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de 0 a 10 anos atendidas no Hospital Universitário Gafrée Guinle

2.1.3. Uso de corantes na alimentação

Um alimento atrativamente colorido estimula o apetite mais que um descolorido, pois existe uma relação entre a visão e os nervos gustativos. A maioria dos alimentos é colorido para simular níveis altos de componentes nutricionais importantes ou, pior, para mascarar a má qualidade do alimento ou sua deterioração (HUNGER, 2003).

Os fabricantes dos produtos alimentícios que utilizam corantes na sua composição justificam o seu uso com base na necessidade de restaurar a cor do alimento afetada durante seu processamento; na uniformização da cor do alimento tendo em vista as diferentes origens da matéria prima; e para dar cor aos chamados alimentos incolores. As cores estão intimamente ligadas a vários aspectos da nossa vida e são capazes de influenciar as nossas decisões no dia a dia, principalmente as que envolvem os alimentos. A aparência, a segurança, as características sensoriais e a aceitabilidade dos alimentos são todas afetadas pela cor (CLYDESDALE, 1993; DOWNHAM, 2000)

A alimentação é um determinante das condições de saúde na infância e está fortemente condicionada ao poder aquisitivo das famílias, do qual dependem a disponibilidade, a quantidade e a qualidade dos alimentos consumidos (AQUINO; PHILIPPI, 2002). Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA, 1997) e do Instituto de Pesquisa AC Nielsen (1997), a demanda de alimentos industrializados no país aumentou consideravelmente após a abertura econômica (AQUINO; PHILIPPI, 2002). Com o aumento do consumo de alimentos industrializados, também ocorreu o aumento do consumo de corantes, pois a maioria desses alimentos possui corantes em sua composição.

Os aditivos alimentares, em conjunto com açúcar, adoçantes, gorduras processadas e sódio, estão sendo utilizados para oferecer produtos alimentícios mais saborosos, mais fáceis de serem consumidos, mais coloridos e cheirosos que os alimentos naturais. Atualmente, o consumo per capita de aditivos alimentícios está em torno de 5,0 kg por ano nos países em que a alimentação é quase toda processada. Mais de 5 mil compostos químicos são utilizados pela indústria alimentícia para tornar seus produtos cada vez mais atrativos para o rápido consumo (CARREIRO, 2012).

Os produtos químicos estão regularmente presentes em elevada quantidade na nossa alimentação. Em uma única alimentação, é possível existirem de 12 a 60 aditivos químicos (CARREIRO, 2012).

Paulo Roberto Paiva Campos

Em um estudo que avaliou o consumo de corantes artificiais por crianças nos estágios de lactantes, pré-lactantes e em idade escolar, pôde-se constatar que a maioria das crianças iniciou o consumo dos três produtos, em estudo, antes dos 2 anos de idade, sendo que o pó para gelatina foi introduzido na alimentação dessas crianças até 1 ano de idade, em 95% dos casos. Esse dado é preocupante, uma vez que a IDA (Ingestão Diária Aceitável) estabelecida não pode ser aplicada para crianças com idade inferior a 12 meses, devido à adaptação do metabolismo e ao fato de que se preconiza a alimentação somente por meio do aleitamento materno (SCHUMANN; PÔLONIO; GONÇALVES, 2008). Entretanto, alimentos coloridos artificialmente são, desde cedo, oferecidos às crianças por meio de alimentos que, muitas vezes, não são recomendados para crianças, mas a indústria direciona o seu consumo para essas, por meio da própria coloração, como também por meio de propaganda televisiva. A referida pesquisa do consumo de corantes artificiais está apresentada no gráfico da Figura 2.1.

Figura 2.1. Consumo de produtos alimentícios por crianças de 0 a 10 anos de idade no

Hospital Universitário Gafrée Guinle.

Fonte: SCHUMANN, PÔLONIO, GONÇALVES, 2008, p.536.

Na Figura 2.1, observa-se que a maioria das crianças, de alguma forma, ingere um ou mais alimentos contendo corantes artificiais, o que, segundo o estudo, corresponde a 93% das crianças participantes; apenas 7% não apresentam o hábito de ingerir os alimentos pesquisados, o que não significa que essas crianças não ingiram corantes de outras fontes. Na Figura 2.2, tem-se o consumo quantitativo de suco artificial em pó por crianças de 0 a 10 anos.

Paulo Roberto Paiva Campos

Figura 2.2. Frequência quantitativa do consumo de preparado sólido para refresco por crianças

de 0 a 10 anos atendidas no Hospital Universitário Gafrée Guinle.

Fonte: SCHUMANN, PÔLONIO, GONÇALVES, 2008, p.537.

Conforme a Figura 2.2, há um consumo maior de sucos artificiais em pó nas faixas etárias de 2 a 6 anos e de 6 a 10 anos, sendo que, na faixa de 2 a 6 anos, o consumo é feito com maior frequência e, na faixa de 6 a 10 anos, há o consumo de maiores quantidades do produto. Entretanto, deve-se observar também que há ingestão desses produtos (suco artificial em pó) por crianças de 0 a 2 anos, em menores quantidades. Porém, esses indivíduos apresentam uma massa corpórea ainda menor do que as crianças de 2 a 10 anos (SCHUMANN; PÔLONIO; GONÇALVES, 2008). O consumo de alimentos contendo corantes artificiais pode desencadear reações alérgicas, além de outros potenciais danos à saúde das crianças.

Outro fato preocupante é que a criança deixa de ingerir sucos naturais para ingerir um produto que não fornece os mesmos nutrientes, como fibras, açúcares redutores, vitaminas e substâncias não nutritivas, como compostos fenólicos, entre eles os flavonoides, que têm ação benéfica à saúde (NIJVELDT et al., 2001).

No que se refere às reações adversas aos aditivos, de uma forma geral, sabe-se que a população infantil constitui o grupo mais vulnerável a esse tipo de reações, o que ocorre devido à quantidade ingerida ser maior, em relação ao peso corporal, na criança do que no adulto. A IDA é fornecida pelos miligramas do corante em função da massa corpórea do indivíduo que consome o alimento contendo o corante (Anexo II). Logo,

Paulo Roberto Paiva Campos

uma criança possui uma massa corpórea bastante inferior à de um adulto. Além disso, as crianças encontram-se em um período de alto metabolismo e desenvolvimento de suas defesas naturais e não apresentam capacidade de autocontrole no consumo de alimentos ricos em aditivos, o que pode levar a um consumo excessivo de corantes artificiais (SCHUMANN; PÔLONIO; GONÇALVES, 2008).

Outra agravante é a existência de metais tóxicos provenientes da contaminação da síntese da matéria-prima ou do processo de manufatura dos mesmos (LINDINO et al., 2008). Entretanto, segundo as fichas técnicas dos corantes industriais alimentícios comercializados no Brasil pela Cotia Foods os teores desses metais são bastante reduzidos.

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