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4.1.7 Conto “O dragãozinho João”

5. USANDO PROGRAMAS CONVENCIONAIS PARA PENSAR A ARTE

Um dos enganos que se comete no trabalho com os computadores dentro do ambiente escolar está no enfoque que se dá na escolha dos programas a serem utilizados. Algumas instituições utilizam aulas preparadas sob encomenda em CD-Rom, outras utilizam os chamados programas pedagógicos adquiridos das mais diversas fontes, outras utilizam os programas comerciais de edição de texto e slides para apresentação de trabalhos escolares, conforme já comentado.

Na maioria das instituições, os professores não participam e não decidem sobre quais equipamentos e programas a utilizar. Quando chegam aos laboratórios de informática já encontram tudo pronto e, como já citado anteriormente, monitorado por um técnico que religiosamente policia todo o equipamento e o espaço.

Nesse ambiente os professores precisam instrumentalizar os alunos de forma que se obtenha um produto visível para a instituição. Toda a comunidade escolar precisa ver o que seus alunos estão fazendo no laboratório de informática para que se possa dizer que valeu à pena o investimento. Essa é uma saída para que se justifique o uso dos computadores.

Muitas vezes os alunos ficam diante dos computadores subutilizando o equipamento como uma máquina de escrever eletrônica e seus professores não conseguem pensar uma utilização além de se digitar o jornal mural da escola, fazer o jornal que será muitas vezes copiado e os avisos e recados para os murais escolares. O máximo que conseguem ir com relação à ilustração ou desenho é a mera cópia das figuras printshop.

Em muitas instituições, os professores não possuem voz ativa e são obrigados a seguir programas, calendários e propostas pedagógicas encomendadas aos pacotes de instituições escolares bem sucedidas que se transformaram em empresas

multinacionais de educação, os conhecidos “sistemas”. Dessa forma, além dos programas pedagógicos, a liberdade que o professor possui é a de decidir o que fazer com os programas comerciais que são amplamente utilizados no mundo todo.

Como possibilitar o uso dos programas comerciais de forma que se possa levar os alunos a pensar a arte, a pensar sobre a arte? O trabalho apresentado a seguir foi o caminho encontrado para associar a instrumentalização de crianças de 2º Ciclo do Ensino Fundamental I – 9 e 10 anos de idade – no uso do programa apresentador Microsoft PowerPoint( e, principalmente, que levasse as crianças a pensar sobre seu processo de construção do desenho, considerando que dessa forma pudessem ter oportunidade de reflexão, compreensão e não apenas um desenvolvimento casual.

Como já foi dito anteriormente, os sujeitos estão expostos a uma infinidade de imagens de várias fontes e suportes, TV, Vídeo, outdoors, computadores, jornais, revistas, etc. imagens fixas e em movimento. Quando se pensa nessa afirmação nem sempre se está voltado para um grupo de sujeitos de faixa etária de 0 a 10 anos. As escolas preocupando-se, na maior parte do seu tempo, com as questões de alfabetização não pensam em como essas crianças estão se relacionando com o mundo imagético.

Mesmo ainda bem pequenas as crianças possuem grande capacidade de extrair significado e estabelecer relações entre os fatos, objetos e vivências. No contato com as imagens, buscam e tratam de diferentes informações, avaliando e valorizando o que lhes é exposto. VIGOTSKY (1989) esclarece que a função de estabelecer relações e extrair significados é aprimorada nas crianças, pois possuem capacidade de combinar elementos dos campos visuais presente e passado num único campo de atenção que leva, por sua vez, à reconstrução básica de outra função, a memória. Ela sintetiza com sucesso, o passado e o presente de modo conveniente a seus propósitos. (p. 40-41).

A reflexão sobre o fato de que as crianças não estão alheias ao que seus olhos veem e que, embora ainda pequenas, estão pensando sobre esse mundo imagético,

estabelecendo com ele relações as mais diversas, processando à sua maneira o que esse mundo expõe, deve constituir-se num dos espaços de atuação de quem, nas instituições escolares, envolve-se no trabalho com as artes visuais.

Considerando os estudos de VIGOTSKY (1989), é importante que instituições escolares estejam atentas à reação das crianças ao que lhes é proposto, além de investir em trabalhos que lhes enriqueçam o repertório imagético.

No trabalho com o desenho, VIGOTSKY (1989) lembra ainda que inicialmente a criança pequena, aproximadamente dos quatro aos onze anos, desenha de memória, ou seja, ela desenha o que conhece e não exatamente o que vê. Numa situação de desenho possivelmente ela nem olhará para a figura que esta desenhando. É o chamado realismo intelectual. Estas e outras questões são relevantes considerar quando se deseja abrir espaço para que as próprias crianças possam compreender e entender que o desenvolvimento do desenho é um processo que pode e deve ser observado, pensado, discutido e que precisa de investimento para a sua evolução e crescimento.

As instituições educacionais deveriam considerar que, da mesma forma que a criança constrói o aprendizado da leitura e da escrita, ela também constrói o aprendizado do traço, da linha, da forma. São processos vividos, sendo possível ampliar o olhar para a percepção da forma, do volume, da cor, do movimento, do som, do tato, do olfato, da sensibilidade. De acordo com MARTINS (1998) todas as crianças são tocadas pelas cores, pelas texturas, pelas formas e reage esteticamente a isso. (p. 97)

Considerando o ambiente gráfico da área de trabalho do monitor de vídeo de um computador, com toda sua gama de cores, ícones, sons, imagens fixas e em movimento, é plausível pensar que, as crianças, estabelecendo relações com essas representações imagéticas, estejam construindo nessa convivência seu processo de conhecimento com relação à visualidade expressa por essas máquinas.