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Capítulo I. Metodologia

2. Da Usabilidade para a Jogabilidade

Um dos termos adotados para especificar o termo da usabilidade na área dos jogos é o conceito de jogabilidade (Fabricatore, Nussbaum & Rosas, 2002; Korhonen & Koivisto, 2006, 2007; Mello & Perani, 2012; L. E. Nacke, 2009; Novick et al., 2014; Ponnada & Kannan, 2012; Saarenpää, 2008; Sánchez, Vela, Simarro & Padilla-Zea, 2012; Zagalo, 2009). Mas existem

Existe muita diversidade nas conceções que os autores fazem de conceitos como gameplay ou jogabilidade. Mas, na realidade, o gameplay é um conceito mais global que inclui tanto aspetos informais como formais do jogo. O conceito de jogabilidade é uma instanciação do conceito geral de usabilidade, onde o contexto apresenta aspetos mais emocionais que ambientais, e o foco assenta nos aspetos formais e funcionais do jogo. A jogabilidade também apresenta a propriedade de, quando manipulada, poder controlar, influenciar e/ou ajudar o jogador a compreender o gameplay.

diversas definições e sobreposições com outros conceitos. A relativa juventude da investigação na área dos videojogos (IJsselsteijn et al., 2007) pode explicar esta falta de padronização no que diz respeito à definição e padronização do vocabulário associado (G. Crawford, 2011). Jesper Juul (2005) faz uma afirmação quase humorística acerca deste facto declarando que a área recente do estudo dos videojogos está num estado de caos produtivo, onde uma amálgama de investigadores de diferentes disciplinas trazem pressupostos altamente contraditórios. Por exemplo, os termos gameplay e jogabilidade são por vezes trocados conceptualmente entre si (Mello & Perani, 2012), ou é-lhes atribuído um significado idêntico, como refere Jesus de Paula Assis (2007):

Gameplay é às vezes traduzido por ‘jogabilidade’, mas o termo é impróprio, pois todo jogo é jogável e o que interessa é que seja interessante. Além disso,

‘jogabilidade’ admite graus: alta ou baixa, o que não combina com um conceito abstrato. Por isso, seria mais proveitoso falar em “conjunto de táticas que tornam interessante (e divertida, isso é fundamental) a experiência de jogar”. (p.19)

Prensky (como citado em Mello & Perani, 2012, p.156) define gameplay como o somatório entre a experiência de jogo e atividades associadas, e o grupo de estratégias usadas pelos designers de jogos para envolver e motivar continuamente os jogadores, uma definição bastante abrangente. Sicart (2008) restringe este conceito às mecânicas de jogo, ou seja, aos métodos invocados por agentes (humanos ou artificiais) para interagir com o sistema de jogo. Por outro lado, Federoff (2002) separa conceptualmente as mecânicas de jogo do gameplay, definindo que as mecânicas de jogo correspondem às formas com as quais é permitido ao jogador se mover no ambiente de jogo (andar, correr, saltar, conduzir um carro, etc.) e o gameplay aos problemas e desafios que um jogador enfrenta para ganhar o jogo. Assim, o gameplay acaba por estar mais ligado ao esforço cognitivo e ao ritmo do jogo (C. Crawford,

o gameplay é entendido como o decorrer do jogo, com as suas mecânicas, narrativa, desafios, e constrangimentos do ambiente, sob a ação do jogador; como se nos colocássemos num ponto de vista externo e observássemos o progresso do jogo jogado, à semelhança de um filme. A prova disto é o facto de este termo, e neste sentido, ser amplamente usado nos vídeos introduzidos pelos jogadores e produtoras de jogos no Youtube37. Mas o facto de o gameplay ser definido sem referências ao conceito jogabilidade não traz evidências concretas de que não exista sobreposição entre o significado de ambos os termos. Assim, é necessário averiguar se tais conceitos foram diretamente comparados entre si, o que os tornaria representações conceptuais separadas. Tal acontece no caso de Fabricatore, Nussbaum e Rosas (2002) onde os autores associam o conceito de jogabilidade ao gameplay: “a jogabilidade é a instanciação do conceito geral da usabilidade quando aplicado aos videojogos, e é determinada pela possibilidade de compreender ou controlar o gameplay”. É de salientar que este autor reforça a ideia de que o termo jogabilidade é conceptualizado a partir do conceito de usabilidade, mas que depois funciona como uma variante à mesma, dadas as diferenças de complexidade entre os videojogos e os meios onde tradicionalmente se aplicam os pressupostos da usabilidade. Numa linha de pensamento aproximada, Sánchez, Zea e Gutiérrez (2009b) definem a jogabilidade como “o grau com que utilizadores específicos atingem objetivos específicos com eficiência, eficácia e especialmente satisfação num contexto de uso divertido e jogável”. Os autores assumem que a jogabilidade é caracterizada por atributos iguais aos da usabilidade, numa conceção aproximada à norma ISO 9241-11, mas cujo contexto tem por base aspetos mais emocionais que ambientais. A norma ISO 9241-11 define o conceito de usabilidade como

37 Alguns exemplos:

Jogo The Fall: https://www.youtube.com/watch?v=UPJXBpnBn6A Jogo The Bridge: https://www.youtube.com/watch?v=lJb7w-rK-kE Jogo Civilization V: https://www.youtube.com/watch?v=FoCKsP2wVvg

a medida em que um produto pode ser usado por utilizadores específicos para atingir objetivos e metas específicas com eficácia, eficiência e satisfação num contexto de utilização específico (ISO, 1998). Por último, Järvinen, Heliö e Mäyrä (2002), concebem a jogabilidade, mais especificamente a jogabilidade funcional, como estando relacionada com as variáveis funcionais do jogo (e.g. mecanismos físicos de controlo como comandos de consolas) que afetam o gameplay (Järvinen et al., 2002).

Concluímos assim que o conceito de gameplay é mais global, incluindo tanto aspetos informais como formais do jogo; a jogabilidade, por outro lado, concentra-se em aspetos mais específicos, formais e funcionais do jogo. Assim definimos o conceito de jogabilidade da seguinte forma:

A jogabilidade é um conceito focado nos aspetos formais de determinado jogo, que quando manipulados, controlam, influenciam e/ou ajudam o jogador a compreender o gameplay, informando em simultâneo o grau com que os jogadores atingem os objetivos do jogo com eficiência e eficácia, num contexto divertido e jogável. Por aspetos formais entendem-se aqueles que estão relacionados com a estrutura, dispositivos de input do jogo (e.g. interface, comandos etc.) e alguns associados ao gameplay (e.g. mecânicas, regras, etc.).

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