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Uso Racional de Medicamentos

IV. ESTUDO COMPARADO DA LEGISLAÇÃO ACERCA DO CONTROLE

4.2 Uso Racional de Medicamentos

Ora, conforme já explanado anteriormente, acredita-se que a bússola que deve orientar qualquer estudo no tocante à publicidade de medicamentos deva ser o paradigma do uso racional de medicamentos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS)103′104 propõe que, para o uso racional de medicamentos é preciso, em primeiro lugar, estabelecer a necessidade deste; a seguir, que se prescreva o medicamento apropriado, a melhor escolha, de acordo com os ditames da eficácia e segurança comprovados e aceitáveis. Além disso, é preciso que o medicamento seja prescrito adequadamente, na forma farmacêutica, doses e período de duração do tratamento; que esteja disponível de modo oportuno, a um preço acessível, e que responda sempre aos critérios de qualidade exigidos; que se dispense em condições adequadas, com a necessária orientação e responsabilidade.

O Ministério da Saúde, ao elaborar a Política Nacional de Medicamentos também demonstrou a sua preocupação com a temática do uso racional de medicamentos:

102

Conforme foi amplamente discutido nos outros capítulos, as peças publicitárias analisadas pela ANVISA correspondem a uma pequena amostra dos veiculadas em todo o Brasil.

103

World Health Organization. The rational use of drugs: reporto f the conference of experts. Nairóbi, 1985 jul 25- 29. Geneva: WHO; 1987.

104

No que diz respeito à promoção do uso racional de medicamentos, atenção especial será concedida à informação relativa às repercussões sociais e econômicas do receituário médico, principalmente no nível ambulatorial, no tratamento de doenças prevalentes. Especial ênfase deverá ser dada, também, ao processo educativo dos usuários ou consumidores acerca dos riscos da automedicação, da interrupção e da troca da medicação prescrita, bem como quanto à necessidade da receita médica, no tocante à dispensação de medicamentos tarjados. Paralelamente, todas essas questões serão objeto de atividades dirigidas aos profissionais prescritores dos produtos e aos dispensadores. Promover-se-á, da mesma forma, a adequação dos currículos dos cursos de formação dos profissionais de saúde. Além disso, terá importante enfoque a adoção de medicamentos genéricos, envolvendo a produção, a comercialização, a prescrição e o uso, mediante ação intersetorial, vez que esta iniciativa ultrapassa os limites do setor saúde, abrangendo outros ministérios e esferas de Governo, além da sociedade e das corporações profissionais. Nesse particular, é importante ressaltar que a farmácia deve ser considerada estabelecimento comercial diferenciado. Portanto, deve estar em absoluta conformidade com as definições constantes da Lei n.º8.080/90, bem como dispor da obrigatória presença do profissional responsável. O Ministério da Saúde levará à discussão, no âmbito da Cúpula das Américas, uma proposta de utilização dos genéricos visando a consolidação do uso destes medicamentos pelos países da Região. A propaganda de produtos farmacêuticos, tanto aquela direcionada aos médicos, quanto especialmente a que se destina ao comércio farmacêutico e à população leiga, deverá se enquadrar em todos os preceitos legais vigentes, nas diretrizes éticas emanadas do Conselho Nacional de Saúde, bem como nos padrões éticos aceitos internacionalmente. 105

Talvez seja mais fácil conceituar o uso racional de medicamento pela negação do conceito, ou seja, através do conceito de uso irracional de medicamentos. Como exemplo do uso irracional de medicamentos tem-se a administração de muitos medicamentos pelo mesmo paciente (polimedicação106); o uso inapropriado de antimicrobianos, frequentemente em posologias inadequadas ou para infecções não-bacterianas; o uso excessivo de injetáveis, quando há a disponibilidade de formas farmacêuticas orais mais apropriadas; a prescrição em desacordo com as diretrizes clínicas107; automedicação.

105

www.ministériodasaude.gov.br. acessado em 20.02.2009 106

Para alguns autores a polimedicação é o uso de vários medicamentos ao mesmo tempo, outros definem como excesso de uso de medicamentos não necessários, há também quem defina como a ingestão simultânea de cinco ou mais medicamentos .

107

A publicidade tem uma relevante importância em relação à prescrição em desacordo com as diretrizes clínicas, visto que é comum os laboratórios aprovarem o medicamento para determinada patologia, onde há estudos comprovados desta eficácia. Ocorre que os laboratórios desenvolvem muitas vezes estudos paralelos, não apresentados no momento do registro, pois não possuem comprovação científica, mas que sugerem que o produto tenha outra indicação que não aquela para qual foi aprovado. Tendo isso em vista, os laboratórios usam da publicidade realizada pelos seus representantes em visitas médicas para divulgarem estes outros efeitos que não

Tendo como base o conceito do “uso racional de medicamentos”, é clarividente que a publicidade de medicamentos confronta com este paradigma, quando na realidade deveria ser por ele orientado. A peça publicitária tem como fim, conforme se analisou nos capítulos anteriores, a promoção, venda de um produto farmacêutico.

No entanto, em muitos casos o consumo de medicamentos se dá de maneira irracional e em grande parte a responsabilidade por este fato ocorre em razão da automedicação, de certa forma incentivada pela publicidade. Alias, é bom lembrar que a publicidade tem papel fundamental para o estímulo da automedicação, muito embora não se tenha números no Brasil sobre o impacto da publicidade na automedicação, sabe-se que é freqüente o uso de medicamentos decorrentes da publicidade, até mesmo pelo caráter simbólico que a publicidade de incute no consumidor.

O uso de medicamentos de maneira irracional pode acarretar uma série de transtornos à saúde da população, entre eles: (i) agravar o estado de saúde do paciente por utilização de um produto inadequado; (ii) ocasionar intoxicação por omissão de informações essenciais; (iii) comprometer um tratamento médico já em andamento; (iv) informar equivocadamente o médico ou farmacêutico sobre um produto; (v) retardar a procura pelo tratamento adequado e (vi) incentivar o uso indiscriminado de medicamentos.

Ainda no tocante ao uso racional e a publicidade de medicamentos, a OMS108, em cartilha própria sobre o tema, sustenta que:

Os anúncios devem contribuir para que a população possa tomar decisões racionais sobre a utilização de medicamentos que estejam legalmente disponíveis sem receita. Ainda que se tenha em conta o desejo legítimo dos cidadãos de obter informações de interesse para a sua saúde, os anúncios não devem aproveitar indevidamente a preocupação das pessoas a este respeito.

Ao cabo destas considerações, parece bastante profícuo o paradigma teórico do uso racional de medicamentos para a criação, bem como a análise dos modelos de controle prévio da publicidade, visto ser este inclusive a óptica com que a OMS recomenda que a matéria seja vista.

comprovados cientificamente, e que, portanto, não constam no registro do produto, estimulando a prescrição em desacordo com as diretrizes médicas.

108

OMS. Criterios éticos para La promoción de medicamentos. Ginebra: Organización Mundial de La Salud; 198. Disponível em http://www.opas.org.br/medicamentos/site/UploadArq/who-wha-41-17.pdf. Acesado em 21 nov.2008.

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