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PARTE II: Avaliação da qualidade jornalística do Jornal Nacional

3.4 Unidades temáticas ambientais

A base de estudo da cobertura ambiental, utilizada nesta pesquisa, emprega a essência do modelo proposto por Ungaretti (1998), que formulou um conjunto de 11 unidades temáticas ao analisar, durante o decurso de um ano, o conteúdo da página diária de meio ambiente do jornal Gazeta Mercantil32. De forma geral, a formulação do autor foi preservada, sobretudo no que se refere ao subconjunto de quatro “índices” de cada unidade temática – ao que chamamos de microtemas. Já o conceito básico de “unidades temáticas” corresponde, neste trabalho, ao que apresentamos como macrotemas33.

Contudo, algumas unidades temáticas e índices foram submetidos à revisão, para adequação ao momento histórico e ao modelo jornalístico atual. Além de fundamentar o significado de cada macro e microtema, em termos de enquadramento informativo, faremos adiante a explicação dos ajustes operados ao modelo original, que chamamos

32 O periódico impresso, com foco na Editoria Economia, dedicava determinada página do jornal a pautas de Meio Ambiente. Fundado em 1920 como boletim diário do mercado, preservou por décadas a alcunha de jornal econômico mais tradicional do Brasil. Extinto em 2009, ressurge em remodelagem unicamente digital sete anos depois.

89 livremente de “mapa de Ungaretti” – observe no Quadro 3. E na sequência, apresentaremos o modelo final, destinado ao objetivo empírico.

Quadro 3 – Mapa de Ungaretti - Unidades temáticas ambientais

Unidades temáticas Índices

Cód. Unidades 1 2 3 4

1 Urbanismo Planejamento Crescimento Qualidade de vida

Outras

2 Recursos Hídricos Abastecimento Poluição Recuperação Outras

3 Reciclagem Domiciliar Industrial Novas tecnologias

Outras

4 Camada de Ozônio Proteção/Novas tecnologias

Legislação Ciência Outras

5 Ocorrências Naturais Provocadas Ação ambientalista

Outras

6 Oceanos Nacional Internacional Recursos Outras

7 Matrizes Energéticas Racionalização Alternativas Previsões Outras

8 Desenvolvimento Sustentabilidade Agências Ação empresarial

Outras

9 Política Ambiental Flora Fauna Solo Outras

10 Nuclear Segurança/ Acidentes

Utilização Programa nacional

Outras

11 Legislação Nacional Internacional Disputas/ Ações

Outras

Fonte: Ungaretti (1998).

Os critérios adotados por Ungaretti (1998) assemelham-se aos objetivos desta análise empírica, visto que considera “o cruzamento de temas da literatura ambientalista e temas indicados pela denominada leitura flutuante ou primeiro contato com o material pesquisado” (p. 57).

A todas as 44 unidades de informação, o autor aplicou uma escala de favorabilidade conforme o espaço e o tratamento dados pelo jornal: de 10 a 50 pontos, que variavam de muito desfavorável a muito favorável. Nos resultados da pesquisa, a unidade “Política Ambiental” registrou a melhor pontuação (30,64), com destaque para o índice “Flora”, que obteve a melhor centimetragem (2.867 cm). E a pontuação mais baixa (2,98) ficou com a unidade “Oceanos”, sendo a maior parte dela formada por notícias sobre ocorrências envolvendo grandes navios petroleiros.

No processo de atualização da grade de leitura, foram feitos movimentos de revisão, inclusão e exclusão de macro e microtemas. Alguns ajustes são sutis e outros são

90 mais severos, à medida do refinamento necessário. Iremos explicar cada um deles e vamos iniciar pela exclusão de quatro unidades temáticas (chamadas agora de macrotemas).

A primeira unidade excluída chamava-se “Nuclear”, que figurava na análise-base como sétimo tema de maior peso, mas não obtém consistência para a nova configuração, em termos de agendamento. A opção pela exclusão dessa unidade temática, porém, é reanalisada tendo em vista a permanência do macrotema “Matrizes Energéticas”, e consequentemente do microtema “Alternativas”.

A segunda exclusão se refere à unidade “Oceanos”, que respondia pela menor frequência noticiosa no modelo inicial e, agora, é analisada como sendo incorporada ao macrotema “Recursos Hídricos”. O item geral e suas ramificações podem atender a uma relevante demanda nacional, dadas as configurações geográficas, sociais e ambientais do Brasil.

Também foi suprimida a unidade temática “Recursos Hídricos”, que se revelava como quinto tema mais noticiado à época da pesquisa de Ungaretti (1998). Contudo, o assunto continua em evidência no modelo revisto, sob duas formas: em uma nova unidade (Recursos Naturais) e na unidade mantida “Matrizes Energéticas”.

E a quarta e última exclusão é da unidade temática “Política Ambiental”, que obtém liderança de publicações no mapeamento original. De modo semelhante às demais, os assuntos correspondentes são redirecionados a outras seções. E conforme apresentaremos adiante, foi criado o macrotema “Governança Ambiental” (uma reformulação da unidade “Legislação”), para abarcar notícias de certa correlação e abordagem, originadas normalmente de fontes oficiais dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).

Justificadas as exclusões, passaremos a explicar o movimento inverso, que resultou na criação de três macrotemas: Biodiversidade, Produção de Alimentos e Recursos Naturais.

O primeiro deles ganhou o número mais sucinto de microtemas. Flora e Fauna respondem, objetivamente, à necessidade do público por notícias sobre a realidade distante das florestas, matas e demais ecossistemas descolados da cidade. Mas também podem trazer reportagens sobre aspectos da vida animal e vegetal que sobressaem ao cotidiano urbano.

91 Contribuiu para a inclusão, de um lado, a urgência do tema relatada em documentos públicos (como veremos na agenda política) e, de outro, o aumento do interesse pelo assunto desde o advento do conservacionismo. O movimento é ampliado no Brasil no fim da década de 1950, mas ganha força noticiosa e política décadas depois – conforme detalhamento em tópico mais adiante (vide 3.4.5).

O segundo macrotema incluído (Produção de Alimentos) resolve a ausência da melhor correspondência factual à relação contemporânea entre meio ambiente e saúde humana. No século XXI, a busca do homem urbano por mais qualidade de vida envolve, fundamentalmente, a adoção de práticas saudáveis de consumo de alimentos, ao que se chama reeducação alimentar. A reboque, aumenta o interesse em notícias sobre produção agropecuária, notadamente a respeito do uso de agrotóxicos e das alternativas empregadas pela livre cultura orgânica e agroecológica. Portanto, o assunto recebe três microtemas: Agrotóxicos, Agroecologia e Novas Tecnologias.

Em outras palavras, a inclusão justifica-se pela atualidade do assunto nas esferas de discussão midiática e da opinião pública, em virtude do novo front temático do repertório popular. E a qualidade de vida de cunho coletivo é, para efeito de pesquisa, melhor rotulada em outra seção: o microtema “Qualidade de Vida”, contido no item “Urbanismo”.

Por fim, a criação do terceiro macrotema (Recursos Naturais) abraça a relação oferecida pelo primeiro (Biodiversidade). Por meio dos microtemas Água, Solo e Ar, pretende-se arrematar em agrupamento o terreno de sedimentos à discussão sobre “conservação do meio ambiente”. Além disso, pretendemos designar sob o mesmo rótulo todas as notícias sobre abastecimento, poluição e recuperação de rios e nascentes, entre outros assuntos correlatos ao microtema Água – ao contrário da divisão sugerida pelo modelo inicial na unidade extinta Recursos Hídricos.

Todos os macro e microtemas compilados podem ser observados no Quadro 4. Além das três inclusões e quatro exclusões operadas, optamos pela manutenção integral de quatro outras unidades temáticas (agora macrotemas): Ocorrências; Reciclagem (renomeada como Resíduos Sólidos); Urbanismo; e Matrizes Energéticas. E o último movimento é a revisão dos quadros das três unidades restantes.

92 Essas três seções não são totalmente retiradas do modelo, mas submetidas a movimentos de ajustes graduais, que resultam nos novos nomes: Temperatura e Mudanças Climáticas; Governança Ambiental; e Inovação e Desenvolvimento.

A primeira delas tinha outro nome popular à época da pesquisa de Ungaretti (1998). Chamava-se “Camada de Ozônio”, em referência ao tema de grande atenção midiática desde o ano de 1979, mas perde o status de item geral nesta sistematização. Agora, o novo macrotema (Temperatura e Mudanças Climáticas) passa a representar todo o conjunto de debates em torno de assuntos relevantes da pauta atual, sobretudo se observarmos a linha adotada pelos encontros ambientais que reúnem os principais líderes mundiais desde a década de 1970.

No modelo proposto, retira-se o índice “Legislação”, que assim como o tema “Camada de Ozônio”, pode ser enquadrado no item Outros. E no arremate da análise, é feita a inclusão de um microtema essencial para a análise do Jornal Nacional: “Previsão do Tempo34”.

O segundo movimento de ajustes é operado na unidade temática “Desenvolvimento”, que passa a ser considerada como macrotema “Inovação e Desenvolvimento”. Na configuração atualizada, os índices “Agências” e “Ação Empresarial” são unidos em um só microtema (Agências e Empresas) e três microtemas são acrescentados: Sustentabilidade; Ciência; e Ativismo – este último resulta de contribuições recentes de movimentos sociais populares, desde iniciativas individuais até ações desenvolvidas por organizações sem fins lucrativos, como as ONGs – Organizações Não Governamentais.

De ordem pontual, a terceira sequência de mudanças atinge a unidade “Legislação”. Conforme citado anteriormente, o novo macrotema “Governança Ambiental” agrupa notícias relacionadas a esferas do poder governamental, legislativo e judiciário. Os índices originais (agora microtemas) são mantidos: Nacional; Internacional; e Disputas/Ações.

34 Conforme informado anteriormente, excluímos da análise as matérias contidas na coluna fixa sobre Previsão do Tempo (vide item 3.2).

93

Quadro 4 – Mapa atualizado de unidades temáticas ambientais

Macrotema Microtemas Temperatura e Mudanças Climáticas Previsão do tempo Proteção/Saúde Ciência Comportamento Outros Ocorrências Naturais Provocadas Ação ambientalista Outros Governança Ambiental Nacional Internacional Disputas/Ações Outros Inovação e Desenvolvimento Sustentabilidade Agências e empresas Ciência Ativismo Outros Biodiversidade Flora Fauna Outros Resíduos Sólidos Domiciliares Industriais Novas tecnologias Outros Produção de alimentos Agrotóxicos Agroecologia Novas tecnologias Outros Urbanismo Planejamento Crescimento Qualidade de vida Outros Recursos Naturais Água Solo Ar Outros Matrizes Energéticas Racionalização Alternativas Previsões Outros

Elaborado pelo autor, adaptado de Ungaretti (1998).

Antes de apresentar as matrizes de relevância temática, que darão corpo e refinamento à pesquisa empírica, é necessário fundamentar o entendimento sobre os

94 macrotemas escolhidos. O que significa cada nome? Que tipos de notícia contém cada um deles? Essas e outras questões recebem explicações suficientes à compreensão dos aspectos de realidade recortados em cada seção ou quadro noticioso, conforme detalhamento a seguir.

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