidade dos seus cidadãos e um compromisso tangível para com os mesmos. A UPM procura estreitar as relações entre os países membros, através da definição de medidas concretas e mais visíveis, dando uma nova vitalidade à parceria e elevando o nível político da relação entre a UE e os países mediterrânicos. Assim, os principais objetivos da Declaração de Barcelona tais como (o diálogo político, a cooperação económico e comercial e o diálogo humano social e cultural) permaneceram válidos no centro das relações euro-mediterrânicas.

A cooperação reforçada em matéria de justiça, migração e integração social é igualmente um elemento importante da União. Na Declaração de Paris foram definidos seis programas de atuação, que abrangem áreas como ambiente, energia, educação e economia. Pretende-se que a lógica da “União para o Mediterrâneo” não se baseie no fator físico, ou seja no mar, o chamado Mare Nostrum, mas sim na proximidade geográfica, visto todos os países coexistirem num mesmo espaço e se depararem com os mesmos desafios, ameaças, riscos e oportunidades. De realçar que, uma abordagem equilibrada sobre a migração e o reforço da cooperação em matéria de integração social é uma das questões centrais do Mediterrâneo devido aos massivos fluxos migratórios clandestinos e ao terrorismo proveniente de grupos extremistas vindos do Médio Oriente (RODRIGUES e FERREIRA, 2011). De igual modo, também a preservação ambiental é uma das preocupações, cada vez mais patente nas agendas de cooperação entre os países. Em contraste, questões menos consensuais como a natureza dos regimes políticos dos Estados-Membros, foram excluídos.

Neste sentido, em abril de 2010, a Comissão dos Assuntos Externos do Parlamento Europeu realçou que o renascimento da UPM deveria ser uma prioridade estratégica para a Europa, que deverá promover iniciativas baseado em diálogos políticos de proximidade entre as margens norte e sul do Mediterrâneo. Presentemente a EU considera que os acontecimentos da primavera Árabe revelaram ser necessário a reformulação da Política de Vizinhança, de modo a conferir uma maior prioridade ao diálogo com as sociedades mais vulneráveis, que será imprescindível para os processos de democratização e transição. A “União para o Mediterrâneo” deve promover um maior envolvimento de países parceiros em reformas democráticas mais profundas o seu respeito pelos direitos humanos fundamentais com base na abordagem de

95 responsabilização mútua entre países parceiros, a UE e os seus Estados-Membros (TAVARES, 2012).

Contudo a parceria tem sido alvo de algumas críticas. Para ALLEMAND e KHADER (2008)107 , o Processo de Barcelona não foi nem ponto de viragem e de rutura, nem um insucesso total. Enquanto CAMERON e RHEIN (2005)108 defende que as razões que a Europa encontra para ter uma política para o Mediterrâneo são no essencial as mesmas do início: dependência energética, comércio, importância do apoio europeu ao desenvolvimento a Sul, a segurança e o controlo da imigração legal e ilegal para a Europa.

O cenário resultante deste dinamismo encontra-se também nos resultados do Inquérito Euro-Mediterrânico que nos mostra a importância da agenda externa, tanto ao nível temático como com relação ao valor estratégico (ARAGALL, 2010). A nível temático as questões como a migração circular relacionado à mobilidade do trabalho, o controle de fronteiras, a cooperação policial, a capacitação institucional em gestão e regulação dos fluxos migratórios, estão na ordem do dia. Com relação ao valor estratégico, o impasse poderá ser observado tanto ao nível estadual (gestão bilateral dos fluxos migratórios) como multilateral (processos de diálogo multilateral quer ao nível PEM quer ao nível da União Europeia no Diálogo Euro-Africano.

Conclui-se que apesar do progresso em algumas áreas, as políticas migratórias a nível da PEM não foram suficientemente eficazes, nota-se a perda de coerência no desenvolvimento de uma estratégia comum euro-mediterrânica, e um impasse político, sobretudo se comparar-mos as políticas estaduais tanto no Norte como no Sul do Mediterrâneo. Ou seja, a existência de vários espaços de diálogo cooperativo ao nível do Mediterrâneo não impede que fatores internos e externos continuem a condicionar as relações entre os países mediterrânicos. De lembrar o conflito recente “primavera árabe” que afeta não só as relações Sul-Sul, mas também as relações Norte-Sul. Ou ainda a divergência de prioridades entre as duas margens do Mediterrâneo, que para os países do sul se centra nas questões de codesenvolvimento e na flexibilidade do diálogo

107 (ALLEMAND e KHADER, 2008) 108

96 conjunto, e na margem norte foca na necessidade de responsabilidade conjunta, do controlo dos fluxos e gestão das migrações ilegais.

Estas tendências estão retratadas nos resultados do mesmo inquérito. Verifica-se uma tensão entre os Estados envolvidos na Parceria o que não lhes permite chegar a resultados futuros mais tangíveis, no que se refere principalmente a eficácia da gestão dos fluxos migratórios (ARAGALL, 2010).