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UTILIZAÇÃO DE ALIMENTOS DE ELEVADA

DIGESTIBILIDADE (MONOGÁSTRICOS E RUMINANTES)

Durante os processos de digestão, nem toda a quantidade de nutrientes inge- ridos é absorvida pelos animais, sendo a restante excretada nas fezes. A relação entre a quantidade absorvida de determinado nutriente (quantidade ingerida menos a quantidade excretada) e a quantidade desse nutriente presente no alimento fornecido é a sua digestibilidade e exprime-se em percentagem. Assim, refe- re-se que um alimento é tanto mais digestível (tem maior digestibilidade), quanto menor for a proporção desse alimento que é excretada nas fezes.

No que se refere concretamente à quantidade de azoto presente nas fe- zes, é importante referir que, para além do azoto de origem alimentar que não foi absorvido pelo animal, as fezes incluem azoto de origem endógena, resul- tante de descamações de células do próprio aparelho digestivo, de enzimas e, também, de microrganismos presentes no intestino grosso.

Todas as estratégias que conduzam ao aumento da digestibilidade dos ali- mentos, mais concretamente da digestibilidade do azoto, deverão ser equaciona- das como forma de minimizar a sua excreção nas fezes dos animais. Indicam-se seguidamente alguns dos procedimentos que poderão ser adoptados:

I – Utilizar espécies melhoradas

O melhoramento genético das plantas destinadas à alimentação animal tem permitido aumentar a sua digestibilidade, contribuindo desse modo para a diminuição da quantidade de azoto excretado.

Existem no mercado diversas variedades da mesma planta que, em função dos objectivos relacionados com a sua utilização para a ali- mentação dos animais, deverão ser escolhidas pelos agricultores. A escolha dessas variedades não deverá assim atender apenas à sua produtividade, mas também ao seu teor de proteína e à respectiva digestibilidade.

Esta deve ser uma preocupação de produtores e técnicos que, elevan- do o seu nível de exigência em relação aos produtos que adquirem ou aconselham, farão com que empresas e cooperativas de comercializa- ção de produtos disponibilizem informação mais precisa e adequada às suas necessidades.

II – Utilizar alimentos processados

A moagem e a granulação dos alimentos contribuem para o aumento da sua digestibilidade. A moagem fracciona as partículas alimenta- res, facilitando o ataque das enzimas digestivas: desse modo, aumen- ta a proporção de nutrientes aproveitada pelo animal. A granulação a quente permite quebrar determinadas ligações químicas, inibir alguns factores anti-nutricionais sensíveis ao calor e colmatar algumas das desvantagens da moagem.

A conjugação destes dois tratamentos tecnológicos é positiva. De facto, não só os animais preferem alimentos granulados, comparati- vamente aos moídos, como a eficiência com que são utilizados me- lhora em cerca de 8,5 %, em grande parte devido a uma redução dos desperdícios.

Estima-se que a granulação associada à moenda permita aumentar a digestibilidade da proteína em cerca de 3,7%.

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O aumento da eficiência da utilização dos alimentos e a melhoria da digestibilidade da proteína conseguidas pelo adequado processamento tecnológico dos alimentos, podem conduzir a apreciáveis reduções na excreção de azoto pelos animais.

III – Cortar as forragens no momento adequado

Nas forragens, a fibra presente nas paredes celulares das células ve- getais é um factor determinante para a sua digestibilidade. É sabido que, à medida que o estado fisiológico das plantas evolui, aumenta o seu teor em fibra e diminui a sua digestibilidade (figura 2.7), o que determina também um esforço fisiológico acrescido para obtenção dos nutrientes a partir desses alimentos forrageiros. Esse esforço traduz-

-se na maior produção de enzimas digestivas e em maiores perdas de células do aparelho digestivo (perdas endógenas), sendo que ambas as situações aumentam os níveis de azoto excretado.

Torna-se assim importante utilizar forragens com maiores níveis de digestibilidade, de forma a reduzir as perdas de azoto nas fezes, seja de origem alimentar, seja de origem endógena.

Com este objectivo, assume particular importância a decisão sobre o momento ideal para proceder ao corte das forragens, seja para admi- nistrar em verde, seja para conservar sob a forma de feno ou sila- gem. Em termos gerais, indica-se que o melhor compromisso entre a quantidade de forragem obtida e a sua qualidade ocorre no espiga- mento das gramíneas e no início da floração das leguminosas. Por vezes, devido a condições climatéricas, mas outras vezes devi- do à procura de obter maior quantidade de alimento forrageiro, ten- de a fazer-se o corte das forragens demasiado tarde, o que implica menor qualidade (figura 2.7) e, consequentemente, maior excreção de azoto.

Figura 2.7 • Evolução dos teores de matéria seca, digestibilidade, proteína, energia e fibra ao longo do ciclo

vegetativo de Leguminosas e Gramíneas (adaptado de Barnes et al., 1995)

Para além dos benefícios de ordem ambiental, a utilização de forra- gens cortadas no momento adequado, com teores proteicos mais ele- vados e menores teores de fibra, tem também benefícios económicos, uma vez que, ao nível da exploração, permite a aquisição de menores quantidades de alimentos concentrados.

IV – Melhorar a qualidade das silagens (ruminantes)

Qualquer forma de conservação das forragens diminui a quantidade de nutrientes no produto final, em relação ao material inicial. Em face desta realidade, todos os procedimentos que possam contribuir para minimizar as perdas e/ou potenciar a utilização dos nutrientes existen- tes nas forragens deverão ser adoptados.

As silagens têm um papel de destaque na alimentação de ruminantes, em particular nas explorações de bovinos de leite. Neste processo de conservação, o papel de bactérias que ocorrem naturalmente nas for- ragens é determinante. Com efeito, a forragem conserva-se devido ao abaixamento do pH provocado, sobretudo, pelo ácido láctico produzido pelas bactérias lácticas a partir da fermentação dos açúcares solúveis. Sucede que outras bactérias – os clostrídios – têm um efeito negativo no processo de conservação ao utilizarem os açúcares solúveis para a produção de ácido butírico; para além disso, são responsáveis pela degradação das proteínas em azoto amoniacal (acção proteolítica), facto que leva a maiores perdas de azoto. Um parâmetro que nos dá a ideia da extensão da acção negativa dos clostrídios no processo da ensila- gem é, exactamente, a proporção de azoto amoniacal face à quantida- de total de azoto.

Com o objectivo principal de contrariar a actuação dos clostrídios e, desse modo, maximizar a utilização por parte dos animais da proteína presente nas silagens, contribuindo desse modo para a menor excre- ção de azoto, destacam-se dois procedimentos: a utilização de aditivos e o aumento do teor de matéria seca do material ensilado.

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