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5.2 Da universidade a universidade empreendedora: concepções de

5.2.2 Universidade e desenvolvimento regional: qual desenvolvimento?

Tendo em vista a centralidade do fator desenvolvimento para a configuração de uma universidade empreendedora, conforme anteriormente destacado, questionou-se aos entrevistados quais as principais relações percebidas entre universidade e desenvolvimento regional, visando uma melhor compreensão acerca dessa questão.

A partir disso, pode-se perceber a existência de uma visão plural no que tange aos aspectos em que as universidades e, em específico, a UFPel, podem contribuir para o desenvolvimento da região onde se inserem.

Ganham relevância os aspectos acadêmicos voltados à formação, qualificação profissional, desenvolvimento de pesquisas e projetos de extensão, como contributos fundamentais ao desenvolvimento da região nos seus variados aspectos por estabelecerem vínculos sociais dialógicos muito fortes, conforme destacado:

A universidade hoje, a UFPel, ela é o principal vetor de desenvolvimento

econômico dessa região aqui do Estado. Então, o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento turístico, o desenvolvimento geográfico, até

de aumento de volume de gente circulando. Então, todos eles estão totalmente vinculados à UFPel (E10).

A UFPel contribui muito para o desenvolvimento do território da região sul, para a cultura da região sul. Mas, obviamente, tendo um olhar crítico, a gente vê diversas oportunidades perdidas ou não valorizadas ou adormecidas, digamos assim. Tem uma contribuição absolutamente relevante, então, começa por aí. Toda a produção do conhecimento, as atividades acadêmicas

depois tem todas as possibilidades de desenvolvimento tecnológico e

econômico (E9).

Ademais, a partir das análises das entrevistas, destaca-se a percepção de alguns dos entrevistados com relação à importância da contribuição da universidade no sentido de dar respostas a problemas da sociedade através da produção de conhecimento, as quais poderão influenciar no desenvolvimento regional. Para tanto, ressalta-se que as universidades devam estar atentas as demandas advindas da sociedade visando fornece-lhes retornos adequados, tal como pode ser evidenciado nas duas falas que seguem:

Mas a universidade, sim, ela tem que ter um papel regional de fato, acredito que isso não é o que aconteça de forma muito intensa, mas ela deveria, no seu contexto, trazer respostas para questões regionais, que são soluções de

fronteira, soluções que a universidade tem a expertise, tem os pesquisadores,

tem um corpo que possa estar dando respostas para aquele problema

regional. No caso do Rio Grande do Sul, questões ligadas à agricultura, na

nossa região são importantes, à agropecuária, à própria saúde, mas a saúde, as vezes, engloba uma questão mais nacional ou de maior espectro. Mas, questões pontuais, principalmente ligadas, por exemplo, ao bioma pampa a Universidade Federal de Pelotas e outras instituições da região trazem respostas, trazem potenciais soluções, potenciais medidas para avançar nesse segmento (E11).

Hoje a gente tem muitas pesquisas que partem de dentro da instituição para fora. Muitas vezes o pesquisador ou o professor gere uma demanda que na cabeça dele é importante e tenta transferir para a região ou para o contexto onde a faculdade está inserida. Eu acho que tinha que ser ao contrário, eu acho que de alguma maneira a universidade tinha que entender, através de conversas com prefeituras, com associações, com diálogo mais diretamente com a população, e entender qual que é a necessidade desta população, qual que é a carência dessa população, não só a população, mas uma associação de produtores rurais ou empresas que estão inserida e entender qual é a

demanda, a necessidade daquele nicho e, a partir daquela demanda, a universidade gerar as suas ações. Eu acho que em muitos casos, ainda, a

gente tem ao contrário, as ações partem de dentro de dentro da instituição sem saber se é aquilo mesmo que a nossa região precisa (E2).

Nesse contexto, a universidade passa a assumir uma característica de prestadora de serviços, onde a mesma deve estar atenta as demandas e aos problemas locais para, de pronto, ir em busca de possíveis soluções através de seu corpo docente e discente.

Em geral, percebe-se a defesa de uma concepção de universidade que é parte integrante da sociedade. Tal posicionamento pode ser vislumbrado a partir da fala daqueles que defendem um maior estreitamento das relações entre universidade e comunidade, bem como daqueles que defendem uma concepção de universidade

como, nos termos de Polanyi (2000), um acessório do mercado. Esse delineamento, além de repercutir no âmbito universitário uma forma de atuação proativa e multifuncional que remota a atuação empresarial, favorece e é utilizado como estratégia discursiva para a que as universidades passem a dar atenção e a incluir como um dos aspectos fundamentais de sua atuação as contribuições em prol do desenvolvimento econômico regional centrado na valorização mercadológica e, sobretudo, empresarial.

Esse aspecto foi ressaltado por nove entrevistados, ainda que, na visão de alguns deles, de forma complementar a outras facetas do desenvolvimento.

E, mais recentemente, a universidade despertou pra algo que é uma das coisas que eu vejo que a gente está bastante atrasado, que é nessa questão do empreendedorismo, na questão de focar em inovação. A incubadora tem uma história muito recente, ela começou em 2015. Então, a gente ta caminhando e engatinhando nesse processo, e aí que eu aposto como sendo algo realmente transformador, que gere impacto pra região, algo que vai

movimentar a economia e tudo isso (E3).

A universidade tem várias, digamos, frentes de atuação com a região. A universidade tem atuação desde a formação das pessoas que vão atuar na região como profissionais, os convênios que a universidade tem com diversas entidades da cidade e de outras cidades, convênios com prefeituras para diversas atividades, e, para o desenvolvimento, que a universidade, talvez, esteja ainda engatinhando, é o convênio ou a interação com empresas e

órgãos que estão ligados à atividade econômica da cidade. No último ano,

digamos assim, a gente estabeleceu já um convênio com a sociedade, que, digamos assim, trabalha mais com inovação dentro da cidade, que seria o Pelotas Parque Tecnológico. Então, hoje a universidade levou a sua incubadora de empresas para dentro do Parque Tecnológico para, digamos, trabalhar dentro do ecossistema de inovação que a gente chama, que a gente tem dentro da cidade, levar as empresas que a gente tem lá para dentro para que as empresas interajam com outras empresas maiores e que dali saiam negócios novos e que isso possa alavancar o desenvolvimento não só das

empresas da universidade, mas que isso possa aumentar, digamos, até o próprio desenvolvimento da região, seja gerando empregos, atraindo novas pessoas para trabalhar dentro dessas empresas que estão sendo geradas

dentro do parque (E12).

Pode-se observar que a incubadora de empresas, além dos convênios entre universidade e empresas são exaltados como importantes dispositivos que contribuem para o desenvolvimento, principalmente, centrado no aspecto econômico empresarial, ou seja, é a universidade criando novas configurações organizacionais e novas formas de interagir com a sociedade tendo como referência a empresa e o seu modelo gerencial, justificados sob a positividade do desenvolvimento econômico.

Essa noção fica mais claramente visível quando abordado diretamente o tema da universidade empreendedora, conforme será exposto no próximo subitem.