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2.6. ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL

2.6.7. Uso na Agricultura e em Florestas

Desde épocas remotas, os dejetos sólidos das populações urbanas têm sido aproveitados na fertilidade dos solos agrícolas. Para alguns países, como a China, a prática de preservação da fertilização do solo assume importância vital, encontrando por isso mesmo, visceralmente ligada à tradição dos agricultores (LIMA, 1996).

Nos últimos anos, em vários países se intensificaram as correntes de opiniões favoráveis à preservação dos recursos naturais e no plano geral de suas proposições se encontra o reconhecimento da necessidade de utilização dos lodos produzidos pelas depuradoras de esgotos na fertilização dos solos (LIMA, 1996). Isto depende do tipo de cultura utilizada, mas geralmente é necessária uma etapa adicional no tratamento do lodo, a higienização, que tem como principal função a remoção dos organismos patogênicos (transmissores de doenças).

SANTOS e TSUTIYA (1997) relatam que as alternativas mais usuais para o aproveitamento e/ou disposição final do lodo de esgotos em países do primeiro mundo quando

o seu uso é para prática agrícola são as seguintes: aplicação direta no solo; aplicação em áreas de reflorestamento; produção de composto ou fertilizante organomineral; solo sintético para agricultura; aplicação da torta de lodo pré-condicionada com calcário; secagem térmica e compostagem.

No Reino Unido, a maioria do lodo é usada como fertilizante orgânico na terra agrícola, requerendo uma boa gerência para evitar o acúmulo dos poluentes no solo (LEWIS JONES e WINKLER, 1991). Na Inglaterra e no País de Gales, cerca de 40% do lodo dos esgotos é reciclado e retorna à terra como fertilizante, 20% são jogados ao mar e o remanescente vai para depósitos em terra. A utilização total do lodo como fertilizante represente apenas 4,5% das necessidades nacionais de nitrogênio e fósforo e menos de 1% das necessidades de potássio. Do mesmo modo, a matéria orgânica representa apenas pequena porcentagem das necessidades nacionais (ÉDEN et al.,1981).

Nos Estados Unidos, a prática do lançamento do lodo de esgotos ao solo vem sendo difundida rapidamente. Dados estatísticos publicados em 1977 mostram os seguintes valores, referentes ao destino dos lodos (LIMA, 1996):

i) aterros = 25%

ii) lançamento ao mar = 15% iii) incineração = 35% iv) aplicação do solo = 25%

Do lodo produzido nas depuradoras americanas, cerca de 50% voltam ao solo, em aterros ou aplicação agrícola; da aplicação agrícola, 40% é feita mediante a simples dispersão do lodo líquido (1 a 3% de sólidos) nas terras agrícolas, nas pastagens e nas florestas.

No Brasil, a reciclagem agrícola do lodo de esgoto supõe critérios seguros para sua implementação, além de fornecer micro e macro nutrientes (N e P) ao solo, que contribui para uma agricultura auto-sustentável. O lodo de esgoto só pode ser usado como insumo agrícola se apresentar níveis abaixo de certos limites de metais pesados, o que coloca em evidência a responsabilidade das indústrias em tratar seus próprios efluentes, sob a pena de inviabilizar a reciclagem agrícola do lodo. Além disso, o solo e o lodo no Brasil são bastante diferentes dos países desenvolvidos, sendo geralmente ácido, facilitando a mobilidade dos metais pesados. Da mesma forma, o perfil de saúde da nossa população e consequentemente o perfil sanitário

são distintos. Os ciclos para reciclagem agrícola do lodo de esgoto são os seguintes: condicionamento e desidratação, desinfecção (por compostagem ou tratamento com cal), controle dos parâmetros biológicos e físico-químicos, acompanhamento agronômico, monitoramento ambiental e sistema gerencial (FERNANDES, 1997).

Antes de se utilizar lodo urbano para fins agrícolas, é sempre necessário verificar se o mesmo não contém substâncias provenientes da industria metalúrgica, pois o solo pode-se tornar tóxico às plantas e que o mesmo esteja isento de patogênicos, o que provoca a necessidade da sua esterilização durante o processo de tratamento (IMHOFF e IMHOFF, 1986). Uma grande variedade de cultura tem sido desenvolvida nos solos onde houver aplicação do lodo. As características de crescimento e produção de colheita são comparavelmente favoráveis com as colheitas nos solos fertilizados quimicamente.

É necessário primeiramente resolver se o lodo deve ter aplicação agrícola em estado fresco ou digerido, e/ou líquido ou desidratado (IMHOFF e IMHOFF, 1986).

O processo mais econômico de disposição final de lodo digerido é a aplicação no solo cultivado em estado líquido, devido à eliminação das fases de condicionamento e secagem do lodo. Esta alternativa de disposição é usada onde áreas aceitáveis são localizadas dentro de certa distância da estação de tratamento. Como vantagem temos que é uma fonte de água para a irrigação do solo e ocorre um acréscimo dos nutrientes (nitrogênio e fósforo) dos esgotos. A desvantagem é o custo adicional devido ao transporte da água integrada ao lodo. O lodo digerido não é perigoso pode ser transportado ao campo em estado líquido, por meio de viaturas-tanques e aplicado em áreas agrícolas, pulverizados por meio de placa de impacto ou por meio de canalizações munidas de aspersores por canalizações. O lodo líquido deverá ser aplicado com taxas que não possibilite a contaminação das águas de subsolo e superfície (rios) (IMHOFF e IMHOFF, 1986; NEDER e PINTO, 1991).

Geralmente, a disposição de lodo digerido no solo cultivado ocorre em estado seco, sendo necessário desidrata-lo em leitos de secagem ou instalações de secagem artificial. Os sólidos no lodo são úteis como condicionantes e fertilizantes do solo. O lodo perde 40% de seu teor de nitrogênio durante a digestão. O nitrogênio albuminóide sofre modificações, sendo que aqueles 40% se dissolvem no líquido sobrenadante sob a forma amoniacal. Em oposição ao que acontece durante a cura do esterco do curral e da fabricação de composto, não há perdas de nitrogênio no digestor quando o líquido sobrenadante também encontra aplicação agrícola.

O emprego de lodo fresco há muitos inconvenientes a serem considerados. Este se aglomera em grumos gordurosos e resistentes, e leva consigo sementes de pragas vegetais ao campo. A secagem do lodo fresco não ocorre sem desprendimento de forte mau cheiro. Quando o lodo encontra aplicação agrícola em estado fresco, deverá esta prática ser regulamentada por normas análogas às exigidas para a utilização de esgotos sanitários, a fim de que seja preservada a saúde dos homens e dos animais. (HAMMER, 1979; IMHOFF e IMHOFF, 1986).

O lodo que não tem aplicação em atividades agrícolas deve ser disposto em aterros, de modo a não produzir danos ao ambiente (IMHOFF e IMHOFF, 1986).

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