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3 “(no prelo), a velocidade dever ser vista, hoje, mais como um conceito do que como um ritmo, pois ela seria a capacidade que um ser humano teria de se antecipar às necessidades e

1.2 URDUME: PROBLEMA, HIPÓTESE E OBJETIVOS DA TESE

Os inventos da humanidade tais como a imprensa, o rádio e o cinema, apesar de terem sido responsáveis por modificações econômicas e comportamentais, não tiveram o mesmo impacto que estamos tendo na era da revolução da eletrônica.

À época, tanto os signos icônicos quanto os verbais escritos, circulavam apenas em alguns segmentos da sociedade, porém os setores produtivos independiam deles para que pudessem funcionar. Hoje, diferentemente, quase tudo passa pela tecnologia para poder ser acessado e posto em movimento. Enfim, se repararmos bem, a religião, a indústria, o comércio, a ciência e a educação estão intensa e gradativamente sendo envolvidos e dependendo cada vez mais da tecnologia. Com a linguagem e a arte não ocorre diferente, pois elas, dia-a-dia, ligam-se direta e efetivamente à tecnologia e à vida, levando-nos a repensar nossa própria condição humana. Enfrentamos uma guerra não

convencional: uma guerra tecnológica e uma guerra de informações que tem um papel estratégico na formação de valores, conceitos, ações e reações vitais para os seres humanos.

Essas e outras realidades introduzem novos valores que marcam o século XXI, o que não quer dizer que desconsideremos o fato de que a humanidade sempre evoluiu em função da mediação com os objetos técnicos, desde o primeiro machado de pedra até as mais recentes descobertas tecnológicas. Desse modo, a escola necessita se preparar e repensar o que significará a introdução ou não das novas tecnologias nos processos de Aprendência. Os educadores necessitam discutir e reelaborar um outro fazer para a escola, levando em conta que o mundo se modifica com os processos tecnológicos e comunicacionais que avançam de forma avassaladora.

Inseridos nesse contexto elaboramos uma proposta de pesquisa, estudo e desenvolvimento de aplicativos pedagógicos que empregam a linguagem e a tecnologia como meios eficazes e propiciadores de novos desafios e novos conhecimentos capazes de auxiliar na construção de uma outra estética e outra ética, outro modo de vida e novas possibilidades para pensar o processo de Aprendência e formação de educadores.

Buscamos tecer considerações, armar propostas, compor reflexões em torno das quais se configuram:

a) o esboço de um processo da Aprendência entrelaçado com tecnologia de comunicação digital, linguagem, conhecimento sentidos e “sentires” no qual entrecruzam-se formas e meios mais eficazes para a (re) leitura

de um mundo sem fronteiras, monitorado por sons, visualidades, virtualidades e velocidades;

b) a potência da linguagem, em suas mais variadas formas de expressão, como uma tessitura, onde se pode ler e problematizar o real, em toda a sua complexidade, retecendo e entrecruzando textos, hipertextos, imagens, cores, movimento e formas, capazes de compor sucessivos Acontecimentos;

c) a tecnologia como o próprio devir do humano; como virtualização e potencialização do homem, em que os limites do humano e não- humano alteram as convenções de tempo, espaço e modo de vida.

Tece-se, portanto, este trabalho com base em uma elaboração conceitual que leva em conta os avanços tecnológicos e suas implicações no modo de educar, “amarrando” dados e conceitos com o intuito dequestionar que mudanças poder-se-iam efetivar a partir do emprego da tecnologia para a configuração de um outro modo de ensino-aprendizagem sustentando a hipótese que a relação entre tecnologia digital e o aprendente atualiza não somente saberes formais, mas novas formas de produzir conhecimentos e de viver, portanto, é produto de inúmeros desdobramentos e ressignificações prenhes de imprevisibilidades, todavia perfeitamente realizáveis e próximas de um processo educativo mais rico e atual, que chamaremos de Aprendência.

Tal premissa leva em conta que a vida constitui-se intrinsecamente por um processo de aprendizagem contínua no qual educar é o ato que faz emergir vivências do processo de conhecimento, e esta deve ser a preocupação principal

de quem é educador. Uma preocupação com a trama auto-organizativa da morfogênese do conhecimento que “é singular em cada caso, justamente porque a inscrição corporal do conhecimento acontece mediante vibrações auto- organizativas, que têm tudo a ver com níveis de auto-estima e expectativas e não apenas com conteúdos específicos das diferentes disciplinas” (ASSMANN, 1998, p. 4-5).

Importa, pois, construir uma outra ótica de conhecimento da “complexidade” e novas formas de pesquisa e estudo que ultrapassem o enfoque das disciplinas cindidas, seccionadas, mas que ao modo das “palavras-valise” 6, sempre ramifiquem a série em que se inserem, assim, cada um dos conhecimentos trabalhados nesta ambiência educativa, tornar-se-á um conduto por onde um determinado conhecimento transitará pelos demais conhecimentos através de uma infinidade de trajetos aos moldes de um grande hipertexto que, para cada leitor e em cada nova leitura se oferece de modo outro, sempre novo, com novos percursos e desvios a serem seguidos e recriados; um estudo que não trate apenas de um tema, mas de uma série de temas que urdem o próprio viver; propostas que teçam uma outra linha de pensamento que se entrelace à complexidade das realidades descobertas pela ciência pós-Einstein.

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Gilles Deleuze, em sua obra intitulada Lógica do Sentido (2000, p. 49), apresenta a palavra-

valise como sendo fundada em uma espécie de síntese disjuntiva que contém em cada palavra

várias palavras e vários sentidos contraídos que se organizam em uma só série para compor um

sentido global que acaba por evidenciar a disjunção escondida. Gilles Deleuze ainda enfatiza que

a função da palavra-valise consiste sempre em ramificar a série em que se insere, dando sinal a

outras palavras-valise que a precedem ou seguem e que fazem com que toda a série seja

ramificada em princípio ramificável. Exemplifica a palavra-valise comentando Carroll no prefácio

de

A caça ao Snark. ”

Colocam-me a questão: sob que rei, diga, seu ordinário? Fala ou morre! Não

sei se o rei William ou Richard. Então respondo Rilchiam”.Gilles Deleuze explicita ainda que “as

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