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A partir do mapa conceitual foi desenvolvido um modelo baseado em agentes inédito na literatura, uma vez que nenhum dos modelos anteriormente publicados (JIN; WHITE, 2012; YANG et al., 2015; YANG et al., 2014; YANG; DIEZ ROUX, 2013; YANG et al., 2011; 2012; YIN, 2013; ZHANG, N. et al., 2015) se destinou a investigar a conformação e evolução dos padrões populacionais de atividade física no lazer. No estágio atual, trata-se de um modelo

estilizado que tem foco no desenvolvimento teórico-conceitual e na geração e teste de hipóteses, o que não significa que não seja aplicável na promoção da atividade física no lazer.

O fato de o modelo ser estilizado, não representando uma localidade em particular, certamente reduz a transposição de seus resultados diretamente para uma comunidade específica. No entanto, o modelo ganha em capacidade de generalização, de testar hipóteses e cenários de forma mais flexível e de explorar o fenômeno em si, cujos produtos podem ser úteis a um grupo maior e mais diverso de locais em longo prazo. Isto é, a aplicação desse modelo na promoção da atividade física no lazer não decorre do seu uso direto como ferramenta na tomada de decisão para um determinado local, mas sim ao ser mais um componente na busca por um conhecimento mais completo sobre como os fatores que influenciam os padrões populacionais de atividade física no lazer interagem e geram os padrões observados.

Por outro lado, mesmo que o modelo se caracterize pela sua potencial capacidade de generalização, isso não significa que o que pode ser aprendido por meio dele se aplique a todos os contextos. A parametrização do modelo é bastante flexível para permitir preparar diversos cenários que emulam contextos reais, mas é necessário considerar que, para certas localidades ou comunidades, os pressupostos do mapa conceitual e do modelo baseado em agentes podem não se aplicar. Por consequência, eles não seriam representações adequadas das dinâmicas que resultam nos padrões populacionais de atividade física no lazer nesses contextos. Isso não indica que o mapa e o modelo sejam inválidos, mas delimita a sua área de usabilidade (ORESKES, 1998; RYKIEL, 1996). Quão generalizável são o mapa e o modelo é uma questão a ser respondida, confrontando os resultados do modelo com dados empíricos advindos de diversos contextos.

A contribuição mais importante desse modelo baseado em agentes é a perspectiva sistêmica que traz ao problema, mais focada na estrutura do sistema (EL-SAYED et al., 2012; MEADOWS, 2008) e ainda utilizada de forma incipiente. Como Kohl e colaboradores (2012)

apontaram, abordar os determinantes e a promoção da atividade física sob essa perspectiva pode ser uma das formas de superar o descompasso atual que existe na Epidemiologia da Atividade Física, em que se busca alterar o comportamento populacional, mas os esforços têm se concentrado no comportamento dos indivíduos, sem muito sucesso (ABIOYE; HAJIFATHALIAN; DANAEI, 2013; BAKER et al., 2015; BRAND et al., 2014; CAVILL; BAUMAN, 2004; CLELAND et al., 2012; CONN; HAFDAHL; MEHR, 2011; HEATH et al., 2012).

A adoção sistemática de uma abordagem pautada na concepção de sistemas complexos seria indubitavelmente enriquecedora para a Epidemiologia da Atividade Física. Dentro de tal contexto, a MBA constitui uma ferramenta que permite analisar sob outra perspectiva os processos complexos que conduzem à formação dos padrões populacionais de atividade física. Mas não se deve considerá-la a única ou definitiva estratégia metodológica, mas complementar à abordagem vigente na área, baseada no paradigma e nos métodos da Epidemiologia moderna. A combinação das duas abordagens (e outras, como a qualitativa) permite ampliar as suas potencialidades e aumentar a capacidade em orientar intervenções concretas e efetivas em de promoção da atividade física, cujos contextos são eminentemente complexos (BURKE et al., 2015; GALEA; RIDDLE; KAPLAN, 2010). Por exemplo, modelos baseados em agentes ancorados em dados empíricos coletados em estudos epidemiológicos tem maior probabilidade de apresentar comportamentos similares aos do fenômeno ou sistema-alvo real, aumentando a sua aplicabilidade. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de tais modelos possibilita identificar os dados empíricos ainda necessários e amplia as hipóteses de explicação dos padrões observados em estudos epidemiológicos (AUCHINCLOSS; ROUX, 2008; IP et al., 2013).

A validade desse modelo baseado em agentes pode ser avaliada de três formas:

a) Pela adequação do modelo ao seu propósito (ORESKES, 1998; STERMAN, 2002), de explorar como a interação entre atributos psicológicos dos indivíduos e atributos

dos ambientes físico construído e social em que vivem pode levar à conformação e evolução de padrões populacionais de atividade física no lazer em adultos;

b) Pela adequação dos pressupostos do modelo (ORESKES, 1998; STERMAN, 2002), que incorpora completamente o mapa conceitual, construído a partir de dados disponíveis na literatura e da revisão por especialistas. Nesse quesito, outros aspectos do modelo que não fazem parte do mapa conceitual, como o processo decisório das pessoas, foram implementados também tendo como base teorias, modelos e informações disponíveis na literatura;

c) Pela adequação dos seus outputs (tendências temporais de pessoas praticando atividade física no lazer e nos níveis de intenção), que estão alinhados com os padrões reportados na literatura, indicando que o modelo captura as características mais importantes do sistema sendo emulado (GHORBANI; DIJKEMA; SCHRAUWEN, 2015; RAILSBACK; GRIMM, 2012).

Ao mesmo tempo, o modelo baseado em agentes pode ser uma ferramenta para avaliar a validade do mapa conceitual. Se os outputs de cenários do modelo que se assemelhem a situações reais não coincidirem com os padrões populacionais de atividade física no lazer ou de intenção que são observados, há espaço para se questionar o que no mapa conceitual e no modelo baseado em agentes pode ser melhorado, ampliando o entendimento sobre os elementos fundamentais e os processos e dinâmicas do sistema e a aplicabilidade do modelo para a tomada de decisão (RYKIEL, 1996).

Vale destacar que o processo de validação do mapa conceitual e do modelo baseado em agentes não se refere a garantir que sejam verdadeiros, no sentido absoluto e estrito de que descrevam correta e completamente o fenômeno real, mas de que se ganhe confiança sobre a credibilidade e usabilidade deles para os seus propósitos (ORESKES, 1998; RYKIEL, 1996).