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Relativamente à Europa foi encontrada muito pouca informação e trabalhos neste campo, não havendo uma legislação específica para áreas naturais. A legislação geralmente adotada é a Diretiva 2002/49/CE [29], transposta para a legislação portuguesa no Decreto-Lei 146/2006 de 31 de Julho [30], uma legislação muito geral aplicável ao ruído ambiente a que os seres humanos se encontram expostos, em especial em áreas construídas, parques públicos ou noutras zonas tranquilas de uma aglomeração, em zonas tranquilas em campo aberto, nas imediações de escolas, hospitais e outros edifícios e zonas sensíveis ao ruído.

Em Espanha foi realizado um estudo com o intuito de estudar a paisagem sonora do Parque Natural de Urkiola, Biscaia, conduzido por Aspuru et al. [31]. O facto do parque em questão contar com áreas muito sossegadas mas também ser muito visitado (e naturalmente, as áreas mais visitadas, acabam por se tornar nas mais ruidosas), tendo como grande cartão de visita a sua paisagem que, de um ponto de vista sensorial, deve fazer-se acompanhar de uma paisagem sonora correspondente e de existir um plano de uma revisão ao plano de uso e gestão do parque, tornou este local um local apetecível para o estudo, para que se possam tomar ações que permitam um melhor usufruto do espaço, permitindo também proteger a biodiversidade através de zonas sem ruído. Foram medidos vinte e um pontos, cuja localização foi sugerida pelos guardas florestais pela sua importância. Utilizando a metodologia imposta pela Directiva 2002/49/CE e usando uma análise simplificada (apenas considerando a distância como fator de atenuação sonora) foi possível verificar que o ruído causado no exterior do parque não provocava aumentos significativos nos níveis de poluição sonora, no interior do parque. As medições do parque foram efetuadas durante um período de tempo considerado representativo para cada local, tendo o cuidado de registar o tipo, intensidade e duração dos vários sons detetados. Os

Quadro 2.4. – Percentagem de tempo de caminhada nos valores abaixo dos valores limite em alguns trilhos do Rocky Mountain National Park [27]

Quadro 2.5. - Percentagem de visitantes que experienciou pelo menos 15 minutos abaixo dos valores limite em alguns trilhos do Rocky Mountain National Park [28]

parâmetros medidos foram o LAeq, LAmin, LAmax, LA10, LA50, LA90, o espectro de frequências e a

evolução temporal dos níveis sonoros, para o tempo de referência de um minuto. Todos estes dados foram depois compilados e incorporados num sistema de informação geográfica (SIG) (figura 2.6.) [31].

Figura 2.6. – Aspeto geral da informação disponibilizada pelo estudo de Aspuru et al. no Parque Natural de Urkiola, Espanha, para cada local [31]

Introduzido num trabalho ainda por publicar [32], que terá como objetivo a caracterização da paisagem sonora da região galega de Anceu (zona de Pontevedra), o estudo de Molina et al. [33] utiliza a definição de paisagem sonora natural na criação de limites de ruído nas áreas naturais. Assim, para cada medição, realizada em contínuo são medidos os seguintes parâmetros: Nível sonoro ambiental existente; Percentagem de ruídos antropogénicos audíveis; Posteriormente foi calculado o nível sonoro do ambiente natural (Lnat). Durante as medições, um observador irá identificar o tipo de

fontes sonoras. Utilizando o método recomendado pelo NPS para o cálculo de Lnat, e a definição de

noise free interval [28] (o intervalo de tempo onde apenas se registaram sons naturais ou silêncio), espera-se que os parques naturais tenham, em pelo menos, 50% da sua área, um tempo de exposição a ruídos inferior a 75%. O estudo foi aplicado a um caso prático (quadro 2.6.) durante o período noturno, com a duração de medição de 93 minutos, em contínuo.

Os resultados, apresentados na figura 2.7., mostram que apesar dos valores medidos naquele ponto serem, na sua generalidade, baixos está quase repartido de igual forma o intervalo de tempo sem ruído antropogénico e com ruído antropogénico [33].

Ponto Coordenada

Número de veículos

Aviões Ligeiros Pesados Motos

Anceu 543806.07 4689621.16 9 0 1 4

Em Portugal, foram contactadas as direções de todos os parques naturais e nacionais. As respostas obtidas mostram que muito pouco foi feito nesta área. O Parque Natural do Douro Internacional informou que as únicas medições acústicas existentes se devem ao controlo de obras que afetaram o parque nos últimos anos, tais como o IC5, o reforço de Picote e de Bemposta, as linhas de muita alta tensão Douro Internacional e Macedo-Mogadouro, situações pontuais e que apenas representam a paisagem sonora dos locais póximos às construções. No Parque Natural da Ria Formosa as medições existentes, provenientes de estudos de Avaliação de Impacte Ambiental, dizem respeito exclusivamente à parte urbana do parque. Os parques naturais de Sintra-Cascais e Litoral Norte revelaram nunca ter sido realizado qualquer estudo deste género nas suas áreas. No Parque Nacional da Peneda-Gerês foi realizado, em 2011, um projeto da autoria do Professor Paulo Marques que visa recolher as paisagens acústicas naturais de Portugal construindo assim uma memória do presente, denominado “Paisagens Acústicas Naturais de Portugal” (figura 2.8.) [34]. No entanto este trabalho procedeu apenas à gravação do som e não à sua medição e quantificação. À parte deste projeto, nenhum outro é do conhecimento da direção do parque. As direções dos restantes parques não responderam.

Quadro 2.6. – Detalhes do ensaio do caso prático realizado por Molina et al. na região de Anceu, Espanha [33]

Na Nova Zelândia, onde as áreas protegidas e parques naturais ocupam cerca de 30% do país, Cessford [35] tem vindo a desenvolver alguns trabalhos de pesquisa no âmbito do ruído em áreas protegidas, através de inquéritos realizado aos seus utentes. Em 2000, o trabalho incidiu num conjunto de trilhos, denominados The Great Walks, trilhos esses de tal forma equipados (com cabanas de assistência, parques de campismo, abrigos, etc.) que permitem que qualquer pessoa usufrua da natureza e meio selvagem independentemente do equipamento ou experiência anterior. Esta oportunidade tem atraído bastantes utentes, com um aumento anual de turistas estrangeiros a procurarem os serviços dispostos. Para facilitar futuros atos de gestão e uma análise mais fácil, as fontes sonoras foram divididas em: Fontes externas não recreacionais, fontes externas recreacionais, fontes internas interativas e fontes internas intra-ativas. Aos utentes foi apresentado o questionário apresentado na figura 2.9. Como é possível avaliar pela figura 2.10. os casos mais incómodos são de fontes externas recreacionais, especificamente (e po ordem decrescente de incomodidade) os voos turísticos (que foram identificados por 91% dos inquiridos, 69% dos quais os considerou incomodativos), barcos recreativos na água ou no cais, em zonas costeiras (identificado por 74% dos inquiridos e considerado incómodo por 53%), barcos recreativos em zonas fluviais (identificado por 75% dos inquiridos e considerado incómodo por 34%), barcos recreativos perto dos locais de repouso como cabanas ou locais de campismo (identificado por 55% dos inquiridos e considerado incómodo por 33%) e surge então a primeira situação de uma fonte interna interativa, com a presença de pessoas ruidosas noutras cabanas a ser identificado por 81% das pessoas, sendo considerado incómodo por 33%. [35]

Figura. 2.8. – Locais de gravação do projeto “Paisagens Acústicas Naturais de Portugal” [34]

Figura 2.9 – Inquérito entregue aos utilizadores dos The Great Trails, Nova Zelândia [35]

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