• Nenhum resultado encontrado

3 USO DO CRÉDITO CONSIGNADO E A PROPENSÃO AO RISCO DE

3.2.2 Uso do Crédito e Endividamento

Diante da necessidade do desenvolvimento de uma atitude responsável quanto ao uso do crédito frente à situação econômica atual, é fundamental mencionar a questão do endividamento, uma vez que “A preocupação com o endividamento, principalmente no contexto brasileiro, se dá pelo fato de que o percentual de famílias nesta situação é elevado” (PACHECO; CAMPARA; COSTA JR, 2018, p. 55).

De maneira que, o mecanismo de oferta de empréstimo conhecido como crédito consignado requer atenção em seu uso com o intuito de evitar a situação de endividamento, principalmente pelo fato de o quantitativo de famílias endividadas já encontrar-se bastante elevado.

Também é relevante frisar que “as alterações no contexto econômico, as facilidades de acesso ao crédito e a ampla oferta de produtos financeiros são os aspectos que tem estimulado a sociedade ao consumo e, consequentemente, a maior propensão ao endividamento” (CAMPARA; VIEIRA e CERETTA, 2016, p. 8).

Ao passo que, essa expansão do crédito atrelada à facilidade e propagação do ato de comprar, vem acarretando um processo de expansão dos desejos e incentivo ao consumo, que pode desencadear problemas na vida dos consumidores, como (VIEIRA; FLORES; CAMPARA, 2014) salientam:

O número de famílias endividadas vem crescendo, sendo que as mesmas se sentem menos satisfeitas com sua situação financeira atual e menos confiantes em uma situação financeira futura. Além disso, a presença de dívidas acarreta sensações de tristeza, ansiedade, nervosismo, depressão, podendo, inclusive, afetar as relações sociais, profissionais e familiares dos endividados. (VIEIRA; FLORES e CAMPARA, 2014, p. 201).

Ou melhor, o nível de endividamento das famílias tem crescido ao longo dos últimos anos atrelado ao constante incentivo ao consumo e criação de desejos insaciáveis, gerando insatisfação, sentimento de tristeza e depressão e causando prejuízos sociais, profissionais, familiares, além dos problemas financeiros comuns a esses casos.

Diante disso, é necessário ter em mente que “o sobre-endividamento é uma situação insustentável à medida que a economia brasileira possui uma capacidade de geração de poupança inferior, não sendo compatível com o crescimento da oferta, colocando as pessoas nessa posição de endividamento excessivo” (ROSSATO; BESKOW; PINTO, 2019 p. 107).

Nesse diapasão, segundo levantamento desenvolvido mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que configura a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada em abril de 2019, o percentual de famílias com dívidas em abril/2019 (62,7%) aumentou se comparado com o mês anterior (62,4%) e o mesmo período do ano passado (60,2%).

As dívidas em atraso também foram superiores em abril/2019 (23,9%) ante o mês anterior (23,4%) assim como o percentual de pessoas que afirma não ter condições de pagar as dívidas teve um ligeiro aumento (9,5%) em abril diante de março do mesmo ano (9,4%). Fato que, independente da modalidade de crédito que está sendo tomada pelas pessoas, revela que o cenário econômico atual tem contribuído para o número elevado de pessoas em situação de endividamento.

Em meio a isso, Lopes (2018) menciona que quando o empréstimo consignado é utilizado sem o planejamento adequado existe o risco de produzir impactos além do âmbito financeiro, atingindo as relações sociais, familiares e profissionais. Por outro lado, se bem gerido, o crédito consignado é capaz de oportunizar melhorias na sensação de bem-estar financeiro dos consumidores.

Daí a importância da educação financeira para o planejamento adequado das finanças, uma vez que Lusardi e Mitchell (2014) afirmam que a inclusão do conhecimento financeiro na vida das pessoas gera implicações importantes para o bem-estar, assim como o desenvolvimento de políticas que tem por objetivo aumentar os níveis de conhecimento da população.

Assim, é salutar pontuar que da mesma maneira que o aporte de crédito por meio de empréstimo consignado é uma opção benéfica e vantajosa para o servidor, pode configurar também uma espécie de armadilha no orçamento gerando (super) endividamento.

Nessa perspectiva Leão; Fernandes e Martins (2016) destacam que a oferta deste tipo de crédito pode representar uma opção favorável para as pessoas que fazem jus a esse recurso, permitindo que o enfrentamento das adversidades financeiras seja feita com um cenário mais favorável de juros mais baixos que os aplicados em outras modalidades de financiamento, a exemplo do cheque especial ou do cartão de crédito. Contudo, é necessário ter clareza ao contratar um empréstimo, pois ao lançar mão desse mecanismo de maneira corriqueira e recorrente pode-se gerar endividamentos excessivos e ininterruptos.

Desse modo, dada a relevância do crédito consignado e a necessidade de prudência quando recorrer a essa espécie de empréstimo, para Schuh; Coronel e Bender Filho (2017), o crédito consignado exerce influência sobre o comportamento da atividade econômica de um país, porém, embora sua concessão propicie uma alavancagem em curto prazo, esse desenvolvimento não se mantém a longo prazo.

Diante disso, se deu o crescimento exponencial do consumo das famílias ao longo da última década, entretanto, o desempenho da indústria e os investimentos não conseguiram acompanhar esta evolução. Compreende-se, a partir daí que o molde de crescimento atual produz expansão, mas seus efeitos são limitados.

Em paralelo a isso, é necessário frisar que o Brasil ainda enfrenta dificuldades quanto ao desenvolvimento de suas potencialidades, dentre elas a baixa taxa de poupança, sendo um dos países com menor taxa de poupança do mundo. O que se deve ao fato de não cultivar em sua essência o hábito de poupar, além de possuir um sistema de ensino que está aquém do desejado e de uma infinidade de empecilhos em forma de burocracia, segundo Neri (2019b).

Frente a essa realidade, Rodrigues, Menezes Filho e Komatsu (2018) afirmam que no Brasil as famílias 10% mais ricas são responsáveis por mais de 70% da poupança por meio de ativos financeiros, ao passo que os 50% mais pobres respondem por apenas 5%. Somado a isso, ao comparar renda e despesa as parcelas mais baixas na distribuição de renda possuem poupança negativa, o que demonstra um endividamento substancial das famílias mais pobres. O que pode ser explicado pelo fato de que boa parte das famílias mais pobres tem renda inferior às despesas, não possuindo reservas e assim tornando-se inviável constituir poupança.

Nessa linha, faz-se mister dizer que “assuntos como investimento, aposentadoria, parcelamento, endividamento, oferta, pagamento, perpassam por um ente muito presente em nossas vidas: o dinheiro. Para saber lidar com essas situações é importante ter uma boa

orientação quanto às finanças pessoais e familiar e sobre o mercado” (CORDEIRO; COSTA; SILVA, 2018, p. 70).

Segundo Rossato, Beskow e Pinto (2019) a atitude de assumir compromissos financeiros é inócua, posto que contrair dívidas não é algo danoso quando estas são liquidadas no período estabelecido. Porém, a partir do momento que os débitos deixam se ser honrados dentro dos prazos definidos, o indivíduo passa a ser considerado inadimplente. Compreende-se que esta representa uma situação de alerta pelo fato de que além de estar endividada, a pessoa não tem condições de quitar as dívidas no período determinado, provocando complicações com seu nome, e em situações mais graves comprometendo o orçamento de seus familiares.

Cabe ressaltar que nessas circunstâncias é recomendável buscar ferramentas que permitam libertar-se dessa situação, com o objetivo de evitar casos extremos, nos quais os indivíduos são incapazes de honrar seus compromissos financeiros e põem em risco a saúde financeira de toda família, sendo classificados como superendividados.