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Universidade: um histórico espaço de diferenças e mudanças

No documento Paulo Roberto Rodrigues Simoes (páginas 94-98)

O termo universidade está ligado a muitos outros – cultura, ciência, ensino superior, pesquisa, autonomia, etc. – que devem ser conjuntamente compreendidos.

Segundo Almeida (2001), a universidade, da maneira como a entendemos hoje, surgiu na Idade Média. No entanto, desde a antiguidade, antes mesmo da fundação das primeiras universidades na Europa, já existiam grandes centros de ensino voltados para a educação de adultos (p.50).

É importante refletir que histórica e socialmente a Universidade tem origem entre grupos privilegiados e um dos seus principais objetivos era a formação de uma elite aristocrática.

Wanderley (1994), resgatando a origem e desenvolvimento das Universidades, assinala que são herdeiras das instituições do mundo greco-romano, as universidades foram assumindo uma forma específica no contexto religioso do Oriente islâmico e do Ocidente cristão (p. 15).

O autor, caracterizando as universidades medievais, aponta que sua tônica estava voltada para o saber como um fim em si mesmo, o saber desinteressado. Criadas para formar uma elite aristocrática, depois complementada por uma elite de mérito, elas vão sofrendo mutações através dos tempos e se adequando às novas condições impostas pela realidade. Com a Revolução Industrial e a consolidação do modo de produção capitalista, surgem exigências de especializações e técnicas que se ajustassem à nova divisão social do trabalho.

Esclarece que sob o influxo e a disseminação das ideias liberais, buscou-se a integração entre o ensino e a pesquisa, e nesta perspectiva vai nascer a universidade de Berlim, em 1810. Paulatinamente, as universidades terão que se adequar aos processos de desenvolvimento econômico e social segundo as características peculiares de cada nação. Pensadas para formar então os filhos da burguesia, logo serão pressionadas a atender aos reclamos de mobilidade social dos filhos da classe média (Wanderley, 1997 p. 18). IIustrando tal característica, vemos no gráfico abaixo a representação do pouco acesso ao curso superior pela população brasileira nas diversas regiões, mas destacando que as regiões mais

industrializadas apresentam maior número de pessoas com curso superior (incompleto ou completo).

Gráfico 16

Fonte: ABRAMO e BRANCO (2005, p. 371)

Pouco a pouco se transformam no lugar apropriado para conceber a permissão para o exercício das profissões, através do reconhecimento dos títulos e diplomas, conferidos por órgãos de classe e governamentais. Algumas instituições mantêm ainda hoje a configuração de instituição que congrega a reunião de um número ―x‖ de faculdades; outras mais modernas já nasceram de forma mais integrada (Wanderley, 1997, p.18).

Fruto da tradição e com variações de tempo e lugar, três traços marcaram a ideia de universidade: comunidade, imunidade e universalidade.

No Brasil, o sistema foi fragmentado em escolas de ensino superior, e a criação da primeira universidade se deu em 1920, no Rio de Janeiro, sem ser concretizada. Naquela época, as elites espanholas tinham para a sua formação um variado sistema universitário, cuja contribuição maior, nos séculos XVI e XVII, foi dada nos campos das artes e da literatura e menos na ciência e na filosofia.

No século presente, de forma gradual e irresistível, foram os objetivos, métodos e técnicas do sistema norte-americano que penetraram a América Latina, principalmente no campo das ciências exatas, mas também com influência nos demais campos. No caso brasileiro essa influência foi decisiva na reforma universitária consentida que vigora desde 1968.

Segundo Wanderley, nos países capitalistas as universidades apresentam um grau de autonomia e de avanço tecnológico e científico variáveis, sendo condicionadas de modo diferenciado pelo tipo de desenvolvimento seguido, quer pelos países desenvolvidos centrais, quer pelos subdesenvolvidos dependentes, como é o caso do nosso país. Tanto nos centrais como nos periféricos, destaca as seguintes concepções universitárias, segundo Wanderley (1994, p. 8-11):

 Existem aqueles que vêem a universidade como o lugar historicamente apropriado para criação e divulgação do saber, para o desenvolvimento da ciência, para formação de profissionais de nível superior, técnicos e intelectuais que os sistemas necessitam. E como a instituição social que articula o ensino, a pesquisa e a extensão nos níveis mais elevados da política educacional de um país, satisfazendo aos requisitos prefixados pela sociedade.

 Há outros que encaram a universidade como um dos aparelhos ideológicos privilegiados da formação social capitalista, tanto na reprodução das condições materiais e da divisão social do trabalho em intelectual e manual, quanto para garantir as funções de inculcação política e ideológica dos grupos e classes dominantes. Essa visão salienta que há uma recíproca influência entre os fatores externos socioeconômicos-políticos e os fatores internos da estrutura universitária, que são determinados por aqueles, podendo, por sua vez, influenciá-los mais ou menos, segundo as condições concretas de cada situação.

 Outra vertente, ainda na mesma concepção, procura colocar a universidade dentro do contexto contraditório do capitalismo, analisando seus limites e possibilidades, e insere a luta universitária no conjunto das lutas sociais, explicitando como os intelectuais universitários podem se constituir em intelectuais orgânicos das classes subalternas, e podem colaborar na conquista da hegemonia da sociedade civil por essas classes.

 Existem os que mantêm a visão persistente daqueles que defendem o ―otimismo pedagógico‖, segundo o qual se crê na educação como mola propulsora da mudança social e do desenvolvimento, e chega a supervalorizá-la.

 Por fim, um grupo, que se inscreve dentre os defensores da ideia de que ―a escola está morta‖, e consideram a universidade algo ultrapassado, obsoleto, devendo ser totalmente reformulada ou acabada.

Capítulo III

PENSAMENTO COMPLEXO, CULTURA E POLÍTICA DE

CIVILIZAÇÃO

―Abandonar o pensamento monotrilho, que só consegue seguir uma idéia de cada vez, e leva à idéia fixa. No limite tudo é solidário.‖

(Edgar Morin)

No documento Paulo Roberto Rodrigues Simoes (páginas 94-98)