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Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais

No documento Relatório de Estágio Patricia Baltar ESIP (páginas 40-45)

4. OBJETIVOS E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

4.2. Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais

O segundo contexto de estágio ocorreu numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, num Hospital Distrital da região de Lisboa, diferente daquele em que exerço funções. Optei por conhecer um contexto hospitalar diferente, pelo facto de nunca ter exercido funções noutro hospital. Esta experiência revelou-se muito enriquecedora pela oportunidade de partilha de uma diversidade de práticas. Note-se que o conceito de Benchmarking visa conhecer outros contextos para obter ganhos, define-se como um processo que permite comparar as performances das organizações visando desenvolver as melhores práticas (ACSS - Administração Central do Sistema de Saúde).

Neste serviço, os cuidados de enfermagem são norteados pelo enquadramento conceptual que é preconizado pelos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, 2001). Neste âmbito, o conceito de saúde é considerado como um estado subjetivo, uma vez que diz respeito à representação mental da sua condição individual. Por sua vez, a Pessoa é concebida como um ser com intencionalidade quanto ao seu comportamento, interagindo com o ambiente que o rodeia, numa procura constante para obter equilíbrio e harmonia. No que concerne aos Cuidados de Enfermagem, estes centram-se na relação interpessoal, assumindo que é desenvolvida uma Relação Terapêutica com a pessoa cuidada, no decorrer de um processo dinâmico, cujo principal intuito é o de contribuir para o projeto de saúde do indivíduo.

Relativamente à Metodologia de Trabalho, o serviço utiliza o método de trabalho individual, o que implica que em cada turno um enfermeiro é responsável por todos os cuidados prestados às crianças que lhe são

atribuídas, desta forma, a organização dos cuidados depende da tendência do enfermeiro em dar primazia à pessoa ou às intervenções (Costa, s.d.).

Este serviço dispõe de cinco camas de cuidados intensivos neonatais e dez camas de cuidados intermédios neonatais, em que o ratio varia entre 1:4 no caso da Unidade de Cuidados Intermédios é de 1:2 para a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais. O que distingue a Unidade de Cuidados Intermédios da Unidade de Cuidados Intensivos relaciona-se com a instabilidade hemodinâmica do neonato. Assim, quando a criança está internada na Unidade de Cuidados Intensivos a sua fragilidade hemodinâmica requer cuidados de enfermagem mais frequentes e complexos.

Por seu lado, quando há necessidade de ventilação invasiva ou não invasiva o neonato permanece na Unidade de Cuidados Intensivos, entre outros critérios específicos que condicionam a sua admissão nesta unidade é considerado, o estado de acidose metabólica ou o tempo de gestação (note-se que esta Unidade recebe neonatais cuja idade gestacional seja superior a 28 semanas).

Face ao exposto, defini para este contexto os objetivos que se seguem: 1. Desenvolver competências específicas de EESCJ nomeadamente nas situações de cuidados de especial complexidade;

2. Desenvolver competências relacionais em contexto de Serviço de Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais;

O Quadro 2 ilustra as atividades desenvolvidas com o intuito de concretizar os objetivos definidos.

Quadro 2. Síntese das atividades desenvolvidas para a

operacionalização dos objetivos e aquisição de competências - Contexto de Unidade de Cuidados Intensivos neonatais.

Objetivos Atividades Recursos

1. Desenvolver competências específicas de EESCJ nomeadamente nas situações de cuidados de especial complexidade;

1.1.) Análise reflexiva das metodologias de trabalho e gestão de cuidados presentes nos diversos contextos de neonatologia;

1.2.) Observação participante das intervenções de enfermagem desenvolvidas pelo Enfermeiro orientador;

1.3.) Pesquisa e leitura de bibliografia (a incluir na revisão narrativa de literatura no âmbito da Relação Terapêutica em Enfermagem Pediátrica).

1.4) Elaboração de um registo reflexivo sobre uma situação de cuidados de especial complexidade

- Protocolos do serviço; - Sistema de informação em vigor; - Diário de campo; - Bibliografia pesquisada. 2. Desenvolver competências relacionais em contexto de Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais

2.1.) Dar continuidade à realização de uma revisão narrativa de literatura no âmbito da Relação Terapêutica em Enfermagem Pediátrica.

2.2.) Prestação de cuidados de enfermagem personalizados, enfatizando nas interações a dimensão emocional.

2.3.) Realização de entrevista semiestruturada aberta, de caráter informal, a dois enfermeiros especialistas, com o intuito de explorar a dimensão emocional da Relação Terapêutica.

- Artigos e livros pesquisados;

- Guião de Entrevista

Quanto à atividade 1.1., que sugere a análise reflexiva das

metodologias de trabalho é de referir, de acordo com o que já foi previamente

referido, que a metodologia de trabalho adotada está em congruência com a conceção teórica que norteia a prática e possibilita ainda a prestação de Cuidados em Parceria (Anne Casey), bem como os Cuidados Centrados na Família, com o principal intuito de, ao identificar as necessidades dos pais e do recém-nascido poder satisfazê-las.

Salienta-se que o facto de ocorrer uma separação tão prematura, do recém-nascido da mãe, consiste numa situação emocionalmente intensa, geradora de ansiedade para a díade/tríade (Silva, 2014). Este aspeto pode comprometer o processo de vinculação caso o enfermeiro não intervenha por forma a promover a aproximação da díade ou tríade. Assim, a Relação Terapêutica que é estabelecida entre o enfermeiro e o cliente de cuidados, deve preconizar a negociação de estratégias (Cuidar em parceria), que promovam a aproximação ao recém-nascido, como por exemplo, negociar

com os pais o horário mais oportuno para a prestação dos cuidados de

Desta forma, a metodologia de trabalho, bem como a gestão dos cuidados, visa contribuir para a obtenção de ganhos para o cliente de cuidados, pelo que o enfermeiro disponibiliza ao Outro a sua perícia, através do ‘cuidar’, por forma a promover o bem-estar de quem cuida.

No âmbito da observação participante das intervenções de

enfermagem realizadas pelo Enfermeiro Orientador (Atividade 1.2.),

considero ter sido uma mais valia ter tido, mais uma vez, a oportunidade de contatar com a perspetiva de um outro colega, que exerce funções num contexto diferente daquele onde eu exerço funções e que está sob a influência de um ambiente organizacional também diferente. Por exemplo, quanto à documentação dos cuidados, o sistema operativo utilizado é diferente do que eu utilizo na minha prática clínica, neste contexto está em uso o da Glintt, sendo a taxonomia utilizada a da CIPE – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem. Assim, pude atualizar conhecimentos quanto à nomenclatura CIPE, o que é muito vantajoso, uma vez que se trata de uma taxonomia internacional.

Para além disso, a documentação dos cuidados era extremamente pormenorizada, o que me tornou mais desperta para documentar dimensões, que anteriormente não contemplava nos meus registos, embora as valorizasse na minha prática, como por exemplo: o registo de ter sido realizada aplicação de massagem com creme hidratante após os cuidados de higiene.

A documentação do aspeto acima referido, refere-se a uma intervenção autónoma de enfermagem, que é inerente aos cuidados à pele, que nos recém- nascidos é muito frágil, com a agravante da pressão exercida pelos materiais de alimentação, ventilação entre outros. Por sua vez, esta dimensão torna-se fundamental na vertente relacional, uma vez que a aplicação de massagem constitui um momento de relação com o recém-nascido, que para além de transmitir afeto possibilita o relaxamento muscular.

Tratou-se de um contexto que para mim foi marcante pela minúcia dos cuidados e sua complexidade, sendo seu exemplo uma situação de especial complexidade, referente à admissão de um recém-nascido prematuro de 29 semanas e com o peso à nascença de 690gr. Era um recém-nascido extremamente frágil, cuja superfície cutânea estava de tal forma pouco desenvolvida que possibilitava visualizar todos os vasos sanguíneos. Para

além destes sinais de prematuridade, sensibilizou-me o facto de os pais, que estavam na minha faixa etária, terem efetuado um processo de identificação comigo, o que foi benéfico, pois permitiu aceder mais facilmente às principais

necessidades sentidas pelos pais, uma delas foi a necessidade de espaço para a expressão de sentimentos e de emoções relacionados com o processo de doença do seu filho, contrariando o que tinham idealizado

quanto ao momento de nascimento do seu filho e à sua imagem corporal. O estado hemodinâmico do recém-nascido era instável, e a imaturidade inerente à prematuridade implicava intervenções complexas. A sua complexidade era devida à dimensão do bebé e acima de tudo devia-se à sua grande vulnerabilidade, pelo que qualquer tipo de intervenção implicava o recurso a técnica asséptica. Por sua vez, o tempo de estimulação inerente às intervenções de enfermagem tinha que ser tido em consideração, pois perante uma estimulação excessiva podia acentuar-se a dificuldade respiratória. Note- se que este bebé estava em ventilação não invasiva, pelo que tive oportunidade de manipular os ventiladores, atualizando conhecimentos

quanto aos cuidados de enfermagem inerentes à criança ventilada, bem

como à preparação do sistema de ventilação.

A grande vulnerabilidade dos neonatos e a labilidade emocional dos pais, inerente ao nascimento de um filho, constituiu um excelente espaço para dar primazia à dimensão relacional, para o que foi importante dar continuidade à pesquisa de literatura que tinha iniciado no contexto anterior.

Entretanto, com o intuito de diversificar as atividades realizadas e para desenvolver competências de EESCJ na dimensão emocional, optei por

realizar uma entrevista semiestruturada a dois enfermeiros especialistas. O

Guião de Entrevista semiestruturada foi constituído por uma questão aberta: "as emoções dão sentido ao agir dos enfermeiros e dão sentido ao próprio cuidar" (Diogo 2006, cit. por Diogo P. , 2015, p.XV). Considerando esta afirmação diga qual é a sua perspetiva no que concerne à dimensão emocional da relação terapêutica que estabelece com as pessoas de quem cuida?.". Salienta-se que o caráter informal da entrevista implicou apenas a autorização do próprio para se disponibilizar para dar a entrevista, cujo relato foi registado em notas de campo e posteriormente analisado, extraindo os aspetos chave,

dando resposta cabal à questão aberta e visando a reflexão sobre a prática (Apêndice III).

Através da realização desta atividade foi possível perceber que a temática da Relação Terapêutica parece suscitar dúvidas quanto ao seu desenvolvimento e no que concerne à implicação da dimensão emocional neste processo.

Assim, resultou um discurso que evidencia a dificuldade dos enfermeiros em expressarem por palavras os aspetos da esfera emocional, que estão presentes aquando do desenvolvimento de uma Relação Terapêutica. Parece haver uma incapacidade em testemunhar e concretizar como foi possível estabelecer uma relação com o Outro de quem se cuida. Esta incapacidade já tinha sido identificada por Lopes (2005, p. 16), ao afirmar que " (...) a arte da presença pode fazer a diferença no contexto da experiência humana de doença. Percebi essa arte em muitos colegas, mas não consegui que me explicassem como o conseguiam.”.

Esta atividade contribuiu para a aquisição de competências de EESCJ, uma vez que permitiu aceder a aspetos da relação com o cliente pediátrico, que são preconizados pela Ordem dos Enfermeiros (2010), nomeadamente no que respeita à promoção da vinculação (E 3.1), da esperança realista (E 3.2.3.), a importância de negociar com os pais o seu envolvimento com o RN (E 3.2.6.).

Face ao exposto, considero que as experiencias que este campo de estágio me proporcionaram permitiram que atingisse os objetivos que delineie para este contexto de aprendizagem.

No documento Relatório de Estágio Patricia Baltar ESIP (páginas 40-45)

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