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3. SIMULAÇÃO E DINÂMICA DE SISTEMAS

3.2. Uso da Dinâmica de Sistemas

Modelos de simulação baseados em dinâmica de sistemas têm sido amplamente utilizados nas mais diversas áreas. Cabe ressaltar, porém, que não foi identificada na literatura sua utilização para estudar a coordenação de cadeias agroindustriais de suprimentos que considerassem, não apenas contratos e formas de comercialização, mas também melhoria contínua do desempenho da cadeia, PDP e resultados financeiros com compartilhamento de ganhos, o que poderia complementar a ECT. A seguir são apresentados diversos casos na aplicação bem sucedida de dinâmica de sistemas.

Faulin (2004) apresentou um modelo de simulação baseada na dinâmica de sistemas, o qual se mostrou adequado para estudar os problemas relacionados a agricultura familiar, em especial aqueles ligados a comercialização entre os elos da cadeia. Foi possível constatar deficiências em planejamento tanto na compra de insumos como na venda de seus produtos e que a relação de confiança era determinante a sobrevivência destes pequenos agricultores.

Outra aplicação interessante de simulação baseada em dinâmica de sistemas foi feita nas chamadas fazendas de vento, impulsionadas pela pressão atual contra emissão de carbono. Neste modelo foi possível criar, em um ambiente dinâmico, as interrelações envolvendo interesses e políticas contraditórias. A complexidade das relações envolvendo as mais diversas partes interessadas, com especial atenção aos aspectos sociais e ambientais, só seria possível de ser caracterizada através do conceito de dinâmica de sistemas (CHÂTEAU et al., 2012).

Otto (2008) apresenta outra aplicação interessante de dinâmica de sistemas. Foi desenvolvida dentro daquela que ele considera como uma atividade fundamental para as empresas, que é a estratégia de abertura de mercado, tipicamente conduzida por Marketing. Ele cita que esta atividade, normalmente, é mal estruturada e complexa. Neste contexto, abordagens baseadas em modelo DSS (decision-support systems) apresentaram dificuldades em sua implantação e uso, devido aos gestores não entenderem bem e se tornarem relutantes no seu uso. Com isso modelo baseado em dinâmica de sistemas encontrou espaço, pois os gestores foram capazes de testar estratégias diversas para abertura de mercado. Outro

aspecto muito interessante é que como os gerentes participavam da construção do modelo, eles se sentiam donos dos mesmos, dando-lhes maior segurança na hora de defender suas propostas. Esta é uma vantagem muito interessante em especial em ambiente de baixo nível de confiança e transparência que modelo baseado em dinâmica de sistemas pode trazer.

Na China, Li et al. (2012) desenvolveram um modelo baseado em dinâmica de sistemas para, de 2009 a 2050, realizar avaliações de desempenhos econômico e ambiental de longo prazo da agricultura convencional frente a agricultura orgânica. Neste trabalho foi possível encontrar um viés de melhora até o ano de 2027, porém após este período, a agricultura convencional (modelo atual) se torna insustentável, em especial pela geração de metano e matriz energética. Em outra simulação, considerando-se mudanças nas políticas agrícolas da região, é possível comprovar a redução dos efeitos negativos e a sustentabilidade do sistema. Nesta utilização de dinâmica de sistemas, o interessante é a possibilidade de visualizar o longo prazo e "defeitos" nas estratégias e políticas no agronegócio.

Choi e Kim (2011) utilizaram modelos baseados na técnica de dinâmica de sistemas para estudar atividades que vão do desenvolvimento a comercialização de determinados produtos. Aqui um fato interessante foi o de enxergar o PDP com os princípios da dinâmica de sistemas. Esta providência pode conferir agilidade e rapidez em tarefas que vão desde a concepção de um novo produto até a sua colocação no mercado. Dentro das condições atuais de mercado, um grande diferencial para as empresas, é encurtar ao mínimo o tempo de desenvolvimento de novos produtos. Além disso, o portfólio de produtos também se faz necessário, bem como alta flexibilidade nos processos de manufatura, para a manutenção do nível de competitividade das companhias. Choi e Kim (2011) ainda destacam quatro aspectos fundamentais com o uso de um modelo baseado em dinâmica de sistemas para PDP:

- o processo de inovação tecnológica é dinâmico, o que pode ser demonstrado pela análise quantitativa das várias relações dinâmicas entre a inovação tecnológica existente e a modelagem proposta;

- foi demonstrado em um ambiente dinâmico, o processo cíclico investimento em P&D, inovação tecnológica, lucro, investimento etc. diferente abordagens estáticas P&D => lucro;

- contribuição na tomada de decisão correta, através de proposta de um mecanismo dinâmico no médio e longo prazo levando em consideração a situação da empresa e as condições de mercado, bem como processo de inovação mais que inovação de produto;

- por fim, pode ser quantificado o intervalo de tempo entre pesquisa e desenvolvimento do produto.

Apesar dos trabalhos de Dangerfield et al. (2010) não estarem relacionados ao agronegócio, mas sim a construção civil, sua contribuição é nítida quando se fala em competitividade das empresas. Neste setor a força da postura competitiva das empresas é fator determinante da rentabilidade das mesmas, entendendo-se por força competitiva a capacidade das empresas perseguirem novos contratos. Quanto mais agressiva a postura, mais drásticos os saltos nos lucros. Foi possível demonstrar que o uso da técnica dinâmica de sistemas foi capaz de proporcionar uma forma de avaliação das forças que moldam a competitividade dentro do setor da construção civil. Com isso a avaliação estatística feita a partir de dados e do histórico de desempenho estratégico, deixou de ser, conforme o autor, “o único modus operandi disponível”.

Outro aspecto importante demonstrado por Dangerfield et al. (2010) foi a possibilidade de combinar técnicas de modelagem quantitativa (dinâmica de sistemas) com estudo de caso qualitativo. Os dados obtidos de estudos de caso podem ser úteis para o processo de modelagem. Neste caso, é fundamental possuir um conhecimento profundo dos desafios enfrentados pelos contratantes antes de se iniciar os trabalhos de modelagem, sendo que a compreensão contextual é vital. Cabe ressaltar que além de questões de fundo, também é importante ser capaz de adotar a linguagem que os profissionais usam para dar sentido aos desafios que eles enfrentam. Modelos baseados em dinâmica de sistemas podem levar a novas e importantes ideias com aplicação direta na prática, oferecendo os meios de avaliar a interação dinâmica entre diferentes fatores. Por outro lado, os profissionais do setor somente se envolvem se entendem bem os conceitos.

Segundo Oliveira et al. (2003), com a técnica de dinâmica de sistemas é possível estruturar-se sistemicamente um SAI e ao mesmo tempo analisá-lo

racionalmente, entendendo suas relações de influência. Isto porque, segundo estes autores, através da simulação computacional é possível avaliar como o comportamento dos sistemas pode ser afetado pelo modo e pela intensidade das variações, pelas quais os processos estão sujeitos. É possível entender-se a estrutura do sistema, bem como seus fatores de influência, através dos ciclos de retroalimentação que o compõe.

Apesar de já estarem amplamente utilizados, mesmo dentro dos mais diversos sistemas agroindustriais, os modelos de simulação na técnica de dinâmica de sistemas têm sido pouco explorados como ferramenta de suporte a coordenação das cadeias de suprimentos. Os estudos apresentados na literatura demonstram modelos com foco em atividades específicas. Isto abre uma lacuna para modelos que contemplem todos os aspectos do sistema agroindustrial, como o desenvolvido neste estudo, o qual inclui a partilha dos ganhos entre os agentes e o compartilhamento de inovação e tecnologia, com investimentos focados e busca da melhoria no desempenho do SAI mais que apenas de seus agentes isoladamente.

4. O SISTEMA AGROINDUSTRIAL DA LARANJA