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PARTE I REFLEXÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

CAPÍTULO 1 – REFERENCIAL TEÓRICO

1.2 Unidades de conservação: preservação ou conservação da paisagem?

No século XIX surgia nos Estados Unidos movimentos teórico-práticos contra o “desenvolvimento a qualquer custo” que pensava nos recursos naturais apenas como matéria prima para o avanço industrial, ou seja, a transformação da natureza em mercadoria, resultando assim no aumento do capital e “desenvolvimento” da nação. Este movimento surge com o engenheiro florestal Gifford Pinchot que trazia uma ideia de conservação dos recursos naturais a partir de um manejo racional. Pinchot propunha que com processos de manejo eficiente da natureza seria possível atingir três princípios básicos da conservação: a prevenção de desperdício, garantir recursos naturais para as gerações futuras e o uso dos recursos

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RODRIGUES, A. A. B.. Espaços de turismos e de lazer urbano – uma leitura geográfica. Revista Aportes y

21 naturais para benefício da maioria dos cidadãos. Estes pensamentos foram a base teórica para

o que se denomina hoje de “desenvolvimento sustentável” (DIEGUES,p.28-33, 2001)36

. Durante o debate entre “desenvolvimentistas” e “conservacionistas” começa a surgir outra vertente a do “preservacionismo” segundo DIEGUES (2001, p.30):

“Se a essência da "conservação dos recursos" é o uso adequado e criterioso dos recursosnaturais, a essência da corrente oposta, a preservacionista, pode ser descrita como a reverência à natureza no sentido da apreciação estética e espiritual da vida selvagem

A ideia preservacionista pretende proteger a natureza contra o desenvolvimento industrial e urbano, Marsh foi um teórico de destaque e defendia a ideia de que “o homem se esqueceu de que a terra lhe foi concedida para usufruto e não para consumo ou degradação”, portanto os defensores do preservacionismo defendiam que o homem tem os mesmos direitos que os outros seres vivos, John Muir, teórico importante desta linha de pensamento, demonstra a pureza desta ideia através de sua frase célebre “Se ocorresse uma guerra de raças entre os animas selvagens e o Senhor - Homem, eu seria inclinado a me simpatizar com os ursos”. (DIEGUES, 2001, p.31)

Os ativistas preservacionistas lutavam pela implementação de parques nacionais para proteger os recursos naturais das explorações propostas por parte dos pensadores “conservacionistas” e “desenvolvimentistas” segundo (DIEGUES,2001, p.33), apesar dos conflitos entre as três linhas de pensamento, áreas destinadas a parques nacionais e a unidades de proteção aumentaram consideravelmente nos Estados Unidos.

O Parque Nacional de Yellowstone, localizado nos Estados Unidos da América entre os Estados de Wyoming, Montana e Idaho, é reconhecido como o primeiro Parque Nacional do Mundo (Obrara E Silva, 2001)37. A sua criação aconteceu no ano de 1872, segundo Langdorf (1872 apud GODOY, 2000)38 cita a seguinte orientação sobre os objetivos do Parque Nacional de Yellowstone:

36DIEGUES, Antonio Carlos Sant‟ana. O Mito moderno da natureza intocada. São Paulo, Ed. 3ª Hucitec, p.1-

162 2001.

37 OBARA, A. T.; SILVA, E. S. População Humana, Biodiversidade e Unidades de Conservação do Brasil. In:

VILLALOBOS. J.U.G. (orgs.). Terra e Agricultura. Maringá, 2001, p. 1-19.

38

GODOY, A. O modelo da natureza e a natureza do modelo. São Paulo: São Paulo em Perspectiva, v.. 14, n. 4. 2000. 10 p.

22 “não é desejo do Departamento que seja feita qualquer tentativa para embelezar ou adornar esta reserva, mas apenas preservá-la de qualquer lesão ou exploração de madeira, depósitos minerais e várias curiosidades dessa região, mantê-la, na medida do possível, na sua condição natural.”

Segundo (Koppes, 1988:247)39

"A conservação estética sofreu uma transição crítica quando sentiu a influência da ciência ecológica emergente. Nas mãos de Aldo Leopold e outros, a ecologia ofereceu tanto a técnica para o manejo do meio ambiente quanto uma apreciação elegante e artística da totalidade da natureza. Para uma sociedade pragmática, a ecologia forneceu uma base científica crucial que tinha as características da objetividade e da utilidade. A ecologia se afastou do cênico e do monumental. Ainda que cenários espetaculares devessem ser protegidos, a perspectiva ecológica deu prioridade à preservação de grandes áreas representativas do que Leopold chamou 'comunidades bióticas. A ênfase também mudou para o visitante que tivesse um encontro mais utêntico com a natureza"

A partir deste marco, vários outros Parques Nacionais com o intuito de proteger a natureza foram criados no mundo com os mais diversos objetivos de conservação, preservação e formas de controles dos usos dos recursos naturais (NASH, 1982)40.

No Brasil, o primeiro instrumento legal que previu a criação de parques públicos foi o primeiro código florestal brasileiro instituído pelo Decreto Federal n° 23.793/1934. O documento classifica as florestas brasileiras em quatro tipos: duas de regime de proteção permanente, protetoras e remanescentes, e duas de regime passível de exploração comercial, modelo e produtiva (DRUMMOND; FRANCO; OLIVEIRA, 2010)41.

Legalmente apoiado no Código Florestal Brasileiro, datado de 1934, foi criado em 1937, no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro, o primeiro parque nacional, denominado Parque

39 KOPPES, C. 1989. "Efficiency, Equity, Esthetics; Shifting Themes in American Conservation". In:

WORSTER, D. (ed.). The Ends of the Earth: Perspectives on Modern Environmental History. Cambridge: Cambridge University Press.

40 NASH, R. Wilderness and the American mind. Yale: Yale Univ. Press, 1982.

41 DRUMMOND, A. D.; FRANCO, J. L. A.; OLIVEIRA, D. Uma análise sobre a história e a situação das

unidades de conservação no Brasil. In: GANEM, R. S. (org.). Conservação da biodiversidade: legislação e políticas públicas. Brasília: Câmara dos Deputados. 2010 (no prelo).

23 Nacional de Itatiaia. Após a criação do citado parque, emergiram vários Parques no território Brasileiro (BARROS, 1952)42.

Com as atualizações do código florestal (1965 e 2012), surgem novas categorias de manejo, dentre elas, encontramos a expressão de Unidade de Conservação (UC). Com o intuito de potencializar o papel das UC foi concebido por meio da Lei n° 9.985/2000 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O Ministério do Meio Ambiente define o SNUC como (MMA, 2014)43:

“o conjunto de unidades de conservação (UC) federais, estaduais e municipais. É composto por 12 categorias de UC, cujos objetivos específicos se diferenciam quanto à forma de proteção e usos permitidos: aquelas que precisam de maiores cuidados, pela sua fragilidade e particularidades, e aquelas que podem ser utilizadas de forma sustentável e conservadas ao mesmo tempo.”

No Brasil, o conceito de Parque Nacional foi criado para proteger áreas com “características espetaculares ou únicas”, em terra ou no mar, sob controle do poder público. Eles devem conter “amostras representativas de ecossistemas” e ser administráveis em um “estado natural”. Toda atividade produtiva – ou “uso direto de recursos” – é proibida nos seus limites, a cada Parque é sujeito apenas ao “uso indireto” de seus recursos. Os visitantes usufruem de lazer contemplativo, caminhadas, piqueniques, acampamentos, escaladas; os pesquisadores científicos podem desenvolver projetos de investigação, sob o controle da administração de cada Parque.

Com o passar do tempo, os critérios para seleção de áreas a serem protegidas se

sofisticaram, abandonando, por exemplo, a ênfase inicial nas “paisagens espetaculares”44

. As políticas de criação de Parques passaram a se guiar por critérios “científicos”, como por exemplo, representatividade ecossistêmica, escassez relativa de paisagens, proteção à flora, fauna e recursos hídricos, defesa da biodiversidade e dos ciclos reprodutivos de espécies vegetais e animais, e por critérios sociais como a oferta de lazer, o desenvolvimento da

42 BARROS, W. D. Parques nacionais do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1952.

43 BRASIL, SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA: Lei n° 9.985 de

18 de julho de 2000. Brasília, MMA/SBF, 2000.

24 pesquisa científica e a educação ambiental (DRUMMOND, 1997)45. Tais critérios científicos passaram a ser utilizados no Brasil somente na década de 1980.

O PNMTNPC, objeto da nossa pesquisa, enquadra-se na categoria Parque Natural Municipal, a diferença dos parques municipais para os estaduais e federais é uma questão de escala, ou seja, o território é menor e os seus limites não extrapolam os limites municipais. Neste contexto, a Lei do SNUC, em seu art. 2º, inciso I, define Unidade de Conservação como:

“espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”

Para discutir unidades de conservação é preciso percorrer conceitos que cercam o objeto de análise, as teorias acerca da cultura, do meio ambiente e das relações homem e natureza são importantes para nossa pesquisa.

A Unidade de Conservação, como uma área de proteção da natureza, aponta como um dos seus objetivos a interação do ser humano com o espaço que se protege. É preciso entender a relação do homem com a natureza, ou seja, de que forma o modo de vida humano impacta o meio natural. Vamos entender “natureza” como conjunto dos elementos inanimados e animados que não foram substancialmente alterados pelo homem. Claval propõe que a cultura é mediação entre os homens e a natureza , segundo o autor (2007, p. 12)46:

“Os homens não estão jamais em relação direta com a natureza: vivem num meio artificial que eles mesmos criaram; o vestuário e a casa os protegem das vicissitudes do clima; os caminhos e as vias facilitam a circulação. A vegetação natural é destruída e substituída pelas florestas cuja composição é controlada, pelas pastagens ou planícies para alimentar os animais, e pelos campos onde se desenvolvem as culturas. As forças humanas foram há muito tempo substituídas pela energia fornecida pelos animais, a madeira, o vento e às águas correntes. Os combustíveis fósseis e hoje o átomo servem para acionar as máquinas e as ferramentas que multiplicam a produção

45 DRUMMOND, J. A. Devastação e preservação ambiental no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: EDUFF

(Coleção Antropologia e Ciência Política, 2). 306p. 1997

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CLAVAL, P. A Geografia Cultural. Trad. de Fugazzola Pimenta e Margareth de Castro Afeche Pimenta. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007.

25 e asseguram aos grupos um controle cada vez mais reforçados – mas nunca total – sobre os meios onde vivem e sobre aqueles que contribuem para a satisfação de suas necessidades.”

A busca deste domínio sobre o meio está diretamente ligada à sobrevivência da espécie humana, ou seja, o homem, apesar de não estar em relação direta com a natureza, depende profundamente dos seus produtos que são os recursos naturais: ar, água, alimento, solo, dentre outros. Este recorte do homem da natureza se faz necessário para entender a possível dinâmica de um determinado bioma sem a presença humana, que gera impactos que modificam profundamente o ambiente, então entendemos as áreas que são profundamente alteradas pelos homens como antropizadas.

Schlüter (1958 apud CLAVAL 2007, p. 24)47 concebe a Geografia Humana como a maneira pela qual os grupos humanos modelam o espaço em que vivem. Com a descoberta da agricultura e manejo do ambiente local, alguns grupos humanos deixaram de ser nômades e se fixaram em áreas que, posteriormente, tornaram-se cidades, este povoamento modifica substancialmente a dinâmica ambiental, as intervenções humanas no espaço são conhecidas como espaços antropizados, ou seja, espaços que sofreram interferência humana. Com a evolução tecnológica, a capacidade de apropriação do meio natural e o aumento populacional, as cidades cresceram e, proporcionalmente, as áreas antropizadas também.

As áreas antropizadas modificam substancialmente a dinâmica ambiental, pois quanto mais humanos em um determinado território, mais pressão os recursos naturais sofrerão, não só pelo maior uso desses recursos, mas também por sua degradação causada pelas atividades locais. Como exemplo desta afirmativa, não é difícil citar nomes de cidades que sofrem com a escassez do abastecimento de água, são localidades em que se constata considerável crescimento demográfico em território com pouco potencial hídrico e sem tratamento de esgoto adequado (o que impacta diretamente na qualidade e consequente abastecimento de água); assim, é de se esperar que, em algum momento, a água não esteja disponível para todos, gerando conflitos e necessidades de solução. Estes conflitos podem acontecer em diferentes localidades, entretanto, propostas sobre como o problema será resolvido constituem o fator que diferencia as sociedades humanas.

47SCHLÜTER, Otto. “Die SiedlungsräumeMittelEuropas in frühgeschichtlischerZeit”, Forschungenzur

26 O conjunto das técnicas e dos utensílios com os quais os homens modelam as paisagens é para La blache (1913, p. 289-299)48 a cultura pertinente e são componentes do gênero de vida, para resolver o problema supracitado, não basta apenas saber sobre quais técnicas e utensílios possui uma determinada sociedade, mas como ela se organizou para construí-los e qual a forma política para abordar a questão. Neste estudo, vamos estudar relações humanas em um espaço que foi criado com base na política de proteção ambiental que tem como diretriz a criação de Unidades de Conservação, ou seja, o recorte de um espaço que resguarde características de um bioma natural e sua dinâmica.

Segundo Claval (2007, p. 56)49, cultura é um sistema de significações que tem por objetivo permitir o funcionamento da sociedade global. A cultura, portanto, é imprescindível para entender a relação entre homem e natureza, os modos de usos dos recursos naturais no mundo globalizado. É visível que com a constante discussão acerca do tema crise ambiental, os líderes políticos do mundo buscam acordos e consenso sobre as formas de apropriação da natureza e como devemos utilizar os recursos naturais de forma mais sabia.

Nesse cenário, surge uma tendência nos Estados Unidos de criar Parques Nacionais, que têm como principal objetivo preservar ambientes em seu estado natural, esse procedimento se espalha pelo mundo; no Brasil, recebem nome de unidades de conservação, os objetivos de criação são semelhantes, a função principal é a preservação da biodiversidade no Globo Terrestre. É importante entender de que forma estas áreas são criadas e legalizadas e também de que maneira se dá a relação dos indivíduos de determinada comunidade com a nova unidade de conservação.

O processo de escolha das Unidades de Conservação que são selecionadas para a criação de parque, geralmente segue um padrão, são escolhidas áreas que apresentam relevante adensamento de mata nativa, biodiversidade, dinâmica hídrica, beleza cênica, dentre outros. Seus tamanhos variam de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, há três categorias de Parques: Federais são aqueles que o território abrange mais de um Estado, Estaduais são os que abrangem mais de um município no mesmo Estado, Municipais são os que seu território está dentro dos limites de uma cidade.

48 LA BLACHE, V.. “Des caracteres distinctifs de lagéographie”. Annales de Géographie, Paris, v. 22, p. 289-

299. 1913.

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CLAVAL, P. A Geografia Cultural. Trad. de Fugazzola Pimenta e Margareth de Castro Afeche Pimenta. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007.

27 A partir da criação, tornam-se patrimônio das cidades em que estão inseridos e adquirem significados e sentidos provenientes das ações de personagens envolvidos neste processo; com o passar do tempo, os parques passam a fazer parte da cultura local, estes espaços adquirem carga simbólica tornando-se lugares de memória (PESAVENTO, 2008, p. 3-4)50.

Segundo Bueno e Ribeiro (2007)51, os parques, embora sejam Unidades de Proteção Integral, são as áreas abertas à ação humana, contemplando atividades voltadas para educação ambiental, pesquisa científica, turismo ecológico e divulgação. Os Parques localizados nas zonas urbanas das cidades ou próximo a essas, representam um constante despertar, onde o processo de desenvolvimento é bastante acelerado o que pode ocasionar a instalação e ocupação ilegal de terras, tendo como consequência o desmatamento em demasia.

Cavalcante (2001, p. 101)52 ressalta a importância da gestão de uma unidade de conservação, onde deve haver um grande equilíbrio entre a população de entorno e a unidade de conservação. A gestão desses espaços e seu desempenho dependem da implementação de ações, através de uma relação entre a população do entorno e a própria Unidade de Conservação. A manutenção harmoniosa entre o homem e a natureza, poderá ocorrer através de estratégias adequadas que considerem a crescente expansão populacional.

Vargas (2003, p.122)53 enfatiza a possibilidade de utilização dos parques como instrumento para a aprendizagem ambiental, como um saber pedagógico, prático, pois a partir dele são desenvolvidas estratégias e ações, o que requer a reflexão entre conhecimento, autoridade e poder.

Nesse contexto, a ocupação e a vivência do lugar por práticas pedagógicas e anteriores ao momento da institucionalização do parque, alimentam as percepções e lembranças, memórias acerca das unidades de conservação. A assimilação das histórias e memórias não

50 PESAVENTO, S. J. História, memória e centralidade urban. Rev. Mosaico, v.1, n.1, 2008, p. 3-12.

51 BUENO, N. P. E.; RIBEIRO, K. C.C. Unidades de Conservação - caracterização e relevância social,

econômica e ambiental: um estudo acerca do Parque Estadual Sumaúma. Revista Eletrônica Aboré - Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo - Manaus Edição 03/2007.

52 CAVALCANTE, H. C. A Experiência do PROARCO. In: Causas e Dinâmica do Desmatamento na

Amazônia. Ministério do Meio Ambiente. Brasília: MMA, p. 99-102, 2001.

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VARGAS, Jorge Ozório. Pedagogia Crítica e Aprendizagem Ambiental. In: LEFF, E. (org).: A Complexidade Ambiental. Tradução de Eliete Wolff. São Paulo: Cortez, 2003, 342p.

28 reflete necessariamente a verdade, segundo Borges (1961, p. 42)54“em nossas lembranças um passado fictício ocupa o lugar de outro, do qual nada sabemos com certeza – nem, ao menos o que é falso”.

Para Lowenthal (1998, p. 64)55 “toda consciência atual se funda em percepções e atitudes do passado”. Assim, para entender as relações, sentidos, significados destes espaços é preciso uma interpretação crítica e há necessidade de se vivenciar a área de estudo. Ainda, segundo o autor, “fatos presentes, conhecidos apenas indiretamente, poderiam, a princípio, ser verificados; fatos passados, por sua própria natureza, não o podem”.

A memória tem importância fundamental, ela não garante a preservação do passado, mas permite reflexões que possibilitam repensar e até mudar o presente. As relações das sociedades com as unidades de conservação estão em constante mudança, mas é relevante salientar que ao mesmo tempo estas relações se ancoram em lembranças intensificadas por fatos ocorridos no local.

A cultura que cerca determinada área que foi destinada a ser uma unidade de conservação no passado é transmitida como forma de herança para as futuras gerações, o que vai definir a perpetuação da ideia do espaço em questão continuar exercendo sua função é a forma que as futuras gerações vão receber as informações e assimilá-las. Levando em consideração que a cultura é um elemento que molda o indivíduo (Claval 2007, p. 107)56 propõe:

“Nas sociedades que concebem sua cultura como um todo já constituído, as incitações a inovar são fracas e as mudanças de paradigma são mal vistas. As condições são diferentes nas sociedades abertas: elas aceitam se transformar e acreditam na história.”