As unidades litoestratigráficas referenciadas neste trabalho são provenientes das
recentes revisões de Ramos (2003), na bacia de Resende, e Sanson (2006, na bacia de Volta
Redonda (figura 6).
Figura 6 – Diagramas estratigráficos das bacias de Resende (Ramos, 2003) e Volta Redonda (Sanson, 2006).
2.3.1 Formação Ribeirão dos Quatis
A unidade mais antiga foi reconhecida e definida como Formação Ribeirão dos Quatis
(Ramos, 1997), correspondendo, na base, a depósitos conglomeráticos com clastos de quartzo
bem arredondados passando, ao topo, a arenitos feldspáticos com estratificações cruzadas,
incluindo intraclastos de pelitos, típicos de depósitos de canais fluviais entrelaçados efêmeros
(figura 7).
Figura 7 – Litofácies da Formação Ribeirão dos Quatis: a) arenitos feldspáticos grossos com estratificação plano-paralela e intraclastos pelíticos erodido por ortoconglomerado; b) ortoconglomerado com estratificação
Esse sistema fluvial estaria restrito ao extremo leste da bacia de Resende (Ramos,
2003) e de maneira descontínua na região entre Volta Redonda e Barra Mansa (Sanson, 2006).
Segundo Ramos (2003), essa unidade teria se formado antes do evento principal de formação
das duas bacias, durante a fase que denominou como “calha de estiramento”, conforme o
modelo de evolução de rifts de Rosendahl (1987).
2.3.2 Formação Resende
A Formação Resende corresponde à unidade litoestratigráfica mais representativa em
volume e abrangência nas duas bacias e também em outras bacias sedimentares do segmento
central do RCSB. Foi definido por Amador (1975) como seção-tipo da Formação Resende o
afloramento exposto em um corte na rodovia Presidente Dutra (BR-116), em seu km 307,7,
sentido Rio-São Paulo (figura 8 e).
Esta unidade caracteriza-se predominantemente por arcósios esverdeados grossos a
finos, lamosos, com estratificação cruzada acanalada ou estrutura maciça. A Formação
Resende representa a sedimentação da fase rift, onde sistemas deposicionais de leques
aluviais, restritos principalmente às bordas das falhas principais, estão associados em suas
partes intermediárias e distais a sistemas fluviais entrelaçados e planícies de inundação
(Ramos et al. 2006; Sanson, 2006).
As principais litofácies (figura 8) são: conglomerados polimíticos matriz suportados
(leques aluviais proximais); arcósios com estratificação cruzada acanalada, lamitos
conglomeráticos (leques intermediários ou canais fluviais entrelaçados); arenitos lamosos de
estrutura maciça e argilitos bioturbados (planícies de inundação).
Figura 8 – Litofácies da Formação Resende: a e b) conglomerado polimítico matriz suportado, depósito de leque aluvial proximal; c) arcósio grosso com estratificação plano-paralela, estruturas de carga na base do depósito de canal fluvial, erodindo argilito bioturbado da planície de inundação; d) arcósio com estratificação cruzada acanalada; e) aspecto do afloramento da seção-tipo, onde observam-se arcósios em geometria de lentes estendidas intercalados a lamitos arenosos bioturbados; f) depósito de arenitos finos lamosos, de estrutura maciça e geometria tabular a lenticular estendida.
Associados a elementos de planícies de inundação, Ramos (1997) observou calcretes
de origem pedogenética, em afloramentos da bacia de Resende. Sanson (2006), em Volta
Ramos (2003) redefiniu a Formação Itatiaia, individualizando dois membros na
Formação Resende: Membro Itatiaia, abrangendo depósitos de leques aluviais e fluviais com
grande quantidade de clastos de rochas alcalinas, aflorantes na base dos maciços de Itatiaia e
do Morro Redondo; e Membro Acácias, que corresponderia a um sistema fluvial entrelaçado,
disposto no topo da Formação Resende. O Membro Acácias apresentaria uma relação de
contato caracterizada por uma aparente gradação lateral e vertical com os depósitos típicos da
Formação Resende.
A Formação Resende encontra-se em inconformidade ao embasamento, sendo obscuro
o contato desta com unidade subjacente, a Formação Ribeirão dos Quatis.
Na bacia de Volta Redonda a Formação Resende assenta-se em inconformidade ao
embasamento, limitada no topo em discordância erosiva pela Formação Pinheiral ou por
sedimentos do Quaternário. A área que preservou a maior parte do volume sedimentar desta
bacia encontra-se a sul da região metropolitana, conhecido como graben Casa de Pedra.
2.3.3 Basanito Casa de Pedra
Na bacia de Volta Redonda acima da Formação Resende, localmente intercalados, em
contato concordante encontram-se derrames de ankaramito (figura 9), manifestações
ultramáficas provocadas provavelmente, segundo Riccomini et al. (1983), pelo afinamento
crustal durante o esforço distensivo da fase rift. Estes derrames ocorrem no graben Casa de
Pedra, intercalados ao topo da Formação Resende, datados em 43,8 ± 6,2 e 41,7 ± 5,7 Ma pelo
método K-Ar (Riccomini et al., 1983; 1991), e em 48,3 ± 0,5 e 47,6 ± 0,7 Ma pelo método
Ar-Ar (Riccomini et al., 2004). A mineralogia destas rochas, de textura afanítica, é
representada basicamente por piroxênio e olivina.
Figura 9 – Afloramento do Basanito Casa de Pedra, derrames de ankaramito alterado por pedogênese recente, próximo ao Bairro Jardim Tiradentes em Volta Redonda, em contato concordante com a Formação Resende.
2.3.4 Formação Pinheiral
Na bacia de Volta Redonda, arenitos fluviais feldspáticos e conglomeráticos,
sobrepostos em discordância à Formação Resende, foram denominados por Sanson (2006) de
Formação Pinheiral (figura 10). Esta unidade é muito representativa na área do afloramento
da Rodovia do Contorno em Volta Redonda, observada nos cortes da estrada, onde
expressivos depósitos de canais cascalhosos erodem os depósitos lamosos esverdeados da
Formação Resende.
A Formação Pinheiral caracteriza-se por depósitos de canais fluviais quase sempre
amalgamados, preenchidos por arcósios conglomeráticos e conglomerados clasto suportados
com seixos de quartzo leitoso muito bem arredondados. Estes depósitos de canais e barras
arenosas e cascalhosas estão associados lateralmente a delgadas camadas lenticulares de
pelitos laminados arroxeados, onde foram observados vestígios vegetais de gramíneas em um
nível de uma espessa camada pelítica.
Figura 10 – Litofácies da Formação Pinheiral na bacia de Volta Redonda: a) imbricação de clastos na base de um depósito de ortoconglomerado; b) depósitos de conglomerados com estratificação cruzada acanalada; c) contato erosivo entre argilitos bioturbados (base) com depósitos de canais cascalhosos (topo) da Formação Pinheiral; d) aspecto em planta do assoalho dos depósitos conglomeráticos, compostos por clastos arredondados imbricados de quartzo leitoso. (Fotos: Claudio Marques).