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CAPÍTULO 2 PENSAMENTO LIBERAL DA INGLATERRA À

2.4.2 Universidade e Sociedade

Os próximos trechos, retirados da ata do Terceiro Congresso de Trabalhadores da Liga Patriótica Argentina, (Buenos Aires nos dias 20, 22 e 23 de maio de 1922) nos interessam não só por ser esta ata um documento da época, ilustrando parte do pensamento político, mas também por alguns dos participantes, ou melhor, conselheiros da Liga Patriótica, como Dr. Emilio Bunge. Vemos aqui como era vista a ciência econômica por parte da sociedade argentina, assim como da própria Faculdade de Ciências Econômicas. A proposta da Liga é definida, nas palavras de abertura de seu presidente, Dr. Manuel Carlés: “Como temos proposto fazer uma grande obra inspirada na filosofia positiva do bem-estar possível, dentro do Estado regulador do equilíbrio social e baixo um governo justo, protetor dos desvalidos e precursores da fraternidade universal” (CONGRESO NACIONALISTA DE TRABAJADORES, 1922, p. 28). Certa crítica ao governo assim como uma crença na ciência podem ser notadas em trechos como: “Cientificamente, o Estado como entidade jurídica e a sociedade deviam funcionar armonicamente no desenvolvimento das ideias modernas que tendam ao melhoramento social” (CONGRESO NACIONALISTA DE

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TRABAJADORES, 1922, p. 352). De caráter eminentemente positivista , a Liga tem, em

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Desenvolvido por Auguste Comte, o positivismo é uma maneira de pensar baseada na suposição de que é possível observar a vida social e reunir conhecimentos confiáveis, válidos, sobre como ela funciona. Esses conhecimentos poderiam ser usados para afetar o curso da mudança e melhorar a condição humana.

Comte acreditava que a vida social era governada por leis e princípios básicos que podiam ser descobertos através do uso dos métodos mais comumente associados às ciências físicas. Da forma como evoluiu desde os dias de Comte, o positivismo afirma também que a sociologia devia interessar-se apenas pelo que pode ser observado com os sentidos e que as teorias de vida social deveriam ser formuladas de forma rígida, linear e metódica, sobre uma base de fatos verificáveis (JOHNSON, 1997, p. 179).

uma de suas comissões nesse congresso, na apresentação de Rodrigo Heffter, o objetivo de analisar as Universidades e o Fomento Industrial, iniciando seu estudo com a discussão de mudança na didática de ensino e a adequação do método de investigação dos cursos de seminário às faculdades, passando a explanar sobre o Curso de Economia,

Mas se de alguma Faculdade deve esperar-se e exigir-se a resolução das grandes questões nacionais, é a de Ciências Econômicas. Seu campo de ação precisa praticamente de limites. Um depois de outro, precipitadamente, quase à maneira de aluvião, os problemas econômicos e financeiros tem ido assentando-se no cenário nacional e vinculando-se a questões da mesma índole, surgidas no mais vasto cenário internacional.

Seu estudo deixa, até o presente, muito que desejar, porque nem a administração tem possibilidade de fazê-lo, nem os homens públicos, absorvidos por preocupações de outra natureza, que tanto tempo lhes rendem, se encontram em melhor disposição.

O trabalho deve ficar confiado aos grupos técnicos, vale dizer, aos alunos dirigidos por seus professores. Não só se alcança assim uma aprendizagem valiosa na manipulação dos métodos de investigação, sendo que envia ao país um acervo de fatos básicos para qualquer solução (CONGRESO NACIONALISTA DE TRABAJADORES, 1922, p. 161).

Nota-se no trecho anterior uma pequena referência aos técnicos que poderiam melhor estudar a economia do que os políticos, na verdade dividindo-os em duas categorias distintas. A importância do estrangeiro como superior ao argentino é expressa na visão política destes participantes da Liga, de como os assuntos estrangeiros eram tratados antes dos assuntos nacionais dentro do cotidiano político,

O ensino superior no país se ressente, em geral, da influência preponderante que o estrangeiro chega, ao extremo de que não é de todo aventureira a afirmação que se fez sobre de que conhece mais os fatos da Europa do que os da Argentina. Desta mania, da citação precisa sobre situações e antecedentes estranhos ao país não se vem livres, certamente, os homens de governo. O diário de debates de nosso Parlamento onde o estranho de fala ao detalhe e onde o nosso passa inadvertido, constitui uma prova determinante do que falamos (CONGRESO NACIONALISTA DE TRABAJADORES, 1922, p. 162).

O que explica em parte o caráter nacionalista da organização e o direcionamento da Comissão de Assuntos Econômicos na busca de “dedicar a investigação dos fatos nacionais um máximo de atenção, se é que se deseja chegar a fazer efetiva e íntima a vinculação do país com a Universidade. Em uma palavra: Tem que começar a se fazer ciência argentina, baseada em fatos e de soluções argentinas” (CONGRESO NACIONALISTA DE TRABAJADORES, 1922, p. 162). Sendo assim, o estrangeiro que no início do desenvolvimento do Estado argentino era visto, pelo conhecimento que detinha, como

figura importante e superior ao nacional, agora se encontra na posição de elemento prejudicial na busca da identidade nacional do argentino.

Primeiramente nesse capítulo, buscou-se delinear a tradição predominante na época, a saber, a crença no padrão-ouro e no liberalismo, e sua recepção na Argentina. Buscou-se, assim, demonstrar como a mesma estava presente nos estudos da UBA em décadas de influência das escolas inglesa e francesa nos programas didáticos e entre seus professores. Nesta última seção nos aprofundamos em como essa influência foi transmitida pelos mestres de Prebisch para acabar fazendo parte de seu sistema de crenças, juntamente com suas experiências pessoais.

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