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CAPÍTULO 6. FONTES POLUENTES DA LAGOA DA VELA

6.3.1. USOS DOS SOLO

Toda a bacia drenante da Lagoa da Vela tem uso rural do solo. Pode-se dizer que cerca de metade da área é de ocupação florestal, onde dominam os matos sob um coberto de pinheiro bravo (Pinus pinaster). Na outra metade predomina a ocupação agrícola do solo, onde a habitação ocorre, em geral, de forma dispersa ou em pequenos núcleos, por entre os verdejantes campos agricolas, tendo associada a criação de gado bovino, em estábulos familiares (Figura 6.1). Na Lagoa da Vela e nas valas de drenagem, que atravessam a bacia drenante, não são lançados efluentes domésticos ou industriais.

A mancha de ocupação florestal está praticamente confinada à vertente dunar da bacia. Uma parte desta encosta está ocupada com mata, onde, sob o coberto arbóreo de pinheiro bravo, prolifera um mato baixo, misto (Figura 6.1). No coberto arbustivo referem-se como espécies mais frequentes as Ericáceas Calluna vulgaris,

Erica sp., Halimium calycinum e H. halimifolium, a Cistácea Cistus salvifolius, as

Leguminosas Ulex sp., Sthauracanthus sp., Cytisus sp., Acacia sp., giestas e ainda

Corema album, Daphne gnidium e Lavandula stoekas, que garantem 20 a 30% de

cobertura do solo, que pode subir os 70 ou 80% nas zonas de maior proliferação de acácias. Pequenas parcelas de pinhal, que abriga densos matos arbustivos, encontram-se espalhadas por entre os campos agrícolas, sobretudo ladeadando as linhas de festo, nas vertentes Norte e Este da bacia (Figura 6.1).

Como consequência do incêndio ocorrido no Verão de 1993, ocupam, agora a restante parte da vertente dunar Oeste, matos mais baixos, menos densos e de menor riqueza florística que aqueles que se encontram sob o coberto de pinheiros (Figura 6.1). Assinala-se a presença de espécies características das dunas secundárias mais próximas do mar, como o estorno (Amophila arenaria), observa-se grande proliferação de acácias, menores densidades de Corema album e a quase ausência de Ericáceas. A composição florística, fisionomia e abundância de espécies destes matos são semelhantes às dos que se desenvolvem nos pinhais da vertente dunar, mas exibem maior riqueza e cobertura, notando-se, por exemplo, maior abundância de Ericáceas. As acácias distribuem-se largamente por estes espaços, misturadas nos matos e orlas dos pinhais.

Nas depressões interdunares, à volta dos charcos temporários, e nas margens das linhas de água, a vegetação é densa, dominada por espécies ribeirinhas ou aquáticas (vegetação de zonas húmidas), como os salgueiros (Salix atrocinerea) e os amieiros (Alnus glutinosa), os cariços (Phragmites australis), várias espécies de Cyperaceas e muitos musgos e líquenes. Também aqui as acácias proliferam abundantemente, por vezes com porte arbóreo. Próximo das margens da lagoa, no estrato arbóreo, o pinheiro coexiste com algumas das espécies típicas da vegetação ribeirinha e, sobretudo, com espécies exóticas introduzidas (acácias e eucaliptos). No estrato arbustivo e herbáceo misturam-se gradualmente nos matos esclérófitos as espécies mais ribeirinhas que, somente junto à margem da lagoa, passam a dominar. Espécies fixas ao substrato e emergentes, como Phragmites australis, Claudium

mariscus e Typha latifolia, colonizam esta zona de interface dos sistemas aquático e

terrestre, numa faixa contínua e de largura variável.

A Este, a bacia drenante é quase exclusivamente de ocupação agrícola (Figura 6.1). O espaço é finamente retalhado em pequenas propriedades, onde se semeia essencialmente milho e feijão, em rotação com culturas arvenses, forragens e pastos para o gado.

Figura 6.1 - Usos actuais do solo na bacia drenante da Lagoa da Vela (cartografia digital georeferenciada - SIGVela; Fontes: fotografia aérea de 1996; levantamentos de campo de 1996/97).

Dada a natureza pobre dos solos arenosos, os terrenos são intensamente fertilizadas com adubos orgânicos (estrumes dos animais) e químicos (fertilizantes sintéticos). Os resultados dos inquéritos de Pereira (1997), indicam a utilização de

fertilizantes, como o Foskamónio 111® e adubos elementares, aplicados normalmente

uma vez por mês, entre Abril e Junho e entre Outubro e Dezembro, e ainda o recurso

frequente a herbicidas, como o Roundup®, Lasso® e Sulfato de Cobre®. Segundo

testemunhos de agricultores locais, as taxas de fertilização serão da ordem dos 150 kg de N/ha.ano, a que corresponde cerca de 20% de adubação orgânica e os restantes a fertilização química, e dos 50-60 kg de P/ha.ano, em que mais de 90% corresponde à aplicação de fertilizantes artificiais.

Nesta vertente Este, da bacia hidrográfica da Lagoa da Vela, encontram-se alguns pequenos lugares - o Castanheiro, o Bom Sucesso, a Lomba do Poço Frio e os Pedros. As zonas de habitação distribuem-se basicamente nas imediações das estradas principais, em plena mancha agrícola, com um padrão de povoamento do tipo disperso ou em pequenos núcleos, e estão localizados a alguma distância da lagoa (mais de 500

m). Apenas um muito reduzido número de habitações, de um total de quase meia centena, se situa mais próximo das suas margens. A criação de gado bovino é uma actividade de grande importância na economia local. As vacas saem por vezes dos estábulos pois continuam, hoje em dia, a ser utilizados nos trabalhos agrícolas, mas não são criadas em pastagens. Para além de algumas dezenas de instalações de pequena dimensão (estábulos familiares com 3-4 animais), que se dispersam acompanhando o padrão de dispersão das habitações, existem duas unidades de maiores dimensões (10-20 efectivos) (Figura 6.1). Não existe rede de saneamento básico, nesta zona. Calcula-se que cerca de 90% das casas estão equipadas com fossas sépticas e que as restantes não dispõem de qualquer sistema de saneamento. Quanto à produção animal, os resíduos sólidos produzidos são depositados no solo e armazenados em pilhas (estrume), para posterior utilização como adubos nos terrenos de cultivo. Os resíduos líquidos, encaminhados para fora dos estábulos, infiltram-se simplesmente no solo.

A rede viária, na bacia drenante, é constituida por três quilómetros de estrada nacional (E.N.109), na qual se observa considerável tráfego de veículos ligeiros e pesados. Existe, ainda, uma densa rede de pequenos caminhos florestais e estradas rurais, onde o tráfego, reduzido, é essencialmente constituído por tractores ou outros meios de transporte rural não motorizado (Figura 6.1).