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Pedagogia do Oprimido é frequentemente apontada, por críticos, estudiosos e pesquisadores da área da educação e da pedagogia como uma das principais obras do acervo bibliográfico escrito por Paulo Freire. Citada e considerada por muitos pesquisadores e estudiosos da área educacional como sendo uma herança, uma marca, uma obra técnica- reflexiva que denota e evidencia a necessidade dos laços de amor, libertação e emancipação, que precisam cercar intrinsecamente o relacionamento didático-instrutivo entre educador e educando.

Nessa obra, tem-se um educador brasileiro, que se dedica e empreende, através de suas ideias, pensamentos, práticas a ações, ascender internacionalmente, a favor de uma educação que respeite e contemple as especificidades do educando, e elimine a mão de ferro, as práticas de uma educação bancária, dos professores no processo de ensino e aprendizagem, que vai além dos quatro cantos de uma sala de aula.

O livro foi escrito em 1968 e publicado inicialmente em inglês, durante o tempo em que Paulo Freire estava exilado no Chile. É válido destacar que o Brasil e várias nações do mundo passaram por insurreições, convulsões sociais, além de guerras e confrontos que até hoje influenciam o contexto sócio democrático internacional. Ao elucidar tais tensões, o Brasil passava pelo doloroso e repugnante período arbitrário, violento e assassino da Ditadura Militar. No âmbito global, Estados Unidos e União Soviética encabeçavam a Guerra Fria, período que se estendeu de 1947 a 1991. Outro fato histórico marcante, nos anos 1960, foi construção do Muro de Berlim na Alemanha, que evidenciava fisicamente a divisão da capital alemã em oriental e ocidental. Para fundamentar tais afirmações acerca da escrita e produção da obra Pedagogia do Oprimido por Paulo Freire e o contexto social crítico nacional, Pimentel (2009) afirma que:

O livro Pedagogia do Oprimido, escrito em meados de 1968, enquanto Freire cumpria exílio no Chile, anuncia a opressão do povo brasileiro. O livro, segundo

49 Freire, foi tomando forma, primeiro, na oralidade e, depois, graficamente: 1. Com os importantes estímulos que Freire recebeu dos amigos novos ou dos reencontrados em seu exílio; 2. O espaço político, social e educativo muito dinâmico, desafiante e propício naquela época no Chile; 3. Pelo resultado positivo de seu trabalho de coadjuvante na reestruturação educacional do Chile (PIMENTEL, 2009, p 55). Até meados dos anos 1970, a obra foi traduzida para diversas línguas, como espanhol, italiano, alemão, holandês, sueco e demais idiomas já mencionados na seção 2.3. A primeira edição em português surgiu em 1975.

Em Pedagogia do Oprimido, tem-se evidenciada a relação opressora, que deve ser desconstruída, entre educando e educador. O primeiro capítulo expõe a justificativa da obra, a relação tóxica entre opressores e oprimidos e como os opressores podem superar-se. O segundo capítulo aborda a concepção bancária da educação como arma para oprimir os educandos e apresenta uma das ideias mais famosas máximas escritas por Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo”. (ALVES, 2013). O terceiro capítulo relata a importância do diálogo no processo educacional, além de retratar os Temas Geradores e metodologias afins. O último capítulo discorre sobre a noção e caracterização da Teoria da Ação Antidialógica, assim como a essencialidade dos aspectos culturais.

Paulo Freire, através de Pedagogia do Oprimido, delineia que a educação é considerada libertadora, pois as pessoas, cotidianamente, estão imersas em múltiplas circunstâncias e contextos opressivos. Infelizmente, muitos desses sujeitos não percebem a situação em que estão envolvidos. A educação de princípios e valores libertadores proporciona aqueles que estão sob o julgo dos opressores, identificar e questionar os contrastes e demais incoerências sociais em que estão entregues através do status quo. Um clássico e perceptível exemplo dessa desigualdade, no que tange à relação de poder em opressores e oprimidos, é a discrepância social que existe entre as pessoas de famílias abastadas que possuem mesas fartas ao fazerem suas refeições e aquelas que não têm o que comer e que vivem nas ruas, ao relento, implorando por migalhas para saciar sua fome.

Educacionalmente, o professor, em sala de aula, ao lidar com alunos que vivenciam essas desigualdades sociais, tem um discurso reproduzido e evidenciado pelo opressor ao oprimido, que é o do destino, da infelicidade, e da desgraça, e de que as coisas são dessa forma mesmo, pois o sujeito que sofre opressão não se esforçou suficientemente para superar o contexto de inferioridade em que está inserido.

Através da educação problematizadora apresentada em Pedagogia do Oprimido, os sujeitos devem conscientizar-se e questionar o lugar onde estão. Dessa maneira, há uma

50 perspectiva de transformação das contradições sociais e, a partir disso, existe a viabilidade de mudança do status quo. À vista disso, os opressores, na totalidade semântica que envolve este termo, não são atores sociais distantes, mas são e estão próximos daqueles que oprimem. Um sujeito pode ser opressor em diversos tipos de relação com o oprimido, por exemplo: professor e aluno, chefe e chefiado, intérprete e interpretando, político e povo, entre as diversas formas de estrutura e organização social.

Vale a pena expor que, na referida obra, Paulo Freire admite que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. Através dessa afirmação, pode-se compreender que as lutas que contrapõem os discursos e atitudes dos opressores aos oprimidos, nos diversos contextos possíveis, devem acontecer de forma coletiva e não individualmente. Em ações solitárias, o oprimido não tem como modificar o arranjo social desigual e opressor em que está inserido.

A pedagogia que proporciona a independência requer união e diálogo, que combinados proporcionam o encontro de ideias, pensamentos e elaboração de ações, para que o grupo chegue a um denominador comum, em prol do bem coletivo, diferentemente do que abordado pela educação bancária, metodologia de ensino e aprendizado veementemente questionada por Freire.

A educação bancária é uma metodologia opressora, na qual o professor não respeita as especificidades e demais peculiaridades dos alunos, os oprimidos, inseridos em sala de aula. Nessa forma de ensinar, o professor despeja todo conteúdo programático sobre os alunos, sem o mínimo diálogo e possibilidade de ser questionado e interpelado sobre o que está sendo ministrado. A figura do professor é a detentora de todo o conhecimento e do saber, e os alunos são meros espectadores e repositórios do que está sendo oferecido.

Em contrapartida, em Pedagogia do Oprimido, o processo educacional defendido por Paulo Freire deve obedecer às características com compõem o educando, na amplitude das variáveis que formou e forma esse sujeito, sendo que ambos, educador e educando, através do diálogo, constroem o conhecimento. Dessa maneira, o educador entende a perspectiva dos educandos, sobre o conteúdo que está sendo ensinado e, assim vai permeando o processo de ensino e aprendizagem, fazendo com o os alunos reflitam, adquiram senso crítico e se tornem, desse modo, sujeitos e cidadãos questionadores.

Outro fator específico que Paulo Freire trata em Pedagogia do Oprimido é a relação entre as variáveis teoria e prática, que sozinhas não produzem resultado educacional almejado. É indispensável uma ponderação mediativa de cunho crítico-reflexivo entre essas

51 duas prerrogativas, ou seja, a teoria orienta e oferece princípios e fundamentações para a prática. Em contrapartida, a prática oferece fatos e subsídios para modificações e aperfeiçoamento da teoria. Freire dá o nome de práxis a esse relacionamento teórico-prático na educação problematizadora, que proporciona indagações e fomenta a transformação social, com a diminuição das desigualdades e abreviação contínua dos laços que ligam os opressores e os oprimidos.

De acordo com as características e atributos expostos, Pedagogia do Oprimido foi, é e tem tudo para continuar sendo a obra de maior destaque, referência e influência educacional de Paulo Freire, pois as relações de poder, em quaisquer esferas, entre opressores e oprimidos, ainda são uma realidade que infelizmente reverbera-se nos espaços educacionais e sociais.

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