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A política de expansão da oferta de ensino superior público iniciada no Brasil a partir das discussões decorrentes da promulgação da LDB foi de âmbito nacional. Se o grande impulso da expansão da rede federal ocorreu após 2007 com o Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), ela teve sua formulação específica para o Sistema Paulista de Ensino Superior em 2001. Discutiremos neste capítulo o desenvolvimento dessa política para as Universidades Estaduais Paulistas com foco na expansão da oferta de vagas no ensino de graduação da UNICAMP. As alterações ocorridas no interior das universidades são entendidas como resultantes de um complexo sistema de “multirregulação”14, em que o peso da autonomia universitária é determinante na constituição

de uma robusta rede de regulação local. O detalhamento da proposta de incremento das vagas em ensino de graduação para as Universidades Públicas do Estado de São Paulo, e que representa o mais explícito, porém não único direcionador das ações da regulação estatal, está no documento “Expansão do Sistema Estadual Público de Ensino Superior” produzido a partir do trabalho conjunto dos Pró-Reitores de Graduação da UNICAMP, USP e UNESP no interior do CRUESP. Discutiremos os principais pontos da proposta e como eles passam a ser apropriados e transformados pela comunidade acadêmica através de uma complexa rede de relações e interesses.

O documento do CRUESP pode ser considerado a primeira proposta detalhada e abrangente de planejamento estratégico para o ensino superior realizada em São Paulo. Os principais pontos previstos pelo programa foram a ampliação do número de vagas na graduação nas três Universidades estaduais em 27,6%; a organização de novos campi universitários; a ampliação conjunta nas Universidades e nas FATECS; a diversificação do ensino superior através da criação de cursos sequenciais e básicos; o apoio aos cursos

14 Termo utilizado por João Barroso para expressar a diversidade de fontes e modos de regulação que atuam

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profissionalizantes; a formação de professores para o ensino básico; e a utilização de novas tecnologias (PEDROSA, 2010, p.41).

Como principal motivação para essa proposta o CRUESP indicou a avaliação de que apesar da excelente qualidade e produtividade das Universidades Estaduais Públicas Paulistas na geração de conhecimento a participação dessas instituições na oferta de vagas no ensino de graduação era muito limitada. Através de dados sobre a formação de mestres e doutores e da publicação de resultados de pesquisas por estas universidades, que representavam metade da produção de todo o país em contraposição a oferta de vagas na graduação em torno 5,5% do total nacional, frente a aproximadamente 90% ofertada pelas instituições privadas de ensino superior, os Pró-Reitores de Graduação da UNICAMP, USP e UNESP apontaram para a pequena participação das escolas públicas na escolaridade universitária e a necessidade de ações conjuntas que permitissem aumentar a capacidade de atendimento da população. Considerando o grande crescimento da participação do setor privado no ensino de graduação durante a década de 1990 o documento do CRUESP estabelece a ampliação das vagas do setor público e gratuito como forma de atender a crescente demanda decorrente da universalização do ensino médio no Estado, que ampliou a possibilidade de acesso ao nível superior para camadas da população de menor poder econômico.

“Levando-se em conta que a universalização do ensino médio no Estado de São Paulo atinge uma população de menor poder aquisitivo, e que isso significa aumento de demanda por vagas no ensino superior por um contingente que não pode ter acesso ao ensino pago, ações que contribuam para equacionar esse problema devem ser priorizadas, aumentando a participação do sistema público e gratuito na formação de cidadãos e na diminuição das atuais diferenças sociais.” (CRUESP, 2001, p.11)

A partir da constatação da necessidade de expansão da participação do Estado na oferta de vagas em ensino superior público e gratuito, o CRUESP avançou para a discussão sobre os limites dessa expansão no atual modelo de graduação das três Universidades que, segundo o documento, concebe cursos verticalizados, intimamente ligados à pesquisa e à extensão que se configuram em única opção para ingresso na pós-graduação stricto sensu.

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Assim, o documento destaca que a ampliação proposta para as universidades deveria centrar- se no crescimento evolutivo de 5% ao ano, em um período de cinco anos, permitindo a manutenção das características dos cursos intimamente ligados à pesquisa e à extensão, porém com a perspectiva de que a adoção de uma nova forma de administrar os novos campi poderia levar a uma porcentagem maior de expansão. Esta expansão no atual modelo de cursos de graduação deveria ser complementada pela criação de novas alternativas, previstas na LDB, das quais poderiam encarregar-se outras instituições públicas de ensino superior, diversas das três universidades. Como alternativas apontadas pelo documento estariam cursos com outras finalidades, como os cursos técnicos, tecnológicos e a nova modalidade de cursos sequenciais de formação específica ou de complementação de estudos.

A proposta do CRUESP teve apoio e respaldo do Governo do Estado de São Paulo através da criação do programa de expansão do ensino superior público paulista e alocação de recursos específicos no orçamento para viabilizar a ampliação das universidades. Os desdobramentos dessa política começaram a ser notados nas três universidades no ano seguinte. Em 2002, a UNICAMP ampliou significativamente as vagas em cursos de graduação no campus de Barão Geraldo. No ano seguinte foi a vez de avançar com a ampliação de vagas em um novo campus. A Resolução GR nº 78 de 21/10/2003 designou um grupo de trabalho com o objetivo de receber e analisar projetos que visassem contribuir com o ensino superior público no Estado de São Paulo utilizando o terreno de 500.000 m2

localizado na cidade de Limeira e pertencente à Universidade. A partir daí se desenvolve o processo que culmina na implantação da Faculdade de Ciências Aplicadas em Limeira. Da mesma forma, USP e UNESP iniciaram 2002 com ações de ampliação de vagas nos campi existentes das duas Universidades e avançaram na proposição de novos campi.

O Ofício CRUESP nº 22/2005, que solicita ao Governo do Estado o aporte de recursos para continuidade e manutenção das ações de expansão das Universidades Públicas Paulistas, pode ser entendido com uma avaliação da política de expansão feita pelo CRUESP quatro anos após seu início. O documento apresenta os resultados da expansão da oferta de ensino de graduação das três universidades, além dos problemas estruturais enfrentados por essas instituições que necessitavam de suplementação de recursos como forma de viabilizar a continuidade das ações propostas.

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Como avaliação geral desse período o CRUESP expôs a expansão como arrojada e bem sucedida, considerando a previsão inicial e os recursos disponibilizados para esse fim. O documento apresenta o detalhamento da ampliação do número de vagas na graduação e número de alunos beneficiados por ano em cada instituição e discute as formas em que se deu essa expansão.

Figura 1: Ampliação do número de vagas de graduação e número de alunos beneficiados.

Unid ade/ Ano