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2.3. Características do relevo

De acordo com Casseti (2005), o relevo resulta da combinação de diferentes variáveis da natureza, por isso torna-se um importante recurso para análise da paisagem. Este autor ressalta que a caracterização do relevo nos estudos paisagísticos justifica-se por pelo menos três situações: relações de forças contrárias (jogo das forças endógenas e exógenas); relações morfopedológicas (relação entre o relevo e as tipologias de solos resultantes); e relações antropomorfológicas (processo de apropriação do relevo como suporte ou recurso).

Antes de caracterizar o relevo da área de estudo, apresenta-se uma breve contextualização regional. Assim sendo, a Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba está inserida no Domínio dos Chapadões Tropicais do Brasil Central (AB’SABER, 1971). A partir da perspectiva dos Domínios Morfoclimáticos, Ab’Saber (2003) considera esta região pertencente ao Domínio dos Chapadões Recobertos por Cerrados e Penetrados por Florestas-Galeria, apresentando de modo geral as seguintes características:

Região de maciços planaltos de estrutura complexa e planaltos sedimentares ligeiramente compartimentados (300 a 1700 m de altitude, na área core). [...] Interflúvios muito largos e vales simétricos, em geral muito espaçados entre si. Área de menor densidade de drenagem e densidade hidrográfica do país [...]. Ausência de mamelonização em favor da presença de plainos de erosão e plataformas estruturais escalonadas, com rampas semicôncavas nas passagens dos diferentes níveis e discreta convexização geral das vertentes nas áreas típicas [...]. Níveis de pediplanação embutidos: planos de cimeira e plainos intermediários. [...]. Terraços cascalhentos, mal definidos nas vertentes. Complexas stone lines na estrutura superficial das paisagens. Sinais de flutuação climática e paisagística [...] (AB’SABER, 2003, p. 18). De acordo com Baccaro (1991), o relevo regional ocorre em níveis de dissecação, sendo caracterizado pelas formas, declividade, altimetria e estrutura geológica. As chapadas constituem as áreas elevadas de cimeira, apresentando relevo tabular, topos planos e altitude superior a 900 metros. As áreas de relevo medianamente dissecado consistem na transição entre as áreas elevadas de cimeira e a unidade de relevo intensamente dissecado, exibindo topos nivelados, vertentes convexas, declividades de 3° a 15° e altitude entre 700 a 900 metros. Os vales encaixados correspondem às áreas de relevo intensamente dissecado entre 500 e 700 metros, caracterizadas pela alta declividade, presença de corredeiras e cachoeiras.

Na bacia do rio Uberabinha encontram-se áreas elevadas de cimeira, áreas de relevo medianamente dissecado e áreas de relevo intensamente dissecado. O relevo ocorre em níveis de pediplanação, apresentando uma área aplainada na chapada Uberlândia-Uberaba, um nível 52

medianamente dissecado na porção da área urbana de Uberlândia e outro mais dissecado à jusante. Em cada setor encontram-se patamares controlados pela posição interfluvial, seja

pelas lateritas ou pela incipiente erosão fluvial dos cursos d’água de primeira ordem.

As áreas elevadas de cimeira (chapada) apresentam topos planos e largos, bastante espaçados entre si e vertentes suavizadas (figuras 11 e 12). A declividade das vertentes é pouco acentuada, normalmente entre 3 e 5°, sendo sustentadas pela Formação Marília e recobertas pelos depósitos Cenozóicos (BACCARO, 1989). Contudo, Batezelli (2003) descreve uma consideração sobre a configuração destas áreas, ressaltando que:

Por possuir uma grande quantidade de cimento carbonático (calcretes), e subordinadamente, cimento silicoso (silcretes), as rochas do Membro Serra da Galga conferem à região um relevo de serras tabulares (chapadas), constituindo umas das feições geomorfológicas mais marcantes na parte leste do Triângulo Mineiro (BATEZELLI, 2003, p. 40).

Figura 11. Superfície plana seguida de vertentes suavizadas na área elevada de cimeira.

Lat.: 19°21'35.3"S Long.: 47°59'21.5"W (SIRGAS 2000)

Foto: Rosa, R. M. (2016).

Figura 12. Área elevada de cimeira caracterizada pelo topo plano no ribeirão Beija-Flor.

Lat.: 19°14'35.8"S Long.: 48° 5'13.8"W (SIRGAS 2000)

Foto: Rosa, R. M. (2016).

Em algumas áreas brejosas na porção da chapada, Schneider (1996) analisou uma formação local e muito particular de relevo, conhecida como campo de murundus (figuras 13 e 14). Conforme Martins (2014), algumas hipóteses foram lançadas na tentativa de compreender a gênese destas feições, baseadas em fatores bióticos (termiteiros) e abióticos (hidrológico e geomorfológico) ou mesmo em ação conjunta. Entretanto, considera-se que:

[...] a principal característica ambiental é dada pelas extensas áreas brejosas, geralmente associadas às cabeceiras de pequenos cursos d’água ou depressões fechadas e rasas, recobertas por campos úmidos. Nelas ocorre uma interessante feição de microrrelevo dada pela presença de murundus, ou montículos de forma arredondada e convexa, de tamanhos que variam de 0,5

a 15 metros de diâmetro e altura entre 0,3 e 2,0 metros, localmente denominada covoal (SCHNEIDER, 1996, p. 40).

Figura 13. Área com covoais no ribeirão Beija-

Flor marcada pela presença de solo úmido. Figura 14. pela área brejosa e montículos arredondados.Campo de murundus caracterizado

Lat.: 19°13'0.9"S Long.: 48° 5'37.5"W (SIRGAS 2000) Lat.: 19°13'2.4"S Long.: 48° 5'32.1"W (SIRGAS 2000)

Foto: Rosa, R. M. (2016). Foto: Rosa, R. M. (2016).

As áreas de relevo medianamente dissecados possuem vertentes suaves, com topos aplainados e não raro interrompidas por rupturas sustentadas pelo material laterítico (BACCARO, 1989). Este relevo é encontrado principalmente após o entalhamento dos vales do ribeirão Bom Jardim e rio Uberabinha, quando atingem os basaltos. Na porção intermediária da bacia, o relevo medianamente dissecado também está presente entre o rio das Pedras e o rio Uberabinha (figuras 15 e 16).

Figura 15. Rampas encontradas na área de relevo medianamente dissecado.

Lat.: 18°48'17.5"S Long.: 48°24'19.8"W (SIRGAS 2000)

Foto: Rosa, R. M. (2016).

Figura 16. Superfície aplainada seguida de vale entalhado atingindo os basaltos.

Lat.: 18°49'10.6"S Long.: 48°23'40.8"W (SIRGAS 2000)

O relevo intensamente dissecado compreende principalmente a porção do fundo de vale sob as rochas do Grupo Araxá, que abrange a extensão entre a cachoeira Malagone e a foz (figura 17). Esta área possui vertentes com declividade acentuada, apresentando trechos bastante íngremes (escarpas erosivas), formando um canyon devido a capacidade de entalhamento da drenagem (figura 18). As partes mais elevadas desta região consistem em patamares estruturais, ocorrendo uma quebra abrupta na declividade em direção ao vale.

Figura 17. Entalhamento do canal principal no baixo curso da bacia.

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B ■

Lat.: 18°42'48.9"S Long.: 48°29'53.7"W (SIRGAS 2000)

Foto: Rosa, R. M. (2016).

Figura 18. Exposição do embasamento regional no vale intensamente dissecado.

Lat.: 18°40'42.4"S Long.: 48°30'20.7"W (SIRGAS 2000)

Foto: Rosa, R. M. (2016).

Os níveis de dissecação podem ser analisados pelo mapa de hipsometria (mapa 4) a partir das classes estabelecidas (100 metros). O mapa de declividade (mapa 5) também contribui para a identificação das diferenças dos processos erosivos atuantes (níveis de dissecação) em cada setor. Feltran Filho e Lima (2007) analisaram a curva hipsométrica da bacia e ressaltam que somente uma pequena parte das rochas foram removidas, enquadrando- se ainda no estágio “jovem” em relação aos processos erosivos.

A relação de relevo, proposta por Schumm (1956), consiste em uma relação entre a amplitude altimétrica máxima da bacia o comprimento do rio principal. Como a amplitude altimétrica da bacia corresponde a 478 metros, Feltran Filho e Lima (2007) chegaram ao resultado de que a relação de relevo da bacia é de 3,1 m/km. Outro parâmetro importante para análise do relevo corresponde ao índice de rugosidade, que relaciona a declividade das vertentes com a densidade de drenagem. Conforme Feltran Filho e Lima (2007), o índice de rugosidade da bacia é 268,8, indicando que, em sua maior parte, os canais são mais alongados enquanto as vertentes possuem declividade baixa ou média.